terça-feira, 4 de maio de 2021

O SMARTPHONE E A BATERIA QUE NÃO DURA

PROMETER NÃO É DAR, MAS AOS TOLOS CONTENTAR.

Você deixa o celular carregando a noite toda, reduz o brilho da tela e o tempo de timeout, desativa o disparo automático do flash, desabilita as conexões sem fio, o serviço de GPS e os alertas sonoros/vibratórios, e mesmo assim a carga da bateria acaba antes do final da tarde. Aí lhe dá saudades do Motorola Razr V3 que você usava 15 anos atrás e só carregava a cada quatro ou cinco dias. Como se explica isso? A resposta, numa única frase, é a seguinte: a autonomia das baterias não acompanhou o aumento da gama de recursos e funções dos smartphones.

A bateria é o componente responsável por fornecer energia ao celular (ou notebook, tablet etc.). Numa definição simplista, “autonomia” é a capacidade de algo funcionar de forma independente (autônoma). Num automóvel, o termo remete à distância que o veículo é capaz de percorrer com um tanque de combustível; no smartphone (que é o mote desta postagem), o tempo durante o qual o aparelho se mantém operante sem que a bateria seja recarregada.

Em tese, quanto mais combustível o tanque armazenar, maior será a autonomia do veículo; por analogia, quando maior a amperagem da bateria — que é expressa em miliampere/hora (mAh) e não deve ser confundida com a “potência”, que é quantificada em joule ou watt/hora, mais espaçadas serão as recargas. Na prática, porém, a coisa nem sempre é assim.

Para entender melhor, suponhamos que dois veículos iguais partam de São Paulo com destino ao Rio de Janeiro, ambos com o tanque cheio e levando apenas o motorista. Um deles percorre os 400 km que separam as duas cidades em velocidade de cruzeiro e gasta ¾ do combistível para chegar ao destino. O outro faz o trajeto em velocidade máxima e precisa ser reabastecido à altura de Rezende (a 273 km do ponto de partida). Guardadas as devidas diferenças, o mesmo raciocínio se aplica ao celular: dois aparelhos de marca e modelo idênticos, quando utilizados por pessoas de perfis distintos, podem ter atuonomias sensivelmente diferentes.

Até o lançamento do iPhone, em 2007, o celular era basicamente um telefone sem fio de longo alcance (provido de agenda de contatos, calculadora, joguinhos e outras perfumarias, mas isso não vem ao caso para os efeitos desta abordagem). Dependendo da frequência e da duração das chamadas, passavam-se dias sem que fosse preciso recarregar a bateria. Depois da “promoção a smartphone” —  em última análise, um smartphone nada mais é que um computador pessoal ultraportátil, na medida em que é controlado por um sistema operacional e tem capacidade de acessar a Internet e rodar os mais diversos aplicativos — as recargas tornaram-se diárias, e olhe lá: quanto mais recursos e funções o gadget oferecer — e quanto mais intensamente eles forem utilizados —, maior será o consumo de energia e menor o intervalo entre as recargas.

No final da década de 1950, a sueca Ericsson lançou o Mobilie Telephony A, que pesava 40 kg e precisava ser acomodado no porta-malas dos carros. Sua autonomia era pífia (pouco mais de 30 minutos de conversação), mas a recarga levava cerca de 12 horas.

As baterias de níquel cádmio e hidreto metálico de níquel, usadas até meados da década retrasada, tinham baixa autonomia e estavam sujeitas ao “efeito memória” — se fossem recarregadas antes que toda a energia se esgotasse, elas perdiam a capacidade de armazenar carga. Já as baterias utilizadas atualmente, à base de íon-lítio (ou íon-polímero, em alguns casos), são menores, armazenam mais energia, duram mais e recarregam rapidamente até 80% de sua capacidade, evitando que o usuário fique sem usar o telefone por muito tempo.

