Com o fiasco da quimérica "terceira via", expulsar o verdugo do Planalto exigiu a volta do ex-tudo (ex-retirante, ex-metalúrgico, ex-sindicalista e "ex-corrupto descondenado"), que venceu o capetão com a menor diferença de votos no segundo turno desde a redemocratização.
Protagonista inconteste do Mensalão e do Petrolão e precursor do "Nós x Eles" (que deu origem à cisão atual), Lula foi réu em mais de 20 ações criminais e gozou 580 dias de férias compulsórias em Curitiba até ser socorrido pelas decisões teratológicas que anularam suas condenações sem absolvê-lo de nada. Embora já esbanje carisma como em 2010, quando se jactava de ser capaz de eleger até poste, acredita que ocupa o cargo de Zeus, e age como se estivesse no Olimpo.
Durante a campanha de 2022, o petista empunhou a bandeira da "pacificação"; empossado, rasgou o figurino, pulverizou a imagem do país idílico da propaganda oficial e segue fomentando a cizânia com seus garranchos verbais. "A polarização é boa se a gente souber trabalhar os neutros para que a gente possa criar maioria e governar o Brasil". Traduzido para o português do asfalto, a pérola lulista significa mais ou menos o seguinte: "Trabalho apenas com convertidos da esquerda e neutros do centro, desisti de governar para a direita."
Millôr Fernandes ensinou que "o perigo de uma meia verdade é dizer exatamente a metade que é mentira". Ao relembrar que o Brasil foi polarizado entre PSDB e PT durante décadas, Lula compara os adversários de outrora com os inimigos de hoje, o que é um negacionismo político a serviço da politicagem.
Quando venceu a eleição em 2002, Lula cumprimentado por José Serra e presenteado por Fernando Henrique com uma transição de mostruário. Derrotado em 2022, Bolsonaro sonegou ao país o reconhecimento da derrota, tramou uma virada de mesa, estimulou o acampamento que pedia intervenção militar na frente do QG do Exército e foi assistir desde a Flórida à intentona de 8 de janeiro. Na era da polarização PSDB X PT, o bico mais afiado da oposição era de Tasso Jereissati, um oposicionista de punhos de renda. Hoje, o palanque ambulante rala uma oposição protagonizada por gente como Nikolas Ferreira, um guerrilheiro de redes sociais.
Para acomodar aliados da falaciosa "frente democrática" que o ajudou a ser eleito pela terceira vez (e queira Deus que tenha sido a derradeira), Lula criou dezenas de novos ministérios. Para comandar as pastas já existentes, nomeou antigos aliados sepultados no julgamento do Mensalão ou quando a saudosa Lava-Jato expôs as entranhas pútridas do Petrolão. Durante o primeiro ano da atual gestão, recebeu com pompa e circunstância o ditador Nicolás Maduro, presenteou Dilma com a presidência do Banco do Brics, indicou para o STF um amigo e advogado particular e um ministro socialista, comunista e marxista.
Em 15 meses de governo, o morubixaba petista passou quase 70 dias num périplo turístico por 30 países. Demorou a afastar auxiliares envolvidos com corrupção. Vituperou o presidente do Banco Central. Sabotou a meta de déficit zero de seu ministro da Fazenda. Tentou interferir na Petrobras e enfiar Guido Mantega na presidência da Vale (como não conseguiu, tenta agora acomodá-lo na Braskem).
Lula gosta de criticar, mas não de ouvir críticas. Vai às nuvens quando os puxa-sacos o ovacionam, mas faz ouvidos moucos para os apupos da realidade. Além de reeditar erros cometidos em suas gestões anteriores, enriquece a lista de asnices louvando o déspota venezuelano, comparando a Gaza ao Holocausto, defendendo a ideia de que democracia é um conceito relativo e dizendo ter orgulho de ser chamado de comunista.
Há décadas que o Brasil é governado como uma usina de processamento de esgoto, onde entra merda por um lado e sai merda pelo outro. E o que mais poderia sair? Entre a porta de entrada, aberta pelas eleições, e a de saída, na troca de comando, a merda muda de aparência e de nome, recebe nova embalagem... mas continua sendo merda.
Quanto mais Lula fala, mais claro fica que já passou da hora de ele encerrar seu ciclo na política. Às vésperas de completar 79 anos, o eterno demiurgo de Garanhuns é uma usina de ideias retrógradas, ou ruins, ou retrógradas e ruins. Dada a impossibilidade de arejar uma mentalidade como essa, urge arejar o ambiente.
Continua...