Mostrando postagens com marcador Temer. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Temer. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 29 de maio de 2018

AINDA SOBRE AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES


O que dizer de um país que entra em colapso quando uma categoria de trabalhadores resolve cruzar os braços em protesto contra os reajustes dos combustíveis?  Um país onde o candidato mais lembrado nas pesquisas de intenção de voto é um criminoso condenado? Onde o presidente amarga a maior rejeição da história, mas sonha com uma quimérica reeleição, quando deveria se fingir de paisagem e ficar calado até o final do seu mandato? Onde o eleitorado é majoritariamente apedeuta e insiste em perpetuar no poder políticos fisiologistas e desonestos? Nada. Pelo menos, se quisermos nos manter no limiar do politicamente correto, do aceitável, do publicável. Vamos adiante.

Temer não só abriu as pernas, mas ficou literalmente de quatro para os caminhoneiros ― que ainda relutam em pôr um fim à paralisação, desbloquear as rodovias e voltar ao trabalho. Uma paralisação que hoje entre no nono dia, que vem causando prejuízos incalculáveis para a já combalida economia, e que deve custar 10 bilhões de reais aos cofres públicos (dinheiro dos contribuintes) para ser debelada.

Observação: O presidente se diz propenso a desistir da reeleição e promete apoiar o candidato que se comprometer em manter seu “legado” e lhe garantir “proteção” no final do mandato. O ex-ministro Meirelles parece ser o nome mais indicado, até porque tem cacife para financiar sua campanha com dinheiro do próprio bolso e vem se mostrando disposto defender o governo em suas andanças Brasil afora, desde que sem citações ao nome do presidente nem eventos ao lado dele.

A candidatura de Geraldo Alckmin continua patinando, com vergonhosos 8% de intenções de voto. Mas não é para menos. Se já não bastasse a absoluta falta de carisma do "picolé de chuchu" e a recente prisão de seu colega de partido Eduardo Azeredo, agora surge mais uma investigação envolvendo seu nome: de acordo com o doleiro Adir Assad, Alckmin teria recebido, através de seu cunhado, 5 milhões de reais em "caixa 2" para sua campanha. Os tucanos já falam até em substituí-lo por outro pré-candidato, mas o ex-governador paulista e atual presidente da sigla reluta, não só porque quer ser presidente da República, mas também porque não lhe agrada a perspectiva de João Dória disputar o cargo em seu lugar.

Em última análise, o que esperar de bom de uma eleição em que todos os candidatos, com a exceção de um só, vão fazer suas campanhas com dinheiro que roubaram diretamente dos cidadãos? O Tesouro Nacional vai doar aos políticos, para suas “despesas de campanha” deste ano, um presente extra de 1,7 bilhão de reais, já separados no orçamento de 2018. Como bem lembrou J.R Guzzo em sua coluna, trata-se de uma aberração que tem a coragem de chamar-se “Fundo de Defesa da Democracia”, ou algo assim. Vem se somar ao “Fundo Partidário”, vigarice antiga criada para dar aos partidos políticos, a cada ano, quantias desviadas dos impostos e destinadas a ajudar na sua “manutenção”.

No ano passado, com um projeto de lei relatado na Câmara pelo deputado Vicente Cândido, do PT, e gerido no Senado por ninguém menos que o senador Romero Jucá, fizeram uma mágica que multiplicou dramaticamente, numa tacada só, os valores que a população deste país será obrigada a entregar aos políticos no decorrer de 2018. É uma conquista notável para os anais da arte de roubar. Quatro anos atrás a mesada anual das gangues que fazem o papel de “partidos” no Congresso Nacional era de 300 milhões de reais. Foi aumentando, aumentando, e agora, diante da necessidade de defender a democracia, está reforçada por estes novos 1,7 bi. A desculpa é que há eleições este ano e as doações de caixa 2, imaginem só, foram proibidas pelos nossos tribunais superiores. É mais ou menos assim: como está teoricamente mais difícil praticar crime eleitoral, chama-se o público para fornecer o dinheiro que os criminosos desembolsavam até agora.

Note o leitor que os partidos queriam 3,5 bilhões de reais, e o PT exigia até 6 bi, ao fixar o valor do “Fundo” numa porcentagem do orçamento da União. De um jeito ou de outro, é bom para as “ORCRIMs”, bom para os políticos e ruim para todos nós. Este dinheiro tem de sair de algum lugar, e este lugar é o nosso bolso. Também não pode ser duplicado. Se foi para os partidos é porque não foi para ninguém mais; no caso de 2018, quase 500 milhões de reais foram desviados das áreas de saúde e educação para o cofre dessas figuras que estão se propondo a salvar o Brasil. O fabuloso “Estado” brasileiro, essa entidade sagrada para o pensamento da esquerda nacional, não tem dinheiro para comprar um rolo de esparadrapo. Mas tem, de sobra, para dar a qualquer escroque que consegue o registro de uma candidatura.

A isso o PT e a esquerda em geral dão nome de conquista democrática popular é o prodigioso financiamento público das campanhas eleitorais, que segundo o seu evangelho elimina a influência “das grandes empresas” nas eleições, etc. e tal. É um espanto, pois o PT foi o mais voraz de todos os tomadores de dinheiro de empreiteiras de obras e outros magnatas que jamais passou pela política brasileira. Agora, está avançando também em cima dos impostos pagos pela população e faz isso com o apoio apaixonado dos seus piores inimigos na cena política, os famosos eles amaldiçoados por Lula há mais de 30 anos e acusados de criar todas as desgraças do Brasil. É uma atração e tanto. Derruba até figuras com os teores de pureza revolucionária da candidata Manuela D’Ávila, que faz cara de horror diante da hipótese de sujar as mãos com essas sórdidas questões financeiras. Prefere enfiar as mesmas mãos diretamente no nosso bolso ― como se assim o dinheiro roubado ficasse limpo. Da direita velha nem adianta falar; roubar é o seu destino. Mas quando a jovem de esquerda age igual, e nem se dá o trabalho de disfarçar, é que a coisa está realmente preta.

Para concluir, relembro a pergunta que deixei no ar na postagem anterior, sobre o motivo pelo qual Lula continua figurando nas pesquisas de intenção de voto, e cito a explicação com que a jornalista Dora Kramer nos brindou, em sua coluna, na revista Veja desta semana:

O político, muito mais que o poeta aludido por Fernando Pessoa, é um fingidor. Exagero? Não é o que nos dizem os candidatos e partidos de maior visibilidade no cenário político-eleitoral de um Brasil em fase de completa (e, dependendo do ponto de vista, benfazeja) desordem eleitoral. Todos simulam tão completamente que fingem padecer de um mal que realmente sentem. Há dor maior para o PT que ter seu único ativo transformado em passivo prisioneiro? Pois ele prefere fazer de conta que anda tudo muito bem, que a candidatura prossegue em busca de um vice e de um programa de governo, adiando o confronto com a realidade para um momento de “maior impacto”, mais próximo das eleições. (O grifo é meu).

Longe ou perto, que “impacto” objetivo provocaria tal gesto? De maneira concreta, nenhum. Pelo seguinte: hoje, Lula não pode concorrer. Mas vamos que possa disputar por obra de recursos judiciais e, assim, vença. Se ganhar, não governará, dada a sua condição de presidiário. De onde a resultante eleitoral seria nula, a menos que se aventasse a hipótese inconstitucional de a Justiça aceitar revogarem-se os votos. Diante de tal impossibilidade, por que, então, Lula segue candidato? Simples: para que o nome dele se mantenha nas pesquisas e, com isso, se prolongue o mito de “líder popular”, ainda que na realidade não lidere sequer o próprio destino. Transita-se, nesse quadro, em pura fantasia. (O grifo é meu).

