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segunda-feira, 18 de agosto de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 42ª PARTE — UMA QUESTÃO DE TEMPO

SE O PROBLEMA TEM SOLUÇÃO, NÃO HÁ COM QUE SE PREOCUPAR. SE O PROBLEMA NÃO TEM SOLUÇÃO, A PREOCUPAÇÃO SERÁ EM VÃO. 

Antes do avanço científico, a mitologia já tentava desvendar os mistérios do mundo e da existência. No hinduísmo, a figura de Shiva — divindade da destruição e transformação na tríade sagrada com Brahma (o criador) e Vishnu (o preservador) — carrega símbolos que expressam tanto a natureza do Universo quanto a jornada humana. 

O crânio usado como adorno lembra que o Universo é cíclico; a lua crescente alude à passagem do tempo; a chama simboliza que a destruição é necessária para a renovação; o Damaru (pequeno tambor) emite o som sagrado que marca o início do Universo; o terceiro olho lança chamas que dissipam a ignorância; o Trischula (tridente) representa as três forças cósmicas — criação, preservação e destruição; e a serpente, que simboliza o Kundalini (energia latente), o controle sobre o ego e a morte. 

Observação: Shiva é uma figura ascética e meditativa, mas também uma força transformadora que limpa o caminho para o novo. O provérbio indiano "Morrer é como antes de nascer" reforça essa ideia. No entanto, sua imagem reflete um dos maiores mistérios que a ciência tenta decifrar: a verdadeira natureza do tempo.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Na última quarta-feira, depois que as defesas de Bolsonaro e demais réus do "núcleo crucial do golpe" declararam que seus clientes são inocentes e, portanto, devem ser canonizados, digo, absolvidos, Alexandre de Moraes pediu ao presidente de turno da 1ª Turma do STF para pautar o julgamento da AP 2668, e Zanin marcou sessões extraordinárias entre os dias 2 e 12 de setembro.

Como Luiz Fux já divergiu de seus pares em outras ocasiões, os réus e seus patronos acalentam a esperança de que um pedido de "vista protelatória" postergue o julgamento para fevereiro do ano que vem.

Nas alegações finais, a defesa do general Paulo Sérgio Nogueira divergiu das demais, trocando o caminho cômodo do ataque ao delator pela tentativa (tardia) de igualar o ex-ministro da Defesa ao general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, que frequenta o processo na confortável posição de testemunha que resistiu ao golpismo de Bolsonaro.

Quem lê a peça tem a impressão de que Nogueira age como um náufrago que se agarra a pedaços de depoimentos de Cid como quem confunde jacaré com tronco. Ao tentar se salvar do naufrágio, o general confirma a existência do próprio desastre que os outros réus tentam negar. Isso dificilmente o livrará da condenação, mas certamente fornece munição contra Bolsonaro e seus comparsas.

Enquanto a mitologia aborda a natureza do tempo com uma linguagem poética (a palavra "cronológico" vem de Chronos, o deus grego que devorava os próprios filhos), a ciência lida com ela em termos rigorosos, e a arte a trata com emoção — como na música Dust in the Wind, cuja letra resume a transitoriedade de tudo. Mas a pergunta é: será que a "seta do tempo" aponta sempre para o futuro? A resposta é: ainda não existe uma resposta definitiva. 

De acordo com a Teoria da Relatividade, espaço e tempo formam uma estrutura unificada chamada espaço-tempo, e a velocidade com que o tempo passa depende da velocidade do observador — e tende a ser zero quando na velocidade da luzEmbora possamos nos mover livremente nas três dimensões espaciais, na temporal podemos somente seguir em frente — pelo menos em tese, já que a ciência ainda questiona se o tempo é contínuo ou quântico, se realmente existe ou não passa de uma criação humana destinada a explicar fenômenos naturais, como o amanhecer, o entardecer e as estações do ano. 

