A gente brinca, mas a coisa é séria. Enfim, vamos por
partes.
Através de uma postagem nas redes sociais, o presidente Bolsonaro relembrou a participação do PT e do Foro de São Paulo no colapso da ditadura de Nicolás Maduro. O Presidente resgatou um tuíte de 2013, publicado
pelo perfil oficial do PT com a
chamada “Foro de São Paulo faz reunião
extraordinária em Caracas para apoiar Maduro”, escreveu: “Foro de SP consiste no grupo de países e
grupos ideologicamente alinhados usando o dinheiro dos cidadãos para a
manutenção de seus companheiros no poder em nome do chamam de Pátria Grande
Bolivariana” e ao final acrescentou: “E
ainda dizem que o Foro nunca existiu”.
Para quem não sabe ou não se lembra, o Foro de São Paulo foi criado nos anos 1990 por Fidel Castro e Lula —
por ideia deste último, conforme ele próprio declarou em 2011 — a pretexto de
construir uma América Comunista em oposição à América Capitalista. Por quase
duas décadas, os jornais e supostos oposicionistas brasileiros esconderam sua existência,
que foi denunciada publicamente em 1997 — e classificada de “teoria da
conspiração”. De uns anos para cá, quando o Foro já tinha feito e desfeito governos em toda a América Latina,
elegendo presidentes dos países do continente cerca de 15 membros da
organização, seu nome começou a aparecer aqui e ali em reportagens, como se
essa aberração fosse apenas uma entidade como outra qualquer.
Falando na esquerda neurótica e em aberrações, o deputado
federal Jean Wyllys, do PSOL-RJ, decidiu abrir mão de seu terceiro
mandato e deixar de vez o Brasil (se é por falta de adeus...). Em entrevista à Folha, o parlamentar disse que vive
sob escolta policial desde o assassinato de Marielle Franco, e que ficou “apavorado” ao saber que o filho
do presidente que sempre o difamou contratou para trabalhar em seu gabinete a
esposa e a mãe do sicário. (referindo-se ao ex-capitão da PM Adriano Magalhães da Nóbrega, um dos 13
alvos de uma operação deflagrada na última terça-feira pelo MP para prender
suspeitos de chefiar milícias que atuam em comunidades como de Rio das Pedras e
Muzema, na zona oeste do Rio).
Mudando de pato pra ganso, Jair Bolsonaro virá a São Paulo neste domingo e se internará no Hospital Albert Einstein para ser submetido
à cirurgia que restabelecerá seu trânsito intestinal. Na véspera do seu retorno
de Davos, um
decreto assinado pelo vice-presidente passou a permitir que servidores
comissionados e dirigentes de fundações, autarquias e empresas públicas
imponham sigilo secreto e ultrassecreto a dados públicos — o texto antigo
estabelecia que só tinham essa competência o presidente, vice-presidente,
ministros de Estado, comandantes das Forças Armadas e chefes de missões
diplomáticas permanentes no exterior.
Em entrevista, Mourão
afirmou que "o decreto única e
exclusivamente diminui a burocracia na hora de você desqualificar alguns
documentos sigilosos", negando que as alterações atentem contra a
transparência e a liberdade de informação. Salvo melhor juízo, esse decreto é
um retrocesso indesejável e injustificável. Mourão parece não ter se dado conta
de que a Velhinha de Taubaté já
morreu (para quem não sabe, trata-se de uma personagem criada por Luiz Fernando Veríssimo durante o
governo do general Figueiredo, famosa
por sua incrível ingenuidade e capacidade de acreditar piamente em tudo que lhe
era dito pelos presidentes militares.
Outra aberração que veio a público enquanto Bolsonaro estava em Davos, a decisão do Banco Central de excluir parentes de
políticos da lista de monitoramento obrigatório das instituições financeiras
também causou espécie. As propostas fazem parte de uma atualização das normas
que a autarquia impõe às instituições financeiras para combater a lavagem de
dinheiro, mas a minuta de circular foi editada com as novas normas sem que
fossem colhidas sugestões do novo Coaf
e do Ministério Público.
O Coaf, é bom
lembrar, ganhou relevância com a Lava-Jato
e foi transferido do antigo Ministério da Fazenda para o Ministério da Justiça
e Segurança Pública, chefiado pelo ministro Sergio Moro — que, perguntado sobre o assunto em Davos, disse tratar-se apenas de uma
“consulta pública”, não de uma decisão final (o BC vai receber sugestões de alterações ao texto até o dia 18 de
março e pode acatá-las ou não na edição final da circular, prevista para 2020).
Mas o fato é que Moro pareceu ter
sido pego de surpresa, como comentou Ricardo
Boechat no Café com Jornal desta
sexta. A pergunta que não quer calar é: como é possível que uma instituição do
governo Bolsonaro, no início do
governo Bolsonaro, faça um negócio
desses sem consultar seus superiores na hierarquia de Brasília?
Sobre o imbróglio Queiroz/Flávio
Bolsonaro, novos desdobramentos complicaram ainda mais a situação do filho
do Presidente. Sobre as especulações de que renunciaria ao mandato, Flávio disse ao SBT que isso jamais lhe passou pela cabeça, mas o pai presidente
vem sofrendo pressão de militares do governo para isolá-lo, como forma de
amenizar a repercussão das investigações
sobre movimentações financeiras mal explicadas, às quais, como elas já
não bastassem, ora se somam suspeitas
de envolvimento com milicianos.
É inegável que uma caça às bruxas está em curso, mas contra fatos não há argumentos. Ao
contrário dos petistas — que não veem provas contra Lula nem que elas lhes mordam a bunda —, os eleitores dos Bolsonaro (pai e filho) querem
respostas.
Para não encompridar demais este texto, o resto fica para o
post de amanhã.