sábado, 26 de janeiro de 2019

BOLSONARO, FORO DE SÃO PAULO E OUTRAS HISTÓRIAS CABELUDAS



A gente brinca, mas a coisa é séria. Enfim, vamos por partes.

Através de uma postagem nas redes sociais, o presidente Bolsonaro relembrou a participação do PT e do Foro de São Paulo no colapso da ditadura de Nicolás Maduro. O Presidente resgatou um tuíte de 2013, publicado pelo perfil oficial do PT com a chamada “Foro de São Paulo faz reunião extraordinária em Caracas para apoiar Maduro”, escreveu: “Foro de SP consiste no grupo de países e grupos ideologicamente alinhados usando o dinheiro dos cidadãos para a manutenção de seus companheiros no poder em nome do chamam de Pátria Grande Bolivariana” e ao final acrescentou: “E ainda dizem que o Foro nunca existiu”.

Para quem não sabe ou não se lembra, o Foro de São Paulo foi criado nos anos 1990 por Fidel Castro e Lula — por ideia deste último, conforme ele próprio declarou em 2011 — a pretexto de construir uma América Comunista em oposição à América Capitalista. Por quase duas décadas, os jornais e supostos oposicionistas brasileiros esconderam sua existência, que foi denunciada publicamente em 1997 — e classificada de “teoria da conspiração”. De uns anos para cá, quando o Foro já tinha feito e desfeito governos em toda a América Latina, elegendo presidentes dos países do continente cerca de 15 membros da organização, seu nome começou a aparecer aqui e ali em reportagens, como se essa aberração fosse apenas uma entidade como outra qualquer.

Falando na esquerda neurótica e em aberrações, o deputado federal Jean Wyllys, do PSOL-RJ, decidiu abrir mão de seu terceiro mandato e deixar de vez o Brasil (se é por falta de adeus...). Em entrevista à Folha, o parlamentar disse que vive sob escolta policial desde o assassinato de Marielle Franco, e que ficou “apavorado” ao saber que o filho do presidente que sempre o difamou contratou para trabalhar em seu gabinete a esposa e a mãe do sicário. (referindo-se ao ex-capitão da PM Adriano Magalhães da Nóbrega, um dos 13 alvos de uma operação deflagrada na última terça-feira pelo MP para prender suspeitos de chefiar milícias que atuam em comunidades como de Rio das Pedras e Muzema, na zona oeste do Rio).

Mudando de pato pra ganso, Jair Bolsonaro virá a São Paulo neste domingo e se internará no Hospital Albert Einstein para ser submetido à cirurgia que restabelecerá seu trânsito intestinal. Na véspera do seu retorno de Davos, um decreto assinado pelo vice-presidente passou a permitir que servidores comissionados e dirigentes de fundações, autarquias e empresas públicas imponham sigilo secreto e ultrassecreto a dados públicos — o texto antigo estabelecia que só tinham essa competência o presidente, vice-presidente, ministros de Estado, comandantes das Forças Armadas e chefes de missões diplomáticas permanentes no exterior.

Em entrevista, Mourão afirmou que "o decreto única e exclusivamente diminui a burocracia na hora de você desqualificar alguns documentos sigilosos", negando que as alterações atentem contra a transparência e a liberdade de informação. Salvo melhor juízo, esse decreto é um retrocesso indesejável e injustificável. Mourão parece não ter se dado conta de que a Velhinha de Taubaté já morreu (para quem não sabe, trata-se de uma personagem criada por Luiz Fernando Veríssimo durante o governo do general Figueiredo, famosa por sua incrível ingenuidade e capacidade de acreditar piamente em tudo que lhe era dito pelos presidentes militares.

Outra aberração que veio a público enquanto Bolsonaro estava em Davos, a decisão do Banco Central de excluir parentes de políticos da lista de monitoramento obrigatório das instituições financeiras também causou espécie. As propostas fazem parte de uma atualização das normas que a autarquia impõe às instituições financeiras para combater a lavagem de dinheiro, mas a minuta de circular foi editada com as novas normas sem que fossem colhidas sugestões do novo Coaf e do Ministério Público.

O Coaf, é bom lembrar, ganhou relevância com a Lava-Jato e foi transferido do antigo Ministério da Fazenda para o Ministério da Justiça e Segurança Pública, chefiado pelo ministro Sergio Moro — que, perguntado sobre o assunto em Davos, disse tratar-se apenas de uma “consulta pública”, não de uma decisão final (o BC vai receber sugestões de alterações ao texto até o dia 18 de março e pode acatá-las ou não na edição final da circular, prevista para 2020). Mas o fato é que Moro pareceu ter sido pego de surpresa, como comentou Ricardo Boechat no Café com Jornal desta sexta. A pergunta que não quer calar é: como é possível que uma instituição do governo Bolsonaro, no início do governo Bolsonaro, faça um negócio desses sem consultar seus superiores na hierarquia de Brasília?

Sobre o imbróglio Queiroz/Flávio Bolsonaro, novos desdobramentos complicaram ainda mais a situação do filho do Presidente. Sobre as especulações de que renunciaria ao mandato, Flávio disse ao SBT que isso jamais lhe passou pela cabeça, mas o pai presidente vem sofrendo pressão de militares do governo para isolá-lo, como forma de amenizar a repercussão das investigações sobre movimentações financeiras mal explicadas, às quais, como elas já não bastassem, ora se somam suspeitas de envolvimento com milicianos.

É inegável que uma caça às bruxas está em curso, mas contra fatos não há argumentos. Ao contrário dos petistas — que não veem provas contra Lula nem que elas lhes mordam a bunda —, os eleitores dos Bolsonaro (pai e filho) querem respostas.

Para não encompridar demais este texto, o resto fica para o post de amanhã.