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sábado, 22 de novembro de 2025

DO DESKTOP AO SMARTPHONE — CONTINUAÇÃO

QUEM PROCURA ACHA.

Vimos que os PCs perderam o protagonismo depois que as pessoas passaram a interagir mais com seus smartphones, que Samsung, Motorola, Xiaomi e Realme abocanham 36%, 19%, 16% e 6% do mercado de celulares brasileiro.


Vimos também que a Apple fica com a menor fatia porque o iOS roda somente no hardware da marca, e que as versões 14 ou 13 do Android, se devidamente atualizadas com os patches de segurança, são adequadas para a maioria dos usuários, mesmo porque as últimas atualizações visaram mais à estabilidade do sistema do que a inclusão de novos recursos. 


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Em seus dois mandatos anteriores, Lula indicava candidatos ao STF embasado em sugestões de assessores como o então ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos. A terceira indicação companheira do novo ciclo — do AGR Jorge Messias para a vaga de Barroso — prioriza os serviços prestados em detrimento dos serviços que serão prestados.

Na primeira escolha, o petista afirmou que "todo mundo compreenderia" a indicação de Cristiano Zanin — o amigo e advogado que o defendeu na Lava-Jato. Na segunda, disse que Flávio Dino era o ministro com “cabeça política” que ele sempre sonhou ter na Suprema Corte. Agora, com Messias, submete à apreciação do Senado um personagem que comandava a Subchefia de Assuntos Jurídicos do Planalto em 3016, quando o então juiz Sergio Moro levantou o sigilo do célebre grampo em que Dilma avisou Lula de que o "Bessias" estava a caminho, levando o ato de sua nomeação para a Casa Civil. Barrada por Gilmar Mendes, a tentativa frustrada de converter o então futuro presidiário mais famoso desta banânia em ministro marcou o epílogo de Dilma, que foi deposta seis meses depois. 

A facção bolsonarista do Senado ergue barricadas contra Bessias e a oposição critica a escolha mais ou menos como o macaco que senta em cima do próprio rabo para falar mal do rabo dos outros. Quando presidente, Bolsonaro indicou Nunes Marques — referindo-se a ele como “10% de mim dentro do Supremo" — e André Mendonça — trocando a exigência constitucional do "notório saber jurídico" pela “virtude celestial” de ser “terrivelmente evangélico".

Guardadas as devidas diferenças, presidentes de esquerda e direita desejam a mesma coisa: uma lealdade suprema, capaz de condenar e prender os outros e absolver e soltar os seus. No entanto, depois que a toga repousa sobre o ombro do escolhido, a lealdade vai se tornando uma sólida abstração.


Ainda assim:

 

1 - Com o Circule para pesquisar — presente na linha Pixel e em modelos recentes da Samsung, mas que deve ser disponibilizado em breve para dispositivos de outras marcas — é possível pesquisar no Google desenhando um círculo com o dedo em qualquer parte da tela. Depois de ativar a função, pressione o botão central da barra de navegação (Home) e circule com o dedo o item desejado na imagem congelada para obter os resultados mais relevantes numa janela sobreposta à tela original.

 

2 - Disponível nos aparelhos Samsung e Motorola, a Pasta Segura cria um espaço protegido para guardar fotos, arquivos, aplicativos e outros conteúdos "sensíveis". Toque em Configurações, pesquise por Pasta Segura (o caminho pode variar conforme a marca e modelo do aparelho) e crie uma senha ou defina o uso da impressão digital ou leitura facial. Caso seu smartphone não ofereça esse recurso, abra o aplicativo Files, toque na aba Explorar, procure algo como Pasta segura ou Pasta trancada, defina o PIN que será usado como chave de acesso, selecione os arquivos que deseja proteger, toque no ícone de três pontos e escolha a opção Mover para Pasta Segura.


3 - Para preservar a vida útil da bateria, os celulares Android interrompem o carregamento a 80% — o que é particularmente útil para quem deixa o celular carregando durante a noite ou trabalha com o aparelho conectado à tomada, como os motoristas de aplicativo. Para ativar o recurso, toque em Configurações > Bateria > Proteção da bateria (ou Proteção contra sobrecarga, dependendo da marca do aparelho e da versão do sistema).


