segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

THE END

 

A percepção do mundo entrega a alguns indivíduos uma leitura equivocada das consequências de seus atos. Até não muito tempo atrás, criminosos tentavam encobrir os rastros; hoje, a maioria não se dá mais a esse trabalho. 

Bolsonaro convenceu a si e a seus apoiadores da imprestabilidade das urnas eletrônicas, e de que o STF e o TSE conspiravam contra sua reeleição. Daí milhares de sectários bolsonaristas terem tocado o terror no DF no último dia 8 e filmado a si e seus comparsas praticando os atos criminosos. 
 
Antes da Lava-Jato, culpávamos a morosidade da Justiça e as falhas do sistema pela impunidade de criminosos de alto coturno. Aí a força-tarefa colocou atrás das grades cinco ex-governadores fluminenses e fez ver um ex-presidente da República ver o sol nascer quadrado, ainda que por míseros 580 dias. 
 
O impeachment de Dilma interrompeu a corrupção desbragada dos governos lulopetistas. Temer, denunciado por Joesley Batista, foi abatido em seu voo de galinha, o que contribuiu para transformar um reles dublê de mau militar e parlamentar medíocre na solução que pedimos a Deus e o Diabo forneceu.  
 
Em um mundo ideal, não haveria Lula nem Bolsonaro. Em uma democracia ideal, os cidadão não votariam em políticos populistas, demagogos e ímprobos. Em um cenário ideal, um ex-presidente condenado por corrupção não seria reconduzido ao cargo décadas depois 
— e muito menos teria a cara de pau de dizer que o impeachment de sua imprestável sucessora foi um golpe de Estado. A questão é o que o país em que vivemos nada tem de ideal. 
 
Neste arremedo de republiqueta de bananas, muares apedeutas travestidos de eleitores repetem os mesmos erros, eleição após eleição, na esperança de obter um resultado diferente. Nesta banânia, um criminoso condenado deixa a cadeia pela porta da frente, tem a ficha imunda lavada a toque de caixa, é reabilitado politicamente e reconduzido ao Planalto pela terceira vez simplesmente porque a resultado do último pleito foi a emenda que ficou pior que o soneto.
 
É compreensível que facções petistas radicais (tão boçais quanto os bolsonaristas de raiz) alardeiem que o impeachment de Dilma foi um golpe de Estado, mas é inadmissível que Lula defenda essa tese absurda diante dos presidentes da Argentina e da Bolívia

O que houve de ilegal na deposição da gerentona de araque foi a vergonhosa maracutaia urdida pelos então presidentes do Congresso e do STF. Mas a questão que se coloca é: como um governo que pretende acabar com as fake news e combater a desinformação tenta transformar mentira em verdade? 
 
O impeachment é um processo político. Dilma foi apeada do cargo porque não tinha jogo de cintura no trato com o Parlamento. As folclóricas "pedaladas fiscais" foram a justificativa mais à mão para o pé na bunda. No caso do próprio Lula
não há falar em inocência, embora ele o faça despudoradamente (e impunemente, o que é ainda pior). Suas condenações foram anuladas — com base em uma tecnicidade — porque, naquela conjuntura, a anulação era conveniente para os donos do poder.
 
Para de tentar emplacar uma versão fake do impeachment, Lula articula a implementação de medidas que visam à prevalência da "verdade oficial", como a remoção de conteúdos publicados nas redes sociais que desmintam sua versão fantasiosa com base no "Pacote da Democracia" de Flávio Dino.  E, a exemplo do Ministério da Justiça, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República devem fiscalizar "peças de desinformação" e promover "políticas de igualdade social". 
Vejam a que ponto chegamos — ou estamos em via de chegar. 

Se as ações do ministro Alexandre de Moraes, respaldadas pelo plenário do STF, são criticadas por parte da sociedade, uma censura governamental implementada à revelia do Judiciário...

Enfim, nada resta a dizer senão "THE END".