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domingo, 25 de agosto de 2024

VINAGRETE OU MOLHO À CAMPANHA?

PODE ME CHAMAR DO QUE QUISER, MAS NÃO DEIXE DE ME CHAMAR PARA O CHURRASCO.


Afinal, o certo é "molho vinagrete" ou "molho à campanha"? Há quem diga que tanto faz, que o molho é igual, o nome é que muda conforme a região (na Bahia, por exemplo, ele atende por "molho lambão"). Mas os connoisseurs discordam. 

Molho vinagrete como manda o figurino é basicamente uma emulsão composta por 1 parte de ácido (vinagre e/ou limão) para 3 partes de óleo (azeite) e temperada com sal e mostarda de Dijon. Já o molho à campanha, que é conhecido em alguns países como "brazilian sauce", se assemelha mais ao pico-de-gallo mexicano e ao pebre chileno, já que leva tomate, cebola e pimentão picados e marinados em vinagre e azeite. 

Independentemente do nome, a mistureba não pode faltar na feijoada de sábado, no churrasco de domingo, no bife nosso de cada dia, no hambúrguer, no hot-dog, e até na salada de folhas. 

Observação: Para preparar o Pico de Gallo, pique 4 tomates médios sem semente, 1 cebola grande, 1 pimenta jalapeño ou serrano e ½ xícara de cheiro verde (salsa e coentro), tempere com sal e suco de limão e sirva com tacos, nachos, burritos ou como acompanhamento para qualquer prato mexicano.

Para preparar um vinagrete simples, corte em cubinhos 2 cebolas grandes, 2 tomates sem sementes, ½ pimentão verde, adicione ½ xícara (chá) de vinagre, 1 ½ xícara (chá) de azeite, sal e pimenta do reino moída na hora a gosto, misture tudo bem misturado, leva à geladeira e deixe descansar por pelo menos 30 minutos antes de servir.

Você pode incrementar a receita com cheiro verde, pimenta dedo de moça e alho bem picadinhos, uma colher de chá de mostarda e outra de ketchup. Para aumentar a acidez, misture suco de limão na emulsão de azeite e vinagre; caso o sabor intenso do pimentão não lhe agrade, substitua a fruta (pois é, biologicamente, pimentão é fruta) por tomate verde; se quiser deixar o molho ainda mais colorido, troque uma das cebolas brancas pela roxa. 

Para prevenir uma indesejável queimação no estômago, misture ½ xícara (chá) de vinagre com o mesmo tanto de água, adicione uma pitada generosa de açúcar e uma colher (sopa) de ketchup, afervente rapidamente, deixe amornar e despeje sobre os ingredientes picados. 

Observação: Se preferir um molho ainda mais suave, reduza a quantidade de vinagre e aumente proporcionalmente a de água. Substituir o vinagre por vinho branco também reduz a acidez, mas o açúcar e o ketchup dão conta do recado. Em último caso, recorra ao bom e velho sal de frutas.
 
O molho à campanha leva os mesmos ingredientes do "vinagrete tropicalizado", mas usa menos azeite (apenas 2 colheres de sopa), menos vinagre (apenas 4 colheres de sopa), menos salsinha picada (apenas 2 colheres de sopa) e inclui ¼ de xícara de água, 2 colheres (sopa) de mostarda amarela, 2 colheres (sopa) de ketchup e 2 colheres (sopa) de molho inglês (há quem acrescente 
azeitona, palmito e champignon picados). 

Prepará-lo é bem simples: junte o vinagre ao azeite, acrescente a água e o sal, leve ao fogo até ferver, deixe amornar, despeje sobre os ingredientes picados, misture bem misturado e deixe descansar na geladeira por pelo menos 30 minutos antes de servir.

Bom apetite. 

domingo, 7 de julho de 2024

O QUE É DE GOSTO REGALA A VIDA

AS FEIAS QUE ME PERDOEM, MAS BELEZA É FUNDAMENTAL.

Os veganos que me perdoem, mas carne vermelha é fundamental. Gosto dela crua no Steak Tartar, assada na brasa ou no forno, cozida na pressão, em bifes (fritos ou de panela), acompanhada de salada, fritas, farofa, arroz, purê, e por aí vai. Mas cozinhar é arte, e até fritar ovos requer expertise. 

O que deveria ser um bife suculento fica com textura de sola de sapato quando a gente tira os bifes da geladeira e coloca na frigideira sem esperar pelos menos 10 minutos. E o resultado será ainda pior se a frigideira não estiver quente, pois os bifes irão cozinhar em vez de fritar. 

A diferença entre cortes do dianteiro e do traseiro do boi, popularmente conhecidos como carnes de primeira e de segunda, está na quantidade de gordura e no trabalho muscular realizados por cada região. Carnes provenientes de partes menos utilizadas do animal, como filé-mignon, picanha, contrafilé e alcatra, têm menos fibras e colágeno, o que as torna mais macias e de sabor marcante que o acém, a paleta, a fraldinha e o músculo. Mas a técnica de preparo é crucial para aproveitar o melhor de cada corte. 

A picanha é a estrela dos churrascos, mas o filé é tido como uma das melhores carnes bovinas, sobretudo por sua maciez. Já o contrafilé e o miolo da alcatra são ótimas opção para bifes fritos — além de suculentos, ele contam com aquela gordurinha que deixa as receitas mais saborosas. O coxão-mole é versátil e tem ótimo custo-benefício, e o coxão-duro e o lagarto dão excelentes assados e ótimos bifes rolê e de panelaFilé, contrafilé e miolo de alcatra podem ser cortados em bifes grossos, mas coxão-molepatinho devem ser cortados finos (sempre no sentido contrário ao das fibras). Independentemente do corte e da espessura, os bifes devem ser fritos individualmente e virados uma única vez. 


O "ponto" vai do gosto do comensal e varia conforme a espessura do bife, o material da frigideira e a potência do fogão. Para bifes médios (2,5 cm de altura) malpassados como manda o figurino, aqueça bem a gordura e frite cada lado por 2 ou 3 minutos. Se quiser seus bifes "ao ponto" ou bem-passados, frite-os por 4 ou 5 minutos ou de 6 a 8 minutos de cada lado, respectivamente. Ao final, coloque os bifes numa travessa, cubra com papel laminado e deixe descansar por alguns minutos, para que os sucos que se concentraram na parte central da carne durante a cocção se redistribuam por igual, deixando-a mais macia e suculenta. 

 

Bifes à milanesa devem ser finos e fritos por imersão em gordura bem quente (180°C). Recomenda-se usar frigideiras ou panelas largas e borda alta e fritar um bife de cada vez (para o óleo não esfriar). A casca ficará mais crocante e não se desprenderá da carne durante a fritura se, ao empanar os bifes, você passá-los na farinha de trigo, no ovo batido e na farinha panko (nessa ordem). Ao final, coloque-os numa travessa forra com toalhas de papel, que absorverão o excesso de gordura, deixando os bifes mais sequinhos.

 

Carne moída (ou "picadinho", como ela é chamada no norte do país) é comumente usada como recheio de pastéis, esfihas, almôndegas e empadões, no molho à bolonhesa ou para acompanhar o popular arroz com feijão. Crua, ela é a base de hambúrgueres e do sofisticado Steak Tartar. Como é difícil saber se a carne pré-moída vendida nos supermercados é premium (de melhor qualidade), intermediária ou industrial (mais baratas), faça como nossas avós: escolha o pedaço desejado e peça ao açougueiro para passá-lo duas vezes no moedor. Melhor ainda é moer a carne em casa, pois assim você poderá misturar 20% de gordura de picanha à paleta ou ao patinho (hambúrguer sem gordura não dá liga nem tem sabor). 


Para preparar quibe cru e Steak Tartar, o filé é o corte mais indicado. Supermercados de grife e "butiques" de carne vendem escalope, medalhões, tornedor e chateaubriand de filé, mas sai mais barato comprar a peça e cortá-la em casa. Comece removendo a fáscia (aquela membrana prateada que deixa os bifes duros se não for retirada). Use uma faca de ponta fina, bem afiada, e mantenha-a quase em paralelo com a peça (para minimizar a quantidade de carne que fatalmente será retirada junto com o tecido conjuntivo). 

 

Separe o filé em cabeça, lateral, miolo e ponta (a cabeça é a extremidade maior, a lateral é a parte que fica ao lado, quase solta, o miolo é o corpo cilíndrico do filé, e a ponta é a parte final da peça, onde a carne "afina"). Corte o filé em chateaubriands (com cerca de 4cm de altura e de 300g a 400g), tornedor (3cm e 250g), medalhão (2cm e 180g) ou escalope (cubinhos de 1cm de lado), e o restante em bife (aproveite as sobras para fazer strogonoff ou escondidinho de filé, por exemplo).


