Como era esperado, Michel
Temer conseguiu sepultar a segunda denúncia. Num espetáculo lamentável, mas
que nos custou uma fortuna, a maioria dos “nobres deputados”, ao justificar o voto
contra ou a favor do relatório da CCJ, usou e abusou dos mais estapafúrdios
disparates. Detalhe: maioria é força de expressão,
porque o placar foi de 251 a 233,
com 2 abstenções e 25 ausências.
Pode-se contar nos dedos os parlamentares que disseram textualmente que não viam elementos suficientes para a autorizar
a abertura de inquérito contra o
presidente e seus comparsas ― o que é incrível, considerando o teor da
conversa entre Temer e Joesley, a mala de dinheiro de Rocha Loures, etecetera, etecetera e
tal, mas era isso que estava em discussão. A patuleia desvairada, então,
ressuscitou o tal “golpe contra uma
presidente honesta e honrada”, defendeu a volta de Lula e vociferou outros absurdos que tais. Nem imagino o que essa
gente anda cheirando, mas deve ser forte pra cacete.
Uns poucos gatos pingados disseram votar contra o parecer em
respeito a seus eleitores. Outros lembraram o índice de aprovação do presidente,
que é de míseros 3%, mas apenas uns 2 ou 3 defenderam a prisão de Lula, Temer, Dilma, Aécio e demais corruptos ― no dia que isso acontecer, o Congresso ficará
tão vazio quando cabeça da militante petista. Um deputado (não me lembro qual),
disse exatamente o que eu venho sempre dizendo aqui: Se Temer não teme, por que
tem tanto medo da investigação?
É certo que este não seria o melhor momento para trocar (novamente)
o maestro desta orquestra chinfrim ― até mesmo em razão de quem seria promovido
ao posto. Mas também é certo que a função dos deputados não era fazer esse tipo
de julgamento, mas decidir, de forma ilibada e imparcial, se havia ou não
indícios suficientes para autorizar a abertura de inquérito contra Temer e seus comparas. Mas o que esperar
desse caterva se, dois dias atrás, o conselho
de ética do Senado arquivou o pedido de afastamento de Aécio, o mineirinho safado
que traiu 51 milhões de eleitores? A única explicação, a meu ver, é que o
vocábulo “ética”, para nossos caríssimos congressistas, não tem o mesmo
significado registrado pelos dicionaristas.
Temer recebeu
alta e deixou o hospital ainda na noite de ontem. Conforme eu publiquei mais cedo, ele
havia sido internado devido a uma obstrução na uretra, mas conseguiu esvaziar a bexiga com o auxílio de uma sonda ― embora não tenha precisado de ajuda para
esvaziar os cofres na hora de comprar as marafonas da Câmara e se safar do processo no Supremo.
Enfim, chegamos ao day
after com os aliados cantando vitória, apesar do placar decepcionante.
Mas é inegável que eles conseguiram atravessar a ponte, ainda que aos trancos e
barrancos. Agora, é preciso retomar a agenda econômica, e não será fácil
conseguir os 308 votos necessários para a aprovação de PECs como a da
Previdência.
Segundo O GLOBO, Rodrigo Bolinha
Maia, disse que o governo terá de repensar a estratégia para reconstruir a
maioria entre os parlamentares. Aliás, a postura do presidente da Câmara sinalizará o futuro deste
governo ― como aliado do Planalto, ele foi essencial para as vitórias de Temer
no Congresso, mas, de olho nas eleições de 2018, vem mudando sua postura, até
porque ninguém merece ser visto como aliado de um governo que tem míseros 3% de
aprovação popular. Demais disso, é natural que, a esta altura do campeonato, os parlamentares foquem mais nas urnas do que na agenda do governo. Basta ver que, na votação
de ontem, o PSDB ― maior partido da
base aliada ― deu 20 votos ao Planalto e 23 contrários; o DEM e o próprio PMDB
também deram menos votos ao governo que na primeira denúncia.
Se temos mesmo de aturar sua insolência por mais 14 meses,
que isso surta efeitos positivos, que os mercados reajam bem, que
economia continue se recuperando. Isso se Temer conseguir realmente
chegar ao final do mandato, com 77 anos nas costas e indicação de repouso
depois passar sete horas no hospital. Aliás, além de se recuperar fisicamente, o maior
desafio de Temer, a partir e hoje, é
mostrar que seu governo não acabou 14 meses antes do fim.
Por enquanto é só, pessoal. Enquanto esperamos a poeira baixar para fazer uma análise mais detalhada do quadro atual, deixo aqui um clipe de vídeo em
que a jornalista Joyce Hasselmann
tece considerações preocupantes sobre a possibilidade de o STF rever sua posição sobre a prisão após a confirmação da sentença
em segunda instância, o que não só poderá definir a participação de Lula nas próximas eleições, mas também o futuro da Lava-Jato.
Até mais ler.
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