Com o rosto encoberto por moletom, acompanhado de delegados
de polícia e da mãe, um terceiro suspeitode ter participado da chacina na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, se apresentou na manhã desta
sexta-feira ao fórum da cidade. Segundo a polícia, o jovem, de 17 anos, teria participado
do planejamento do atentado. A decisão de apreendê-lo foi anunciada na última quinta-feira
pelo delegado-geral,
Ruy Ferraz Fontes; se for comprovado seu envolvimento no caso, a juíza
pode dar uma sentença imediata, inclusive de internação.
“Não há explicação”, avisa o título do artigo publicado
no Estadão desta quinta-feira
pelo psiquiatra Daniel Martins de Barros.
“Não há como explicar o inexplicável.
Crimes como o de Suzano angustiam pela morte de jovens, mas também pelo desejo
nunca alcançado de se entender”. Para o articulista, episódios do gênero são
especialmente chocantes também por não serem frequentes.
Nos últimos anos, 30 jovens brasileiros foram assassinados
em selvagerias semelhantes à registrada nesta quarta-feira. Só em 2016, compara
o psiquiatra, morreram mais de 30 mil brasileiros com 15 a 29 anos de idade,
vítimas de outros tipos de homicídio. Desde o tempo das cavernas sobram
evidências de que o ser humano tem defeitos de fabricação, alguns dos quais
produzem assassinos patológicos. Não há como decifrar a mente criminosa, mas
nossos especialistas em tudo não admitem a existência de perguntas sem respostas.
“É a cultura da violência”, garantem alguns decifradores de
enigmas. Provavelmente ignoram que o mais apavorante desses crimes, consumado
em 2011, teve como palco uma ilha da pacífica Noruega: um atirador solitário
matou 92 jovens reunidos num acampamento. Outros gênios da raça culpam a
chamada flexibilização do acesso às armas de fogo, por enquanto apenas um
desejo do governo Bolsonaro. A legislação é a mesma de 2011, quando 12 jovens
foram executados na escola em Realengo, no Rio de Janeiro.
Há também os que atribuem tais erupções de violência à
internet, acusada de manter à margem da vida lá fora uma imensidão de
adolescentes. Mas são milhões os jovens que passam horas a fio enfurnados no
quarto, às voltas com videogames sangrentos. E se contam nos dedos os que
resolveram reproduzir no mundo real cenas de guerras virtuais. Mas explicadores
de botequim pulverizam qualquer interrogação com menos de 50 palavras. É hora de confrontá-los com as três perguntas que afligem a
humanidade desde o Dia da Criação. Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos?
Os analistas de galinheiro decerto já têm na ponta da língua a resposta errada.
Enfim, só nos resta lamentar — inclusive a gritante propensão do Judiciário para... bem, é melhor deixar pra lá.
A Lei da Ficha-Limpa pode nos livrar do
arrivista de esquerda, mas a ameaça representada pelo extremista de direita
tende a crescer. Até que ponto, só Deus sabe, porque os órfãos do petralha
dificilmente se renderão aos "encantos" de Bolsonaro
― aliás, nada garante nem mesmo que eles aceitem a orientação de seu amado
mestre e votem em Haddad (parece que
Jaques Wagner prefere disputar uma
vaga no Senado a ir para o sacrifício).
Quanto a Luciano Huck, nenhuma surpresa. Ejá havia fechado a porta em novembro, embora a tenha deixado destrancada ao pedir que seu nome não fosse retirado das pesquisas de
intenção de voto. Como os
pré-candidatos têm até o dia 7 de abril para se filiarem a algum partido, também não será surpresa se ele desista de desistir,
já que sua vontade de concorrer é nítida. Faltam-lhe é coragem para ter sua privacidade devassada e colhões para apostar alto numa parada de
“tudo-ou-nada”. Se o apresentador global teria cacife para aglutinar os
partidos de centro, ou o que aconteceria se ele conseguisse se eleger, bem, aí é outra conversa. Mas a Globo o ajudou a descer do muro ao cientificá-lo de que tanto ele quanto sua angélica esposa teriam de trilhar
um caminho sem volta ― o que significaria abrir mão dos milhões que o casal fatura dominando mais de 3 três horas semanais de programação na emissora. Com isso, Alckmin acalenta o sonho de transformar seu patético
voo de galinha num profícuo voo de condor, o que pode até acontecer enquanto não aparecer outro
“outsider” (convenhamos: o picolé de chuchu definitivamente não entusiasma).