Segundo o princípio da causalidade (não confundir com casualidade), o que aconteceu ontem impõe restrições ao que acontece hoje, e o que acontece hoje influencia diretamente o que acontecerá amanhã. Como isso dá ao Universo uma direção única, a possibilidade de voltar no tempo põe a ciência em xeque. Einstein definiu o Universo como um bloco quadridimensional estático, que contém todo o espaço e o tempo simultaneamente, sem um "agora" especial. Alguns físicos acreditam que é possível negar a existência do tempo sem afrontar a causalidade, já que o tempo é apenas uma ilusão emergente — ou seja, uma percepção derivada de mudanças na posição e nos estados das partículas. 


Em algumas interpretações da física, como a da gravidade quântica, o tempo se resume a uma dimensão secundária, que surge da interação entre eventos e partículas sem existir como entidade independente. Assim, se causa e efeito estão relacionados pela ordem dos eventos, e não pela passagem do tempo em si, então o tempo é ilusório, e a causalidade pode se manter através dessas relações ordenadas. A Relatividade Geral descreve o espaço-tempo como uma entidade única e maleável, curvada pela presença de massa e energia, e a maioria dos cientistas aceita essa premissa. 


No entanto, a aparente incompatibilidade entre a relatividade e a mecânica quântica dá margem a dúvidas quanto a Einstein estar certo em absolutamente tudo que postulou em suas famosas teorias — mesmo porque a gravidade é a única das quatro forças elementares que não se aplica ao mundo das partículas. A mecânica quântica lida com forças e partículas em escalas microscópicas, onde as outras três interações fundamentais (eletromagnetismo, força forte e força fraca) são descritas por teorias quânticas bem estabelecidas. Mas a gravidade resiste a essa quantização. A incompatibilidade com a Relatividade Geral se evidencia em singularidades como as que habitam o interior dos buracos negros, onde a gravidade se torna extremamente intensa em uma escala minúscula. 


Enquanto a teoria quântica sugere que o espaço-tempo tem uma estrutura granular em níveis extremamente pequenos, a Relatividade o trata como um continuum suave. Essa divergência estimulou a busca por uma teoria unificadora, como a gravidade quântica e a teoria das cordas, que propõem novas formas de entender o espaço-tempo e a gravidade em escalas quânticas. Algumas abordagens sugerem que o espaço-tempo pode não ser fundamental, mas emergente de interações mais profundas.


A pergunta que se coloca é: se todo o Universo pode ser explicado através das partículas fundamentais, por que a gravidade foge à regra? Supondo que exista alguma partícula fundamental da gravidade, como sustentar a tese de que gravidade, espaço e tempo estejam intrinsecamente relacionados?

Sustentar que o tempo não é necessário para explicar a gravidade (e consequentemente o espaço) leva à conclusão de que ele foi inventado para explicar eventos simples, como o alvorecer, o anoitecer e outros vinculados ao relógio e ao calendário. Mas será que somos uma simples aleatoriedade no Universo, que flui no cosmos como as ondas de um mar, indiferente à passagem das horas no relógio?  E mesmo que o tempo não exista, que os dias, horas, minutos e segundos sejam mera convenção, o princípio da causalidade leva a crer que a existência de tudo, inclusive de nós, estava pré-determinada desde o Big Bang


Como bem observou Stephen Hawking, se a evolução do Universo desde o plasma de quark-glúon até a formação de vida foi definida por uma cadeia de causas e consequências, o cosmos dar origem à matéria, às estrelas, aos planetas e a formas de vida como nós eram favas contadas.


Continua...

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 41ª PARTE

O TEMPO NÃO PARA NO PORTO, NÃO APITA NA CURVA, NÃO ESPERA NINGUÉM. 

Colher o "fruto mais cobiçado da árvore da relatividade" exige saber o que é e como funciona o "tempo" — que os dicionaristas definem como "período sem interrupções no qual os acontecimentos ocorrem". Assim, se o hoje é o amanhã de ontem e o ontem de amanhã, e se as causas precedem as consequências, então o que aconteceu dita as regras do que acontecerá. 


