Lula, em mais um discurso inflamado contra a
Lava-Jato, disse “saber que está lascado”, exigiu um pedido de
desculpas do juiz Sérgio Moro e
afirmou que, mesmo fora do Planalto, será um cabo eleitoral expressivo nas
próximas eleições.
O incorrigível parlapatão, réu em sete ações penais e já condenado em uma delas a 9 anos e meio de
prisão, insiste em atribuir a outrem a culpa por suas mazelas. Para ele, o objetivo
de Moro é impedir sua candidatura e neutralizar
seu apoio a um candidato alternativo ― nos bastidores, o PT cogita a candidatura do ex-prefeito de Sampa, Fernando Haddad, que estava presente
no evento, fez um discurso rápido e encerrou dizendo esperar que Lula assuma a Presidência em 2019.
Lula explicou que
não pretende ser absolvido ― o que, aliás, nem seria possível no mundo das
coisas reais. Ele já foi condenado e o juiz não poderia voltar atrás na
sentença, mesmo que estivesse morto de arrependimento, o que não parece ser o
caso. Quem poderia mudar as coisas, pelo
que está escrito na lei, são as instâncias superiores, mas Lula, pelo jeito, não parece muito confiante nas suas próprias
razões. Disse que já está “lascado”, e, diante desta constatação pessoal, o que
lhe restaria agora seria o consolo de um pedido de perdão. É uma novidade, pelo
menos. Normalmente, segundo os hábitos em vigor no resto do mundo, quem pede
perdão é o sujeito que foi condenado. No Brasil de hoje, segundo Lula, é o contrário.
Tudo isso, naturalmente, é gritaria de arquibancada, que
xinga o juiz, mas não muda o resultado da partida. Mas também é mais uma prova de que Lula continua convencido da existência
de dois Brasis separados ― um para todos os cidadãos brasileiros e um outro,
diferente, só para ele. Segundo a sua visão das coisas, só há justiça quando as
decisões são a seu favor, e só existe na sociedade brasileira um cargo à altura
de suas virtudes ― o de presidente da República. Quem não concorda é inimigo do
povo, do Brasil e da humanidade. Você sabe quem é essa gente ― são “eles”. Se o
incomodam, pelo motivo que for, só podem lhe pedir desculpas.
A defesa nos processos a que Lula responde, patética desde sempre, agora chega às raias da humilhação ― com documentos datados
em 31 de junho e 31 de novembro, a responsabilidade de tudo jogada o tempo todo
sobre a mulher morta e suas razões reduzidas a um monótono e repetitivo “eu não
sabia”. Como relembra J.R.
Guzzo em sua coluna na revista Veja, o petista ficou oito anos seguidos na presidência da República e nunca soube
de nenhum crime de corrupção, nem um só, entre centenas que foram praticados e
já confessados por gente do seu governo. A carta aberta de seu homem forte, Antonio Palocci, é feia como uma
fratura exposta, mas Lula achou que
a população, organizada pelos “movimentos sociais”, iria em massa para as ruas
e impediria a Justiça de expedir uma sentença de condenação contra ele. Não
aconteceu nada.
Entraram para sempre na biografia do petralha, no papel de
aliados íntimos, criminosos como Sérgio
Cabral, Joesley Batista, Marcelo Odebrecht, Geddel Vieira Lima e Eduardo
Cunha ― todos na cadeia. Ele vive cercado de criminalistas, puxa-sacos e
gente que não manda em mais nada. Não consegue fazer alianças com ninguém, não
tem ministérios para oferecer em troca de apoio, não manda mais na Petrobras,
não pode encomendar sondas para a extração de petróleo nem prestar favores a empreiteiras
de obras públicas. Não pode mandar o BNDES e os fundos de pensão das estatais
dar dinheiro à JBS e outras empresas amigas. Em suma: a vida está dura e com
viés de ficar pior.
Curiosamente, o número de eleitores que pretendem votar nele
em 2018, segundo as pesquisas de opinião pública, vai aumentando à medida que
sua situação na Justiça se complica; quanto mais cartas de Palocci e recibos com datas inexistentes aparecem, mais votos ele tem
nas sondagens. Pelo andar da carruagem, deverá estar chegando perto dos 100% na
véspera de sua próxima sentença.
A ideia, ao que tudo indica, é fazer com que a Justiça,
diante da prodigiosa quantidade de votos para Lula que os institutos anunciam, fique com medo de “alguma
convulsão social” etc., anule sua condenação atual e as outras que vierem ― ou
troque de repente o baralho e decida que ele pode ser candidato à presidência
mesmo estando condenado. Não está claro se esse é um caminho promissor.
Pesquisas de opinião não costumam mudar sentenças judiciais, mesmo na Justiça
Brasileira.
O número de votos que dão a Lula também não aparece na rua. Até agora, tudo o que seu sistema
de apoio conseguiu produzir em termos de manifestação popular foi o costumeiro
ajuntamento de meia dúzia de ônibus fretados, militantes profissionais e
distribuição de lanches ou camisetas vermelhas. É pouco, para a revolução que
pretendem fazer. Parece ter havido um grande engano na coisa toda. Lula achou que o povo ficaria indignado
com sua condenação, ou possível prisão. Mas o povo em geral não fica indignado
com prisão nenhuma, muito menos de alguém como ele, que caiu na descrição
genérica de “político ladrão” aplicada pela população a nove entre dez
políticos deste país. É o contrário: o povo gosta quando algum peixe gordo vai
preso. Fica indignado, isso sim, quando algum deles é solto.
Também parecem pouco promissoras, em termos de resultados
práticos, as pesquisas segundo as quais a “popularidade” do juiz Sérgio Moro “está caindo” ou que afirma
que ele seria derrotado por Lula num
segundo turno das eleições de 2018. Mas o magistrado não está participando de
um concurso de Mr. Simpatia; nem vai, menos ainda, disputar nenhuma eleição
contra Lula. De que adianta dizer
isso? Não dá para esperar desse pesqueiro os mesmos resultados que se esperam
das pesquisas de “intenção de voto”. Aqui é a vida real. Vai sair uma sentença
no tribunal que julga os recursos de Lula
contra sua condenação; vão sair outras sentenças. E se o ex-presidente acabar
condenado em definitivo, o “juizinho do interior” formado na faculdade de
direito de Maringá, vai ser considerado um dos maiores heróis que o Brasil já
teve, digam o que disserem as pesquisas. É a vida.
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