sexta-feira, 15 de maio de 2020

NAVEGADORES DE INTERNET — FAVORITOS, BOOKMARKS E OUTRAS CONSIDERAÇÕES (PARTE VII)


NA POLÍTICA E NOS TRIBUNAIS, A VERSÃO PODE VALER MAIS QUE OS FATOS.

Recapitulando: a virada do século foi a época áurea das escolas de computação e das publicações especializadas em informática, pois os neófitos tinham um apetite insaciável por dicas para melhorar o desempenho do PC, economizar tinta da impressora, instalar periféricos e um sem-número de informações afins.

Para destacar seus produtos dos concorrentes, algumas editoras publicavam tutoriais ilustrados — chatíssimos de criar —  que conduziam o leitor "pela mão" na instalação, configuração e utilização dos mais diversos aplicativos, cujos arquivos de instalação vinham gravados num CD-ROM que acompanhava a revista.  

Embora esses apps fossem freewares (ou versões demo, alfa e beta de programinhas que mais adiante passariam a ser disponibilizados como shareware), baixá-los dos sites dos fabricantes usando um modem analógico e uma linha telefônica era mais complicado que instalá-los a partir da mídia.

Naquela época, quase ninguém dispunha de banda larga em casa. Além de o serviço custar caro, a disponibilidade de instalação dependia de avaliação técnica e a largura de banda não era lá essas coisas — qualquer conexão que superasse 128 Kbps era considerada como banda larga.

No dial up, um discador instalado no computador ligava para o número do provedor e, após o “shakehand” (clique aqui para ouvir o som que indicava que a conexão havia sido estabelecida), o internauta estava liberado para navegar a vertiginosos 40 Kbps — e isso com uma linha telefônica "limpa", livre de ruídos ou baixa, e um modem de boa estirpe (por melhor que fosse esse dispositivo, sua velocidade máxima teórica — ou seja, alcançada em condições ideais — não passava dos 56 Kbps).

Some-se a isso a indisponibilidade da linha telefônica para fazer ou receber ligações convencionais enquanto a conexão estava em curso, o impacto na conta do telefone no final do mês — como nas chamadas por voz, um pulso era cobrado quando a ligação feita pelo discador para o provedor era completada, outro em até quatro minutos e, a partir daí, novos pulsos eram cobrados a cada três minutos. Assim, fazer downloads pesados — tarefa que podia demorar horas —, ou mesmo atualizar o Windows, gerenciar emails e bater papo nas populares salas de chat não só era uma provação, mas também uma provação cara

Para reduzir os gastos, a maioria dos internautas domésticos se conectava nos horários em que a tarifação era diferenciada. Nos dias úteis, cada chamada gerava apenas o pulso inicial e o subsequente entre as 00h00 às 06h00. E o mesmo sistema era aplicado nos finais de semana, das 14h00 de sábado às 06h00 da segunda-feira, e ao longo das 24 horas em feriados nacionais. O problema eram as disputas entre os membros da família, já que, via de regra, havia apenas um PC para atender a todos, e todos queriam usá-lo nos horários de tarifação diferenciada. 

Isso pode soar estranho para quem é da geração Z (ou mesmo da Y), que trocou o chocalho e a chupeta pelo primeiro smartphone e cresceu conectado à Web em tempo integral, seja via rede 3G/4G, seja pelo — hoje onipresente — roteador Wi-Fi, que distribui o sinal de banda larga por todos os cômodos da casa e conta com planos de Internet fixa de 100, 200 e até 300 mega (*).

(*) Quando a gente mede a conexão com o Speed Test, o Velocidade Ideal ou outro serviço baseado na Web, o resultado pode ser expresso em quilobits por segundo (Kbps), megabits por segundo (Mbps), quilobytes por segundo (KBps) ou megabytes por segundo (MBps), o que faz uma enorme diferença. Resumidamente, o bit é a menor unidade que pode ser armazenada ou transmitida por dispositivos computacionais, e um byte equivale a 8 bits. Portanto, se a gente tem um plano de 100 mega (100 Mbps), a velocidade máxima de download, se exibida em megabytes por segundo, será 12,5 MBps, que nada mais é 100/8.

Nos primórdios da era PC, os micros eram vendidos em kits, e os usuários que não se sentiam à vontade para montá-los contratavam um computer guy de confiança para fazer o trabalho. Com a popularização das máquinas de grife, as facilidades do sistema operacional pré-carregado de fábrica, os benefícios da banda larga, a onipresença das redes Wi-Fi, a preferência mundial pelo uso do smartphone e, principalmente, o sem-número de sites e blogs especializados em TI ao alcance de um clique do mouse, ninguém mais se dispõe a gastar de 15 a 20 mirréis numa revista sobre tecnologia. Nem que a editora juntasse uma caixa de CDs para servir de isca, pois miríades de aplicativos, tanto pagos quanto gratuitos, estão ao alcance de um clique em repositórios de software como BAIXAKI, AONDE, GRÁTIS, SUPERDOWNLOADS e tantos outros, que oferecem resenhas sobre os programas, avaliações de especialistas, opiniões de quem já os utilizou, dicas de instalação e configuração, enfim... 

Acabou-se o que era doce, quem comeu arregalou-se, que não comeu, ferrou-se.

Até a próxima.