Vendem-se tantos terrenos na Lua quantos crédulos estiverem dispostos a comprá-los, independentemente do campo político-ideológico a que pertencem. Há os que acreditam na verborragia supostamente inteligente e consistente de um Ciro Gomes que promete luta inclemente contra o fisiologismo do Congresso, a revogação de “medidas golpistas” e a queda dos juros bancários mediante “poderes imperiais” conferidos ao presidente, segundo ele, em seus primeiros seis meses de governo. Há os que acreditam na pregação violenta de Jair Bolsonaro e os que creem piamente na proposta de uma “união de centro” sem candidato nem amálgama de unidade à vista. Bem-intencionados, cujas intenções não se mostram explícitas ou factíveis num Brasil radicalizado pela natureza dos fatos e dos constantes maus-tratos por parte do poder público.

Muito poucos, porém, acreditam no governo Temer. Mais especificamente, 5% das pessoas consultadas nas pesquisas de opinião. Pouco? Muito menos ― 1% ― se dispõe a votar em seu ex-ministro da Fazenda, cujo principal ativo é não ter nada a perder a não ser um bocado de dinheiro, pois foi aceito candidato do MDB por financiar a própria candidatura e liberar o dinheiro do fundo partidário para os correligionários. Michel Temer afirmou que os emedebistas ficam obrigados a se engajar na campanha de Meirelles, sob o risco de punição. De quem? De Temer, que não dispõe de nenhuma munição.

Visite minhas comunidades na Rede .Link:

sábado, 26 de maio de 2018

BRASIL ― ALGUMA COISA ESTÁ MUITO ERRADA




Em meio à paralisação dos caminhoneiros, professores do ensino básico de 34 escolas da rede particular da cidade de São Paulo suspenderam as aulas na última quarta-feira (23), em protesto contra a redução do recesso de final de ano, o cancelamento do direito a bolsas de estudo para filhos e uma série de outros benefícios. Não vou entrar no mérito, mas apenas ponderar que se o objetivo era pressionar o sindicato patronal ou os estabelecimentos de ensino, a estratégia não funcionou. Seja porque a paralisação prejudicou apenas os alunos ― e, indiretamente, seus pais, que pagam caras mensalidades para que as crianças tenham aulas ―, seja por não ter sensibilizado a população em geral, que anda de saco cheio dessas coisas. E não sem razão.

Mesmo após colocar o governo de quatro, os representantes dos caminhoneiros ficaram de “discutir se aceitavam ou não a proposta”. Nesse entretempo, a absurda paralisação segue causando inestimáveis prejuízos, sobretudo ao impedir produtos perecíveis de chegar ao destino, remédios a hospitais e farmácias e combustíveis aos postos. Ainda que esse imbróglio termine neste final de semana, levará dias até que o abastecimento, o transporte e as demais rotinas voltem ao normal no país. 

Claro que as consequências seriam menos dramáticas se quem queria trabalhar não tivesse sido impedido pelos bloqueios em estradas, marginais, portos e outros pontos estratégicos, mas até aí morreu o Neves. Fato é que, além do prejuízo bilionário aos contribuintes, o único resultado palpável do acordo firmado na última quinta-feira foi expor a fragilidade de um governo mambembe, que mal se sustenta nas pernas: o “day after” amanheceu sob o comando da greve, alimentando o temor de que a situação se agravasse se o presidente e o Planalto precisasse ceder ainda mais. Só que Temer já deu os anéis; agora, só lhe restam os dedos.

Salta aos olhos a falta de entrosamento entre os presidentes da República, do Senado e da Câmara. Temer ignorou a crise e se escafedeu para o Rio ― a pretexto de comparecer a uma cerimônia qualquer ―, depois de encarregar o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, das negociações com os caminhoneiros. Eunício Oliveira deixou Brasília na tarde da quinta-feira e só voltou porque sua viagem pegou mal ― e a mídia caiu de pau. Rodrigo Maia tentou capitalizar, mas mostrou que não é bom de conta ao aprovar uma desoneração que geraria um rombo de R$ 10 bilhões. E a Abin, por sua vez, só se apercebeu das dimensões da greve quando era tarde demais. 

Ontem, como solução in extremis, Temer decidiu recorrer às Forças Armadas para desobstruir as estradas ― e convenhamos: já estava mais que na hora. A medida parece ter surtido efeito, embora alguns bloqueios persistam teimosamente, na manhã deste sábado, em diversas rodoviária do país. Aguarda-se uma coletiva de imprensa para logo depois da reunião desta manhã, no Palácio do Planalto (como foi dito na coletiva de ontem, serão duas reuniões diárias para avaliar a situação do movimento; uma logo pela manhã e outra no final da tarde).

Observação: Se alguém tem algo a comemorar, esse alguém é o ex-presidente Lula. Inconformado com o fato de sua vassala Gleisi Hoffmann ― a quem escolheu para substituir Ruy Falcão na presidência nacional do PT ― não ter conseguido “parar o Brasil” em protesto contra sua prisão, agora lhe serve de consolo o fato de os caminhoneiros terem obtido sucesso, mesmo que os motivos do protesto sejam bem outros.

Vale lembrar que greve é como sexo: quando se obriga alguém a fazer, é porque alguma coisa está errada.

Visite minhas comunidades na Rede .Link:

quinta-feira, 24 de maio de 2018

A MENOS DE 5 MESES DAS ELEIÇÕES...



Após dois anos na presidência, Temer tem mais a lamentar do que a comemorar. Claro que o Brasil melhorou ― pior não poderia ficar, a menos que Dilmanta continuasse posando de chefa, e o PT, nos bastidores, roubando a mais não poder. Pena que a roubalheira continue, agora sob nova direção.

Mesmo com a Lava-Jato a todo vapor, nossos conspícuos políticos não tomam jeito. Parecem viver em outro mundo ― e talvez vivam mesmo, porque Brasília é a ilha da fantasia. Depois, quando são pegos com as calças na mão e a cueca manchada de batom, fazem cara de paisagem, juram inocência, dizem que foi tudo armação, perseguição, que confiam em Deus e na Justiça, e que a verdade prevalecerá. Acham que temos cara de palhaço ― e com Gilmar Mendes brincando de laxante universal, talvez eles não estejam errados.

Quase metade dos parlamentares (aí incluídos os membros da Câmara e do Senado) tem contas a acertar com a Justiça penal. E se a outra metade escapou até agora, é porque as investigações ainda não chegaram até ela. Se gritar “pega ladrão”, não fica um ― como dizia o finado Teori Zavascki [sobre corrupção], “a gente puxa uma pena e vem uma galinha”.

Seria uma benção se nosso esclarecido e politizado eleitorado aproveitasse as eleições de outubro para promover uma faxina em regra na Praça dos Três poderes, trocando de uma tacada só o chefe do executivo (e a camarilha que gravita em seu entrono), ¾ dos 81 senadores e todos os 513 deputados federais ― cá entre nós, talvez as eleições proporcionais, na atual conjuntura, sejam mais importantes do que a presidencial, mas vamos por partes.    

As propaladas semelhanças entre o pelito de outubro próximo e as eleições de 1989 não vão além do número elevado de postulantes à cadeira presidencial. Até porque desta vez é fundamental avaliar com cuidado se o candidato tem condições de ir até o final do mandato (dos 4 presidentes eleitos desde a redemocratização, 2 foram impichados).

Salta aos olhos que a maioria dos pré-candidatos, por razões que vão do temperamento à falta de estrutura política, correriam sério risco de não terminarem o mandato se eleitos fossem. Daí a importância aumentada das eleições proporcionais, porque caberá aos deputados e senadores dar ou não sustentação ao novo presidente ― e eventualmente apeá-lo do cargo.

