Haddad não está
crescendo nas pesquisas por ser popular nem devido a quaisquer atributos
pessoais. Sua vaga é de preposto (para dizer de forma gentil), e a essa
condição ele parece perfeitamente adaptado (idem). Ocorre que entre os eleitores
não há somente os crentes, seguidores fiéis da transmutação automática, mas
também os racionais, e é a esses que o petista tem menos de duas semanas para
convencer de que será um poste melhor que Dilma.
O general Villas Bôas
não estava delirando nem pregando quando apontou a possibilidade de perdedores
virem a contestar a legitimidade da eleição presidencial, mas fazendo apenas
uma constatação, baseado em evidências de autoria civil: a palavra de ordem
petista segundo a qual “eleição sem Lula
é golpe”, agora em descanso (temporário?) no arquivo, a desconfiança
manifestada e reiterada de Bolsonaro
na eficácia das urnas eletrônicas no tocante à lisura do resultado e, mais
remotamente, a auditoria pedida por Aécio
Neves em 2014 logo após a derrota para a gerentona de araque.
A inquietude com assuntos de golpes e fraudes não saiu, portanto,
de um cardápio elaborado pelo general, nem partiu dele, muito menos das Forças
Armadas como corporação, o plantio da suspeita na cabeça do eleitorado de que
conspirações estão sempre à espreita, prontas para dar o bote. Quem as
incentiva é justamente a parcela da chamada sociedade civil (aí incluídos
setores importantes da imprensa) que parece referida na busca por emoções
regressivas e, com isso, abre espaço para gente como o vice de Bolsonaro, general Hamilton Mourão, que defende teses completamente fora da realidade
brasileira, quiçá mundial.
O perigo não reside nos militares, cujo peso das
manifestações é nulo do ponto de vista prático. O risco está nas mãos dos civis
e suas interações radicalizadas de posições que estão levando o Brasil a adotar
a lógica da opção eleitoral por exclusão. A melhor e a mais rápida maneira de
cair na armadilha da escolha entre extremos. Notadamente nestes nossos tempos
que requereriam a prevalência da maré mansa sobre a guerra de extremidades em
que o cenário do pior é equivocadamente tido como o melhor para o Brasil.
Em meio ao nevoeiro, o razoável, como diz a música sob o
prudente ensinamento de Paulinho da Viola, é levar o barco bem devagarinho e
desse modo fazê-lo chegar a um porto o mais seguro possível. Isso significa
também deixar os militares postos em sossego fora dessa canoa furadíssima em
que já embarcaram, na qual afundaram e cujo desastre só se loucos pretenderiam
repetir.
Com Dora Kramer
Visite minhas comunidades na Rede .Link: