Nas postagens de 20 de maio e 4 de agosto, falamos na confiabilidade (ou melhor, na falta dela) das nossas urnas eletrônicas – problema que muita gente atribui a delírios de alguns teóricos da conspiração, mas que me parece estar calcado em fatos reais.
Uma matéria publicada na Folha Política, no dia
9 de julho, dá conta de que um hacker de
nome Rangel (supostamente vivendo sob proteção policial) afirma ter fraudado
o resultado das eleições de 2012 para beneficiar candidatos da Região dos Lagos
sem para tanto precisar invadir uma urna sequer (bastou-lhe obter acesso à
intranet da Justiça Eleitoral do Rio de Janeiro).
Quer mais? Então vamos lá: o advogado e ex-ministro da Cultura Luiz Roberto Nascimento Silva publicou
no jornal O Globo um artigo
ponderando que, “num país onde se desvia merenda escolar, se rouba remédio
popular e se desnaturam emendas parlamentares (...) é ingênuo não debater essa
questão”. Já o doutor Antonio Pedro Dourado Rezende, do Depto. de Computação da
Universidade de Brasília, em trabalho sobre o voto eletrônico esclarece: “A
urna é confiável? É claro que a urna eletrônica é confiável, mas não no sentido
que lhe dá o contexto costumeiro dessa pergunta. É confiável na medida em que
uma máquina pode ser confiável, na acepção de ser previsível. No caso de uma
urna, se entra software honesto, sai eleição limpa; se entra software
desonesto, sai eleição fraudada”.
Mas nem tudo são más notícias. Segundo matéria publicada na
Gazeta do Povo, aplicativo para celular
batizado de Você Fiscal, financiado por doações, promete apontar
possíveis falhas de segurança no processo eleitoral. O programa será
usado para detectar qualquer tentativa de fraude ou erro no processo de totalização, que envolve a soma dos
resultados parciais produzidos por urnas eletrônicas em todo o país. A ideia é
simples: às 17h, quando a votação se encerra, os mesários são obrigados a fixar
o boletim de urna na porta da seção eleitoral. O documento traz a contagem de
votos naquela seção, separado por candidato. Com o aplicativo, será possível
fotografar os boletins e enviar para a equipe da Unicamp. Lá, os pesquisadores
vão comparar o boletim publicado com o resultado registrado e divulgado pelo
TSE. Se alguém fraudar a urna depois da emissão do boletim, o aplicativo
descobre.
Apesar de reconhecer que “os testes de segurança das urnas
eletrônicas fazem parte do conjunto de atividades que garantem a melhoria
contínua deste projeto”, o TSE não fará nenhum antes das eleições de outubro.
Desde 2012, aliás, quando uma equipe de técnicos da Universidade de Brasília
simulou uma eleição com 475 votos na urna eletrônica e conseguiu colocá-los na
ordem em que foram digitados, o tribunal não expõe seus sistemas e aparelhos à
prova de técnicos independentes, embora continue a afirmar que eles são seguros
e invioláveis (para saber mais, clique aqui).
Que Deus nos ajude a todos.