Enquanto o circo eleitoral avança a pleno vapor, a crise
política se agrava e o sistema político-jurídico edificado pela Constituição de
1988 agoniza. À corrupção, somam-se a desorganização da estrutura estatal, seu
controle por inimigos da sociedade de bem e uma elite absolutamente descolada
das necessidades nacionais. Por conta de uma irresponsabilidade nunca antes
vista na história deste país, as instituições se esfacelam, e ao invés de se
buscar o caminho da serenidade, do equilíbrio, da solução das contradições por
meio do debate franco, aberto e democrático, aposta-se no quanto pior melhor. Assim, a duas semanas do primeiro turno das eleições, a
impressão que se tem é a de estarmos diante do embate
final entre o Bem e o Mal. Quem é quem nesse “nós contra eles”, no entanto,
varia conforme as convicções e as preferências de cada um.
Seguidores
fanáticos desse ou daquele candidato, partido ou ideologia trocam acusações e
impropérios (quando não socos e pontapés). O cidadão comum, que tem a vida por ganhar e mais com que se
preocupar, é diuturnamente bombardeado com pesquisas que apontam algo diferente a cada instante, opiniões tendenciosas de analistas, jornalistas e
outros palpiteiros de plantão e uma enxurrada de promessas eleitoreiras que os candidatos declamam em verso e prosa no horário eleitoral obrigatório, como se estivesse tratando com débeis mentais (às vezes estão, mesmo, mas isso já é outra conversa)
Cansada da velha política, parte dos brasileiros passou a apoiar os extremistas extremados em detrimento dos candidatos “de
centro”, como Amoedo, Meirelles e Álvaro Dias. O Capitão Caverna parece ter lugar garantido no
segundo turno, mas ainda não se sabe quem irá enfrentá-lo — os oponentes mais prováveis são Ciro e Haddad, mas estamos no Brasil, onde até
o passado é imprevisível.
O PSDB, tradicional
arquirrival do PT, é tão imprestável na oposição
quanto uma bicicleta para um perneta. Depois que o sucesso do Plano Real garantiu a vitória de Fernando Henrique sobre Lula, em 1994 (no primeiro turno, com
34 314 961 de votos contra 17 122 127 do petista), o
partido “criou fama e deitou na cama”. Mas a mediocridade da segunda gestão de FHC favoreceu tanto a vitória Lula sobre José Serra, em 2002, e Geraldo
Alckmin, em 2006, quanto a eleição de Dilma
em 2010 e sua reeleição em 2014 (com a derrota de Serra e Aécio, respectivamente, para uma fraude, uma gerentona de araque que
faliu
as duas lojinhas tipo 1,99 em 1995, quando o câmbio favorecia
enormemente a revenda de badulaques importados).
Observação: Os tucanos ficaram ainda mais desmoralizados
quando Joesley Batista desmascarou Temer e Aécio. Com o espaço de manobra reduzido, eles optaram por permanecer no
barco, mas sem forças para assumir o leme, dividiram-se entre “cabeças pretas”
e “cabeças brancas”, viraram as costas para a opinião pública e deixaram que se
fechasse a janela de oportunidade que lhes permitiria resgatar a imagem de alternativa lógica para quem não aguenta mais a corrupção do PT
e do PMDB.
Em 2016, o PSDB contribuiu para o impeachment da anta
vermelha e apoiou a ideia de se ter um governo de transição que, mantendo de pé
uma “pinguela” reformista, atravessasse a pior fase da crise e entregasse o
país em melhores condições a quem assumisse o poder em 2018. Mas não moveu uma palha sequer para influenciar ou direcionar esse governo, que se deixou
impregnar pelos interesses escusos do Congresso e pela preocupação em esvaziar
a Lava-Jato e recompor oligarquias e práticas clientelistas, trocando a grande
política pela pequena política. Um governo de perfil “parlamentar”, mas com uma
base pouco confiável, sem grandeza e sem projeto, que se refletiu na composição
ministerial, gerou turbulências e explodiu com as delações da JBS.
Ao longo do tempo, a incompetência do tucanato cresceu
exponencialmente, como comprova a escolha (infeliz) de Geraldo Alckmin para disputar (novamente) a presidência. Na
trilogia “O PODEROSO CHEFÃO”, Michel Corleone afastou Tom Hagen do cargo de consiglieri porque Hagen não era talhado para exercer tais funções em tempo de guerra. Mutatis
mutandis, a analogia se aplica ao picolé de chuchu, que seria uma
escolha até aceitável se o eleitorado não estivesse tão polarizado. E com a notória
indecisão que os leva a mijar no corredor quando a casa tem mais de um
banheiro, os tucanos perderam a oportunidade de substituir o azarão por Tasso Jereissati, João Doria ou alguém com mais chances de vitória. Agora é
tarde, Inês é morta e não adianta chorar sobre o leite derramado.
Com uma campanha morna, um discurso pusilânime, e sem saber explorar sua galáxia de tempo no rádio e na TV, Alckmin não decolou — e dificilmente
decolará, considerando que faltam duas para o primeiro turno. Para piorar, os
caciques do “centrão” desconhecem o significado da palavra ideologia e farejam derrota a léguas. Muitos já se mostram mais
preocupados com a eleição de governadores e congressistas em seus estados — de
olho em sua própria sobrevivência política — do que em apoiar um presidenciável
eleitoralmente moribundo (alguns já nem se dão ao trabalho de esconder a
possibilidade de virar a casaca e apoiar o Capitão Gancho ou o pau-mandado do presidiário
de Curitiba).
Não há, entre as 35 agremiações política
regularmente inscritas na Justiça Eleitoral, um partido mais covarde e vaidoso
que o PSDB. Que o diga o PT. Ao
longo do período em que a ORCRIM
ficou encastelada no poder, saqueando os cofres públicos e aparelhando o
sistema para perpetuar uma perversa dinastia, o país não pôde contar com os
tucanos. Em seus melhores momentos, a oposição foi tímida; nos piores — e esses
se repetiram durante a maior parte do tempo —, ela simplesmente inexistiu.
Agora, quando faltam 15 dias para o apito final, FHC, em carta, pede união contra candidatos radicais para evitar
agravamento da crise. Mas isso já é assunto para a próxima postagem.
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