4 - O WhatsApp não oferece uma ferramenta nativa para recuperar mensagens apagadas, mas alguns aparelhos Android permitem fazê-lo a partir do Histórico de notificações. Acesse as Configurações, toque em Notificações > Histórico de notificações e habilite a opção Usar histórico de notificações para que as novas notificações — incluindo as mensagens de WhatsApp apagadas — sejam acessadas facilmente.

 

5 - A Transcrição ao vivo converte falas e áudios em texto na tela, em tempo real. O recurso se destina a pessoas com deficiência auditiva, mas pode ser útil em ambientes barulhentos, por exemplo. Toque em Configurações > Acessibilidade, localize a função Transcrição ao vivo e siga as instruções. Feito isso, sempre que você tocar no botão flutuante o dispositivo transcreverá automaticamente quaisquer sons captados pelo microfone ou reproduzidos pelo aparelho.

 

6 - O recurso Ocultar aplicativos — cujo nome, disponibilidade e localização variam conforme a marca e o modelo do celular — remove os ícones dos programas da tela inicial e da gaveta de aplicativos. Toque em Configurações e pesquise por "Ocultar aplicativos"; se não encontrar, instale o App Hider ou outro programinha similar — maioria deles é preciso digitar uma senha, fazer um gesto específico ou entrar em uma pasta segura para ter acesso aos aplicativos ocultos.

 

Observação: Enquanto a Pasta Segura oculta aplicativos e dados e oferece um nível de proteção mais robusto, Ocultar Aplicativos apenas remove o ícone da tela inicial e da lista de aplicativos. Ou seja, os apps continuam instalados e podem ser acessado por quem conhecer o caminho das pedras.


Conclui no próximo capítulo.

quarta-feira, 19 de abril de 2023

QUE BARBARIDADE!


Ao encerrar sua passagem relâmpago pelo Ministério da Saúde, Nelson Teich salientou que "a vida é feita de escolhas". Muitos anos antes disso, o Conselheiro Acácio já dizia que "as consequências vêm sempre depois".
 
A Lava-Jato teve início em 2008, mas só ganhou notoriedade a partir de 2014. Foi devido a ela que Sergio Moro, responsável pelos processos do braço paranaense da operação, viveu seus dias de glória à frente da 13ª Vara Federal de Curitiba. 

Além de expor as entranhas putrefatas do sistema político, a Lava-Jato propiciou a condenação de corruptores e corruptos de alto coturno e recuperou bilhões de reais desviados durante os governos petistas. Mas não mal que sempre dure nem bem que nunca termine. 
 
Em 2018, para conquistar o apoio da classe média, Bolsonaro convidou Moro para chefiar o "super ministério" da Justiça e Segurança Pública. Edulcorado pela promessa de ser indicado para o STF, o juiz abriu mão de 22 anos na magistratura para embarcar numa canoa que deveria saber furada, e desde então vem trilhando um a um os nove círculos do inferno.
 
Após 1 ano e 4 meses engolindo sapos e bebendo a água suja da lagoa bolsonarista, Moro finalmente desembarcou do governo. E foi acusado de traição. Não muito depois, a vaza-jato transformou o herói da pátria em pária. 
Sem o apoio prometido pelo Podemos, Moro migrou para o União Brasil. Teve as asas podadas por Luciano Bivar, mas conseguiu se eleger senador pelo Paraná

Se Moro tivesse permanecido à frente da 13ª Vara Federal de Curitiba, é bem possível que a prisão em segunda continuasse valendo, que Lula ainda estivesse cumprindo pena e que a vaza-jato tivesse ido para a lata do lixo da História. Mas, de novo, a vida é feita de escolhas e as consequências sempre vêm depois.

Neste arremedo de banânia, os políticos se elegem para roubar, roubam para se reeleger e legislam em causa própria e/ou para favorecer seus bandidos de estimação. Mesmo que seja flagrada na porta do galinheiro com penas grudadas no focinho, a raposa é considerada inocente até vomitar a galinha, devolver-lhe a vida e tornar a comê-la dentro do galinheiro, sob as vistas das corujas supremas — que só enxergam o que lhes convêm e quando lhes convém.
 
