Atribuída a Sócrates, a célebre frase "só sei que nada sei" reflete a importância de reconhecer a própria ignorância como ponto de partida para a busca do conhecimento. No entanto, sua autoria é contestada, e o tom da declaração permanece ambíguo, podendo ser interpretado tanto como didático quanto irônico.
Da mesma forma, a Bíblia traz reflexões profundas sobre a ignorância e a sabedoria, como na bem-aventurança de Mateus 5:3: "bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus", e nas palavras de Jesus em Lucas 23:34: "pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem", ao se referir aos soldados que o crucificaram. Esses trechos ecoam através dos séculos, ganhando diferentes nuances e interpretações, seja no contexto religioso ou social.
Essa temática reapareceu em 2021, quando Lula, em resposta a uma crítica de Ciro Gomes contra Dilma, parodiou o filho do Pai: "Perdoai os ignorantes, eles não sabem o que fazem". Mas o petista esqueceu de lembrar — ou lembrou de esquecer — que o art. 21 do Código Penal explicita que desconhecimento da lei não exime o acusado de responsabilidade.
CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA
Ainda haverá dois debates entre os candidatos à prefeitura de Sampa antes do primeiro turno. O primeiro está marcado para as 10h desta manhã (cortesia do jornal Folha de S. Paulo em parceria com o portal UOL) e o segundo, para as 22h de quinta-feira, 3, nos estúdios da Rede Globo.
Se houver segundo turno, mais quatro debates estão previstos: o primeiro para as 22h15 de 14/10, na Band; o segundo às 9h30 de 17/10, na RedeTV; o terceiro, organizado pela Folha/Uol, às 10h de 21/10; e o derradeiro às 22h de 25/10, na Globo.No encontro de hoje, que terá 4 blocos — 2 com perguntas formuladas pelos próprios contendores e 2 com indagações de jornalistas — cada participante disporá de um total 20 minutos e poderá utilizá-los como bem entender e intervir mesmo quando as perguntas forem direcionadas aos rivais. Bem administrado, o relógio pode ser um ativo; mal gerido, pode resultar em prejuízos incontornáveis — um candidato perdulário poderá chegar ao final do debate sem fundos, tornando-se um alvo indefeso, já que o tempo previsto para as considerações finais (1 minuto) pode ser insuficiente para eventuais contragolpes.
Para a plateia, o banco de tempo é um inegável atrativo, pois favorece o dinamismo do debate. Aliás, o da Record, na noite do último sábado, foi um porre.
O conceito da ignorância como obstáculo ao progresso intelectual também foi abordado no "Mito da Caverna" de Platão. Nele, as pessoas acorrentadas à ignorância, presas a dogmas, superstições e preconceitos, tornam-se incapazes de questionar e evoluir, um paralelo com a realidade de muitos ainda hoje.
Essa luta entre o conhecimento e a ignorância também é retratada no filme Matrix, onde o personagem Cypher opta por permanecer na ilusão, evocando a famosa frase de John Lennon, que, parafraseando o poeta inglês Thomas Gray, afirmou que "a ignorância é uma espécie de benção". É interessante notar que essa visão, presente em diferentes épocas e contextos, destaca os desafios de quem busca romper com o conformismo intelectual.
Historicamente, figuras como Antonio Foscarini, carmelita do século XVII, tentaram desafiar a ignorância institucionalizada. Foscarini defendeu Galileu Galilei em um escrito enviado ao cardeal Roberto Belarmino, que advertia o polímata a abandonar suas "heresias". Embora o religioso tenha falecido antes do julgamento de Galileu, suas palavras continuam como um lembrete de que ignorar evidências pode ser perigoso.
Observação: Quando alguma evidência destoa de algum trecho bíblico, quase sempre é a interpretação da Bíblia que está errada. Fica o recado para quem leva a sério a aleivosia do Gênesis ou o delírio do arcebispo irlandês James Ussher sobre a criação do mundo.
O risco de ignorar a ciência fica evidente quando novas descobertas desafiam antigas crenças. Mesmo quando a ciência parecia ousada demais, como no caso dos buracos negros propostos por Einstein, a comprovação dessas teorias pode demorar, mas chega. A imagem do M87 capturada pelo Event Horizon Telescope reforça a ideia de Carl Sagan de que "ausência de evidência não é evidência de ausência".
Ao longo da história, a ciência tem desafiado nossa visão de centralidade no universo. Copérnico deslocou o homem do centro do cosmos, Darwin do centro do reino animal, e Freud questionou até a centralidade da mente humana sobre si mesma. Atribui-se a Einstein uma frase sobre a "estupidez humana", mas essa já é outra história e fica para uma outra vez.
Em termos cosmológicos, a Teoria do Big Bang teve origem em 1927, com a sugestão do padre cosmólogo Georges Lemaître de que o universo teria se expandido a partir de um "átomo primordial". Novas descobertas, como a radiação cósmica de fundo e a Lei de Hubble, continuam a aprimorar essa teoria, mostrando que a expansão cósmica é uma constante.
Edwin Hubble observou que as galáxias se afastam umas das outras, uma evidência de que o universo está em expansão. No entanto, como toda teoria científica, o modelo do Big Bang enfrenta desafios, como o Problema do Horizonte. Se o universo está se expandindo, como regiões tão distantes compartilham as mesmas características, se nunca tiveram tempo de "se comunicar"?
A teoria da inflação cósmica sugere que uma expansão extremamente rápida após o Big Bang permitiu que essas regiões equilibrassem suas propriedades, mas, como diria Bob Dylan, "the answer, my friend, is blowing in the wind".
Continua...