segunda-feira, 20 de agosto de 2018

DEBATE DOS CANDIDATOS NA REDE TV! E A RECOMENDAÇÃO DA ONU



Depois da Band, foi a vez da Rede TV promover um debate entre presidenciáveis. O programa foi ao ar na noite da última sexta-feira e contou com a participação de Álvaro Dias (Pode), Cabo Daciolo (Patriota), Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), Jair Bolsonaro (PSL), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT). Devido ao avançado da hora, quem venceu foi o sono (pelo menos no meu caso), mas o milagre da tecnologia me permitiu assistir ao vídeo na manhã do sábado — e constatar que não perdi grande coisa. Mesmo assim, seguem algumas considerações.  

Havia um púlpito reservado ao candidato do PT, cujo pedido de participação foi negado pelo TSE (por motivos óbvios). Todos os participantes concordaram com a retirada do troço, com exceção do esmegma (Google, crianças) do PSOL.

A piada evangélica que atende por Cabo Daciolo iniciou seu misto de fala de abertura e oração dando “glória a Deus” e dizendo que nos levará os brasileiros a clamar ao Senhor. Para (mais) essa excrecência da política tupiniquim — vale lembrar que misturar política com religião nem sempre é uma boa ideia, como descobriram os cariocas sob a gestão do “bispo Crivella” —, a solução para a nação chama-se Jesus Cristo. Sem comentários.

Bolsonaro exortou os telespectadores a votar num candidato honesto, patriota, que crê em Deus e afaste de vez o fantasma do comunismo, que não negociará ministérios, estatais e bancos públicos — porque “aí estão o foco da corrupção, que têm levado o Estado, inclusive, à ineficiência; por isso não temos saúde, educação e segurança, exatamente por causa das indicações políticas, que têm que deixar de existir em nosso Brasil...”. Só faltou dizer como tenciona governar sem esses conchavos que tanto repudia num presidencialismo de coalizão (ou de cooptação, como bem disse FHC), mas isso já seria querer demais.

Boulos começou seu ramerrão dizendo-se indignado —como todos os brasileiros —, e que, para ele, política não é carreira, é desafio. Prometeu acabar com a “esculhambação que virou esse sistema político e o toma-lá-dá-cá”, tirar o Brasil da crise e apresentar “propostas de quem tem coragem para mudar o país” (aí eu devo ter dormido de novo, pois não vi nada de concreto nesse sentido). Ao final, o líder dos sem-terra requentou os “50 tons de Temer” que inaugurou no debate anterior, agradeceu à emissora, à companheira de chapa — “primeira indígena numa chapa presidencial na história desse país”, como fez questão de ressaltar — e ao telespectador, a quem “querem fazer acreditar que o único jeito de ser presidente do país é ter apoio de banqueiro, de grande empresário, é fazer campanha com marqueteiro”. Então tá.

O cearense de Pindamonhangaba (SP) tornou a acenar para os “que estão precisando, a tirar o nome do SPC”, prometeu tirar da cartola 2 milhões de empregos, retomar obras paradas, investir em creches e ensino médio profissionalizante em tempo integral — “como já temos no Ceará” — e revogar “esta vergonha (parafraseando Boris Casoy, âncora da emissora que mediou o debate) que é o teto de gastos, que guarda o dinheiro para os banqueiros e proíbe de se investir na agenda do povo”. Sem novidades, portanto.

Na sequência, Álvaro Dias, Henrique Meirelles, Geraldo Alckmin e Marina Silva brindaram os telespectadores com o já esperado “mais do mesmo”, de modo que é escusado aborrecer o leitor com mais detalhes. Luz no fim do túnel, que é bom, só mesmo o farol do trem vindo na contramão (7 de outubro está aí).

O próximo presidente, seja ele quem for, terá ma missão espinhosa. Mesmo que se consiga fazer a reforma da Previdência, há que se cumprir a regra do teto de gastos — e o atual governo, que não foi capaz de mudar as aposentadorias, ora se vê às voltas com um Orçamento cada vez mais comprimido por despesas obrigatórias (não apenas com benefícios previdenciários, mas com a folha de pagamentos) e áreas que já estão próximas de uma paralisação por falta de recursos.

Pela regra do teto, as despesas primárias deveriam passar de 19,5% do PIB em 2016 (primeiro ano de vigência da norma) para 15% do PIB em 2026. Repito: ainda que se faça a reforma da Previdência e se adotem medidas duras de ajuste fiscal, obter-se-á apenas uma parte da economia necessária para atingir essa meta. E o resíduo poderá ser ainda maior, considerando que o investimento público líquido não é suficiente sequer para cobrir a depreciação de obras, como tapar buracos nas estradas e consertar telhados de prédios públicos.