Observação: A expressão “bateria de lítio” não designa uma única tecnologia, mas toda uma gama de produtos desenvolvidos a partir de diversas tecnologias de produção de materiais compostos, tais como LCO (Lítio-Óxido de Cobalto), LFP (Lítio-Ferro-Fosfato), NMC (Níquel-Magnésio-Cobalto), NCA (Níquel-Cobalto-Alumínio) e LTO (Lítio-Titânio). Todas proporcionam maior vida útil (em ciclos de carga e descarga) e mais rapidez na recarga, mas chegam a custar 5 a 6 vezes mais que as baterias chumbo-ácidas e o dobro das alcalinas de níquel-cádmio.

Independentemente da tecnologia, toda bateria tem sua vida útil limitada a um determinado número de ciclos (entre 300 e 600). Cada ciclo corresponde a uma descarga completa seguida de uma recarga completa. Recarregar a bateria pela metade duas vezes, ou um quarto quatro vezes, “mata” um ciclo — daí a teoria de que abreviar o intervalo entre as recargas é melhor que esperar o aparelho desligar automaticamente por falta de energia.

Não sei até que ponto essa teoria faz sentido, mas sei que mais dia, menos dia sua bateria deixará de armazenar carga e precisará ser substituída. Por outro lado, considerando que os fabricantes substituem smartphones de ponta por modelos ainda mais avançados em intervalos cada vez mais curtos, talvez você troque o aparelho bem antes de abrir o bateria dar sinais de fadiga.

Dada a profusão de funções e o uso intensivo dos smartphones, não é incomum precisamos fazer uma recarga no final do expediente para poder usar o aparelho na volta para casa, mesmo que tenhamos saído pela manhã com 100% de carga. Se isso acontece frequentemente com você, considere a possibilidade de adquirir um carregador “automotivo”, mas evite produtos genéricos, como os que são vendidos por ambulantes e marreteiros. Por serem de baixa qualidade, eles podem danificar a bateria, o telefone e até mesmo o circuito elétrico do veículo, sobretudo se forem ligados ao mesmo tempo que o ar-condicionado, o desembaçador do vigia traseiro ou outro acessório que cause um pico de tensão.

Curiosidades: A telefonia móvel celular é mais antiga do que se costuma imaginar; o iPhone, embora tenha sido o divisor de águas entre os dumbphones de até então e os smartphones de a partir de então, não foi o primeiro celular capaz de acessar a Internet; a despeito de terem funções semelhantes, pilhas e baterias são coisas diferentes.

Alguns lojistas desinformados recomendam uma carga inicial de 6, 8, 12 ou 24 horas antes de começar a usar o aparelho (o tempo de carga varia conforma a fase da lua ou a posição das estrelas no céu), bem como jamais recarregar a bateria enquanto ela não tiver "zerado “zerar”. Como se viu ao longo desta postagem, tudo isso é informação datada.

Em última análise, é preferível sair de casa com a bateria totalmente carregada do que ter de correr atrás de uma tomada no meio do caminho. Mas de nada adiante deixar o aparelho plugado ao carregador (e este à tomada) depois que a carga tiver sido completada. Carregadores de boa estirpe bloqueiam a passagem de corrente, evitando uma possível sobrecarga, mas cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém.

As baterias integram um pequeno chip controlador, destinado a gerenciar sua capacidade de carga. Normalmente, o aparelho desliga sozinho quando a reserva de energia fica abaixo de 5%. Isso se dá para que as recargas sejam feitas enquanto ainda houver energia remanescente (evitando danos à bateria). 

Às vezes, esse percentual deixa de ser “enxergado” pelo controlador, dando ao usuário a impressão de que a autonomia diminuiu. Para tirar a cisma, alguns especialistas sugerem recalibrar o controlador, o que consiste basicamente em usar o aparelho até que ele seja desligado automaticamente e, em seguida, recarregar totalmente a bateria. Isso nem sempre dá resultado, mas o que você tem a perder por tentar?