Sob um mandatário com uma capivara invejável e quatro filhos investigados, era esperado que processos foram anulados, que condenações fossem canceladas e que agentes públicos corruptos recuperassem a liberdade e os direitos políticos. É como se nossas cortes interpretassem as leis de modo a ensejar a sobrevivência do Brasil velho, corrupto, subdesenvolvido e desigual, governado por parasitas da máquina pública e lobistas de favores e privilégios.
 
Todos são iguais perante a lei, mas a conversão do direito de defesa em impunidade resultou num Estado de exceção onde as pessoas que mandam valem mais que todas as outras. Só falta agora escreverem com todas as letras que ninguém mais pode ser preso no Brasil por cometer crimes de corrupção. 

No faroeste à brasileira, só os fora-da-lei têm direito a final feliz, como atestam os mais recentes episódios da novela em que perseguir defensores da lei e castigar juízes, procuradores e policiais envolvidos na Lava-Jato tornou-se tão rotineiro quanto os duelos nos minutos finais dos bangue-bangues macarrônicos, só que, nos filmes, é o mocinho que vence o bandido e sai cavalgando rumo ao sol poente. 
 
Depois de conseguir as 27 assinaturas necessárias para o desarquivamento do projeto de lei que trata da prisão em segunda instância que ele próprio apresentou quando ainda era ministro — e que acabou sendo automaticamente arquivado porque não foi apreciado na legislatura anterior —, Moro experimentou mais uma vez o contra-ataque establishment: um vídeo divulgado nas redes sociais em que ele fala em "comprar habeas corpus do Gilmar Mendes" levou a subprocuradora-geral Lindôra Araújo a denunciá-lo por calúnia.
 
De acordo com a subprocuradora, o senador "agiu com a nítida intenção de macular a imagem e a honra objetiva do ofendido, tentando descredibilizar a sua atuação como magistrado da mais alta Corte do País", e que a polêmica frase foi dita "na presença de várias pessoas, com o conhecimento de que estava sendo gravado por terceiro, o que facilitou a divulgação da afirmação caluniosa, que tornou-se pública em 14 de abril de 2023, ganhando ampla repercussão na imprensa nacional e nas redes sociais".
 
Moro reconheceu que sua fala foi infeliz, mas demonstrou indignação com a ação da PGR 
— segundo ele, as palavras foram tiradas do contexto de brincadeira e manipuladas por pessoas que querem incriminá-lo falsamente e indispô-lo com o STF (detalhes neste vídeo). 

De acordo com a revista Fórum — cujos editores morreriam afogados se Lula se aboletasse numa banheira de hidromassagem —, Moro entrou em "modo desespero" e está "provando do próprio veneno". Na avaliação dos juristas ouvidos pelo pasquim, a condenação do político é líquida e certa.
 
Na visão do deputado Deltan Dallagnol, a denúncia é inepta, absurda, e denota alinhamento com governo Lula em clara perseguição ao ex-juiz. O ex-coordenador da Lava-Jato em Curitiba lembrou que Gilmar "caluniou e injuriou os procuradores da Lava-Jato várias vezes", chamou a força-tarefa de "organização criminosa" e se referiu a seus integrantes como "cretinos", "gângsters", "espúrios" e "crápulas". 
 
Vale relembrar também, por oportuno, que em março de 2018 o ministro Luís Roberto Barroso chamou o colega de toga de "fotografia ambulante do subdesenvolvimento brasileiro, mais um na multidão de altas autoridades que constroem todos os dias o fracasso do país (...) uma pessoa horrível, mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia", e em outubro do mesmo ano, ao comentar sobre uma corrupção estrutural e sistêmica envolvendo recursos públicos e a impunidade no país, disse que havia
 no STF "gabinete distribuindo senha para soltar corrupto sem qualquer forma de direito e numa espécie de ação entre amigos". Ao ser questionado sobre quais gabinetes se encontrariam nessa situação, Barroso sorriu e ficou em silêncio.