É certo que avançamos para o futuro do momento em que nascemos até nosso último suspiro — se continuamos avançando nas vidas futuras, como sustentam os que acreditam em reencarnação, ou ao longo de toda a eternidade, como dizem os que creem em vida eterna, ninguém ainda voltou para contar. 


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Na política, a diferença entre a genialidade e a estupidez é que a genialidade tem limites. Eduardo Bolsonaro não sofre de insanidade; apaixonou-se por ela, aproveita cada segundo desse convívio e é plenamente correspondido: segundo a embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Xandão usurpou o poder ditatorial ao ameaçar desafetos e seus familiares com prisão e outras penalidades. 

"Para quem ainda não entendeu”, explica o filho do pai, “os Estados Unidos estão dispostos a ir às últimas consequências para destruir todos os obstáculos ao resgate da harmonia entre os Poderes." Faltou definir "ultimas consequências", mas o que o rebento do refugo da escória da humanidade quis dizer foi mais ou menos o seguinte: "a iminente condenação de papai atiçará a fúria Trump, que não hesitará em decretar o Juízo Final para o bem do Brasil".

Segundo o Datafolha, 89% dos brasileiros avaliam que o tarifaço de Trump trará prejuízos para a economia, 77% acham que suas finanças pessoais serão afetadas, e 57% condenam a interferência dos EUA na Justiça brasileira. Traduzindo o que diz a pesquisa, "se a estupidez matasse, os políticos que defendem as sanções de Trump deveriam colocar pontes de safena no cérebro, e os que se acorrentam a Bolsonaro — como o governador paulista Tarcísio de Freitas — deveriam cagar ou sair da moita." 

A esta altura, matar o tempo equivale a cometer suicídio.


O romance A Máquina do Tempo — publicado por H.G. Wells em 1895 — inaugurou o conceito de uma tecnologia capaz de nos levar a outros pontos da linha temporal. A ideia, revolucionária para a época, já suscitava dilemas filosóficos e sociais, como as implicações morais de alterar o curso dos acontecimentos e a alienação do ser humano diante de um futuro incontrolável.


Supõe-se que um retorno ao passado produza mudanças que criariam um "novo presente" — como explica o célebre paradoxo do avô. Em última análise, o simples desembarque de um hipotético viajante no passado já alteraria o fluxo dos acontecimentos. Ou não.


Kip Thorne — laureado com o Nobel de Física em 2017 por seus estudos sobre ondas gravitacionais — e outros astrofísicos renomados acreditam ser possível viajar para o passado sem criar paradoxos. Não ao "nosso passado", mas a um passado alternativo de um universo paralelo. Segundo eles, se o espaço-tempo pode ser curvado, distorcido e expandido, então pode se desdobrar em múltiplas versões coexistentes. Nesse cenário, em vez de inviabilizar o próprio nascimento matando o avô, o viajante do tempo criaria uma nova ramificação da realidade para acomodar aquele evento — ideia que se alinha à interpretação dos muitos mundos.

 

Já o Princípio da Autoconsistência, formulado pelo físico russo Igor Novikov em 1980, sustenta que eventos causados por viagens no tempo devem ser consistentes com o passado já existente, preservando a lógica e a história tal como conhecemos. Se alguém tentasse matar o próprio avô, algo impediria o ato, pois o passado desse alguém está "selado", ou seja, escrito de maneira consistente com o presente do qual esse alguém partiu.

 

Einstein definiu o Universo como um bloco quadridimensional que contém todo o espaço e o tempo simultaneamente, sem um "agora" especial. Segundo Julian Barbour, o Universo tem dois lados, e o tempo corre simultaneamente nos dois sentidos. Se nada mudasse, o tempo ficaria parado, pois tempo é mudança. Mas se o que vemos acontecer não é o tempo, e sim a mudança, então o tempo não existe. E ainda existisse, o Universo está se expandindo em todos os lugares, de modo que não faria sentido ele fluir numa única direção. Ademais, o que determina a passagem do tempo não é o aumento da entropia, e sim o aumento da complexidade sem limites de tempo ou de espaço.