O desafio é enorme, inversamente proporcional à dificuldade de encontrar candidatos sérios e preparados ― sobretudo para a Câmara, ainda que a “qualidade” dos nossos senadores deixe muito a desejar. É certo que seria utópico sonhar com duas Casas Legislativas apinhadas de luminares, mas ao menos poderíamos eleger, para variar, alguns políticos razoavelmente instruídos, honestos, bem-intencionados e dispostos a usar o poder para servir, e não para se servir.

O criminoso Lula, quando ainda não se sabia do que ele seria capaz, recebeu de FHC um país com trajetória de estabilidade e pronto para decolar. Fez coisas boas, notadamente nas áreas fiscal e monetária, mas rapidamente perdeu a mão. Mesmo assim, encerrou seu segundo mandato com a popularidade nas alturas, o que lhe permitiu eleger Dilma sua sucessora ― seguramente a pior das escolhas que o molusco abjeto fez em toda sua vida política, tanto para o país quanto para si próprio.

Michel Temer conspirou para derrubar a presidanta imbuído do propósito de recolocar o Brasil nos trilhos, mas cercou-se de corruptos. Para piorar, jamais teve apoio popular e desde sempre lhe sobraram abacaxis ― entre os quais, sabe-se agora, os fantasmas da sua vida pregressa. Mas não lhe faltará tempo para refletir sobre isso depois que deixar a presidência e for chamado a prestar contas à Justiça.

Para que o país volte a crescer de maneira sustentável, o próximo presidente terá de abrir a economia ― que ainda é relativamente fechada ―, fazer a reforma tributária e uma reforma trabalhista de verdade. Isso sem mencionar a Previdência, que deve ser tratada como prioridade zero, pois, como toda medida impopular, deve ser levada a efeito logo no início do mandato, quando o político dispõe do aval das urnas, da boa vontade dos congressistas e do apoio da sociedade.

Infelizmente, essa é uma tarefa para a qual nenhum dos mais de 20 pré-candidatos parece minimamente preparado, sobretudo Bolsonaro ― comparado a quem Donald Trump se torna o obelisco da normalidade ― e a sonhática Marina Silva, que figuram, respectivamente, como primeiro e segundo colocados nas pesquisas de intenção de voto sem o nome de Lula (o sevandija de Garanhuns é carta fora do baralho, pouco importa que o PT o mantenha nas pesquisas e pretenda insistir em sua candidatura até o último instante).

Resumo da ópera: Embora a possibilidade se torne menor a cada dia, ainda pode despontar no horizonte um político de centro-direita, carismático, com credibilidade, que não esteja envolvido em corrupção e que se destaque pela capacidade de execução. Mas de nada adianta encontrar essa mosca-branca-de-olho-azul se não elegermos parlamentares aptos a construir uma legislação mais moderna e dinâmica, que atraia e dê confiança aos investidores internacionais. Alguns dirão que é mais provável que o eleitorado repita o padrão dos pleitos de 2006, 2010 e 2014, quando o nordeste votou em peso nos candidatos de esquerda, e o centro-sul, com destaque para São Paulo, optou pelos candidatos tucanos. Mas a esperança é a última que morre.

Que Deus nos ajude.

Visite minhas comunidades na Rede .Link:

quarta-feira, 23 de maio de 2018

MICHEL TEMER E O BRASIL QUE VOLTOU 20 ANOS EM 2



Com João Santana e Mônica Moura indisponíveis temporariamente, o presidente Temer encomendou a Edinho Mouco um slogan alusivo ao segundo aniversário do seu governo.

Ao buscar inspiração no bordão de Juscelino Kubitschek ― “50 ANOS E EM 5” ―, o marqueteiro chapa-branca saiu-se com o “O BRASIL VOLTOU, 20 ANOS EM 2”, sem atentar para o fato de que a quase insignificância da vírgula, perdida no meio da sentença, produziria o efeito contrário ao pretendido, ou seja, não passaria a ideia de avanço, mas de retrocesso.

O "samba do marqueteiro doido" foi mais um prego no caixão de um governo moribundo, comandado por um Zumbi que ainda fala (ou falava) em disputar a reeleição.

Não se nega que o país melhorou com a deposição da anta vermelha ― que no final de 2015 era uma presidente encurralada, sem autoridade, sem nexo e sem respeito. Nem tampouco que a PEC do teto dos gastos e a reforma Trabalhista foram conquistas importantes. Mas faltou a Previdência, cuja reforma foi adiada sucessivamente porque o governo não tinha (e não tem) cacife político para aprová-la, sobretudo em ano eleitoral. Sem alternativa, Temer mudou de estratégia e decretou a intervenção militar no Rio de Janeiro ― onde os moradores já não são chamados de habitantes, mas de sobreviventes ―, e a PEC da Previdência foi mandada para as calendas, para o espaço, para a ponte que partiu.

Observação: Em 2015, tínhamos também um presidente da Câmara descrito como homem de poderes sobrenaturais (que não o livraram da cassação e da cadeia), um vice-presidente decorativo e um ex-presidente que posava de gênio da política, sempre prestes a “virar o jogo” mediante conchavos milagrosos (e que hoje responde a 7 ações criminais e está cumprindo pena em Curitiba).

Depois que o vice decorativo passou a titular, a economia deu sinais de recuperação: a inflação e a taxa básica de juros recuaram, os índices de desemprego pararam de crescer e reformas importantes para o país começaram a avançar. Mas o tal ministério de notáveis se revelou uma quadrilha de corruptos, e o presidente reformista dos primeiros meses foi abatido em seu voo de galinha por Joesley Batista. O resto é história recente.

Os “sucessos” alcançados nestes dois anos de governo não são tão expressivos quanto a propaganda oficial quer fazer crer. Dentre os alegados ganhos (clique aqui para conferir a lista completa), destacam-se a retoma do crescimento do PIB, a redução da inflação, a liberação das contas inativas do FGTS, a antecipação do saque do PIS-PASEP, a reversão da escalada do desemprego, a Bolsa Família com fila de espera zerada, e por aí vai. Mas os fatos são teimosos e insistem em desautorizar versões mais tendenciosas. Senão, vejamos:

Após terminar 2017 com alta de 1%, o PIB voltou a apresentar retração, puxado pelo mau desempenho da indústria e do setor de serviços;
 Depois de recuar no final de 2017, a taxa de desocupação cresceu 1,3% no primeiro trimestre deste ano, elevando o número de desempregados a 13,7 milhões;
― A despeito dos juros mais baixos e da melhora na oferta de crédito, a construção civil continua patinando (a capacidade ociosa no ramo beira os 40%);
― A indústria também apresenta retração: o fechamento do primeiro trimestre acuou queda de 0,1%, contrariando as expectativas, que eram de 0,5% de alta;
― O setor de serviços, que representa 70% do PIB, caiu 1,5% no primeiro trimestre de 2018 (em comparação com o mesmo período do ano passado);
― Até o ramo de transportes, que costumava ter bom desempenho em períodos de crise, recuou 0,8% no trimestre ― o pior resultado da série histórica.
― Os endividados no Brasil somam, hoje, um recorde de 61,2 milhões, segundo a SERASA ― a principal razão é a inadimplência no cartão de crédito.

Como desgraça pouca é bobagem, Temer deve ser alvo de uma terceira denúncia. E desta vez a balela de revanchismo não cola mais ― se é que algum dia colou ―, pois Raquel Dodge foi escolhida pelo próprio presidente para substituir Janot no comando da PGR

José Yunes, ex-assessor e amigo de Temer há mais de 40 anos, e o coronel PM reformado João Batista Lima Filho, que está mais para laranja do que para lima, respondem a ação penal por participar da organização criminosa que atuava na CEF e em outros órgãos públicos. Eles foram presos no dia 29 de março por ordem do ministro-relator do caso, Luís Roberto Barroso (e libertados na madrugada do dia 1º de abril, depois de prestarem depoimento). 