Resumo da ópera:  


Conhecida pela seletividade aguçada, Lindôra Araújo costumava confundir ofensa com liberdade de expressão quando o ofensor era Bolsonaro, anotou Josias de Souza em sua coluna. Com Moro, prossegue o jornalista, ela não quis saber de "brincadeira": acusou-o caluniar o ministro e pediu condenação, cadeia e perda do mandato. 


Josias pondera ainda que uma improvável condenação não resultaria em prisão, pois o suposto crime não prevê tal punição. Em última análise, Moro foi presenteado com uma contenda contra um dos mais impopulares ministros do STF, que decidiu acionar a PGR por acreditar que o senador precisa se responsabilizar pelo que diz. 


Conhecido pelo destempero, Gilmar gosta de falar o que não aprecia ouvir. Já se divertiu diante das câmeras da TV Justiça referindo-se aos procuradores da Lava-Jato como "gentalha", disse que integravam "máfias" e "organizações criminosas" e que "força-tarefa é sinônimo de patifaria". Se um extraterrestre descesse em Brasília num desses instantes em que autoridades trocam chumbo, informaria ao seu planeta que, na Terra, políticos e magistrados brincam num parque de diversões chamado Código Penal. 


A cena pública brasileira tornou-se um ambiente divertidamente degenerado.

domingo, 6 de fevereiro de 2022

RESTAURE-SE O IMPÉRIO DA MORALIDADE OU LOCUPLETEMO-NOS TODOS! (PARTE VI)

TSE é historicamente condescendente com crimes eleitorais e vem postergando indefinidamente suas decisões, talvez por não ter estrutura nem disposição para atuar com a celeridade desejável. Em 2017, o ministro Gilmar Mendes, que à época presidia a Corte Eleitoral, foi o mentor da impostura travestida de julgamento da chapa Dilma-Temer e o responsável pelo voto de minerva que livrou a pele do então presidente por “excesso de provas”, como ironizou o relator do processo, ministro Herman Benjamim.

Fiel a seu estilo (que prefiro não comentar), o magistrado se empenhou pela anulação de condenações de réus da Lava-Jato como se travasse uma cruzada em defesa do império da impunidadeAliás, depois de um dos memoráveis bate-bocas com o semideus togado, o ministro Barroso disse à Folha: "No Supremo, você tem gabinete distribuindo senha para soltar corrupto, sem qualquer forma de direito e numa espécie de ação entre amigos.

Indicado para o STF em 2002 pelo então presidente FHCGilmar Mendes é a prova provada de que o grão-duque tucano deixou pelo menos duas heranças malditas (a outra foi a PEC da reeleição). Ele era defensor incondicional da Lava-Jato e inimigo figadal dos criminosos de colarinho branco enquanto os investigados eram Lula e políticos do PT. Foi ele, aliás, quem botou água no chope do ex-presidente quando Dilma o nomeou ministro-chefe da Casa Civil (com o nítido propósito de lhe restituir o foro privilegiado). Mais adiante, porém, passou a articular o sepultamento da prisão em segunda instância (que ele próprio defendia com unhas e dentes) e a conceder habeas corpus a quem fosse preso preventivamente pela força-tarefa de Curitiba.

Em 2016, ao fundamentar seu voto sobre a prisão em segunda instância, Gilmar anotou: "Não se conhece no mundo civilizado um país que exija o trânsito em julgado; em princípio, pode-se executar a prisão com a decisão em segundo grau [...] uma coisa é ter alguém como investigado, outra coisa é ter alguém como denunciado, com denúncia recebida, e outra, ainda, é ter alguém com condenação...". Em 2017, porém, passou a admitir publicamente que poderia mudar de posição se houvesse um novo julgamento.

Também em 2017, Mendes mandou soltar — não uma, mas três vezes — o empresário Jacó Barata Filho, tido como chefe da máfia dos ônibus no Rio. Apesar de os procuradores da Lava-Jato pedirem seu impeachment, o magistrado não se deu por impedido de julgar o caso: "O fato de ser padrinho de casamento da filha do acusado não se enquadra nas regras legais que determinam o afastamento de um magistrado para julgar uma causa em função de relação íntima com uma das partes".