No que tange à intervenção
federal no Rio de Janeiro (não
confundir comintervenção militar, a despeito de o interventor ser general do exército), o decreto está
valendo desde a última sexta-feira, mas deverá ser avalizado pelo Congresso ― deputados e senadores têm
10 dias para votar sua manutenção, o que, na Câmara, deve ocorrer já na próxima
segunda-feira, e no Senado, até o final da próxima semana.
Pezão (que na
verdade se chama Luiz Fernando de Souza)
posa de pai da criança, dizendo ter negociado a intervenção na área da
segurança do Rio pensando no bem-estar da população. Na verdade, na quarta-feira de Cinzas, ao reconhecer publicamente que o crime organizado vem dando de lavada no seu
desorganizado governo ― como dão conta as ocorrências no Carnaval, com casos de
violência na capital e em cidades do litoral e do interior do Estado ― o governador forneceu a deixa para Michel Temer decretar a intervenção federal.
Observação: Enquanto Momo reinava alegremente na capital Fluminense, arrastões
aconteceram até mesmo em bairros considerados seguros, como Leblon e Ipanema. Como que para fechar a festa com chave de ouro, São Pedro mandou um temporal com 7 mil
raios, água para inundar boa parte das regiões norte e oeste da Cidade
Maravilhosa e deixar 4 mortos e mais de 2 mil desalojados. Enquanto isso, o prefeito Marcelo Crivella passeava na Europa. A
viagem custou R$ 130 mil aos contribuintes,
e o MPRJ está analisando a questão
para decidir que medidas adotar. Desde que assumiu o cargo, em janeiro de 2016,
Crivella passou 36 dias no exterior
― em viagens oficiais, segundo ele, mas que, por enquanto, não trouxeram
benefício algum para a população carioca.
Autorizados pelo presidente, Moreira Franco, ministro da
Secretaria-Geral da presidência, e Raul
Jungmann, ministro da Defesa, voaram para o Rio e enfiaram o plano goela
abaixo de Pezão, que, diferentemente de Roberto Sá ― secretário de Segurança estadual, que apresentou seu
pedido de exoneração 4 horas depois de Temer
assinar o decreto ―, não renunciou, talvez por ser alvo de diversas
investigações no STJ (deixar o
cargo significaria abrir mão do foro
especial por prerrogativa de função).
Inicialmente, tanto Rodrigo
Maia quanto Eunício Oliveira
(presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente) forma contrários à medida,
mas acabaram “convencidos” de que era isso
ou isso. Na noite da próxima segunda-feira, Maia deverá nomear um relator na CCJ da Câmara, que apresentará o parecer a ser votado pelos demais
parlamentares. É necessária a presença de 257
dos 513 deputados para que a sessão seja aberta e 50% mais 1 voto dos presentes para que o decreto seja aprovado. Com a inclusão da
intervenção na pauta, a reforma da Previdência, cuja discussão estava prevista
para a próxima terça-feira, será adiada sine
die ― e vai ficar para o próximo presidente, pois o Planalto não tem os 308 votos necessários para aprová-la,―já que a Constituição não pode receber emendas enquanto viger a
intervenção federal.
O interventor, general de Exército Walter Souza Braga Netto, terá
plenos poderes sobre as secretarias estaduais de Segurança Pública, as polícias
Civil e Militar, o Corpo de Bombeiros e a Administração penitenciária. Ele ficará
subordinado diretamente a Temer ―
não estando sujeito, portanto, a normas estaduais que conflitarem com as
medidas necessárias à intervenção. Áreas da administração fluminense que não
tenham relação direta ou indireta com a segurança seguirão sob o comando do
governador Luiz Fernando Pezão.
Uma pesquisa encomendada pelo governo, que ouviu por
telefone 1.200 moradores do Rio de Janeiro, dá conta de que mais de 80% deles
aprovaram a intervenção. Já a oposição vê o decreto como uma manobra que visa disfarçar
a incapacidade do governo de votar a PEC
da Previdência, como uma medida fadada ao fracasso num estado falido, ou como ambas coisas.
Particularmente, sou contrário a qualquer medida impositiva ― e
não há nada mais impositivo do que governar por decreto ―, mas situações desesperadoras exigem medidas
desesperadas. A intervenção pode não ser a melhor solução, mas qual seria a
alternativa, então? O jeito é torcer
para funcionar ― se não funcionar... bem... vamos dar um passo de cada vez.