Michel Temer nos prometeu
um ministério de notáveis e entregou um notável
bando de corruptos, que foram caindo um a um, por denúncias de
corrupção. O primeiro foi Romero Jucá,
nomeado ministro do Planejamento no dia 12 de maio de 2016 e exonerado no dia
23, depois que veio a público uma conversa gravada pelo ex-presidente da Transpetro, na qual o ministro defendia
um pacto para “estancar a sangria da Lava-Jato”.
Depois foi a vez de Fabiano Silveira, ministro ― pasmem! ― da Transparência,
Fiscalização e Controle, exonerado uma semana depois de Jucá. E assim seguiu a procissão.
Quando ainda prezava
pela imagem de presidente probo e honesto, Temer garantiu que afastaria
quaisquer ministros que fossem denunciados por corrupção e exoneraria os que se
tornassem réus, mas a promessa se revelou tão verossímil quanto conversa de camelô paraguaio. Para piorar, em maio do ano passado, quando vieram a público sua conversa
nada republicana com Joesley Batista e o vídeo com Rodrigo Rocha Loures correndo pela rua com
uma mala recheada de dinheiro (R$ 500 mil), o presidente balançou, mas não renunciou. No pronunciamento que fez à
nação quase 24 horas mais tarde, disse que o inquérito no STF seria “o território onde
surgiram as provas de sua inocência”, mas transformou o
Palácio do Planalto num mercado persa, onde cargos, verbas e emendas
parlamentares foram trocados por votos para barrar as denúncias apresentadas
contra ele por Rodrigo Janot. Às favas, portanto, os escrúpulos.
Temer escolheu Raquel Dodge
para suceder ao procurador vermelho, mas a trégua não durou muito. Agora, ele é novamente alvo de investigações, desta feita por suposto
recebimento de propina para alterar regras no setor portuário em benefício da Rodrimar e outras empresas.
Temer encaminhou à PGR um parecer do jurista Ives Gandra Martins e uma carta do
ministro da Justiça, Torquato Jardim, segundo
os quais a investigação de um presidente
por episódios ocorridos antes do início de seu mandato é inconstitucional.
Além disso, determinou que sua tropa choque atacasse publicamente as recentes
decisões do ministro Barroso ― que
derrubou o indulto de Natal
concedido a condenados por crime do colarinho branco, decretou a quebra do seu sigilo bancário e
autorizou a investida contra o ex-deputado Rodrigo
da Rocha Loures e o coronel João
Baptista Lima ― pessoas da mais estreita confiança do presidente, pelo
menos até que a merda batesse no ventilador.
Para os paus-mandados do Planalto, o STF virou uma “corte
dividida e politizada”, com Barroso
“ultrapassando todos os limites”. Ex-esbirro de Eduardo Cunha e atual
pitbull do planalto, Carlos Marun chegou a dizer que o inquérito sobre Decreto dos Portos é desperdício de dinheiro público.
O deputado Darcísio Perondi, um dos
vice-líderes do governo na Câmara, referiu-se ao ministro Barroso como “o novo
escrevedor monocrático da Constituição”.
Marun, aliás, deverá se licenciar da Secretaria de governo, reassumir seu mandato
parlamentar e apresentar um pedido de impeachment contra
Barroso. Não será o primeiro caso: desde dezembro de 2015, nada menos que 17 solicitações neste sentido foram
apresentadas ao Senado, inclusive contra ex-ministros (caso de Joaquim
Barbosa). Segundo levantamento realizado pela Gazeta do Povo, o ministro-deus Gilmar Mendes encabeça
o ranking, com 6 pedidos de impeachment.
Observação: O afastamento de um ministro do STF pode ser solicitado por qualquer
brasileiro, e a lei que determina suas regras é a mesma que trata do
impeachment de presidente da República. Aliás, dormitam nos escaninhos da
presidência da Câmara mais de 20 pedidos
de impeachment contra Michel Temer.
Marco Aurélio Mello também foi
alvo de um pedido em abril do ano passado (apresentado pelo Movimento Brasil Livre). Há ainda três petições contra Ricardo Lewandowski, outras duas contra Luís Roberto Barroso, e uma que
questiona decisão colegiada de Rosa
Weber, Edson Fachin e
(novamente) Barroso. Em todos os
casos, os autores dos pedidos discordam de decisões do Supremo e usam essa
divergência para postular o afastamento dos magistrados. Até agora, todos os pedidos foram
arquivados pelo Senado.
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