Em 2019, quando a questão prisão em segunda instância voltou à pauta, Mendes votou contra, juntamente com Rosa WeberRicardo LewandowskiCelso de MelloMarco Aurélio Mello e o então presidente da corte, Dias Toffoli — que, como Gilmar, era favorável ao cumprimento antecipado da pena.

No Brasil, criminosos que têm cacife para bancar os honorários astronômicos cobrados por causídicos estrelados (caso dos políticos corruptos, que pagam os chicaneiros com dinheiro desviado do Erário) têm acesso a um formidável cardápio de recursos que lhes permite empurrar os processos com a barriga até que a prescrição impeça a punição ou até baterem as botas, o que ocorrer primeiro.

A título de exemplo, a defesa de Luiz Estevão ingressou com 120 recursos até o salafrário ser encarcerado, e Paulo Maluf só foi recolhido à Papuda depois de seu processo tramitar por quase duas décadas, mas bastaram alguns meses para ele ser posto em prisão domiciliar por uma decisão tomada de ofício de Dias Toffoli.

Por outro lado, são falsas as acusações veiculadas em redes sociais de que Gilmar Mendes jamais advogou, que bombou em concursos públicos e que foi alçado ao STF sem passar pelo crivo do Senado (crivo esse que é eminentemente protocolar, como vimos no post do dia 4, as únicas reprovações ocorreram há mais de um século, durante o governo de Floriano Peixoto).

O atual decano do STF graduou-se em Direito pela Universidade Federal de Brasília, onde iniciou o mestrado em Direito e Estado que concluiu na Alemanha (pena não ter ficado por lá). Também foi aprovado em 12° lugar para o cargo de Juiz Federal (1983-1984), em 4° lugar para o de Assessor Legislativo do Senado Federal (nomeação suspensa a pedido do candidato em 1984), em 1° lugar para o de Procurador da República (1984) e em 1° lugar para o de Professor Assistente (Direito Público) da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (1995). Sobre a sabatina na CCJ do Senado, ela realmente foi adiada, mas acabou acontecendo e o indicado, aprovado por 16 votos a 6 na CCJ e por 57 votos a 15 no plenário.

Quem ostenta no currículo duas reprovações em concursos para Juiz de primeira instância — ambas na fase inicial, na qual são testados os conhecimentos gerais do candidato — é o ministro Dias Toffoli, que foi nomeado para o STF graças aos “bons serviços prestados a Lula e ao PT”. Em sua trajetória até nossa mais alta Corte, Toffoli foi advogado do Sindicato dos Metalúrgicos de SBC, consultor jurídico da CUT, advogado nas campanhas de Lula em 1998, 2002 e 2006 e subchefe para assuntos jurídicos da Casa Civil da Presidência e Advogado Geral da União. 

Abrilhantam também o invejável currículo de Toffoli o fato de ele não ter despido a farda de militante petista quando vestiu a suprema toga e ter ido buscar apoio em Gilmar Mendes, que é quem melhor encarna a figura do velho coronel político — ou, como bem o definiu J.R. Guzzo, “uma fotografia ambulante do subdesenvolvimento brasileiro, mais um na multidão de altas autoridades que constroem todos os dias o fracasso do país” —, de quem Toffoli absorveu a arrogância incontida, a grosseria, a falta de limites, o uso da autoridade da forma mais arbitrária possível e outros hábitos pouco elogiáveis.

Em 2019, a Receita Federal investigou a Faculdade da qual Mendes é sócio fundador e os honorários advocatícios de Guiomar Feitosa Mendes, esposa do ministro-deus (há também suspeitas de suposto favorecimento no julgamento de processos no STF, mas isso é outra conversa). A declaração de imposto de renda do casal vazou, e 18 pessoas, entre parentes e conhecidos, foram listadas como potenciais investigados no caso. 