 

Roger Penrose, conhecido por suas contribuições à cosmologia e à compreensão da gravidade, afirma que Big Bang criou um "universo espelho", onde o tempo e a matéria se movem em direções opostas, retrocedendo em direção ao "momento zero". Carlo Rovelli, que se notabilizou por seus estudos sobre a gravidade quântica em loop, sustenta que a hipótese de o espaço ser um recipiente amorfo das coisas desaparece da física com a gravidade quântica. E se o espaço não é um "recipiente que contém as coisas", então o tempo não é uma linha reta pela qual as coisas fluem como uma sucessão de acontecimentos formados por passado, presente e futuro. 

 

Observação: Em 2012, Rovelli iniciou uma palestra dizendo que o tempo não existe. Em sua visão, ao invés de ser uma medida cronológica como a usada nos calendários, o tempo é na verdade uma variável resultante da crescente entropia do cosmo ao longo de seus quase 14 bilhões de anos de existência. Em A Ordem do Tempo, ele explora as concepções que a humanidade já teve acerca desse elemento crucial da realidade, de Newton, que teorizava duas formas de tempo, e Einstein, para quem o espaço-tempo resultaria de deformações do campo gravitacional até o atual estágio das pesquisas.

 

Para entender a teoria da gravidade quântica em loop, é preciso renunciar à ideia de espaço e tempo como estruturas gerais para enquadrar o mundo, mas compreender o mundo exige contrariar a nossa própria intuição: se realmente existe um limite para o espaço e o tempo, então a relatividade geral e a mecânica quântica deixam de brigar uma com a outra. 

 

A exemplo da Teoria das Cordas, a gravidade quântica em loop carece de comprovação experimental. Mas vale lembrar que tanto as ondas gravitacionais quanto o bóson de Higgs e as ondas eletromagnéticas permaneceram décadas no campo das teorias até sua existência ser provada.

 

Para atestar a irrealidade do tempo usando o pensamento lógico e um baralho, o matemático britânico J.M.E. McTaggart dividiu as cartas em duas pilhas, ordenou-as cronologicamente na primeira e aleatoriamente na segunda, e concluiu que a noção de tempo linear (como na primeira pilha) não basta para capturar a realidade dos eventos, e que sem a ordem temporal (na segunda pilha) eles ainda existem, embora não haja "antes" nem "depois". Num segundo experimento, ele introduziu uma terceira pilha cartas para demonstrar que, mesmo que se tente classificar os eventos em termos de passado, presente e futuro (como na segunda pilha), a realidade dos eventos (terceira pilha) independe dessa categorização. 


Se o tempo é um processo que precisa de tempo para acontecer, é preciso tempo para descrever o tempo. E se essa circularidade viola a lógica, então o tempo não existe de verdade. Mas possibilidade de o tempo não existir tornaria a vida muito sem graça — não teríamos aniversários nem réveillons para celebrar, nem datas como o Natal, o Dia das Mães, o Dia dos Pais, entre outras que se repetem ano após ano. Também seria difícil compreender o processo de envelhecimento. 


Sem o tempo, os eventos não teriam uma ordem definida, e tudo pareceria acontecer ao mesmo tempo — ou talvez nada acontecesse de fato, já que causa e efeito perderiam o sentido. Como perceberíamos mudanças, conquistas, amadurecimento? Como distinguiríamos passado, presente e futuro? Nossa memória e nossas expectativas deixariam de ter propósito, e até a própria noção de história se desfaria.


No livro Tempo: O Sonho de Matar Chronos, o físico italiano Guido Tonelli explica que o tempo é um elemento material que "ocupa o universo inteiro, que vibra, oscila e se deforma". Se dois astronautas viajassem em direção a um buraco negro supermassivo, um deles mantivesse a nave a uma distância segura do fenômeno e o outro cruzasse o "horizonte de eventos", o tempo pareceria continuar passando normalmente para este, mas um sinal de rádio que ele enviasse para o colega fora buraco negro levaria uma eternidade para ser recebida. Em outras palavras, o tempo flui diferente em diferentes regiões do Universo, e apenas tecnicidades nos impedem de dobrá-lo a nosso favor.

 

Voltando à questão dos paradoxos temporais, um evento capaz de alterar o passado e provocar uma inconsistência no Universo tem zero chance de ocorrer. De acordo com a conjectura da proteção cronológica — proposta por Stephen Hawking em 1992 — as leis da física obstam o surgimento de curvas fechadas do tipo tempo, impedindo que algo volte a um ponto do passado e continue se movendo até chegar novamente ao ponto de partida. Um dos mecanismos sugeridos para essa "conspiração" é a necessidade de energia negativa para estabilizar os buracos de minhoca. 

 

Na trilogia De Volta para o Futuro, o paradoxo do avô é o motor dramático da trama; em Dark, o tempo é apresentado como um ciclo fechado, onde causas e consequências se retroalimentam, alinhando-se à ideia de autoconsistência; em Interestelar vemos como a dilatação temporal pode tornar décadas num planeta em meros minutos dentro de uma nave; e obras como Rick and Morty e Tudo em todo lugar ao mesmo tempo exploram — com humor ou caos —,a ideia de múltiplos mundos e realidades paralelas coexistentes com a nossa.

 

Segundo a física teórica Lisa Randall, não se consegue provar definitivamente uma teoria; o que se consegue é validá-la empiricamente e excluir as alternativas que não se sustentam. Essa natureza provisória do conhecimento científico nos conduz a uma reflexão fascinante: quanto mais desvendamos o mundo, mais descobrimos que ainda muito por desvendar. Como bem observou Rovelli, "a única coisa realmente infinita no Universo é nossa ignorância".


Talvez nenhum de nós ainda caminhe entre os vivos quando a primeira máquina do tempo for finalmente construída, mas a ideia nos leva a questionar o que é real, o que é possível e até onde vai o poder das leis físicas. Se o tempo for apenas uma construção mental, então nossa noção de destino, memória e identidade pode estar baseada em algo ilusório, e o verdadeiro "viajante do tempo" pode ser o próprio pensamento humano, que se move livremente entre passado, presente e futuro — mesmo quando o corpo permanece inexoravelmente preso ao agora.


Continua...

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 40ª PARTE

QUANDO VOCÊ COMEÇA A ENGOLIR SAPOS, OS SAPOS ACABAM VIRANDO SUA DIETA.

As viagens no tempo são o fruto mais cobiçado da árvore da relatividade. Embora viajemos para o futuro, segundo a segundo, desde o momento em que nascemos, avançar ou retroceder como nos filmes de ficção científica exigiria uma máquina do tempo ou uma espaçonave capaz de alcançar velocidades próximas à da luz (devido à dilatação temporal). 

 

Outras maneiras seriam fruir da dilatação gravitacional do tempo proporcionada pelo horizonte de eventos de um buraco negro ou atravessar um buraco de minhoca. Em ambos os casos, alguns minutos no referencial do hipotético viajante corresponderiam a décadas, séculos ou milênios no referencial de um observador externo.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Quem tem ao menos dois neurônios funcionando e ouviu o discurso que o ministro Alexandre de Moraes proferiu na reabertura dos trabalhos do STF não teve dificuldade em perceber que Eduardo Bolsonaro segue à risca os passos pai — passos que, ao que tudo indica, conduzem à cadeia. Sem citar o nome do deputado foragido, o magistrado referiu-se a ele como integrante de uma “organização criminosa” que atua nos EUA “de maneira covarde e traiçoeira”, promovendo “agressões espúrias e ilegais” com o objetivo de provocar uma “grave crise econômica no Brasil” — e de produzir provas contra si próprio. Disse que ele e o neto do ex-presidente Figueiredo acreditam estar lidando com milicianos, mas advertiu-os de que estão lidando com ministros da Suprema Corte brasileira e acusou-os de repetir o já conhecido “modus operandi golpista”.
Xandão deixou claro que vai “ignorar” as sanções que lhe foram impostas por Trump, que pressionar por pedidos de impeachment de ministros do STF e pela aprovação de uma anistia — inconstitucional, segundo ele — não adiará o julgamento do processo, previsto para o mês que vem. 
Ficou subentendido que Bobi Filho, atualmente investigado por coação no curso do processo penal, obstrução de investigação contra organização criminosa, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito e atentado à soberania, já pode ser considerado uma condenação criminal esperando na fila para acontecer.

Se você quiser saber quem vencerá as próximas eleições presidenciais, escolha uma dessas opções e boa viagem. Mas marcar presença na posse de Deodoro da Fonseca é mais complicado. Ainda que a relatividade não descarte a possibilidade de revisitar o passado, nem tudo o que funciona nas equações se traduz bem na prática.

Uma das apostas teóricas são as chamadas curvas fechadas do tipo tempo (CTCs) — trajetórias no espaço-tempo que, segundo certas interpretações, poderiam surgir a partir da rotação do próprio Universo. Nessas curvas, passado e futuro se unem como largada e chegada num circuito oval — como o de Indianápolis. Em tese, seria possível refazer o mesmo trajeto temporal indefinidamente, mas isso nos coloca diante de um paradoxo: percorrer uma CTC não seria o mesmo que reviver os mesmos eventos repetidas vezes? Algo parecido com o que acontece com Doctor Who no episódio Heaven Sent, quando o 12º Doutor Who fica preso num looping temporal causado pelo uso contínuo de um teletransportador? Por mais que pareça uma forma de "voltar no tempo", repetir exatamente a mesma sequência de eventos ad aeternum talvez seja mais castigo do que conquista. 

Teoria das Cordas sustenta que o Universo é composto por pequenas cordas muito finas, mas extremamente densas. Elas vibram de diferentes maneiras, dando origem a diferentes partículas e interações. Movendo-sem em direções opostas, a uma velocidade próxima à da luz, elas poderiam distorcer o espaço-tempo, criando um loop que permitiria retornar ao passado sem violar as leis da física. Mas vale destacar que ainda não existem evidências de que essas cordas cósmicas existam, nem de que as viagens no tempo por meio de loops no espaço-tempo sejam factíveis. 

 

Até aqui, falamos sobre viajar no tempo à luz da relatividade, que descreve o comportamento de grandes objetos, enquanto a mecânica quântica se aplica ao universo as partículas, como elétrons e fótons. Como as leis da física tradicional não se aplicam em escalas microscópicas, uma alteração no estado de uma partícula pode influenciar instantaneamente outra partícula "entrelaçada" em outro lugar (efeito que Einstein chamou de "ação fantasmagórica à distância"). Esse fenômeno — que já foi demonstrado várias vezes em pesquisas vencedoras do Prêmio Nobel — contraria nosso entendimento de que os eventos acontecem do passado para o presente e deste para o futuro, e nessas peculiares configurações quânticas as informações podem viajar para o futuro e retornar ao passado. 

 

O problema é que a relatividade e a mecânica quântica funcionam bem cada qual no seu quadrado, e uma teoria que as unifique em uma única estrutura matemática coerente ainda não foi desenvolvida, a despeito de décadas de esforços nesse sentido. Em nossa compreensão atual do Universo, podemos potencialmente viajar para o futuro, mas visitar o passado é outra conversa: eventos que influenciam a si mesmos geram paradoxos temporais, como o célebre paradoxo do avô, que afrontam a conjectura de proteção cronológica, e a hipótese da censura cósmica sugere que as próprias leis da física atuam para ajustar essas incongruências, preservando a causalidade no Universo. 

