Manifestações aconteceram ontem em São Paulo, Rio e
Brasília, marcadas por declarações em defesa do presidente Jair Bolsonaro e do ministro Sérgio
Moro. Em Sampa, do alto dos
carros de som, representantes de grupos como Movimento Direita Digital,
Movimento República de Curitiba e Movimento Conservador puxavam coros como “Fora Gilmar!”, “Mito” (em referência a Bolsonaro)
e “Moro presente”. Também defenderam
a volta de Lula para a prisão. Ao
lado do carro de som localizado na altura do Masp, foi inflado um boneco com os rostos de Gilmar, Lula e José Dirceu. Neste ponto da Paulista,
manifestantes citaram o “guru” bolsonarista Olavo de Carvalho e também dirigiram ataques ao presidente do
Supremo, ministro Dias Toffoli. No
outro ponto, uma enorme bandeira tinha inscrição de “Impeachment Gilmar”. Algumas pessoas jogaram tomates em cartazes
que representavam ministros da Corte. Os atos foram encerrados por volta das
17h, sem registro de incidentes.
Em Brasília, segundo a PM,
o ato reuniu entre 800 e 1 mil pessoas. Pela manhã, a chuva comprometeu a
manifestação, mas à tarde, o grupo voltou a se concentrar em frente ao
Congresso Nacional, por volta das 17 horas. Vestindo verde e amarelo, os
manifestantes carregavam faixas com dizeres como “juiz que solta ladrão é inimigo da nação”, “Gilmar Mendes, impeachment já”, “fora corruPTos” e “prisão em
segunda instância já”. Dois carros de som conduziram os manifestantes até o
Palácio do Supremo. Boa parte vestia camisetas com foto do ministro Sérgio Moro e a frase “caçador de corruptos”. Os manifestantes
rezaram o “Pai Nosso” e carregaram uma bandeira gigante com as cores verde e
amarela. Por volta das 19h, encerraram o ato cantando o Hino à Bandeira Nacional.
No Rio, Gilmar foi
chamado de "inimigo número um do Brasil". As manifestação pedindo o
impeachment do semideus togado ocorreu pela manhã, na praia de Copacabana.
Organizado pelo Movimento Nas Ruas, Movimento Conservador e Movimento Brasil
Conservador, o evento contou com dois carros de som, mas o número de
participantes foi pequeno (talvez em virtude do feriado prolongado, talvez devido
ao desalento da população com essa situação de merda). Os gatos pingados que
compareceram vestiam verde e amarelo e repetiam slogans coo “Gilmar Mendes vai cair” e “Fora Gilmar Mendes”. A maritaca de Diamantino
também foi chamada de “inimigo número um do Brasil”, e o ato tinha um boneco
inflável gigante do ex-presidente Lula,
com os dizeres “cafetão de Gilmar”.
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Depois de passar 11 anos no exército — e 15 dias na cadeia em 1986, por ter escrito um artigo publicado na revista Veja sob o título “O salário está baixo” —, o então capitão Jair Messias Bolsonaro reformou-se e ingressou na vida pública como vereador. Ficou dois anos na Câmara Municipal antes de vencer a primeira das 7 eleições para deputado federal que disputou, passou por 8 partidos (PDC, PPR, PPB, PTB, PFL, PP, PSC e PSL) e, se conseguir criar a sua própria legenda, a "Aliança pelo Brasil" será sua nona sigla em 3 décadas de vida pública.
O partido ainda nem veio à luz e já está, por assim dizer, enlameado: o primeiro-filho Flávio encaminhou pedido de desfiliação ao PSL. Guiando-se pelos passos do pai, levará para dentro da nova legenda o rastro pegajoso do inquérito em que é acusado de peculato e dinheiro, juntamente com a assombração do PM Fabrício Queiroz e seus vínculos com a milícia carioca.
Para inglês ver, esse novo partido "é o sonho e a inspiração de pessoas leais ao presidente Jair Bolsonaro de unir o país com aliados em ideais e intenções patrióticas", e tem como objetivo "o resgate de um país massacrado pela corrupção e pela degradação moral contra as boas práticas e os bons costumes". Balela! Se a preocupação do capitão fosse com a corrupção — representada, no caso, pelo "laranjal do PSL" —, por que, então, Marcelo Álvaro Antônio continua ministro do Turismo?
Não se pode levar a sério essa lorota de "um país massacrado pela corrupção e pela degradação moral", e o tal "sonho e inspiração de pessoas leais ao presidente Jair Bolsonaro" cheira a uma iniciativa personalista. Portanto, o nome mais adequado para a legenda seria PC — não de Partido Comunista, mas de Partido do Capitão.
A aposta do presidente é lamentável e desnecessária. É lamentável porque já existem 32 partidos no Brasil, e todos têm em comum o fato de serem execrados pela sociedade. Se Bolsonaro for bem sucedido, haverá 33 legendas no caldeirão. A iniciativa é desnecessária porque o capitão aposta que terá o mesmo êxito que obteve em 2018. Isso só vai acontecer se houver no Brasil desemprego baixo e geladeira cheia. Nessa hipótese, Bolsonaro se reelegeria por qualquer partido. Mas não será perdendo tempo com a criação de uma legenda hipoteticamente nova que atingirá a prosperidade.
Há partidos demais no Brasil, e o que Bolsonaro quer criar está sendo usado para possibilitar sua saída e a de familiares e devotos do PSL de Bivar no meio de uma briga pelo controle dos bilhões dos fundões públicos. Para combater crime nas organizações partidárias não se deve fundar nova legenda, mas extinguir os fundões públicos que financiam sua organização e suas campanhas e pôr para funcionar cláusula de barreiras o mais breve possível.
As organizações partidárias não representam os eleitores, assim como os sindicatos não representam os trabalhadores. Trata-se, em ambos os casos, de empresas sustentadas com dinheiro público e que têm como finalidade precípua encher as burras de seus donos. Os partidos só deixarão de ser organizações criminosas quando a fonte de recursos em seus cofres secar e for adotada a medida profilática da cláusula de barreiras para deter a proliferação das legendas para uso privado. Ninguém espere que a futura sigla cumpra esse papel.
Com Josias de Souza e José Nêumanne.