O ex-assessor presidencial Rodrigo Rocha Loures o “homem da mala” ― virou réu no final do ano passado e acabou em cana. Geddel Vieira Lima, unha e carne com o presidente, também foi parar na cadeia depois que a PF encontrou R$ 51 milhões em dinheiro vivo no apartamento que ele usava como “bunker” ― semanas atrás, o gorducho virou réu no STF por lavagem de dinheiro e associação criminosa, juntamente com o irmão, o deputado Lúcio Vieira Lima, e a mamãe metralha, dona Marluce.

Uma das filhas de Temer afirmou, em depoimento, que não guardou os recibos da obra de R$ 700 mil realizada em sua casa, que não se lembra do nome das empresas contratadas e que, a mando de seu pai, procurou o coronel Lima (sempre ele), para acompanhar a reforma.

Observação: O coronel Lima é uma espécie de faz tudo de Temer há 4 décadas, e há quase 2 anos evita prestar depoimento. “Muito doente”, o militar reformado entrou de cadeira de rodas na carceragem da PF e se negou a falar, mas saiu de lá andando normalmente ― e debaixo de chuva.

O depoimento da filhota Maristela pode não ter incriminado o papai Michel, mas não afastou as suspeitas que pesam sobre ele. É por isso, mas não só, que o emedebista desistiu de se candidatar à reeleição (aliás, com míseros 7% de aprovação popular, concorrer seria uma temeridade).

Falando em eleições, a cinco meses do pleito o cenário continua nebuloso: sobram candidatos, mas falta estímulo para o eleitorado (mais de 40% dos pesquisados se dizem indecisos ou propensos a votar em branco ou anular o voto). A polarização da política resultou na descrença generalizada em relação aos políticos e abriu espaço para “outsiders”, que o eleitor vê como tábua de salvação e se agarra a ela, mas afunda na primeira onda.

Mais detalhes na próxima postagem.

Visite minhas comunidades na Rede .Link:

segunda-feira, 7 de maio de 2018

SOBRE JUCÁ, O CAJU



Encerrei a postagem de sábado prometendo algumas linhas sobre Romero Jucá, mas achei de falar sobre a aprovação da restrição do foro privilegiado e acabei deixando Caju (codinome do senador emedebista nas planilhas de propina do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht) para a postagem de hoje. Sem mais delongas, vamos a ela.

Romero Jucá Filho nasceu em Recife (PE), em 1954. Formou-se em Economia pela Universidade Católica de Pernambuco e iniciou a carreira política como diretor da Secretaria de Educação do estado. Foi presidente da FUNAI entre 1986 e 1988 e governador biônico do recém-criado estado de Roraima ― cargo que perdeu 18 meses depois, por não conseguir ser eleito pelo voto popular no pleito de 1990. Em 1994, ainda filiado ao PPR, conquistou uma cadeira no Senado; depois de filiar-se ao PMDB, passou a presidir o diretório estadual da sigla em Roraima. Foi líder do governo no Senado nas gestões de FHC, Lula e Dilmanta. Chegou a ser nomeado ministro da Previdência Social no governo Lula, mas deixou o cargo 4 meses depois da posse, por suspeitas de corrupção. Quando a nefelibata da mandioca foi afastada e seu vice passou a titular, Jucá assumiu o ministério do Planejamento, mas, mais uma vez, foi obrigado a deixar o cargo ― que ocupou por míseros 11 dias ―, desta feita devido a acusações de obstrução à Lava-Jato.

Alvo de 13 inquéritos ― sete dos quais no âmbito da Lava-Jato, dois na Operação Zelotes, um de Belo Monte e um da Transpetro ―, Romero Jucá foi o primeiro senador a se tornar réu no STF em ação decorrente das delações de executivos da Odebrecht. Mas continua orbitando o poder central ― aliás, desde a redemocratização que ele participa de todos os governos e se mostra útil a cada um deles. Mas seu afastamento de Dilma ― que ocorreu antes da eleição de 2014 ― o aproximou da oposição, com quem sempre teve boas relações.

No último pleito, Jucá apoiou Aécio, e em 2015, durante a crise que resultou no impeachment, foi um dos principais articuladores do “Plano Temer”. Depois que o PMDB (hoje MDB) assumiu o poder, sua influência cresceu significativamente: não houve neste governo medida no Congresso que não contasse com sua atuação, da aprovação da PEC dos gastos à lei da terceirização, da reforma da Previdência às tentativas (malogradas, felizmente) de blindar a classe política contra a ação saneadora da Lava-Jato.

Jucá encarna como ninguém a elite política ameaçada pela investigação que revelou uma corrupção sistêmica vigente no país há pelo menos três décadas, e a exemplo dos demais políticos investigados, denunciados e réus na Justiça penal, refuta as declarações dos delatores e jura inocência. Da sua ótica, o Brasil caminha para virar uma Itália ― referindo-se à extinção dos principais partidos do país após a Operação Mãos-Limpas, no início da década de 1990, que resultou na assunção de Silvio Berlusconi à Presidência.

Em Roraima, Caju seguiu o exemplo do senador maranhense José Sarney, com quem é unha e carne, no propósito de dominar completamente o estado: sua família é dona de emissoras de TV ― como as retransmissoras locais da Record e da Bandeirantes ―, além de estações de rádio, jornais e empresas de serviço, e sua segunda mulher, Teresa Surita, está no quinto mandato à frente da prefeitura de Boa Vista.

Jucá é o exemplo do político em quem uma pessoa consciente jamais deveria votar para representá-la, nem que fosse como síndico de condomínio. Para não impor ao leitor apenas a minha opinião, transcrevo o que escreveu Roberto Pompeu de Toledo sobre essa figura prosaica, em maio de 2016, quando Temer assumiu a presidência:

“No mesmo dia 17 de abril em que uma presidência apodrecida foi derrubada por uma Câmara dos Deputados podre, o sistema político brasileiro morreu. Não, a afirmação não se sustenta. Seria bom demais para ser verdade. Nas horas seguintes, foram divulgadas fotos do Palácio do Jaburu, onde o vice Michel Temer aguardava, como marido ansioso, o parto de seu triunfo e quem, numa dessas fotos, brilhava em primeiro plano, de pé, enquanto o vice e outros convidados figuravam ao fundo, sentados num sofá, assistindo à transmissão da TV? Romero Jucá!Jucá bem merece o ponto de exclamação; anos atrás, este colunista confessou seu fascínio pelo senador por Roraima, cujos perfil e biografia resumem o que pode haver de mais característico no político brasileiro. Escrevi então:

‘Procura-se alguém capaz de servir a (e servir-se de) diferentes regimes e governos? Dá Jucá na cabeça. Alguém que já saltou repetidas vezes de um partido para outro? Dá Jucá. Alguém com suficiente número de escândalos nas costas? Outra vez, Jucá não decepciona. Alguém que, representante de um estado pobre, de escassa oferta de oportunidades, consegue construir respeitável patrimônio pessoal? Jucá cai como uma luva. Um político que traz parentes para fazer-lhe parceria na carreira? Jucá! Proprietário de emissora de TV? Jucá! Um político que, derrotado aqui e denunciado ali, no round seguinte se reergue, pronto para novos cargos e funções? Jucá! Jucá!’ (VEJA, 6/6/2007).

