quarta-feira, 25 de março de 2020

DO CELULAR AO SMARTPHONE, MITOS E ALGUMAS DICAS IMPORTANTES PARA PROLONGAR A VIDA ÚTIL DO APARELHO (PARTE 7)


O BOM SENSO NÃO EXISTE MAIS.

Contam-se nos dedos, atualmente, os fabricantes que projetam seus produtos sem levar em conta o que se convencionou chamar de “obsolescência programada”. 

Antigamente, você comprava um refrigerador (então chamado de "geladeira") e ele funcionava por décadas. Quando muito, você substituía a borracha de vedação da porta de tempos em tempos, e dava uma demão de tinta quando enjoava da cor do eletrodoméstico. 

Hoje em dia, os assim chamados “bens duráveis” são, ironicamente, descartáveis. Como os funcionários "de apito” das antigas fábricas, eles encerram o expediente quando recebem um sinal (inaudível para o proprietário) de que acabou a garantia, e então picam o cartão, pegam o boné e tchau mesmo. Se continuarem funcionando depois disso, é porque estão fazendo hora-extra, e se pifarem, o conserto pode custar quase tanto quanto um aparelho novo — cuja aquisição acaba sendo a melhor opção, já que garante ao consumidor mais 12 meses de garantia.

No caso específico do smartphone, a rapidez com que a tecnologia substitui modelos de ponta por outros ainda mais avançados torna o gadget ultrapassado ao cabo de poucos meses, mas o preço de um aparelho novo não recomenda trocas tão frequentes. A boa notícia é que, se estar sempre up-to-date com o que há de mais novo no mercado não for prioridade para você — e que seu bolso permita se dar a esse luxo —, tomando alguns cuidados (como os que eu venho sugerindo ao longo destas postagens) a bateria que alimenta o aparelho só dará os primeiros sinais de fadiga depois de dois ou três anos, ou seja, quando estiver mais que na hora de você comprar um telefone novo.

Baterias originais ou homologadas pelos fabricantes dos aparelhos costumam suportar mais que os 300 ciclos exigidos pela Anatel (vide post anterior), desde que sejam usadas em condições ideais. Mesmo assim, após 250 ciclos é normal que o componente não consiga armazenar mais que 75% de carga. Aliás, 100% é a capacidade nominal da bateria, pois a capacidade real não costuma passar de 95% quando você tira o aparelho novo da caixa, devido aos efeitos da temperatura ambiente ao longo das semanas (ou meses) que costumam transcorrer desde a fabricação do componente até a aquisição do telefone pelo usuário final. Note ainda que alguns fabricantes “inflam” a capacidade declarada nas especificações técnicas para valorizar seus produtos, pois o consumidor não tem como realizar medições e reclamar por levar gato por lebre.

Celulares, laptops, tablets e câmeras digitais normalmente vêm com carregadores adequados às baterias que integram (4.20 V por célula proporciona equilíbrio entre o tempo de recarga e a longevidade do componente) e capazes de interromper a passagem de energia quando a carga está completa. Quanto menor a corrente de carga/descarga, mais tempo a bateria vai durar, daí ser recomendável não esperar até o desligamento automático do telefone por falta de energia, como se fazia no tempo das baterias de NiCd, pois as atuais, à base de íons de lítio ou polímeros de lítio, não estão sujeitas ao efeito memória. Na verdade, reduzir o intervalo entre as recargas pode dobrar a vida útil da bateria, ainda que seja recomendável realizar um ciclo completo (descarregar totalmente a bateria antes de recarregá-la até o indicador marcar 100%) a cada três ou quatro meses.

Adicionalmente:

1) Evite expor o celular a temperaturas muito altas ou muito baixas. No interior de um carro estacionado sob o sol do meio dia, por exemplo, a temperatura chega facilmente a 70.º C. Em locais onde o inverno é rigoroso,  levar o celular num bolso interno do casaco ajuda a protegê-lo do frio intenso e a aumentar a autonomia da bateria.

2) Evite usar carregadores que forneçam tensões superiores à especificada pelo fabricante (economizar meia hora na recarga certamente não compensará, no longo prazo, a redução da vida útil da bateria).  

3) Reduza o intervalo entre as recargas e desconecte o carregador da tomada e do aparelho quando a recarga for completada, e fuja de produtos xing ling (tanto carregadores quanto baterias),

4) Remova a capa plástica (ou de silicone) que protege o telefone antes de colocá-la na carga, pois capas não originais e mal projetadas podem propiciar o superaquecimento do aparelho. Convém também desligar o celular durante a recarga, não só para acelerar o processo, mas também porque, como acontece com o PC, reinicializar o dispositivo de tempos em tempos evita a degradação do desempenho e minimiza a possibilidade de erros e travamentos.  

5) Ajuste o brilho da tela para cerca de 40% (ou programe o ajuste automático) e mantenha-a limpa usando um pano de microfibras levemente umedecido em álcool isopropílico (jamais use produtos à base de amônia).

6) Não molhe o celular, a menos que ele seja resistente a água (e mesmo que seja, é bom evitar). Se for apanhado por um temporal inesperado ou derrubar o telefone na banheira ou no vaso sanitário (ocorrência bastante comum), resgate-o o quanto antes, pois as chances de ele se recuperar são inversamente proporcionais ao tempo que ficar submerso. Deligue, então, o telefone (mesmo que ele pareça estar funcionando normalmente), remova a bateria (se ela for removível, naturalmente; se não souber como abrir aparelho consulte o manual ou acesse o site pt.Ifixit.com), tire o chip da operadora (SIM-Card) e enxugue tudo bem enxugado (use um micro aspirador (daqueles vendidos em lojas de informática ou, na falta dele, um secador de cabelos ajustado para a temperatura fria). Embrulhe a bateria e o chip em toalhas de papel, coloque o telefone numa vasilha, cubra com arroz cru e deixe assim por cerca de 48 horas (se não tiver arroz à mão, areia higiênica para gatos também quebra o galho, desde que ela contenha cristais de sílica). 

Observação: Essa gambiarra é antiga (eu mesmo a publiquei há mais de 10 anos), mas controversa: há quem diga que o arroz só absorve parte da umidade e que os componentes só podem ser recuperados mediante um banho químico, etecetera e tal. De fato, o "truque" do arroz parece coisa do Mundo de Beakman, mas acredite: com alguma sorte, ele deixará seu aparelho sequinho, pronto para ser remontado e voltar a funcionar como antes. No mais, o que você tem a perder?

Creme dental serve para dar brilho em adornos de metal, como ouro ou prata, e remover arranhões (leves) de mídias ópticas, mas não deve ser usado mas telas touchscreen dos smartphones. Além de não eliminar os riscos, a pasta pode penetrar no LCD e prejudicar seu funcionamento. Para proteger o display do telefoninho, aplique uma película de boa qualidade (de vidro que funciona como uma segunda tela e protege tanto de riscos quanto de trincas resultantes de impactos; embora custe um pouco mais caro, o investimento costuma compensar).

Usar o smartphone com a tela rachada pode implicar outros danos. Substitua-a assim que possível, para que as trincas não comprometam o cristal líquido — ou o conserto ficará tão caro que, conforme o modelo, será mais compensador comprar um telefone novo.

Aproveite o embalo para relembrar as dicas que eu publiquei nesta postagem.