sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

O NEGÓCIO DO JAIR



Não bastassem as rachadinhas, a mansão em Brasília e os 107 imóveis adquiridos pelo clã Bolsonaro (51 dos quais pagos em dinheiro vivo), o senador Flávio Bolsonaro vem advogando em parceria com um colega numa ação entre herdeiros de uma antiga fábrica de doces do Rio Grande do Norte, que desde 2008 disputam os R$ 18 milhões do capital da empresa. O detalhe é que esse colega é filho de um ministro aposentado do TST, denunciado pelo Ministério Público por venda de sentenças judiciais. Para além disso, o primogênito do capetão figura como testemunha numa causa patrocinada pelo amigo e também advogado Willer Tomaz, envolvendo uma mansão de R$ 10 milhões no município de Angra dos Reis (RJ). 

Em "O Negócio do Jair: A história proibida do clã Bolsonaro", a jornalista Juliana Dal Piva, colunista do UOL, reconstitui o método pelo qual o presidente e seus parentes acumularam milhões de reais e construíram um projeto político à sombra das legendas partidárias — que teve início em 1988, quando Jair iniciou sua carreira política e passou a empregar familiares em Brasília, no esquema coordenado pela ex-mulher, Ana Cristina Siqueira Valle. O livro mostra que a teia da famiglia está ligada a figuras que transitam por outras modalidades de crimes, como Adriano da Nóbrega, o capitão da PM que se tornou chefe da milícia de Rio das Pedras e integrante do Escritório do Crime — grupo suspeito de assassinar a vereadora Marielle Franco e seu motorista em março de 2018. A mãe e a mulher de Nóbrega estavam na engrenagem da rachadinha, e ele acabou executado na Bahia em 2020, por policiais baianos e fluminenses.
 
Outro personagem peculiar é o advogado Frederick Wassef, que ficou conhecido quando Fabrício Queiroz foi preso num imóvel de sua propriedade. Mas Fred cumpriu missões mais nobres; em dezembro de 2018, por exemplo, ele esteve em um jantar com o então Kássio Nunes Marques — o que demonstra que a relação dos dois era antiga e que já existiam planos ambiciosos para o desembargador piauiense com a chegada de Bolsonaro à presidência.
 
O livro discorre ainda sobre conflitos familiares, traições e rompantes presidenciais. Ao fim da leitura, tem-se a nítida impressão de que o "negócio" de Jair Bolsonaro obedece a um plano minuciosamente executado, que a cada passo envolve novos personagens de peso. Ao contrário do que parece, nada é aleatório. Em contraposição ao versículo que exalta a verdade que liberta, o capetão fez o possível para manter tudo às escondidas, mas Juliana Dal Piva juntou as peças do quebra-cabeças para informar o leitor.
 
Com Chico Alves