De lá para cá, Romero Jucá só fez ser fiel a si mesmo. Depois de servir como líder no Senado aos governos FHC e Lula, serviu também ao de Dilma Rousseff. Tudo somado, ficou mais de dez anos na liderança do governo dos três últimos presidentes. Pulou do barco de Dilma na campanha de 2014, quando só a presidente não percebeu que era uma ótima oportunidade para perder, e apoiou Aécio Neves. No ano passado, como era previsível, teve seu nome incluído na famosa “lista do Janot”, em que o procurador-geral da República arrolou os políticos implicados no escândalo da Petrobras. Nas últimas semanas, assumiu a presidência do PMDB, no lugar de Temer, e comandou a cabala de votos em favor do vice e a consequente oferta de empregos no futuro governo. Com Jucá em posição de relevância, não há possibilidade de mudança no sistema político. Não se encontrará entre os políticos brasileiros um mais fiel seguidor da regra de que, quando as coisas mudam, é para ficar tudo igual.

A duradoura influência de Jucá na política brasileira embute um enigma. Ele não se distingue como orador e carece de magnetismo pessoal. Nunca se ouviu dele uma ideia inovadora ou um discurso coerente sobre os rumos nacionais. Representa um estado pequeno (500 000 habitantes) e, fora do mundinho da política, poucos ligarão o nome à pessoa. Uma hipótese é que seu sucesso repouse exatamente na soma de tais deficiências. Por não fazer sombra a nenhum dos pares, circula com desenvoltura entre eles. Por não representar nenhuma ideia, não há como ser desafiado no campo intelectual. Jeitoso, conhece o caminho para, em todas, ficar do lado vencedor.

Há outros sinais de que o sistema seguirá o mesmo. A condescendência com Eduardo Cunha é o mais eloquente. Na votação de domingo, sempre que um deputado acusava o presidente da Câmara, sua voz era abafada por um coro de desprezo. Seguiu-se, um dia depois, uma articulação aberta para salvá-lo das punições que o ameaçam. Foi constrangedor ver um réu por crime de corrupção e lavagem de dinheiro no comando da sessão de impeachment e é inimaginável vê-lo como o segundo na linha de sucessão presidencial. Cunha perde de Jucá, porém, em itens decisivos. Ele se expõe, enquanto o outro se poupa. É atrevido como um jogador de cassino, enquanto o outro soa respeitoso como um sacristão. Por mais protegido que continue, Cunha talvez já não tenha condição de figurar numa foto junto ao provável futuro presidente. Jucá, na última quarta-feira, acompanhou Temer em um almoço com o ex-ministro Delfim Netto, e o trio foi fotografado à saída.

Dilma, uma presidente que une a inépcia à arrogância, não tinha como continuar. Seu governo derreteu-se na mesma medida em que se derretia a economia e esgotavam-se seus recursos para deter o desastre. Quem esperava, no entanto, que, em acréscimo, viria uma mudança no modo de fazer política perdeu. Deu Jucá.


Visite minhas comunidades na Rede .Link:

sexta-feira, 4 de maio de 2018

LULA NA CADEIA, TEMER ENXOVALHADO E O FRANGO COM POLENTA... A QUE PONTO CHEGAMOS!



Houve um tempo em que Lula era habitué do restaurante São Judas Tadeu, que fica em São Bernardo do Campo. Hoje, a então famosa “rota da polenta” já não encarna mais o sonho de ascensão social da classe operária, nem o lulopetismo encanta ninguém ― a não ser a militância ignara, naturalmente. Mas o frango com polenta do São Judas continua excelente, dizem, só que não para o bico de Lula, que em 2016 teria se queixado de não poder mais frequentar restaurantes, nem mesmo em São Bernardo, devido às denúncias de corrupção contra ele, seus asseclas e seu partido. E a coisa ficou mais difícil desde o dia 7 do mês passado, já que o Delivery do São Judas não atende s capital do Paraná. Pobre alma viva mais honesta do Brasil...

A rejeição aos políticos não se limita ao PT, nem tampouco se baliza por ideologias. Até onde a vista alcança, o repúdio é amplo, geral e irrestrito. Peguemos como exemplo Michel Temer, cuja popularidade anda em níveis abissais (apenas 5% dos entrevistados classificam seu governo como bom ou ótimo). Mesmo depois de ter anunciado o aumento do Bolsa Família, ele não escapou da ira de populares, quando teve a infeliz ideia de “prestar solidariedade” às vítimas de um desabamento no centro de São Paulo.

Observação: Foi mancada dos assessores de marketing do presidente, que deveria ter feito como Guilherme Boulos e outros líderes de sem-terras, sem-tetos, sem-vergonhas etc., que não passaram nem perto do local, embora estejam sempre instigando invasões de prédios públicos, mesmo que não tenham condições mínimas de habitabilidade e segurança.

O apoio que ainda resta a Lula é de militantes organizados e mercenários “bancados” para engrossar as cada vez mais minguadas manifestações. O líder petista e seu moribundo partido (que, no fundo, não existem um sem o outro) foram reduzidos a seu nicho original depois que a corrupção se tornou o grande problema nacional e o demiurgo de Garanhuns perdeu sua notória capacidade de mobilizar a população (com exceção da militância desmiolada que o idolatra).

Temer ainda não foi alvo de panelaços (como os que "saudavam" os pronunciamentos de Dilma no apagar das luzes de seu funesto governo), mas não raro é enxovalhado quando aparece em público. Um fim de carreira melancólico para um presidente que almejava ser lembrado como “o cara que recolocou o país nos trilhos do crescimento”. Mas quem semeia ventos colhe tempestades, diz um velho ditado. E foi exatamente isso que Temer fez, ao nomear uma equipe de notáveis que se notabilizou por práticas nada republicanas, e cujos membros foram caindo feito moscas, à razão de um por mês ― Romero Jucá, por exemplo, que assumiu a Casa Civil a despeito de ser investigado em nada menos que 13 inquéritos, não ficou nem 2 semanas no cargo. Renan Calheiros, que é alvo de 17 inquéritos e réu em um deles, trocou de mal com o governo e passou a apoiar Lula (em última análise, os imprestáveis se merecem).

Depois da delação da JBS e das flechadas de Janot, Michel Temer mandou às favas o decoro. Embora ainda negue as acusações, como é regra geral entre os políticos enrolados com a Justiça, já não demonstra o menor constrangimento em se cercar de gente como Moreira Franco, Padilha, Jucá, Carlos Marun e outros elementos da mesma estirpe.

ObservaçãoRodrigo Rocha Loures ― homem da mais estreita confiança do presidente, segundo o próprio presidente ― foi flagrado arrastando uma mala com 500 mil reais. Disse que não tinha conhecimento do conteúdo da mala, mas se apressou a devolver os R$ 35 mil que havia garfado do butim. Geddel Vieira Lima, outro amigo e aliado de Temer, foi encarcerado depois que a PF encontrou, num apartamento ligado a ele, em Salvador, a bagatela de R$ 51 milhões em dinheiro vivo. José Yunes e o coronel João Batista Lima Filho, também velhos amigos de Temer, foram presos pela PF para prestar esclarecimentos sobre o caso da Rodrimar, sem mencionar a filha Maristela Temer, que terá de explicar à Justiça por que a reforma feita num imóvel de sua propriedade foi paga pelo coronel laranja-Lima.

No comando da tropa de choque palaciana, o impávido deputado Carlos Marun, vice-líder do governo na Câmara, transpira beligerância, chegando mesmo a ameaçar de impeachment o ministro Luis Roberto Barroso, do STF, que “teve o desplante” de autorizar a quebra do sigilo bancário de seu amado líder. Aliás, quando se formou maioria na Câmara em favor do sepultamento da segunda denúncia contra o presidente, Marun ofereceu à imprensa um espetáculo inesquecível, cantando e dançando com a graça de um hipopótamo bailarino sua improvisada marchinha da impunidade (vale a pena assistir ao videoclipe). E ainda ameaçou os colegas que votaram contra o governo de exclusão da base, já que, pela sua ótica revanchista, eles deveriam ser tratados como oposição.

