sábado, 21 de setembro de 2019

E VIVA O POVO BRASILEIRO — PARTE III


O principal problema ético-político do PT é que o pedaço da sociedade que se desiludiu com o partido é incapaz de reconhecer nele disposição para evoluir. E a legenda é incapaz de demonstrá-la. Surgiram no último final de semana duas novas evidências de que a rotina da sigla virou um pesadelo do qual seus dirigentes já não fazem muita questão de acordar.

O PT emitiu nota oficial para rebater entrevista na qual o governador petista da Bahia, Rui Costa, ousou expor à revista Veja uma raridade no petismo: bom senso. De resto, o partido celebrou a entrevista de Lula — ao jornal argentino Página 12 — em que o mártir petralha recobriu-se de autoelogios, enaltecendo seus feitos no poder como se não houvesse roubalheira nem Dilma Rousseff.

Rui Costa disse, entre outras coisas: 1) que o PT deveria apresentar "propostas concretas" em vez de "ficar só na negativa"; 2) que a adesão ao "Lula Livre" não deveria ser condição para a formação de uma frente oposicionista; 3) que o apoio incondicional ao regime bolivariano da Venezuela é "um problema". Mas o partido não deu o braço a torcer.

Lula declarou: "Gerei 22 milhões de empregos, aumentei o salário mínimo em 75%. Disponibilizei 52 milhões de hectares de terra para fazer a reforma agrária. Fiz o maior programa social em toda história do Brasil. […] Esse foi o crime que eu cometi."

O PT bateu bumbo como se confundisse memória fraca com consciência limpa. Apagou da lembrança horrores como o mensalão, o Petrolão, a gestão empregocida de Dilma. Tudo isso está vinculado a Lula. Os escândalos têm raízes fincadas nos dois mandatos da divindade petista. É de autoria de Lula a lenda segundo a qual Dilma seria uma supergerente.

Embora o petismo ainda não tenha notado, o PT perde espaço na preferência do eleitorado há uma década. Lula prevaleceu em 2002 e 2006 com 61% dos votos válidos. Em 2010, Dilma foi enviada ao Planalto com 56%; em 2014, amealhou 52%. Na disputa de 2018, o bonifrate Fernando Haddad obteve 44,87% dos votos válidos.

A derrota para Bolsonaro atrasou o relógio do PT para 1989, quando Lula amealhara 47% dos votos, perdendo para Collor, o caçador de marajás de araque, com 53%. O eleitorado cobra do partido, em prestações, a fatura dos seus descalabros. Ainda que Haddad tivesse vencido, a legenda precisaria parar de arrastar as correntes de Lula. Com a derrota, o partido deveria se dedicar a uma fisioterapia política que lhe permitisse andar sem a sua muleta. Mas o petismo parece não ter aprendido nada com os seus fracassos.

Com Josias de Souza.