O PSDB já foi o
maior partido de oposição aos governos corruptos de Lula e Dilma. Agora, é
tão inútil quanto um casaco de pele, ao meio dia, sob o sol causticante do
verão senegalês.
Consenso, dentro da legenda, é como nota de US$ 100 em bolso de mendigo. Não
existe. O tucanato faz reuniões e mais reuniões, mas nada fica
decidido. Nem para expulsar o senador corrupto que traiu 51 milhões de
eleitores os tucanos prestam. E o mesmo vale para o Senado Federal: na
última terça-feira, 24, o senador maranhense João Alberto Souza, presidente da Comissão de Ética do Senado, determinou, com base no parecer da Advocacia
Geral da Casa, o arquivamento da representação que pedia a cassação do neto de Tancredo. Ainda cabe recurso ao
plenário da Comissão, até porque estamos no Brasil, onde sempre existe uma
instância superior a quem se pode recorrer contra uma decisão desfavorável, daí
ser fundamental, para a classe política, manter o famigerado foro privilegiado. Numa estimativa
otimista, 99% dos recursos contra condenações na esfera penal que chegam até STF caducam, caem de maduro ou morrem
de velhice.
O PSDB nasceu de
uma costela do PMDB e teve seu
momento de glória ao emplacar FHC,
que, quando ministro de Itamar,
conseguiu vencer a hiperinflação sistêmica. Mas os tucanos deixaram a esquerda
criar asas e perderam a presidência para Lula.
O sonho de recuperá-la em 2010 até poderia ter se concretizado se eles tivessem se empenhado mais, mas esse cemitério de egos ainda não se
conscientizou de que brigar entre si não serve como treinamento para lutar
contra os verdadeiros adversários.
Depois da derrota de Aécio
em 2014, o partido entrou em parafuso. Ainda que tenha contribuído para o
impeachment de Dilma, que o tenha
feito em nome da estabilidade, da governança, da austeridade, da “salvação
nacional”, que tenha apoiado a ideia de se ter um governo de transição que,
mantendo de pé uma “pinguela” reformista, atravessasse a pior fase da crise e
entregasse o país em melhores condições para o presidente a ser eleito em 2018,
o PSDB nada fez para influenciar ou
direcionar esse governo. Um governo de perfil “parlamentar”, mas com uma base pouco confiável, sem grandeza e sem projeto, que se refletiu na composição ministerial, gerou turbulências e explodiu com as delações da JBS, que se deixou impregnar pelos interesses escusos do
Congresso e pela preocupação em esvaziar a Lava-Jato e recompor oligarquias e
práticas clientelistas, trocando a grande política pela pequena política.
O PSDB ficou
ainda mais desmoralizado com o afastamento judicial de Aécio Neves, cuja imagem de bom moço enganou meio mundo (e aí se
inclui este que vos escreve). Agora, seus caciques vão empurrando com a barriga
a decisão de podar as asinhas do mineirinho safado, que continua senador e
presidente afastado da sigla ― e como seu amiguinho e aliado de ocasião Michel Miguel Elias Temer Lulia, não pode nem ouvir falar em renúncia.
Os tucanos deram as
costas para a opinião pública e deixaram passar a oportunidade de resgatar a imagem de alternativa lógica para quem não suporta mais corruptos
como os do PT e do PMDB. Hoje, criticar o governo é como um roto falar mal de um esfarrapado, mas apoiar Michel Temer foi mais um tijolo na obra
de desconstrução do tucanato ― algo que certamente cobrará seu preço, tanto do
partido, que prolongou sua indefinição, quanto da política nacional, que perdeu
outro personagem que poderia fazer a diferença. Ou será que a sociedade, a
opinião pública e o eleitorado perdoarão os tucanos nas próximas eleições?
Falando em erros crassos, embora não me agrade nem um pouco
falar na patuleia ignara, vale registrar que supostas
conversas de bastidores do PT davam conta de que Temer não sairia vivo do hospital ― onde foi internado na última
quarta-feira, 25, devido a problemas urinários. Mas faltou um chazinho como aquele que, dizem, abreviou o pontificado do papa João Paulo I. Afinal, rezar e acender
vela até pode ajudar, mas se não jogar pedra nos cachorros é mordida na certa.
Para o PT,
interessava a permanência de Temer
na presidência, não só porque ambos querem enterrar a Lava-Jato, mas também porque os petralhas acham que a impopularidade do presidente acabará enterrando de
vez a já combalida economia. Mas não é o que se vê. Mesmo que a
gestão do vampiro do Jaburu não passe de um “terceiro tempo” dos governos de Lula e Dilma, o mercado, sabiamente, precificou o
dito-cujo. Prova disso é que, no dia seguinte ao sepultamento da segunda
denúncia, a bolsa abriu em alta e a cotação do dólar recuou.
Faltou
o PT combinar com o mercado ― e dar
o tal chazinho revigorante a sua insolência, naturalmente.
Aliás, segundo a Folha,
em sua peregrinação por Minas Gerais o incansável candidato eneadáctilo esteve
numa aldeia indígena em Coronel Murta, onde foi benzido por Benvina Pankararu, cacique da tribo.
Ela teria dito que o indigitado “precisa mesmo ser rezado”. Mas nem reza brava
vai impedir sua condenação pelo TRF-4. Vade retro, Satanás!
Visite minhas comunidades na Rede .Link: