PROMETER NÃO É DAR, MAS AOS TOLOS CONTENTAR.
Você deixa o celular carregando a noite toda, reduz
o brilho da tela e o tempo de timeout, desativa o disparo automático do flash,
desabilita as conexões sem fio, o serviço de GPS e os alertas
sonoros/vibratórios, e mesmo assim a carga da bateria acaba antes do final da
tarde. Aí lhe dá saudades do Motorola Razr V3 que você usava 15 anos
atrás e só carregava a cada quatro ou cinco dias. Como se explica isso? A
resposta, numa única frase, é a seguinte: a autonomia das baterias não
acompanhou o aumento da gama de recursos e funções dos smartphones.
A bateria é o componente responsável por fornecer energia ao
celular (ou notebook, tablet etc.). Numa definição simplista, “autonomia”
é a capacidade de algo funcionar de forma independente (autônoma). Num
automóvel, o termo remete à distância que o veículo é capaz de percorrer com
um tanque de combustível; no smartphone (que é o mote desta postagem), o tempo
durante o qual o aparelho se mantém operante sem que a bateria seja recarregada.
Em tese, quanto mais combustível o tanque armazenar,
maior será a autonomia do veículo; por analogia, quando maior a amperagem da bateria
— que é expressa em miliampere/hora (mAh) e não deve ser
confundida com a “potência”, que é quantificada em joule ou watt/hora
—, mais espaçadas serão as recargas. Na prática, porém, a coisa nem
sempre é assim.
Para entender melhor, suponhamos que dois veículos iguais
partam de São Paulo com destino ao Rio de Janeiro, ambos com o tanque cheio e
levando apenas o motorista. Um deles percorre os 400 km que separam as duas
cidades em velocidade
de cruzeiro e gasta ¾ do combistível para chegar ao destino. O outro faz o
trajeto em velocidade máxima e precisa ser reabastecido à
altura de Rezende (a 273 km do ponto de partida). Guardadas as devidas
diferenças, o mesmo raciocínio se aplica ao celular: dois aparelhos de marca e
modelo idênticos, quando utilizados por pessoas de perfis distintos, podem ter atuonomias sensivelmente diferentes.
Até o lançamento do iPhone, em 2007, o celular
era basicamente um telefone sem fio de longo alcance (provido de agenda
de contatos, calculadora, joguinhos e outras perfumarias, mas isso não vem ao
caso para os efeitos desta abordagem). Dependendo da frequência e da duração
das chamadas, passavam-se dias sem que fosse preciso recarregar a bateria. Depois
da “promoção a smartphone” — em última análise, um smartphone nada mais é que um computador
pessoal ultraportátil, na medida em que é controlado por um sistema operacional e tem capacidade de acessar
a Internet e rodar os mais diversos aplicativos — as recargas
tornaram-se diárias, e olhe lá: quanto mais recursos e funções o gadget
oferecer — e quanto mais intensamente eles forem utilizados —, maior será o
consumo de energia e menor o intervalo entre as recargas.
No final da década de 1950, a sueca Ericsson lançou o Mobilie Telephony A, que pesava 40 kg e precisava ser acomodado no
porta-malas dos carros. Sua autonomia era pífia (pouco mais de 30 minutos de
conversação), mas a recarga levava cerca de 12 horas.
As baterias de níquel cádmio e hidreto
metálico de níquel, usadas até meados da década retrasada, tinham baixa
autonomia e estavam sujeitas ao “efeito memória” — se fossem recarregadas
antes que toda a energia se esgotasse, elas perdiam a
capacidade de armazenar carga. Já as baterias utilizadas atualmente, à base de íon-lítio
(ou íon-polímero, em alguns casos), são menores, armazenam mais energia,
duram mais e recarregam rapidamente até 80% de sua capacidade,
evitando que o usuário fique sem usar o telefone por muito tempo.