Segundo matéria publicada na revista Época, a luxuosa vivenda do casal Mendes, que fica no Setor de Mansões à beira do Lago Paranoá, poderia se passar por um clube — a julgar pela piscina, com uma onça preta de cerâmica bebendo água e uma edícula cheia de boias coloridas em formato de macarrão — ou por uma fazenda urbana — com uma vista espetacular da cidade, árvores frutíferas, viveiros, patos, galinhas, cachorros, gatos, emas e até um pônei (dias antes, a revista eletrônica Crusoé publicou que os bens do casal totalizariam R$ 20 milhões, entre imóveis e bens espalhados pelo país.

Gilmar disse ser alvo de ataques desde que chegou ao STF e atribui o fato a seus posicionamentos críticos ao que considera excessos ilegais. Época discorreu sobre inúmeros casos em que ele atuou como “voz contrária a interesses diversos” (nas palavras do próprio). Sobre a esposa do ministro, a matéria menciona apenas que ela disse nunca ter tido problemas com a Receita, que é de família rica, que tem tudo declarado, que a investigação era um absurdo.

Não são esses detalhes da vida pregressa do ministro que me levam a lhe dedicar estas linhas, mas sua beligerância ao classificar de "inusitado" e "esdrúxulo" o episódio envolvendo a Equipe Especial de Fraudes da Receita Federal, que aponta indícios de corrupção, lavagem de dinheiro e tráfico de influência do ministro e da mulher. Depois que a revista Veja trouxe o assunto a conhecimento público, Gilmar cobrou providências do presidente do STF para apurar “eventual ilícito” cometido pelos auditores. 

Como Lula, o todo-poderoso de araque parece achar que está acima da lei. Ave, César!

Continua...

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

MANDA QUEM PODE, OBEDECE QUEM TEM JUÍZO — CONTINUAÇÃO

A diferença entre um depoimento oral ou por escrito, diz Josias de Souza, é comparável à diferença entre a forca e o violino. Os dois têm corda, mas um pode produzir a morte e o outro, apenas música. 

Para um notório boquirroto como Bolsonaro, ser interrogado no ambiente controlado da folha de papel é, evidentemente, mais seguro. Não que ele tencione dizer algo que o comprometa, mas sabemos o que acontece quando sua língua se move sem cabresto.

No dia 3 de junho, quando falou publicamente sobre o depoimento, o capitão cloroquina posou de valentão: "Pra mim tanto faz", disse, sobre o modelo do interrogatório. Mas reconheceu que, no depoimento por escrito "tem uma segurança enorme na resposta, porque não vai titubear. Ao vivo pode titubear, mas não estou preocupado com isso."

A despreocupação do morubixaba de turno não passava de bravata. Tanto é que a AGU recorreu ao STF, pleiteando isonomia em relação a Michel Temer (em 2017, intimado a prestar esclarecimentos no âmbito de um inquérito que o investigava por corrupção, o vampiro do Jaburu foi autorizado pelo ministro Luís Roberto Barroso a depor por escrito).

Como o decano Celso de Mello continua licenciado, a reclamação caiu no colo do ministro Marco Aurélio, que, como bom macaco velho, não mete a mão em cumbuca. O vice-decano transferiu o abacaxi para o plenário da Corte — um colegiado que Sepúlveda Pertence, ex-ministro desse mesmíssimo tribunal, definiu como “11 ilhas”, para depois emendar: um arquipélago de 11 ilhas”. Foi pior a emenda que o soneto, como se verá mais adiante.

Reivindicar no Supremo a concessão de um tratamento semelhante ao que Barroso dispensou ao egum mal despachado não pegou bem para Bolsonaro, mas o fato é que, qualquer que seja o resultado, ele sairá ganhando. Prevalecendo a “linha Barroso”, o presidente terceirizará ao seu staff jurídico as respostas ao interrogatório; mantido o despacho do decano, ganha, se quiser, um pretexto para não comparecer ao depoimento, mas deixando evidente o que meio mundo já sabe e que a outra metade se recusa a reconhecer.