Para não encompridar demais este capítulo, o resto para a próxima postagem. Antes de encerrar, porém, cumpre informar que por volta das 16h desta quinta-feira o STF concluiu a votação sobre a restrição ao foro privilegiado para deputados e senadores. Todos os ministros votaram a favor da restrição do foro, embora quatro deles entenderam que todas as infrações ocorridas durante o mandato, inclusive as não relacionadas à atividade parlamentar, devem ser julgadas pelo Supremo. Volto com mais detalhes sobre esse assunto numa próxima oportunidade.

Visite minhas comunidades na Rede .Link:

domingo, 15 de abril de 2018

PETRALHAS E AFINS CONTINUAM IRRESIGNADOS COM A PRISÃO DE LULA



Se a prisão do molusco eneadáctilo roubou a cena no final de semana passado, desta vez foi a notícia do bombardeio à Síria que ocupou as primeiras páginas dos principais jornais e foi trombeteada pela mídia falada e televisiva. No entanto, a política internacional não é a minha praia, de modo que me recolho à minha insignificância e deixo esse tema para quem entende do assunto. Sigamos adiante.

Desde que Lula foi encarcerado, cresce o número de “apoiadores” que buscam livrá-lo da cadeia ou, na impossibilidade, visitá-lo para prestar vassalagem. Na última terça-feira, a juíza da 12ª Vara Federal de Curitiba negou o pedido de visita do senador Roberto Requião e mais 15 puxa-sacos ― dentre os quais os petralhas Lindbergh Faria e Gleisi Hoffmann e os governadores dos estados do Acre, Amapá, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe (basta uma rápida pesquisa no Google para descobrir seus nomes e respectivos partidos). Mas não é só.

No dia seguinte à decisão da magistrada, a Comissão dos Direitos Humanos do Senado (?!) aprovou um pedido da senadora Vanessa Grazziotin para que seus membros verifiquem as “condições de encarceramento” da sede da PF em Curitiba, onde o condenado foi hospedado compulsoriamente. Mas é possível que isso nem venha a ocorrer, pois o Sindicato dos Delegados da PF do Paraná solicitou a transferência do prisioneiro, alegando que sua presença exige que agentes cumpram tarefas fora de suas atribuições, dificulta o atendimento ao público e causa insegurança devido à “vigília permanente” dos militontos.

Paralelamente, a defesa do demiurgo de Garanhuns tenta mais uma chicana para reverter a prisão de seu cliente ― vale lembrar que, no próprio dia de sua prisão, Lula teve um habeas corpus pelo ministro Edson Fachin. A alegação desse agravo regimental é que os chamados “embargos dos embargos” (último recurso possível na esfera do TRF-4) ainda não foram julgados, o que tornaria a prisão do molusco ilegal. Caso Fachin mantenha sua posição, a defesa pede que o recurso seja analisado pela 2ª Turma do STF (leia-se Fachin, Mendes, Lewandowski, Toffoli e Celso de Mello), e em caso de nova recusa, requer a concessão de um habeas corpus “ex officio” (já vimos do que se trata nas postagens sobre o julgamento do HC de Palocci).

Até as pedras portuguesas que revestem o piso do Supremo sabem que os tais “embargos dos embargos” são meramente protelatórios e serão rejeitados pelos desembargadores da 8ª Turma na próxima quarta-feira, mas os honorários os rábulas cobram honorários vultosos e, portanto, precisam mostrar serviço.

Para concluir, algumas linhas acerca de um “efeito colateral” da prisão de Lula no país da corrupção ― onde quase metade dos parlamentares é composta de investigados, denunciados e réus na Justiça penal, e cujo chefe do Executivo só continua no cargo porque (1º) o amigão Gilmar Mendes manipulou o julgamento da cassação da chapa Dilma- Temer no TSE; (2º) porque Temer comprou o apoio das marafonas da Câmara para se livrar das denúncias apresentadas contra si pelo então procurador-geral Rodrigo Janot.  

Fato é que PT e Planalto vêm agindo em conjunto para barrar a prisão após condenação em segunda instância. A ideia é pressionar o ministro Alexandre de Moraes ― que foi nomeado por Temer e que já se manifestou favoravelmente à execução da pena após a segunda instância ―, já que a ministra Rosa Weber frustrou as expectativas dessa caterva.

Na última quarta-feira, petistas próximos a Lula (como Luiz Marinho, pré-candidato ao governo paulista, e o ex-ministro Gilberto Carvalho) se reuniram com Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes para falar sobre as ações que tratam do tema no STF. Um dia antes, Gilmar, que virou bandeira e agora é favorável à prisão somente após o trânsito em julgado, almoçou com Temer e sugeriu a nomeação de Moraes para o Ministério da Defesa, de maneira a tirá-lo da Corte.

Comenta-se também que Temer fez um aceno ao PT quando seus amigos e ex-assessores José Yunes e João Baptista Lima Filho foram presos: “No Brasil do século XXI, alguns querem impedir candidatura. Busca-se impedir ao povo a livre escolha. Reinterpreta-se a Constituição, as leis e os decretos ao sabor do momento. Vê-se crimes em atos de absoluto respeito às leis e total obediência aos princípios democráticos”, diz a nota do presidente “campeão de audiência”, que busca numa improvável reeleição a solução para manter sua prerrogativa de foro. Dias antes, o próprio Lula elogiou a postura de Temer durante a crise provocada pelos áudios gravados por Joesley Batista, afirmando que foi “uma coisa sórdida”, mas que o presidente “soube se impor”.

Como se vê, a desgraça une, e, na política, o inimigo de hoje pode ser o aliado de amanhã. Triste Brasil.

Visite minhas comunidades na Rede .Link:

domingo, 18 de março de 2018

TEMER E SUA EQUIPE DE NOTÁVEIS (CONTINUAÇÃO)



Desde maio de 2016, quando assumiu interinamente a presidência, poucos foram os momentos em que Michel Temer se viu distante de desgastes políticos envolvendo a Esplanada dos Ministérios. A partir dos primeiros anúncios sobre seu alto escalão ― uma equipe de notáveis, segundo o presidente ―, uma relação de controvérsias marcou sua gestão no campo ministerial. Aliás, logo de início ele anunciou que reduziria de 32 para 23 no número de pastas, mas voltou atrás diversas vezes, e hoje temos 29 ministérios, três a menos do que quando Dilma foi afastada.

Da tal equipe de notáveis ― que na verdade era uma notável agremiação de investigados, denunciados e réus na Lava-Jato ― o senador Romero Jucá foi o primeiro a cair, depois de comandar por apenas 11 dias o ministério do Planejamento. Jucá é também o primeiro político com foro privilegiado a se tornar réu no STF a partir das delações da Odebrecht, conforme eu comentei na postagem anterior e voltarei a comentar numa próxima publicação).

Criticado por ter montado um staff sem diversidade racial e de gênero, Temer ― que dizia não se preocupar em ser popular, mas sim em recolocar o país nos trilhos ― indicou mulheres para postos importantes, como Maria Silvia Bastos para chefiar o BNDES (ela se demitiu em maio de 2017) e Flávia Piovesan para a secretaria de Direitos Humanos (ela foi exonerada no fim de 2017). Aliás, a secretaria de Direitos Humanos (para que diabos precisamos disso?), depois de ganhar status de ministério, tornou-se palco da tragicomédia protagonizada pela desembargadora aposentada Luislinda Valois (que se demitiu no mês passado ― e não deixou saudades).

