segunda-feira, 30 de setembro de 2024

NOVAS ROUPAGENS PARA VELHAS TEORIAS

É LOUCURA SER SÁBIO ONDE A IGNORÂNCIA É UMA BENÇÃO.
 

Atribuída a Sócrates, a célebre frase "só sei que nada sei" reflete a importância de reconhecer a própria ignorância como ponto de partida para a busca do conhecimento. No entanto, sua autoria é contestada, e o tom da declaração permanece ambíguo, podendo ser interpretado tanto como didático quanto irônico.

Da mesma forma, a Bíblia traz reflexões profundas sobre a ignorância e a sabedoria, como na bem-aventurança de Mateus 5:3: "bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus", e nas palavras de Jesus em Lucas 23:34: "pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem", ao se referir aos soldados que o crucificaram. Esses trechos ecoam através dos séculos, ganhando diferentes nuances e interpretações, seja no contexto religioso ou social.

Essa temática reapareceu em 2021, quando Lula, em resposta a uma crítica de Ciro Gomes contra Dilmaparodiou o filho do Pai: "Perdoai os ignorantes, eles não sabem o que fazem". Mas o petista esqueceu de lembrar — ou lembrou de esquecer — que o art. 21 do Código Penal explicita que desconhecimento da lei não exime o acusado de responsabilidade.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Ainda haverá dois debates entre os candidatos à prefeitura de Sampa antes do primeiro turno. O primeiro está marcado para as 10h desta manhã (cortesia do jornal Folha de S. Paulo em parceria com o portal UOL) e o segundo, para as 22h de quinta-feira, 3, nos estúdios da Rede Globo. 
Se houver segundo turno, mais quatro debates estão previstos: o primeiro para as 22h15 de 14/10, na Band; o segundo às 9h30 de 17/10, na RedeTV; o terceiro, organizado pela Folha/Uol, às 10h de 21/10; e o derradeiro às 22h de 25/10, na Globo.No encontro de hoje, que terá 4 blocos — 2 com perguntas formuladas pelos próprios contendores e 2 com indagações de jornalistas — cada participante disporá de um total 20 minutos e poderá utilizá-los como bem entender e intervir mesmo quando as perguntas forem direcionadas aos rivais. 

Bem administrado, o relógio pode ser um ativo; mal gerido, pode resultar em prejuízos incontornáveis — um candidato perdulário poderá chegar ao final do debate sem fundos, tornando-se um alvo indefeso, já que o tempo previsto para as considerações finais (1 minuto) pode ser insuficiente para eventuais contragolpes. 
Para a plateia, o banco de tempo é um inegável atrativo, pois favorece o dinamismo do debate. Aliás, o da Record, na noite do último sábado, foi um porre.

O conceito da ignorância como obstáculo ao progresso intelectual também foi abordado no "Mito da Caverna" de Platão. Nele, as pessoas acorrentadas à ignorância, presas a dogmas, superstições e preconceitos, tornam-se incapazes de questionar e evoluir, um paralelo com a realidade de muitos ainda hoje.

Essa luta entre o conhecimento e a ignorância também é retratada no filme Matrix, onde o personagem Cypher opta por permanecer na ilusão, evocando a famosa frase de John Lennon, que, parafraseando o poeta inglês Thomas Gray, afirmou que "a ignorância é uma espécie de benção". É interessante notar que essa visão, presente em diferentes épocas e contextos, destaca os desafios de quem busca romper com o conformismo intelectual.

Historicamente, figuras como Antonio Foscarini, carmelita do século XVII, tentaram desafiar a ignorância institucionalizada. Foscarini defendeu Galileu Galilei em um escrito enviado ao cardeal Roberto Belarmino, que advertia o polímata a abandonar suas "heresias". Embora o religioso tenha falecido antes do julgamento de Galileu, suas palavras continuam como um lembrete de que ignorar evidências pode ser perigoso.

ObservaçãoQuando alguma evidência destoa de algum trecho bíblico, quase sempre é a interpretação da Bíblia que está errada. Fica o recado para quem leva a sério a aleivosia do Gênesis ou o delírio do arcebispo irlandês James Ussher sobre a criação do mundo.

O risco de ignorar a ciência fica evidente quando novas descobertas desafiam antigas crenças. Mesmo quando a ciência parecia ousada demais, como no caso dos buracos negros propostos por Einstein, a comprovação dessas teorias pode demorar, mas chega. A imagem do M87 capturada pelo Event Horizon Telescope reforça a ideia de Carl Sagan de que "ausência de evidência não é evidência de ausência".

Ao longo da história, a ciência tem desafiado nossa visão de centralidade no universo. Copérnico deslocou o homem do centro do cosmos, Darwin do centro do reino animal, e Freud questionou até a centralidade da mente humana sobre si mesma. Atribui-se a Einstein uma frase sobre a "estupidez humana", mas essa já é outra história e fica para uma outra vez.

Em termos cosmológicos, a Teoria do Big Bang teve origem em 1927, com a sugestão do padre cosmólogo Georges Lemaître de que o universo teria se expandido a partir de um "átomo primordial". Novas descobertas, como a radiação cósmica de fundo e a Lei de Hubble, continuam a aprimorar essa teoria, mostrando que a expansão cósmica é uma constante.

Edwin Hubble observou que as galáxias se afastam umas das outras, uma evidência de que o universo está em expansão. No entanto, como toda teoria científica, o modelo do Big Bang enfrenta desafios, como o Problema do Horizonte. Se o universo está se expandindo, como regiões tão distantes compartilham as mesmas características, se nunca tiveram tempo de "se comunicar"?

A teoria da inflação cósmica sugere que uma expansão extremamente rápida após o Big Bang permitiu que essas regiões equilibrassem suas propriedades, mas, como diria Bob Dylan, "the answer, my friend, is blowing in the wind".

Continua...