Caberá ao próximo presidente negociar com o funcionalismo mais uma rodada de reajustes salariais — o STF já deu o exemplo, ao propor o reajuste de 16,38% para seus ministros —, e mexer na regra do salário mínimo (a atual, que vale até 2019, prevê reajuste pela inflação do ano anterior mais a variação do PIB de dois anos antes) também não será tarefa fácil.

Nenhum presidente é capaz de governar sem o apoio do Congresso. A despeito de as próximas eleições serem tidas e havidas como uma “oportunidade de ouro” para se fazer uma faxina em regra no Legislativo — o mandato dos 513 deputados federais e de 2/3 dos 81 senadores termina em 31 de dezembro próximo —, não há perspectivas de uma renovação expressiva, pois as regras eleitorais foram criadas pelos próprios parlamentares, o que equivale a dar a Herodes a chave do berçário.

Segundo o ministro Luiz Roberto Barroso — com quem eu nem sempre concordo, mas a quem eu muito admiro —, não há salvação com o modelo político que vigora no Brasil, já que o sistema proporcional de lista aberta é um desastre completo. “Num cenário de grande fragmentação partidária, o presidente depende de alianças com uma vasta gama de agremiações para dar sustentação a seu governo, oferecendo em troca cargos em ministérios e estatais. Administrar os interesses múltiplos e frequentemente contraditórios da base, destituída de princípios comuns, corrompe a governança”, analisa o ministro.

Observação: Sobre o presidencialismo de coalizão, vale a pena ler este artigo do sociólogo Sérgio Abranches.

Mudando de pato pra ganso, o Comitê de Direitos Humanos da ONU, em recente recomendação feita ao governo brasileiro, afirmou que houve violação ao artigo 25 do Pacto de Direitos Civis da ONU, que garante a todo cidadão o direito de “votar e de ser eleito em eleições periódicas, autênticas, realizadas por sufrágio universal e igualitário e por voto secreto, que garantam a manifestação da vontade dos eleitores”. No entendimento desse comitê — que não é integrado por países, mas por peritos que exercem a função em sua capacidade pessoal —, o criminoso de Garanhuns não pode ser impedido de disputar o pleito até que todos os recursos judiciais sejam analisados — o que, em se tratando de Brasil, equivale ao Dia de São Nunca. Em outras palavras, a Lei da Ficha-Limpa tem a mesma serventia que uma folha de papel higiênico.

O governo brasileiro considerou a recomendação “sem efeito juridicamente vinculante”, quando mais não seja porque a delegação permanente do Brasil em Genebra não foi previamente avisada de sua manifestação sobre o caso e tampouco recebeu pedidos de informação sobre o processo. A deliberação foi encaminhada pelo Itamaraty ao Judiciário, que deverá elaborar uma resposta, esclarecendo que todo o processo legal do caso do triplex foi seguido, que o réu teve amplo direito à defesa e que sua condenação se deu em duas instâncias da Justiça e foi respalda pelas cortes superiores.

Talvez a distância que separa Genebra do Brasil impeça os peritos de ver o cenário com clareza, de entender que Lula foi condenado, está preso e, portanto, tem os direitos políticos prejudicados. Situação similar ocorreu após a aprovação da reforma trabalhista pelo Congresso, quando a Organização Internacional do Trabalho argumentou que as mudanças feririam os direitos dos brasileiros, mas, após as explicações de Brasília, concluiu que não houve ilegalidade. Ainda que eu não concorde com Bolsonaro, para quem a ONU não passa de um antro de comunistas, nada justifica que o comitê se imiscua em assuntos internos de um país soberano e democrata, mesmo que esse país soberano e democrata seja esta Banânia. Como dizia meu finado avô, “quanto mais você se abaixa, mais aparece a bunda”.

A recomendação da organização — resultante de mais uma chicana dos rábulas lulistas — é uma medida precária, de caráter liminar e que em nada muda a decisão da lei brasileira, segundo a qual Lula foi condenado em duas instancias e está inelegível. Ponto final. De gente “governando” de dentro dos presídios, já nos basta Marcola e outros líderes das fações criminosas ligadas ao tráfico de drogas; só faltava, agora, a ORCRIM de Lula os imitar também nisso.

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