Quando Temer assumiu a presidência, a Lava-Jato (que completou 4 anos na última sexta-feira) soprava sua segunda velinha, e já havia inquéritos envolvendo “notáveis” como Romero Jucá, Henrique Eduardo Alves e Fábio Medina Osório. Em janeiro do ano seguinte, a homologação das delações da Odebrecht deu origem a mais uma centena de inquéritos e envolveu pelo menos 8 ministros, aí incluídos amigos próximos do presidente, como Eliseu Padilha e Moreira Franco. Mas a promessa de demitir ministros que fossem denunciados formalmente (detalhes no post anterior) foi solenemente ignorada depois que sua conversa de alcova com o açougueiro bilionário Joesley Batista veio a público. A partir de então, Temer mandou às favas os escrúpulos e acionou sua tropa de choque para comprar os votos necessários ao sepultamento das denúncias Janot. Conseguiu, mas a um preço absurdo, além de queimar seu capital político e se tornar um pato-manco, refém das marafonas do Congresso.

Entre este mês e o próximo, o presidente terá de substituir ao menos 10 ministros, para que eles possam disputar as próximas eleições. A julgar pelo imbróglio que se seguiu à nomeação da filha de Roberto Jefferson para a pasta do Trabalho, será um caminho espinhoso a trilhar.

Um levantamento feito pelo G1 revela que quase metade dos 54 senadores cujos mandatos terminam neste ano perderão o foro privilegiado se não se reelegerem. Dentre os emedebistas, cito o onipresente Romero Jucá ― ora réu no STF e alvo de pelo menos mais uma dúzia de inquéritos na Justiça ―, o atual presidente do Senado, Eunício Oliveira, seu antecessor, Renan Calheiros (que também é réu no STF), os ex-presidentes da Casa Garibaldi Alves Filho, Jader Barbalho e Edison Lobão (todos investigados na Lava-Jato), além de Valdir Raupp, que já é réu no Supremo, e Eduardo Braga.

Nas fileiras do PT, destaco Gleisi Hoffmann (presidente do partido e ré no STF) e seus esbirros Lindbergh Farias, Humberto Costa e Jorge Viana. No mesmo barco estão os presidentes do DEM, Agripino Maia, e do PP, Ciro Nogueira (além do líder do PP no Senado, Benedito de Lira, e do senador Ivo Cassol, já condenado pelo Supremo numa ação sem ligação com a Lava-Jato). Lídice da Mata e Vanessa Grazziotin, líderes do PSB e do PC do B, respectivamente, também estão no último ano do mandato e são alvo da Lava-Jato. 

Entre os tucanos, são investigados na Lava-Jato e correm o risco de perder o foro privilegiado o vice-presidente do Senado, Cássio Cunha Lima, o ex-presidente do partido, Aécio Neves, o atual ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes (que foi candidato a vice-presidente da República em 2014, na chapa encabeçada por Aécio) e os senadores Ricardo Ferraço e Dalirio BeberTutti buona gente. Cabe a nós, eleitores, botar um ponto final nessa putaria franciscana.

E falando em "buona gente" e em suruba, volto a Romero Jucá na próxima postagem. Até lá.

Visite minhas comunidades na Rede .Link:

sexta-feira, 16 de março de 2018

VIROU MODA: COMO LULA, TEMER VÊ NO ATAQUE AO JUDICIÁRIO SUA MELHOR ESTRATÉGIA DE DEFESA (E MANDA SEU PITBULL PEDIR O IMPEACHMENT DO MINISTRO BARROSO)



Michel Temer nos prometeu um ministério de notáveis e entregou um notável bando de corruptos, que foram caindo um a um, por denúncias de corrupção. O primeiro foi Romero Jucá, nomeado ministro do Planejamento no dia 12 de maio de 2016 e exonerado no dia 23, depois que veio a público uma conversa gravada pelo ex-presidente da Transpetro, na qual o ministro defendia um pacto para “estancar a sangria da Lava-Jato”. Depois foi a vez de Fabiano Silveira, ministro ― pasmem! ― da Transparência, Fiscalização e Controle, exonerado uma semana depois de Jucá. E assim seguiu a procissão.

Quando ainda prezava pela imagem de presidente probo e honesto, Temer garantiu que afastaria quaisquer ministros que fossem denunciados por corrupção e exoneraria os que se tornassem réus, mas a promessa se revelou tão verossímil quanto conversa de camelô paraguaio. Para piorar, em maio do ano passado, quando vieram a público sua conversa nada republicana com Joesley Batista e o vídeo com Rodrigo Rocha Loures correndo pela rua com uma mala recheada de dinheiro (R$ 500 mil), o presidente balançou, mas não renunciou. No pronunciamento que fez à nação quase 24 horas mais tarde, disse que o inquérito no STF seria “o território onde surgiram as provas de sua inocência”, mas transformou o Palácio do Planalto num mercado persa, onde cargos, verbas e emendas parlamentares foram trocados por votos para barrar as denúncias apresentadas contra ele por Rodrigo Janot. Às favas, portanto, os escrúpulos.

Temer escolheu Raquel Dodge para suceder ao procurador vermelho, mas a trégua não durou muito. Agora, ele é novamente alvo de investigações, desta feita por suposto recebimento de propina para alterar regras no setor portuário em benefício da Rodrimar e outras empresas.

Temer encaminhou à PGR um parecer do jurista Ives Gandra Martins e uma carta do ministro da Justiça, Torquato Jardim, segundo os quais a investigação de um presidente por episódios ocorridos antes do início de seu mandato é inconstitucional. Além disso, determinou que sua tropa choque atacasse publicamente as recentes decisões do ministro Barroso ― que derrubou o indulto de Natal concedido a condenados por crime do colarinho branco, decretou a quebra do seu sigilo bancário e autorizou a investida contra o ex-deputado Rodrigo da Rocha Loures e o coronel João Baptista Lima ― pessoas da mais estreita confiança do presidente, pelo menos até que a merda batesse no ventilador.

Para os paus-mandados do Planalto, o STF virou uma “corte dividida e politizada”, com Barrosoultrapassando todos os limites”. Ex-esbirro de Eduardo Cunha e atual pitbull do planalto, Carlos Marun chegou a dizer que o inquérito sobre Decreto dos Portos é desperdício de dinheiro público. O deputado Darcísio Perondi, um dos vice-líderes do governo na Câmara, referiu-se ao ministro Barroso como “o novo escrevedor monocrático da Constituição”.

Marun, aliás, deverá se licenciar da Secretaria de governo, reassumir seu mandato parlamentar  e apresentar um pedido de impeachment contra Barroso. Não será o primeiro caso: desde dezembro de 2015, nada menos que 17 solicitações neste sentido foram apresentadas ao Senado, inclusive contra ex-ministros (caso de Joaquim Barbosa). Segundo levantamento realizado pela Gazeta do Povo, o ministro-deus Gilmar Mendes encabeça o ranking, com 6 pedidos de impeachment.

Observação: O afastamento de um ministro do STF pode ser solicitado por qualquer brasileiro, e a lei que determina suas regras é a mesma que trata do impeachment de presidente da República. Aliás, dormitam nos escaninhos da presidência da Câmara mais de 20 pedidos de impeachment contra Michel Temer.  

Marco Aurélio Mello também foi alvo de um pedido em abril do ano passado (apresentado pelo Movimento Brasil Livre). Há ainda três petições contra Ricardo Lewandowski, outras duas contra Luís Roberto Barroso, e uma que questiona decisão colegiada de Rosa Weber, Edson Fachin e (novamente) Barroso. Em todos os casos, os autores dos pedidos discordam de decisões do Supremo e usam essa divergência para postular o afastamento dos magistrados. Até agora, todos os pedidos foram arquivados pelo Senado.


Visite minhas comunidades na Rede .Link:

segunda-feira, 5 de março de 2018

AINDA SOBRE TEMER, REELEIÇÃO E INTERVENÇÃO FEDERAL



Continuando de onde paramos na postagem anterior:

Tanques e soldados nas ruas não são novidades para os cariocas, mas, para que tenha chances reais de produzir resultados substantivos, a intervenção federal precisa ir bem além, começando por deixar claro de onde virão os recursos, quem vai pagar o quê, e como. Demais disso, é fundamental que se faça uma devassa nas polícias civil e militar e na administração dos presídios, e que se exerça um controle efetivo sobre o abundante afluxo de armas e drogas ― é bom não esquecer que as autoridades não conseguem barrar nem mesmo a entrada de celulares nas penitenciárias.