No pior dos cenário, Bolsonaro ganha tempo. Como o decano está licenciado e nada garante que retorne ao trabalho antes de seu 75º aniversário (em 1º de novembro), quando então será aposentado compulsoriamente, empurrar o depoimento com a barriga pode ser uma mão na roda para o atual inquilino do Palácio do Planalto. Uma vez que cabe a ele indicar o substituto do decano na Corte... enfim, a obviedade é tamanha que dispensa quaisquer considerações adicionais.

Voltando ao ex-ministro Pertence, que se aposentou em 2007 — mas voltou à ribalta em 2018, graças a uma participação relâmpago na defesa do criminoso Lula — atribui-se-lhe o seguinte comentário sobre o STF: “As pessoas acham que isso aqui é um grupo de amigos, mas, na realidade, somos 11 ilhas. Não somos amigos nem nos frequentamos socialmente, apenas nos encontramos no tribunal nos dias de sessão."

Considerando o que veio à público desde 2002 — ano em que as sessões dos STF passaram a ser transmitidas ao vivo em cores pela TV Justiça —, a metáfora do jurista teria mais cabimento se “11 ilhas” fossem substituídas por “11 estados soberanos”, onde cada um declara guerra contra nações inimigas, negocia alianças diplomáticas, adota programas de governo e estabelece suas próprias políticas internas.

Mesmo em dias de céu de brigadeiro, nuvens negras e ameaçadoras ensombrecem os bastidores da Suprema Corte, onde clima entre os togados, que muitos imaginam ser um compadrio de amigos que, ocasionalmente, julgam processos e tomam chá nos intervalos, é pontuado por rivalidades e animosidades.

Em 2007, mensagens trocadas entre os ministros Lewandowski e Cármen Lúcia pela intranet (rede interna) do tribunal evidenciaram que há muita política — e má política — por trás do sistema mediante o qual são escolhidos os ministros da Suprema Corte, que ficam atrelado ao Presidente de turno que os presenteou com a suprema toga e se sentem moralmente obrigados (ou são constrangidos) a retribuir o favor.

Em outubro de 2002, num embate memorável com o ministro Joaquim Barbosa, o vice-decano Marco Aurélio chamou o colega Joaquim Barbosa para resolver suas diferenças “lá fora”, como se fossem dois ginasianos que saem no braço depois da aula. Posteriormente, o primo de Collor negou que tivesse chamado o colega "para a briga"; apenas disse que eles deveriam se tratar sem agressões. “Não estamos mais nos séculos 16, 17 e 18, em que havia o duelo. Se estivéssemos, certamente haveria um duelo", afirmou o magistrado.  

Outro caso notório ocorreu em novembro de 2006, quando Joaquim Barbosa acusou, em sessão plenária transmitida pela TV Justiça, o ex-presidente do STF e advogado Maurício Corrêa de tentar influenciar o julgamento de ação milionária sobre desapropriação de terras. "Ele tomou a liberdade de ligar para a minha casa pedindo urgência para esse caso", disse Barbosa. "O tribunal precisa tomar medidas sérias com relação a esse tipo de tráfico de influência", acrescentou. "Se ele está atuando indevidamente, está praticando tráfico de influência", concluiu. 

Observação: Corrêa não estava no tribunal, mas apareceu minutos depois, entregou documentos à então presidente do STF, Ellen Gracie, para provar que era advogado da causa e estava autorizado a atuar no processo.

Como se vê, a coisa vem de longe e só se agravou com o passar do tempo: Em março de 2018, durante um bate-boca com Gilmar Mendes em sessão plenária, Barroso se referiu ao colega como uma “fotografia ambulante do subdesenvolvimento brasileiro, mais um na multidão de altas autoridades que constroem todos os dias o fracasso do país (...) uma pessoa horrível, mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia“. Em outubro do mesmo ano, concedeu uma entrevista à colunista Mônica Bergamo. Ao comentar sobre o que considerava ser uma corrupção estrutural e sistêmica envolvendo recursos públicos e a impunidade no país, o Barroso disse que havia no STFgabinete distribuindo senha para soltar corrupto sem qualquer forma de direito e numa espécie de ação entre amigos”. 

Ao ser questionado sobre quais gabinetes se encontrariam nessa situação, o magistrado sorriu e ficou em silêncio.

Continua...