SE DERES VOZ A BURROS, OUVIRÁS ZURROS.
Em 1975, Bill Gates e Paul Allen fundaram a Microsoft para desenvolver e comercializar interpretadores BASIC para o Altair 8800.
No início dos 1980, de olho no sucesso da empresa de Steve Jobs com o Apple II,
a International Business Machines
Corporation decidiu massificar o mercado de computadores pessoais com seu IBM-PC. Como não tinha planos de
desenvolver um sistema operacional, a gigante procurou Bill Gates, supondo que a Microsoft
fosse a dona dos direitos do CP/M
(que na verdade pertenciam ao programador Gary
Kildall).
Da feita que não tinha nada pronto para oferecer à IBM — até então, Gates e Allen jamais haviam escrito um sistema operacional —, Tio Bill desfez o engano e mediou
uma reunião entre a IBM e Kildall. A partir desse ponto as versões
divergem, mas a mais aceita é a de que Kildall
encarregou a esposa de receber os executivos e foi pilotar seu avião particular.
Como a mulher vinculou a assinatura do contrato prévio a um aumento substancial
no valor dos royalties, a IBM
encerrou as negociações e voltou a procurar a Microsoft, e dessa vez Mr.
Gates não fez de rogado.
Segundo algumas fontes, a empresa contratou um programador para criar a primeira versão do MS-DOS “inspirada” no software de Kildall. Outras dão conta de que Paul Allen conhecia Tim Paterson — o criador do QDOS
—, e o procurou para negociar um acordo de licenciamento. Em meio as tratativas, a IBM confirmou seu interesse no “sistema
da Microsoft”, e Allen se apressou a comprar os direitos
do QDOS (tanto num caso como noutro,
o valor pago teria sido de US$ 50 mil).
Fato é que a Microsoft
ajustou o software ao hardware do IBM-PC
e serviu-o à Big Blue com o nome de MS-DOS, tomando o cuidado de não
incluir no contrato uma clausula de exclusividade — que impediria a Microsoft de licenciar o
sistema a outros fabricantes de microcomputadores compatíveis — nem tampouco o acesso ao código
fonte do MS-DOS. O valor dessa transação varia de acordo com quem conta a
história; uns falam em US$ 186 mil,
outros em US$
8 milhões.
Kildall procurou Gates e a IBM em busca de satisfação pela "cópia", e saiu com um acordo: os IBM-PC deixariam as fábricas com a opção dos dois programas. Como o CP/M custava 240 dólares por cópia e o DOS, 40 dólares, o mercado se encarregou de fazer a seleção natural do software.
A
partir daí, a Microsoft dominou o mercado de "PCs compatíveis", e seus fundadores entraram para a seleta
confraria dos bilionários da Forbes (que Gates encabeçou uma porção de vezes). Paul
Allen chegou a ocupar a 48ª posição no ranking, com uma fortuna
estimada em US$ 18,1 bilhão, mas morreu de choque séptico em 2018.
Em 1991, Kildall vendeu sua empresa
por US$ 120 milhões — número bem
distante do valor de mercado da Microsoft,
que em 2019 ultrapassou a marca do trilhão
de dólares.
Por essas e outras, muitos confundem a trajetória da Microsoft com a do Windows, embora o sistema operacional mais popular da história da informática só tenha sido lançado em 1985 — inicialmente como uma interface gráfica que rodava no MS-DOS —, e despertado o interesse do público consumidor entre 1990 e 1993, com o lançamento das versões 3.0, 3.1 e 3.11 for Workgroups (esta última já oferecia suporte nativo a redes ponto a ponto, sem um servidor central).
O Windows só foi promovido a sistema operacional autônomo em 1995, com o lançamento do Win 95, um divisor de águas que consolidou a
liderança da Microsoft no mercado. O Win98/SE fez
um sucesso estrondoso, mas o Win
ME (Millennium Edition), lançado a toque de caixa no final do ano 2000 para
aproveitar o apelo mercadológico da virada do milênio, foi um fiasco
acachapante.
O Win XP, que chegou ao mercado em setembro de 2001 com um aparato publicitário digno do nascimento de um príncipe, recuperou o terreno perdido por seu antecessor (e se tornou a versão mais longeva de todos os tempos, tendo sido suportado pela Microsoft até 2014). A Microsoft voltou a errar a mão em 2006, com o malfadado Windows Vista, e a tirar o atraso três anos depois, com o festejado Windows 7, que, curiosamente, se recusa a sair de cena. Aliás, foi justamente essa questão que me levou a esta postagem, mas vou ter de deixá-la para o próximo capítulo, visto que me estendi demais nesta contextualização.
Antes de encerrar, relembro algumas pérolas de humor
negro sobre o Windows Vista:
-"No filme Independence Day, não foi um vírus que os americanos colocaram no
computador da Nave-mãe... eles instalaram o Vista!"
- "O Casco do Titanic foi
projetado pelo Vista"
- "Windows é igual rodízio de
carros. Quando você começa a entender, vem alguém e muda tudo outra vez."
- "Windows Vista : se o seu não
dá problema, é porque você não sabe usar."
- "Windows Vista: o maior e
mais mal feito vírus conhecido."
- "Se Bill Gates é um
Deus, o Vista deve ser a praga divina."
- "Mensagem do Norton
Antivirus: TRJ/Windows.Vista found; Remove it?(YES/YES)".
- "A diferença entre
um vírus e o Vista é que o vírus
funciona".