A passagem do PT pelo Planalto produziu uma ruinosa administração, com direito a repetidas tentativas de suicídio econômico e ao mais alucinante sistema de corrupção jamais visto na administração pública mundial. Mesmo assim, o resultado poderia ter sido outro se Lula não estivesse temporariamente inelegível. O slogan da campanha de seu bonifrate — Haddad é Lula e Lula é Haddad — era apenas isso: um slogan de campanha.
Para além da acentuada rejeição ao lulopetismo, contribuíram para a vitória de Bolsonaro o amigo de fé, irmão e camarada Gustavo Bebianno, o publicitário Marcos Carvalho e, pasmem!, o atentado em Juiz de Fora, que serviu de desculpa para o candidato escapar dos debates (que exporiam seu acachapante despreparo). Mas isso são águas passadas.
Bolsonaro obteve quase 58 milhões dos votos (contra os 41,16 milhões de Haddad), mas sua sanidade mental logo passou a ser questionada por apoiadores de primeira hora, e seu número de desafetos não demorou a se multiplicar. O próprio Bebianno, que foi nomeado ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência devido aos bons serviços prestados, foi exonerado depois de 1 mês e 18 dias depois da posse, devido a intrigas urdidas pelo filho Carlos Bolsonaro, que desde sempre se roeu de ciúmes da amizade do pai com o assessor.
A demissão de Bebianno inaugurou uma longa lista, e sua morte súbita e inesperada — quando ele estava trabalhando num livro sobre os bastidores da campanha — deu azo a diversas teorias da conspiração. Da feita que ele era um arquivo vivo e serviu a Bolsonaro como PC Farias serviu a Collor, sua morte entrou para o rol de episódios igualmente enigmáticos — como os "acidentes" que resultaram nas mortes de Ulysses Guimarães, Juscelino Kubitschek, Eduardo Campos e Teori Zavascki, além dos assassinatos dos prefeitos petistas Celso Daniel e Toninho do PT.
Ao longo de quase 28 anos de deputância, o ex-capitão que deixou a caserna pela porta dos fundos aprovou 2 míseros projetos e colecionou dezenas de processos. Ainda assim, a aridez desalentadora do cenário sucessório de 2018 levou a parcela minimamente esclarecida do eleitorado — que votaria no próprio Belzebu para impedir a volta do lulopetismo corrupto — a apoiar um candidato tosco, despreparado, populista, admirador confesso da ditadura e defensor de opiniões peculiares sobre tudo e todos.
Ao longo dos últimos três anos e oito meses, Bolsonaro tornou-se um pária internacional e o alvo preferido de uma imprensa que não o suporta. Como todo populista que se preza, ele conta com um séquito de fanáticos, mas a seu principal adversário — que promete ressuscitar a catástrofe dos governos petistas — também não faltam apoiadores. Assim, resta ao "esclarecidíssimo" eleitorado tupiniquim decidir se reconduz ao Planalto um ex-presidente ex-presidiário ou se mantem lá, por mais quatro longos anos, um sociopata despirocado, que há muito deveria ter sido apeado do cargo. Pelo andar da carruagem, vencerá aquele que mentir mais e melhor.
Triste Brasil.