SE O PROBLEMA TEM SOLUÇÃO, NÃO HÁ COM QUE SE PREOCUPAR. SE O PROBLEMA NÃO TEM SOLUÇÃO, A PREOCUPAÇÃO SERÁ EM VÃO.
Antes do avanço científico, a mitologia já tentava desvendar os mistérios do mundo e da existência. No hinduísmo, a figura de Shiva — divindade da destruição e transformação na tríade sagrada com Brahma (o criador) e Vishnu (o preservador) — carrega símbolos que expressam tanto a natureza do Universo quanto a jornada humana.
O crânio usado como adorno lembra que o Universo é cíclico; a lua crescente alude à passagem do tempo; a chama simboliza que a destruição é necessária para a renovação; o Damaru (pequeno tambor) emite o som sagrado que marca o início do Universo; o terceiro olho lança chamas que dissipam a ignorância; o Trischula (tridente) representa as três forças cósmicas — criação, preservação e destruição; e a serpente, que simboliza o Kundalini (energia latente), o controle sobre o ego e a morte.
Observação: Shiva é uma figura ascética e meditativa, mas também uma força transformadora que limpa o caminho para o novo. O provérbio indiano "Morrer é como antes de nascer" reforça essa ideia. No entanto, sua imagem reflete um dos maiores mistérios que a ciência tenta decifrar: a verdadeira natureza do tempo.
CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA
Na última quarta-feira, depois que as defesas de Bolsonaro e demais réus do "núcleo crucial do golpe" declararam que seus clientes são inocentes e, portanto, devem ser canonizados, digo, absolvidos, Alexandre de Moraes pediu ao presidente de turno da 1ª Turma do STF para pautar o julgamento da AP 2668, e Zanin marcou sessões extraordinárias entre os dias 2 e 12 de setembro.
Como Luiz Fux já divergiu de seus pares em outras ocasiões, os réus e seus patronos acalentam a esperança de que um pedido de "vista protelatória" postergue o julgamento para fevereiro do ano que vem.
Nas alegações finais, a defesa do general Paulo Sérgio Nogueira divergiu das demais, trocando o caminho cômodo do ataque ao delator pela tentativa (tardia) de igualar o ex-ministro da Defesa ao general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, que frequenta o processo na confortável posição de testemunha que resistiu ao golpismo de Bolsonaro.
Quem lê a peça tem a impressão de que Nogueira age como um náufrago que se agarra a pedaços de depoimentos de Cid como quem confunde jacaré com tronco. Ao tentar se salvar do naufrágio, o general confirma a existência do próprio desastre que os outros réus tentam negar. Isso dificilmente o livrará da condenação, mas certamente fornece munição contra Bolsonaro e seus comparsas.
Enquanto a mitologia aborda a natureza do tempo com uma linguagem poética (a palavra "cronológico" vem de Chronos, o deus grego que devorava os próprios filhos), a ciência lida com ela em termos rigorosos, e a arte a trata com emoção — como na música Dust in the Wind, cuja letra resume a transitoriedade de tudo. Mas a pergunta é: será que a "seta do tempo" aponta sempre para o futuro? A resposta é: ainda não existe uma resposta definitiva.
De acordo com a Teoria da Relatividade, espaço e tempo formam uma estrutura unificada chamada espaço-tempo, e a velocidade com que o tempo passa depende da velocidade do observador — e tende a ser zero quando na velocidade da luz. Embora possamos nos mover livremente nas três dimensões espaciais, na temporal podemos somente seguir em frente — pelo menos em tese, já que a ciência ainda questiona se o tempo é contínuo ou quântico, se realmente existe ou não passa de uma criação humana destinada a explicar fenômenos naturais, como o amanhecer, o entardecer e as estações do ano.
Segundo o princípio da causalidade (não confundir com casualidade), o que aconteceu ontem impõe restrições ao que acontece hoje, e o que acontece hoje influencia diretamente o que acontecerá amanhã. Como isso dá ao Universo uma direção única, a possibilidade de voltar no tempo põe a ciência em xeque. Einstein definiu o Universo como um bloco quadridimensional estático, que contém todo o espaço e o tempo simultaneamente, sem um "agora" especial. Alguns físicos acreditam que é possível negar a existência do tempo sem afrontar a causalidade, já que o tempo é apenas uma ilusão emergente — ou seja, uma percepção derivada de mudanças na posição e nos estados das partículas.
Em algumas interpretações da física, como a da gravidade quântica, o tempo se resume a uma dimensão secundária, que surge da interação entre eventos e partículas sem existir como entidade independente. Assim, se causa e efeito estão relacionados pela ordem dos eventos, e não pela passagem do tempo em si, então o tempo é ilusório, e a causalidade pode se manter através dessas relações ordenadas. A Relatividade Geral descreve o espaço-tempo como uma entidade única e maleável, curvada pela presença de massa e energia, e a maioria dos cientistas aceita essa premissa.
No entanto, a aparente incompatibilidade entre a relatividade e a mecânica quântica dá margem a dúvidas quanto a Einstein estar certo em absolutamente tudo que postulou em suas famosas teorias — mesmo porque a gravidade é a única das quatro forças elementares que não se aplica ao mundo das partículas. A mecânica quântica lida com forças e partículas em escalas microscópicas, onde as outras três interações fundamentais (eletromagnetismo, força forte e força fraca) são descritas por teorias quânticas bem estabelecidas. Mas a gravidade resiste a essa quantização. A incompatibilidade com a Relatividade Geral se evidencia em singularidades como as que habitam o interior dos buracos negros, onde a gravidade se torna extremamente intensa em uma escala minúscula.
Enquanto a teoria quântica sugere que o espaço-tempo tem uma estrutura granular em níveis extremamente pequenos, a Relatividade o trata como um continuum suave. Essa divergência estimulou a busca por uma teoria unificadora, como a gravidade quântica e a teoria das cordas, que propõem novas formas de entender o espaço-tempo e a gravidade em escalas quânticas. Algumas abordagens sugerem que o espaço-tempo pode não ser fundamental, mas emergente de interações mais profundas.
A pergunta que se coloca é: se todo o Universo pode ser explicado através das partículas fundamentais, por que a gravidade foge à regra? Supondo que exista alguma partícula fundamental da gravidade, como sustentar a tese de que gravidade, espaço e tempo estejam intrinsecamente relacionados?
Sustentar que o tempo não é necessário para explicar a gravidade (e consequentemente o espaço) leva à conclusão de que ele foi inventado para explicar eventos simples, como o alvorecer, o anoitecer e outros vinculados ao relógio e ao calendário. Mas será que somos uma simples aleatoriedade no Universo, que flui no cosmos como as ondas de um mar, indiferente à passagem das horas no relógio? E mesmo que o tempo não exista, que os dias, horas, minutos e segundos sejam mera convenção, o princípio da causalidade leva a crer que a existência de tudo, inclusive de nós, estava pré-determinada desde o Big Bang.
Como bem observou Stephen Hawking, se a evolução do Universo desde o plasma de quark-glúon até a formação de vida foi definida por uma cadeia de causas e consequências, o cosmos dar origem à matéria, às estrelas, aos planetas e a formas de vida como nós eram favas contadas.
Continua...