Observação: A expressão “bateria de lítio”
não designa uma única tecnologia, mas toda uma gama de produtos desenvolvidos a
partir de diversas tecnologias de produção de materiais compostos, tais como LCO
(Lítio-Óxido de Cobalto), LFP (Lítio-Ferro-Fosfato), NMC
(Níquel-Magnésio-Cobalto), NCA (Níquel-Cobalto-Alumínio) e LTO
(Lítio-Titânio). Todas proporcionam maior vida útil (em ciclos de carga e
descarga) e mais rapidez na recarga, mas chegam a custar 5 a 6 vezes mais que
as baterias chumbo-ácidas e o dobro das alcalinas de níquel-cádmio.
Independentemente da tecnologia, toda bateria tem sua
vida útil limitada a um determinado número de ciclos (entre 300 e 600). Cada
ciclo corresponde a uma descarga completa seguida de uma recarga completa. Recarregar
a bateria pela metade duas vezes, ou um quarto quatro vezes, “mata” um ciclo —
daí a teoria de que abreviar o intervalo entre as recargas é melhor que esperar
o aparelho desligar automaticamente por falta de energia.
Não sei até que ponto essa teoria faz sentido, mas sei
que mais dia, menos dia sua bateria deixará de armazenar carga e precisará ser
substituída. Por outro lado, considerando que os fabricantes substituem smartphones
de ponta por modelos ainda mais avançados em intervalos cada vez mais curtos, talvez
você troque o aparelho bem antes de abrir o bateria dar sinais de fadiga.
Dada a profusão de funções e o uso intensivo dos
smartphones, não é incomum precisamos fazer uma recarga no final do
expediente para poder usar o aparelho na volta para casa, mesmo que tenhamos
saído pela manhã com 100% de carga. Se isso acontece frequentemente com você, considere a
possibilidade de adquirir um carregador “automotivo”, mas evite produtos genéricos,
como os que são vendidos por ambulantes e marreteiros. Por serem de baixa
qualidade, eles podem danificar a bateria, o telefone e até mesmo o
circuito elétrico do veículo, sobretudo se forem ligados ao mesmo tempo que o
ar-condicionado, o desembaçador do vigia traseiro ou outro acessório que cause
um pico de tensão.
Curiosidades: A telefonia móvel celular é mais
antiga do que se costuma imaginar; o iPhone, embora tenha
sido o divisor de águas entre os dumbphones de até então e os smartphones
de a partir de então, não
foi o primeiro celular capaz de acessar a Internet; a despeito
de terem funções semelhantes, pilhas
e baterias são coisas diferentes.
Alguns lojistas desinformados recomendam uma carga
inicial de 6, 8, 12 ou 24 horas antes de começar a usar o aparelho (o tempo de
carga varia conforma a fase da lua ou a posição das estrelas no céu), bem como
jamais recarregar a bateria enquanto ela não tiver "zerado “zerar”. Como se viu ao longo
desta postagem, tudo isso é informação datada.
Em última análise, é preferível sair de casa com a bateria totalmente carregada do que ter de correr atrás de uma tomada no meio do caminho. Mas de nada adiante deixar o aparelho plugado ao carregador (e este à tomada) depois que a carga tiver sido completada. Carregadores de boa estirpe bloqueiam a passagem de corrente, evitando uma possível sobrecarga, mas cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém.
As baterias integram um pequeno chip controlador, destinado a gerenciar sua capacidade de carga. Normalmente, o aparelho desliga sozinho quando a reserva de energia fica abaixo de 5%. Isso se dá para que as recargas sejam feitas enquanto ainda houver energia remanescente (evitando danos à bateria).
Às vezes, esse percentual deixa de ser “enxergado” pelo
controlador, dando ao usuário a impressão de que a autonomia diminuiu. Para
tirar a cisma, alguns especialistas sugerem recalibrar o controlador, o
que consiste basicamente em usar o aparelho até que ele seja desligado
automaticamente e, em seguida, recarregar totalmente a bateria. Isso nem
sempre dá resultado, mas o que você tem a perder por tentar?