Continua no próximo domingo.

domingo, 5 de maio de 2024

QUEIJO É TUDO DE BOM, MAS O PREÇO...

A IMAGINAÇÃO MUITAS VEZES NOS LEVA A MUNDOS INEXISTENTES, MAS SEM ELA NÃO VAMOS A LUGAR ALGUM.

 
Se tivesse sido escalado para organizar o ato estrelado por Lula na última quarta-feira, o alto-comando do bolsonarismo não teria se saído melhor. Isso sem mencionar que a popstar Madonna reuniu 1,6 milhão de pessoas na praia de Copacabana — R$ 1,7 milhão de cachê que se somará ao patrimônio estimado em US$ 650 milhões (ou R$ 3,3 bilhões). O xamã petista e o mito dos pacóvios roxos de inveja.
A pantomima meticulosamente planejada pelas centrais sindicais companheiras em parceria com o Planalto foi um fiasco retumbante de público. Antecipando-se à ironia dos rivais, Lula, rápido no gatilho quando se trata de terceirizar responsabilidades, passou uma carraspana no chefe da Secretaria-Geral da Presidência: "Ele é responsável pelo movimento social brasileiro. Não pense que vai ficar assim. Ontem eu conversei com ele e disse: 'Oh, Márcio [Macedo], o ato está mal convocado. Nós não fizemos o esforço necessário para levar a quantidade de gente que era preciso levar'."
"Um boneco do Bolsonaro coloca mais gente na rua", anotou o deputado bolsonarista Nikolas Ferreira, numa alusão às multidões que prestigiaram o subproduto da escória da humanidade na Avenida Paulista, em fevereiro, e em Copacabana, semanas atrás.
Houve um tempo em que as centrais sindicais atraíam plateias vistosas com shows de artistas famosos e sorteios de carros e eletrodomésticos. Mas o fim do imposto sindical esvaziou as arcas do aparato sindical. Numa conjuntura castigada pela inflação dos alimentos e marcada pelo trabalho informal e pela uberização da mão de obra rendida à era dos aplicativos, o petismo e o sindicalismo enxergam o mundo pelo retrovisor.
Como na canção Carolina, de Chico Buarque, "o tempo passou na janela, só Lula e seus acólitos não viram".

Queijo vai bem com tudo, do lanche à pizza, da salada ao risoto e à macarronada. Mas tem de ser de leite (de vaca ou de cabra), que o tal de queijo vegano não convence (a exemplo do hambúrguer vegetariano, cujo sabor varia do isopor ao papelão, dos refrigerantes diet, das cervejas sem álcool e outras invencionices). 
 
No post de 8 de março, a reboque da receita de queijo-quente, discorri brevemente sobre as diferenças entre o Parmigiano Reggiano e o Grana Padano; hoje, veremos o que difere o Gorgonzola do Roquefort — que muita gente excluiu da lista de compras porque o preço está pela hora da morte (volto a esse assunto mais adiante).
 
Entre as diversas variedades, os queijos mais consumidos pela depauperada classe média tupiniquim são a muçarela e o prato. Ambos têm textura macia, embora o prato seja considerado "semiduro". A muçarela, mais "elástica", é mais usada em pizzas e lasanhas; o prato, mais firme e de sabor levemente adocicado (os de boa qualidade, porque alguns têm gosto de batata crua), combina melhor com lanches frios. 

ObservaçãoA Embrapa define a muçarela como "queijo de massa filada, macio, com umidade média entre 43% e 46%, teor de gordura entre 22% e 24% e de sal entre 1,6% e 1,8%." No final do ano passado, a convite do Estadão, quatro connoisseurs avaliaram 9 das marcas mais encontradas nas redes de supermercado, e as três primeiras colocadas foram Lac Lélo, Scala e Aviação.
 
Igualmente populares, os queijos frescos — como Minas Frescal, Feta e Burrata — são úmidos e macios. Devido à maturação prolongada, os "duros" (como Parmesão, Grana e Provolone) têm casca firme, sabor intenso, coloração amarelada e aroma inconfundível. Mais macios e cremosos — mas menos consumidos no Brasil —, os queijos de "mofo branco", como o Brie e o Camembert, têm sabores personalíssimos e preços estratosféricos. Entre os "semiduros" (ou queijos de "pasta dura"), destacam-se o Gouda, o Edam e o Cheddar jovem.
 
Voltando ao Gorgonzola e o Roquefort, ambos são queijos de "mofo azul" — assim classificados devido aos veios azul-esverdeados em sua massa, que se devem à inserção do mofo Penicillium Roqueforti no leite ou na coalhada durante sua produção. Por serem parecidos, esses dois queijos costumam ser considerados pelos menos iniciados como "pinga da mesma pipa", mas as diferenças começam na origem e seguem pelos ingredientes.
 
O Gorgonzola é italiano e produzido com leite de vaca, enquanto o Roquefort é francês e feito com leite de ovelha. Ambos têm alto teor de sal, mas o sabor do italiano é mais picante e metálico, e o do francês combina o dulçor do leite de ovelha com uma massa fundente, que derrete na boca. Tanto um como o outro são usados para rechear massas e fazer molhos, inclusive para carnes vermelhas, mas também não podem faltar em "tábuas de queijos", até porque harmonizam com os mesmos vinhos — Porto, Sauterne, Riesling Renano e alguns Chenin Blanc.
 
Observação: Em atenção aos menos iniciados, entende-se por "tábua de queijos" uma apresentação elegante de diversas qualidades de queijos (como Brie, Camembert, Gorgonzola, Gouda, Reino, Maasdam, etc.)  acompanhadas por frutas, nozes, geleias, e pães. Ao montar a dita-cuja, é importante considerar a variedade de sabores, texturas e aparências para criar uma apresentação visualmente atraente, bem como fornecer facas de queijo, garfos e outros utensílios que facilitem a degustação.
 
Ao comprar queijos frescos, escolha os de data fabricação mais recente. Nos "azuis", a massa deve estar mole, mas sem verter água ou soro ou apresenta manchas amarronzadas. No caso dos duros, confira se a casca está bem firme (pressionando-a com a unha) e a massa, seca. Sempre que possível, evite comprar aqueles "kits" prontos, que trazem quatro ou cinco tipos de queijo já cortados. 
 
No que tange ao preço do queijo (assim como o da manteiga), produtores e revendedores geralmente atribuem a culpa ao leite e ao dólar. É fato que o litro do leite beirou os R$ 10 em meados de 2022, mas hoje ele custa menos da metade, e o dólar continua orbitando os R$ 5. Mesmo assim, o preço dos laticínios continua nas alturas.
 
Também é fato que, em meio a importações recordes de leite em pó, a alta dos custos (sobretudo dos grãos usados para alimentar o gado) o preço médio do litro de leite pago ao produtor despencou de R$ 3,57 para R$ 1,97 entre agosto de 2022 e outubro de 2023, levando um sem-número de pequenos produtores a mudar de atividade (em relação a 2015, quando o Rio Grande do Sul, que é o maior produtor de leite do país, tinha 84.199 produtores, a queda foi 61% em oito anos).
 
Observação: Em 2023, o Brasil importou um recorde de US$ 853,6 milhões (cerca de R$ 4,3 bilhões) em leite, creme de leite e laticínios, exceto manteiga ou queijo, alta de 66% em relação ao ano anterior e maior valor da série da Secretaria de Comércio Exterior do governo federal.
 
Mas a pergunta que se coloca é: se o preço do leite despencou, por que o preço dos derivados segue nas alturas? Na avaliação dos especialistas, o vilão da história não são os produtores, mas os varejistas, que, por não considerarem o queijo um produto "de alto giro", mantêm suas margens de lucro mais elevadas do que em outros produtos. Aliás, o Brasil encabeça o ranking das maiores margens praticadas no mercado de queijos mundial. 

Laticínios como iogurte, queijo e manteiga são considerados "substituíveis" — donde o surgimento das "misturas lácteas condensadas" como alternativa mais barata ao leite condensado, das "bebidas lácteas" ao iogurte, das "misturas láctea sabor requeijão" ao produto original, das "margarinas vegetais sabor manteiga" à manteiga propriamente dita, e assim por diante.
 
Observação: Mutatis mutandis, o mesmo se aplica às misturas de azeite de oliva com óleo de soja comercializadas como "óleos compostos", que de azeitona não têm nem o cheiro. Alguns maus fabricantes acrescentam lampante — gordura obtida das azeitonas sãs, mas com graus de acidez acima de 2,% e com muitos defeitos sensoriais,— a suas misturebas, o que as torna impróprias para o consumo humano.
 
Ainda me lembro do sabor das manteigas Aviação e Viaducto dos anos 1960, da textura do requeijão Catupiry da caixinha de madeira e dos bifes deliciosos que degustava no sítio de minha avó materna, na divisa de São Paulo com Minas Gerais. Décadas depois, perguntei à velhota qual era o segredo daqueles bifes (cujo sabor eu jamais consegui reproduzir), e ela respondeu: "Vá até o matadouro e traga um quilo de patinho que eu faço os bifes pra você". 
 
Bons tempos. 

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

O 8 DE JANEIRO E A POLARIZAÇÃO (QUINTA PARTE)

 

Jair Bolsonaro iniciou sua carreira militar em 1973 e encerrou-a em 1988, já com a patente de capitão  mas só foi diplomado às vésperas de vestir a faixa presidencial, e graças a uma portaria publicada dois dias depois da eleição. Em 1986, ele cumpriu 15 dias de prisão disciplinar por ter publicado um artigo de opinião em Veja; no ano seguinte, a mesma revista revelou que ele e o capitão Fábio Passos da Silva planejavam explodir bombas em quartéis se o reajuste do soldo fosse inferior a 60%. Uma comissão do Exército decidiu pela expulsão do insurretos, mas o STM os absolveu. Passos se aposentou com a patente de coronel, mas Bolsonaro trocou a carreia militar pela política. 

No mesmo ano em que deixou a caserna, o futuro mito dos descerebrados se filiou ao PDC (o primeiro dos 9 partidos que o abrigaram nos últimos 35 anos), amoldou o discurso às demandas da soldadesca e conquistou uma cadeira na Câmara Municipal carioca, onde se disse "espantado" com o tanto de funcionários fantasmas que havia na Casa. Dois anos depois, já deputado federal, pôs em movimento seu trem da alegria, começando por nomear o pai da primeira esposa, Rogéria Nantes Braga, mãe de 0102 e 03. Como o sogro continuou morando no interior do Rio, o muito que fez como assessor parlamentar do genro foi distribuir "santinhos" durante as campanhas eleitorais.

ObservaçãoO ex-capitão empregou familiares das ex-esposas em seu gabinete e nos gabinetes dos filhos Carlos  eleito vereador em 2000 e reeleito outras 5 vezes  e Flávio — eleito deputado estadual em 2002, 2006, 2010 e 2014 e promovido a Senador em 2018.
 
No baixo clero da Câmara Federal, Bolsonaro defendeu o fechamento do Congresso e a volta dos militares ao poder. Disse não acreditar em solução para o Brasil por meio do voto popular, e que mais gente deveria ter sido morta pela ditadura (incluindo o então presidente Fernando Henrique). Em abril de 2016, emendou seu voto pelo impeachment de Dilma com uma patética homenagem o coronel torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra. Mas a punição mais severa que recebeu ao longo de
 sua improfícua trajetória política (abrilhantada pela aprovação de 2 míseros projetos e dois míseros quatro votos na disputa pela presidência da Câmara) foi uma réles advertência. 

O primeiro casamento de Bolsonaro terminou em 1997, quando sua mulher, então então vereadora carioca, deixou de consultá-lo na hora de votar questões polêmicas: "Eu a elegi. Ela tinha que seguir minhas ideias". Outra versão sustenta que ambos estavam insatisfeito com as infidelidades de cada um. Rogéria concorreu a um terceiro mandato em 2000, mas o ex-marido lançou a candidatura do filho Carlos, então com 17 anos, que sepultou a carreira política da mãe ao se tornar o vereador mais jovem da história política do Rio de Janeiro.  
 
Eduardo Bolsonaro — o fritador de hambúrguer que quase virou embaixador — conquistou uma cadeira na Alesp em 2014, renovou o mandato em 2018 e 2022 e é investigado pela CPMI das Fake News. À exceção da menina Laura — fruto da união com Michelle — todos os filhos do capitão estão na mira da Justiça, incluindo Jair Renando casamento com Ana Cristina Valle, que (ainda) não tem cargo eletivo. Afora a novela 01 e as rachadinhas, a PF e o MP apuram suspeitas que vão de tráfico de influência e contratação de funcionários fantasmas a envolvimento na organização de manifestações em prol do fechamento do Congresso e do STF.
 
No livro "O Negócio do Jair",
 Juliana Dal Piva esmiúça o esquema usado pelo clã Bolsonaro para comprar mais de 100 imóveis, acumular milhões de reais e construir um projeto político iniciado com o emprego de parentes e coordenado pela segunda esposa. A Jornalista trata ainda das relações da família com Adriano da Nóbrega, o ex-capitão do Bope que viou chefe da milícia de Rio das Pedras e do Escritório do Crime — grupo suspeito de assassinar a vereadora Marielle Franco e seu motorista em março de 2018 — e acabou executado em 2020 por policiais militares baianos e fluminenses. 

Observação: Quando foi avisado da denúncia protocolada no TJ-RJ contra Flávio Bolsonaro, o então presidente moveu montanhas retardar o andamento do caso (que ficou paralisado por 811 dias). Zero Um era acusado de desviar R$ 6,1 milhões dos cofres públicos fluminenses — dinheiro que Fabrício Queiroz usava para pagar despesas pessoais do então deputado, comprar imóveis e "lavar" o que sobrava através de uma franquia da KopenhagenDe 1990 até 2022 (ano da publicação do livro), Jair et caterva negociaram 107 imóveis e pagaram 51 deles em dinheiro vivo. As compras registradas nos cartórios como pagas "em moeda corrente nacional" totalizaram R$ 25,6 milhões; Piva não conseguiu descobrir como foram pagos 26 imóveis, mas as transações por meio de cheque ou transferência bancária somaram R$ 17,9 milhões (em valores corrigidos pelo IPCA para agosto de 2022). 
 
Em 2022, a jornalista Amanda Klein confrontou Bolsonaro com um levantamento patrimonial realizado pelo UOL, relembrou as rachadinhas nos gabinetes dele e dos filhos e os 20 imóveis que Flávio negociou nos últimos 16 anos (entre os quais uma mansão de R$ 6 milhões). Curto e grosso (mais grosso do que curto, na verdade), o então candidato à reeleição qualificou as acusações de "levianas", disse que não sabia da vida econômica de suas ex-mulheres e que os imóveis foram comprados na planta "por uma micharia por mês" e revendidos com lucro logo depois. 

Numa série de reportagens sobre a evolução patrimonial do capetão, a Folha anotou que, enquanto deputado, Bolsonaro recebeu "auxílio-moradia", embora tivesse um apartamento em Brasília, e que mantinha entre seus assessores-fantasmas uma certa Wal do Açaí́, que morava e trabalhava em Angra dos Reis (RJ). Como os frutos não caem longe do pé, Wal não era a única assessora em situação irregular, já que os filhos emularam o modus operandi do pai, empregando parentes da mãe e da ex-madrasta e outros agregados.
 
Investigar presidentes da República no exercício do cargo é prerrogativa exclusiva da PGRAugusta Aras, que foi um exemplo de antiprocurador, fechou os olhos e os ouvidos para as atrocidades cometidas pelo pior mandatário desta banânia desde Tomé de Souza. Ignorar as evidências que conectam um formidável esquema de corrupção aos três casamentos de Bolsonaro, a seus filhos, a dezenas de parentes, ao patrimônio da família e à proximidade do clã com Queiroz, Adriano e outros pulhas é a prova provada de que a Justiça tupiniquim, além de cega, abriga em suas fileiras gente burra, pusilânime e venal. Nada muito diferente do que se vê no Congresso Nacional. 
 
Triste Brasil. 

terça-feira, 24 de outubro de 2023

QUEM FOI QUE INVENTOU O BRASIL? FOI SEU CABRAL! FOI SEU CABRAL!

 
Nem a derrota foi capaz de restituir à família Bolsonaro o senso de ridículo — talvez porque não é possível recuperar algo que nunca se teve. Autoconvertido em cabo eleitoral do aloprado Javier Milei, Zero três defendeu a liberalização do comércio de armas na Argentina, talvez achando que estava na mesa de almoço da família ou discursava para um grupo de CACs, quando na verdade ele perorava para uma sociedade crivada de problemas como superinflação, recessão, déficit fiscal e social, que não se revolvem na bala. 
Os entrevistadores apresentaram o entrevistado ao ridículo: "Quão generosos são os argentinos, para receber este tipo de gente", disse um deles, enquanto outra lembrou que foi por isso que os brasileiros defenestraram do poder o pai do entrevistado. Resta saber se o deputado fritador de hambúrguer passou vergonha entre os portenhos por conta própria ou à expensas do contribuinte brasileiro. Se as despesas forem bancadas pela Câmara, o ridículo se converte num escárnio digno de ação por improbidade.


***

O título desta postagem remete a uma marchinha carnavalesca que fez muito sucesso durante o reinado de Momo de1934 (para relembrá-la, clique aqui). Lamartine Babo usou o verbo "inventar" de forma jocosa, mas a história do "descobrimento", como é contada nos livros didáticos, é tão fantasiosa quanto a "fábula da maçã" — que inspirou outra marchinha para o Carnaval de 1954. 
 
Consta que o f
idalgo, comandante militar, navegador e explorador português Pedro Álvares Cabral zarpou do porto de Lisboa em 9 de março de 1.500, que seu destino era a cidade indiana de Calicute, e que, em meio ao Mar Tenebroso (como o Oceano Atlântico era chamado pelos intrépidos navegantes de então), sua esquadra foi tirada da rota original 
— por uma borrasca, segundo alguns, ou por uma calmaria, segundo outros  e deu com os costados no que hoje é o litoral da Bahia.
 
A "Relação do Piloto Anônimo" — que, ao lado das cartas de Caminha e de Mestre João, é um dos três testemunhos diretos do descobrimento que sobreviveram ao tempo —, relata que a nau comandada por Vasco de Ataíde se perdeu em 23 de março, embora não houvesse vento forte nem contrário para que tal acontecesse. Mas o
utros mistérios cercam o desaparecimento da embarcação e, de certo modo, o "descobrimento" que ocorreria dali a um mês. A começar pelo identidade do capitão da nau tragada pelo mar. 

Cronistas como Fernão Lopes de Castanheda, Damião de GóisJoão de Barros e Gaspar Correia se dividem entre Luís Pires e Pero de Ataíde, e afirmam que a embarcação conseguiu retornar a Lisboa. Caminha, do alto da autoridade de escrivão oficial da armada, anotou que o capitão da São José era Vasco de Ataíde: "Na noite seguinte, segunda-feira, ao amanhecer, se perdeu da frota Vasco de Ataíde com sua nau sem haver tempo forte ou contrário para que assim pudesse ser". O próprio D. Manuel, em carta escrita em 1502, confirma o escriba e assegura que não se teve mais notícias da embarcação.

Escrevendo mais de uma década depois dos acontecimentos, Castanheda, Góis, Barros e Correia foram unânimes em afirmar que o Brasil foi descoberto por acaso, agasalhando a tese do desvio de rota provocado pela tormenta... que simplesmente não ocorreu. Mas a questão que se destaca é: se não houve tempestade, o que teria causado o desaparecimento da embarcação? 


De acordo com o historiador naval e almirante brasileiro Max Justo Guedes, a incidência de cerrações e nevoeiros é comum na região do arquipélago de Cabo Verde, e que, ao tresmalhar-se da frota, a nau comandada por Ataíde se chocou contra os recifes de João Leitão, a 17 milhas ao sul da Ilha de Boa Vista. Mas as circunstâncias que envolveram o naufrágio reforçam a tese de que o descobrimento do Brasil não foi casual


O historiador português Jaime Cortesão — defensor da tese da intencionalidade — faz outra leitura do episódio: "Caminha, que em breve iria dedicar páginas e páginas inteiras à descrição do aborígine, menciona o naufrágio sem uma palavra de lástima", embora 150 homens tivessem engolidos pelo mar, contribuindo para a longa história trágico-marítima de Portugal.


ObservaçãoNo Brasil de hoje, "caraveladesigna qualquer embarcação a vela, mas somente três dos navios da frota de Cabral mereciam ser chamados como tal. Os outros dez era "naus" (incluindo uma "naveta" que transportava mantimentos extras). As caravelas propriamente ditas eram embarcações menores  elas mediam 22 m de comprimento, tinham apenas dois mastros, um pequeno castelo à popa e velas triangulares ou quadradas — e transportavam até 80 tripulantes. Já as naus eram maiores (até 35 m), tinha vários conveses, três mastros, dois castelos e capacidade para transportar até 150 tripulantes. 
 
Continua...

sábado, 22 de abril de 2023

DATA DE VALIDADE VENCIDA


Há pouco mais de duas décadas, uma resolução da Anvisa determinou aos fabricantes que imprimissem na embalagem a validade dos produtos. Claro que atentar para essa informação não nos livra de levar para casa um produto deteriorado — atire o primeiro pão de forma, por exemplo, quem nunca encontrou sinais de bolor em algumas fatias. Por outro lado, nem sempre devemos descartar prontamente um produto vencido que esteja em nossa despensa ou geladeira, já que a data de validade não é tão precisa quanto um mecanismo da alta relojoaria suíça. 


Vinagre, açúcar, sal, mel, melaço, xarope de milho, baunilha e outros extratos têm validade praticamente ilimitada. Aveia em flocos pode levar mais de um ano para ficar rançosa, e a pré-cozida (ou aveia instantânea), a exemplo da farinha branca, se mantém própria para o consumo por anos a fio, mas farinhas integrais tendem a adquirir um odor metálico ou de sabão em poucos meses. 

 

A regra do "mais branco é mais duradouro" vale também para grãos não moídos. Por não conter gordura, o arroz branco refinado tem validade indeterminada, ao passo que o integral não dura mais que alguns meses. Isso porque as gorduras são a primeira coisa a deteriorar quando se trata de alimentos secos. 


Nozes, tipicamente ricas em gordura, ficam rançosas em poucos meses. Feijões secos e lentilhas podem durar anos, ainda que endureçam e demorem mais a cozinhar. Se seus feijões estiverem guardados há muito tempo, evite usá-los em receitas que incluam ingredientes ácidos — como melaço ou tomates —, pois eles aumentam drasticamente o tempo que os grãos levam para amolecer.

 

Pães industrializados (como os de forma, de hot dog, de hambúrguer e que tais) são feitos com óleos e conservantes, e podem durar mais tempo se guardados na geladeira. Mas o pão de fermentação natural, como o que a gente compra na padaria da esquina, fica rançoso em poucos dias, chegando mesmo a mofar — a não ser que os cortemos em fatias e congelemos.

 

Você pode usar temperos com validade vencida se eles não apresentarem bolor, mau cheiro ou outra evidência de deterioração. Frutas, legumes, carnes e outros enlatados podem ser consumidos anos depois do envase, mas desde que não haja nenhum sinal externo de deterioração, como inchaço ou ferrugem (o pequeno botão no topo das latas, que estufa caso haja ação bacteriana significativa, é a melhor maneira de saber se o conteúdo está bom para o consumo). E se for armazenar refrigerante ou cerveja, prefira as latinhas às garrafas de vidro, e estas às garrafas PET.

 

A validade dos azeites e óleos refinados é indeterminada quando eles são armazenados em latas ou garrafas seladas. Depois que abrir o recipiente, mantenha-o longe de fontes de calor (como o fogão). Para saber se o óleo está bom, siga seu nariz ou coloque uma gota no dedo e aperte. O óleo rançoso exala um cheiro inconfundível, além de ficar pegajoso.

 

Molhos para salada podem durar mais de um ano na geladeira, especialmente se envasados em garrafas com aberturas estreitas. Mostarda dura indefinidamente; o ketchup tende a mudar de cor antes de completar um ano, mas permanece palatável mesmo assim. Contrariando a crença popular, a vida útil da maionese é excepcionalmente longa, sobretudo se o produto não contiver ingredientes como suco de limão ou alho. Já a validade dos ovos e de aproximadamente 60 dias, desde que armazenados sob refrigeração. 

 

Quando armazenado em condições adequadas, o leite "longa vida" dura meses a fio, mas, depois que a embalagem é aberta, as bactérias começam a digerir a lactose e produzir ácido lático. Com o acúmulo de ácidos, o pH do leite vai abaixando, e quando chega em 4,6, a caseína (proteína do leite) se aglomera, dando o aspecto de coalhado e o gosto azedo. 


Dica: Quer leite com uma vida útil mais longa? Procure pela sigla "UHT" (de temperatura ultra alta em inglês). Ela indica que o leite foi pasteurizado em altas temperaturas (135º C, o que é suficiente para destruir não apenas vírus e bactérias, mas também esporos bacterianos) antes de ser bombeado e selado assepticamente em caixas. A maioria das marcas de leite orgânico passa pelo processo UHT.

 

Fonte: O Globo