Isso é só o começo, mas já é muita pedra no caminho do general-interventor, que foi escalado para comandar uma operação cujas únicas preparações foram uma reunião do presidente com ministros de sua cozinha e outra com o marqueteiro Elsinho Mouco. Aliás, para o marqueteiro de Temer, empurrar a bandeira do combate à criminalidade dá ao presidente condições de disputar o voto dos mais pobres e dos eleitores que simpatizam com a candidatura de radical de direita Jair Bolsonaro. “O Temer jogou todas as fichas na intervenção (...). Ele já é candidato”, disse Mouco ao colunista Bernardo Mello Franco, de O GLOBO.

Temer desconversa, até porque disputar a reeleição com índices abissais de aprovação popular e a imagem associada a malas de dinheiro nas mãos e em apartamentos de amigos próximos é coisa de napoleão de hospício. Mas vivemos num país onde a ignorância campeia solta e o candidato preferido pelos desculturados é um criminoso condenado... então, por que não tentar? O momento não poderia ser melhor: com um primeiro lugar vago (só a militância vermelha ainda não vê que a Lei da Ficha-Limpa tornou Lula inelegível e que sua prisão pode ser decretada assim que o TRF-4 julgar os benditos embargos declaratórios-protelatórios, o que deve acontecer ainda neste mês), um segundo com proposta de voltar 30 anos no relógio da história e um terceiro disputado por um aglomerado de pigmeus ciscando em torno de migalhas.

Temer parece estar convencido de que deve entrar na disputa, e se enrola na bandeira da segurança pública para continuar no jogo. Mais do que se reeleger, porém, importa-lhe mesmo é chegar às urnas com cacife suficiente para negociar seu apoio em troca de alguma espécie de salvo conduto na Lava-Jato para si e os seus.

Pesquisas realizadas em janeiro situavam Temer no mesmo patamar de Henrique Meirelles e Rodrigo Maia, que patinam em torno de 1%. Na sexta-feira pós-Carnaval ― logo após o anúncio da intervenção, portanto ― uma enquete realizada pelo IBOPE a pedido do governo deu conta de que 82% dos entrevistados aprovavam o decreto presidencial. Isso bastou para que o humor do presidente mudasse do desânimo com o sepultamento da reforma da Previdência para a euforia com a intervenção. Impulsionado por esse vento de cauda, Temer empacotou 15 medidas ― tidas, agora, como prioritárias ― e as defendeu como solução para aumentar a produtividade da economia. A maioria delas, no entanto, parte de projetos que tramitam há tempos no Congresso e, a julgar pela fragilidade do governo, deverá continuar engavetada. O próprio Rodrigo Maia disse que essas medidas eram “café frio e velho”, e que o Congresso vai voltar o que julgar importante. E Eunício Oliveira seguiu pela mesma linha: “A pauta do Congresso quem faz somos nós; não é o governo que faz a pauta aqui”.  

Não é fácil mensurar o número de brasileiros que acreditam em soluções militares. Por outro lado, é impossível negar que população vem sendo sistematicamente insultada por decisões de um STF que presta vassalagem a condenados por corrupção, é feita de trouxa por uma caterva de deputados e senadores da pior catadura, tem seus direitos mais básicos violados por criminosos e vê o Judiciário soltar quem deveria estar preso ou manter fora da prisão quem deveria estar lá dentro.

Enfim, tanto no caso da intervenção quanto no da sucessão presidencial, sobram perguntas e faltam respostas. Vamos acompanhar e torcer pelo melhor.

Visite minhas comunidades na Rede .Link:

domingo, 4 de março de 2018

TEMER PRESIDENTE? DE NOVO?



Enquanto articulava a deposição da gerentona de festim, Michel Temer acenava com um governo reformista e um ministério de “notáveis”. Quando assumiu o posto, prometeu enxugar a máquina pública, começando por extinguir ao menos 10 ministérios. Cortou apenas seis (e depois criou outros três, o que nos deixa com 29 pastas, três a menos do que tínhamos quando Dilma foi penabundada), e sua equipe de notáveis se revelou uma notável agremiação de corruptos ― que foram caindo feito moscas, à razão de um por mês, devido a suspeitas de corrupção.

Num primeiro momento, quando gozava de invejável apoio parlamentar, o presidente conseguiu aprovar as PECs do Teto dos Gastos, da Legislação Trabalhista e do Ensino Médio. Só que empacou justamente na mais importante, notadamente por não ter sido capaz de esclarecer a população da necessidade da reforma da Previdência e, consequentemente, de reunir os 308 votos necessários à sua aprovação na Câmara. 

A perspectiva de uma derrota fragorosa forçou o governo a diversos adiamentos, e depois de passar meses afirmando que a provação da PEC era uma questão de vida ou morte ― até porque as despesas com folha de pagamento e aposentadoria consomem 70% do orçamento e continuam subindo acima da inflação ―, Temer e seus acólitos se resignaram em deixar o tudo ou nada para depois do Carnaval. Estranhamente, porém, resolveram abandonar de vez o projeto e apostar todas as fichas na intervenção federal no Rio de Janeiro. Mas vamos por partes. 

A derrocada de Michel Temer começou com a divulgação da famigerada reunião clandestina com Joesley Batista, que teve efeitos arrasadores para um governante tido como ilegítimo e carente de apoio popular. Para piorar, a partir daquele episódio, seus aliados de ocasião, membros da notória banda podre do Congresso, passaram a exigir mais e mais benesses para apoiar o governo, aproveitando-se do fato de o presidente estar disposto a tudo para escapar das folclóricas “flechadas” de Janot

Tudo somado e subtraído, o reformista que almejava entrar para a história como “o cara que recolocou o Brasil nos trilhos do crescimento” tornou-se o primeiro presidente da nossa história a ser denunciado, no exercício do cargo, por crimes comuns (corrupção, associação criminosa e obstrução da Justiça).

É de se reconhecer que o Brasil melhorou significativamente desde a deposição da anta vermelha, que a inflação e a taxa básica de juros caíram a patamares inéditos, que o PIB voltou a crescer ― cerca de 1%, o que pouco, mas é muito se comparado com o descalabro havido durante o governo Dilma ― e que os índices do desemprego, se não baixaram, ao menos deixaram de subir. Por outro lado, se o sepultamento das denúncias marcou o início da segunda fase do governo Temer ― pautada por uma agenda reformista, necessária, mas altamente impopular ―, a intervenção no RJ inaugurou uma terceira, focada no populismo explícito, o que é uma guinada surpreendente, considerando que Temer sempre disse que a aprovação popular lhe era indiferente. Mas para tudo existe uma explicação.

O desânimo com o sepultamento da reforma da Previdência deu lugar à euforia com a intervenção federal no Rio, onde o problema da violência não começou durante o Carnaval, mas as cenas exibidas pela TV durante a folia facilitaram a decisão, que foi enfaticamente estimulada pelo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, para quem Temer teria pouco a perder se a medida não funcionasse e tudo a ganhar se ela desse certo. 

O "x" da questão é que a intervenção foi decretada sem um mínimo de planejamento, pegando de surpresa tanto o governador Pezão (que, a meu ver, deveria ter sido afastado) quanto os presidentes da Câmara e do Senado, sem mencionar o próprio interventor, que optou pelo silêncio durante a cerimônia em que a medida foi anunciada, talvez para disfarçar sua total perplexidade.

Para não estender demais este texto, continuaremos no próximo post. Tenham todos um ótimo domingo.

Visite minhas comunidades na Rede .Link: