Lula rejeita a pecha de ex-presidiário descondenado, mas chamou Michel Temer de golpista. O ex-presidente não só rechaçou a acusação como afirmou que o petista tenta "reescrever a história por meio de narrativas ideológicas". A interlocutores, disse ainda que, se continuar sendo provocado, vai falar "umas verdades", porque foi secretário de segurança e "sabe lidar com bandido".
O impeachment de Dilma continua assombrando o PT, e Lula usa Temer para construir a versão de que houve golpe, já que não conseguiu emplacar a narrativa de que ele, Lula, foi inocentado pela Justiça. Tanto a sentença de Sergio Moro, no caso do tríplex — que foi objeto de mais de 400 recursos até transitar em julgado —, quanto a de Gabriela Hardt, no do sítio, foram confirmadas pelo TRF-4 e pelo STJ. A transmutação do presidiário em ex-corrupto foi, mal comparando, como a seria a de um assaltante capturado pela GCM que um juiz manda soltar porque a prisão deveria ter sido feita pela PM.
A palavra "inocente" não define a situação de alguém cujas condenações foram anuladas por questões meramente formais. Tanto é assim que os processos deveriam ser reiniciados na Justiça Federal do DF. Mas o atraso de 5 anos na epifania que revelou ao ministro Fachin a "incompetência territorial" da 13ª Vara Federal de Curitiba implicou a perda da pretensão punitiva estatal em razão do decurso do lapso temporal previsto em lei. Só que isso não significa que os crimes deixaram de existir ou que o réu foi inocentado.
Lula colecionou duas dúzias de ações criminais. Foi absolvido da acusação de corrupção passiva pelo favorecimento de empresas na edição da MP 471 de 2009 e inocentado (juntamente com Dilma e outros corréus) no processo do “Quadrilhão do PT”. Um denúncia contra ele, “Frei” Chico e outros, envolvendo um suposto pagamento de mesada da Odebrecht ao irmão do petralha — que de frei nunca teve nada —, foi rejeitada por falta de provas.
Temer postou na última quarta-feira que Lula "mantém os pés no palanque e os olhos no retrovisor", e que o Brasil "não foi vítima de golpe algum; na verdade, foi aplicada a pena prevista para quem infringe a Constituição."
Goste-se ou não de Michel Temer, é preciso dar razão a quem tem. Mas também é preciso ter em mente que, na política, o desafeto de hoje pode ser o aliado de amanhã (ou vice-versa). Lula terá soprado sua 81ª velinha quando (e se) concluir o atual mandato. Até lá, Temer, se ainda estiver entre nós, estará com 86 anos. Diz um ditado que o Diabo sabe das coisas não por ser o Diabo, mas porque é velho, e que o vinho melhora com o tempo, mas a experiência que as pessoas adquirem com a idade nem sempre resulta em sabedoria. Ambos construíram um patrimônio considerável (como, é outra história), mas não largam o osso, porque o poder seduz (e por vezes emburrece). Temer só não se candidatou à presidência na eleição passada pelo memo motivo que Bolsonaro não deu o golpe: faltou apoio.
Integrantes do MDB avaliam que as declarações de Lula foram “equivocadas” e “desnecessárias” neste momento de início de governo. "O rei das bravatas e frases equivocadas sempre foi Bolsonaro e não Lula", disse um integrante do diretório nacional do partido em caráter reservado. Internamente, os emedebistas admitem que as declarações de Lula não devem afastar o partido do governo, mas o fato de Lula as ter feito fora do país, diante de chefes de Estados vizinhos, é no mínimo incomodativa.
"Quem chama o impeachment de Dilma de golpe ataca a democracia, o Congresso e o Judiciário. É um discurso extremista e incentiva o ataque às instituições", publicou o PSDB nas redes sociais. A deposição foi aprovada na Câmara por 367 votos a 137, e todos os 52 deputados tucanos votaram a favor. No Senado, foram 61 votos a 20, mas todos os senadores tucanos apoiaram o pé na bunda.
Na última quarta-feira, um deputado bolsonarista gaúcho protocolou o primeiro pedido de impeachment contra Lula. Na visão do parlamentar, o presidente cometeu crime de responsabilidade ao dizer que Dilma foi vítima de um golpe e atacar de forma raivosa, abjeta e contraria a verdade, a democracia brasileira. "Trata-se de um discurso absolutamente mentiroso, falso em toda sua extensão, que não pode ser aceito por este Parlamento", escreveu ele.
No primeiro ano de seu primeiro mandato, Lula foi alvo de um único pedido de impeachment. Nos sete anos seguinte, outros 36 pedidos foram protocolados. Nenhum foi adiante, mas não há nada como o tempo para passar.