 

A única certeza que temos — além do fato de que o tempo se dilata, a massa dos corpos aumenta e espaço se contrai — é que não temos certeza de nada. Mas é justamente essa incerteza que instiga os cientistas a investigar incansavelmente o mundo que nos cerca. 

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

RELIGIÕES, VAGALUMES E MAIS UMA TEORIA SOBRE GRAVIDADE

DEBATES ENTRE PESSOAS RAZOÁVEIS NÃO GERAM CONFLITOS, GERAM NOVAS IDEIAS.

A exemplo dos vaga-lumes, que precisam de escuridão para brilhar, as religiões reluzem em meio à ignorância. Elas prosperam onde faltam respostas, o que as torna úteis para os poderosos, que lhes dão ares de verdade para ludibriar os incautos — que deveriam questioná-las, pois é a partir da reflexão que se alcança uma espiritualidade mais ampla e profunda. 

 

Toda religião é a verdade absoluta para aqueles que a professam e não passa de fantasia para os devotos das outras seitas. Em pleno século XXI, doutrinas as mais inverossímeis têm hostes de descerebrados que defendem seus rituais e liturgias como os fanáticos polarizados que, de um lado, defendem um ex-presidente golpista, e de outro, um "ex-corrupto descondenado por conveniência". 


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


Em seu pronunciamento inaugural na Casa Branca, Franklin D. Roosevelt ensinou que "a única coisa de que devemos ter medo é do próprio medo". John Kennedy declarou, também num discurso de estreia: "Nunca negociemos por medo, mas nunca tenhamos medo de negociar". Lula declarou ao Times que "todo mundo sabe" que ele tentou entrar em contato com Trump e que o interesse não foi recíproco. Não há força no universo capaz de deter a maledicência segundo a qual o despresidente brasileiro não se esforçou para desfazer o mal-estar que ele próprio criou ao expor sua preferência por Kamala Harris durante a sucessão americana. 

Em meio ao faroeste tarifário, importa mais a qualidade da resposta do que a rapidez no gatilho. Ao abrir o paiol da Casa Branca, Trump atenuou a sanção econômica e potencializou o caráter político do ataque, impondo ao ministro Alexandre de Moraes uma asfixia financeira em resposta ao drama criminal de Bolsonaro, tratado pela calopsita do penacho alaranjado como vítima de uma ficcional "caça às bruxas". 

Ao abrir 694 exceções à lista de produtos sujeitos à tarifa de 50%, Trump sinalizou que não rasga dinheiro, proporcionando ao governo e à Bolsa de Valores um suspiro de alívio. Na política, o ataque grudou em Jair e Eduardo Bolsonaro a pecha de traidores da pátria e estilhaçou os planos da direita brasileira ao converter Bobi Pai e Bibo Filho em cabos eleitorais de Lula.

De resto, o aspirante a golpista conta os dias que faltam para seu julgamento e provável condenação. Não será uma decisão de Xandão, Trump tenta fazer crer, mas da Primeira Turma do STF. 

 

Ainda que a existência de um ente superior seja admissível, como conciliá-la com a figura burlesca de um "criador" que concede livre-arbítrio às criaturas para depois recompensar as "boas" com a vida eterna no paraíso e punir as "más" com o fogo do inferno? 


Aristóteles ensinou que "o sábio duvida e o sensato reflete", e Platão, no Mito da Caverna, que a sabedoria e o conhecimento estão além das aparências superficiais. Mas argumentar com quem renunciou à lógica é como dar remédio a defunto.

 

A verdadeira beleza da ciência não está nas respostas, mas nas novas perguntas que cada resposta suscita. Nos meus tempos de escola, o Sistema Solar era formado por 9 planetas e somente Saturno tinha anéis. Em 2006, Plutão foi rebaixado a "objeto transnetuniano". Hoje , sabe-se que Júpiter, Urano e Netuno também são circundados por anéis, embora menos proeminentes do que os de Saturno. 


Em outras palavras,  muito do que valia ontem pode não valer hoje, e muito do que vale hoje pode não valer amanhã.

 

Curiosamente, algo semelhante vem acontecendo com a matéria escura, que nunca foi observada diretamente, mas cuja existência é aceita porque sem ela as equações de Einstein perderiam o sentido. Isso nos leva à seguinte pergunta: será que os físicos a estão tratando - e a outros temas controversos - como dogmas científicos, furtando-se a questionar conceitos "não-pacíficos" simplesmente porque "eles já foram estabelecidos"?

 

A matéria escura e energia escura compõem 95% do cosmos; a primeira mantém as galáxias coesas e a segunda atua como uma força repulsiva, afastando as galáxias umas das outras e acelerando a expansão do Universo. No entanto, um estudo publicado recentemente por pesquisadores do Observatório Leiden, na Holanda, contesta a existência da matéria escura e questiona se não se está justificando um modelo que já não se sustenta.

  

Newton revolucionou o conceito de gravidade ao perceber que a mesma força que derruba uma maçã rege os movimentos celestes. Einstein expandiu essa ideia ao demonstrar que a gravidade deforma o espaço-tempo como uma cama elástica é curvada pelo peso de um corpo. E agora temos uma nova revolução.

 

A teoria do físico alemão tem aplicações práticas — foguetes, GPS, satélites, etc. —, mas falha ao tentar explicar o mundo subatômico. Para lidar com isso, a existência da matéria escura foi pela primeira vez em 1930 pelo físico Fritz Zwicky reforçada pelos estudos da astrônoma Vera Rubin


Assim, a exemplo do que fez o ministro Edson Fachin ao anular as condenações de Lula escorado numa incompetência territorial que ele próprio já havia rejeitado em pelo menos dez julgamentos, os cientistas teriam "fabricado" um conceito sob medida para dar sentido à teoria de Einstein e obter uma explicação quase perfeita para o Universo (quase, porque faltou explicar o mundo subatômico).

 

Recentemente, um artigo publicado pelo físico Erik Verlinde — especialista em Teoria das Cordas da Universidade de Amsterdam e autor da teoria da gravidade alternativa que foi testada com sucesso pelos pesquisadores do Leiden — sugere que a gravidade não é uma força fundamental da natureza, e sim um efeito emergente da tendência do universo ao caos (entropia). 


Segundo ele, os físicos não acreditam na existência da matéria escura com base em observações, mas por não haver evidência teórica ou argumento conceitual capaz de explicar as leis de Newton e Einstein à luz de novos fenômenos que vêm sendo observados. 


Se a gravidade não funciona no mundo subatômico, por que recorrer a conceitos artificiais para dar sentido a ela ao invés de pensá-la de modo diferente, unindo a Teoria das Cordas com a Termodinâmica? Para testar essa ideia, os pesquisadores analisaram a densidade de 33.613 galáxias, compararam os dados com os cálculos de Verlinde e conseguiram explicar as anomalias gravitacionais sem precisar da matéria escura, algo que Einstein nunca conseguiu. 


Como qualquer teoria emergente, ainda há questões em aberto, e enquanto elas não forem respondidas, Newton e Einstein poderão dormir tranquilos seu sono eterno.

 

Resumo da ópera: O avanço do conhecimento sempre encontra resistência. Assim como dogmas religiosos se impõem sobre a razão, certas ideias científicas se tornam intocáveis, mesmo quando novas evidências sugiram caminhos diferentes. 


Se a história da ciência nos ensina algo, é que nenhuma "verdade" é eterna. Afinal, a luz do conhecimento não brilha onde há certezas absolutas, mas onde há perguntas que ainda precisam ser feitas e respondidas.