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sábado, 23 de outubro de 2021

A HORA DO IMPEACHMENT DE BOLSONARO

Sabemos que os políticos são eleitos, ou seja, que não brotam em seus gabinetes por geração espontânea. Também sabemos que a "qualidade" do eleitorado tupiniquim é a pior possível, e que quem vota em candidatos ímprobos e incompetentes não pode se queixar de estar mal representado. Mas a minoria mais esclarecida sabe quão mal representada esteve desde a primeira vitória de Lula (não que estivesse bem representada durante aos dois mandatos de FHC), e sabe também quão pior ficou a situação do país sob o mandatário de turno. A questão que se coloca é: o que fazer para mudar isso?

A resposta é: com esse Congresso, sem chance. Basta observar o comportamento dos parlamentares para inferir que as necessidades da nação e os anseios da população não são prioridades para essa caterva (com raras e honrosas exceções). E isso vale também para o chefe do Executivo Federal, que se elegeu porque muitos de nós teríamos teria votado no Demo em pessoa para impedir a volta do lulopetismo corrupto — e sabemos agora que foi quase isso que fizemos.

As promessas de campanha do "mito" jamais subiram a rampa do Planalto, ao passo que o dito-cujo, o Messias que não miracula, jamais desceu do palanque. Sua vitória decorrou da mais absoluta falta de alternativa, mas não imaginávamos, em 2018, que seu (des)governo seria algo como a emenda pior que o soneto.

Dormitam nos escaninhos da presidência da Câmara quase 140 pedidos de impeachment em desfavor de Bolsonaro. Mas foi graças a Bolsonaro e a bilhões de um orçamento paralelo que não ficou bem explicado (até porque não há como explicar o inexplicável) que a Câmara é presidida por um deputado-réu que, juntamente com o atual chefe da casa-civil da Presidência, dita as regras no famigerado Centrão

Enquanto estiverem lucrando com a permanência de Bolsonaro no cargo, os parlamentares centristas continuarão a desempenhar o papel que desempenham desde 1987 — de "marafonas do Congresso" — e seus líderes, a blindar o execrável chefe do Executivo. Como desgraça pouca é bobagem, comanda a Procuradoria-Geral da República uma versão revista, atualizada e piorada do engavetador-geral da República Geraldo Brindeiro — que foi guindado ao cargo pelo então presidente FHC.

A CPI do Genocídio concluiu seu relatório. A despeito da cisão do G7 na reta final, será pedido o indiciamento de Bolsonaro e outros investigados que transformaram em política pública o tratamento da Covid com remédios ineficazes, apostaram na imunização coletiva pelo contágio, negligenciaram o colapso hospitalar de Manaus, retardaram a compra de vacinas da Pfizer e do Butantan, firmaram contrato irregular para a compra da vacina indiana Covaxin e abriram as portas do Ministério da Saúde para picaretas que ofereciam vacinas inexistentes. Ou seja, a Comissão pretende acusar Bolsonaro tanto pela prática de crimes comuns quanto de crimes de responsabilidade, e o dito-cujo, escudado por Augusto Aras e Arthur Lira, dá-se ao luxo de dizer que está cagando e andando para a CPI

Renan Calheiros, por sua vez, tornou-se a personificação do paradoxo vivido pela CPI. Há dois anos, quando o Senado aprovou a nomeação de Aras, o senador alagoano não conseguiu conter o entusiasmo. Naquela época, ele estava ao lado do primeiro-filho do Presidente — outro entusiasta da escolha de Aras. Freguês de caderneta da Lava-Jato, o Cangaceiro das Alagoas queria acertar as contas com a força-tarefa de Curitiba; denunciado pelo MP-RJ por peculato e lavagem de dinheiro, Flávio "Rachadinha" Bolsonaro estava à procura de blindagem.

PGR — e, por extensão, o Ministério Público Federal — vive um apagão mental. Já se sabia que Aras trata o Messias que não miracula como um ser inviolável e imune (eufemismos para intocável e impune). Descobriu-se mais adiante que, para livrar o suserano de incômodos judiciais, o procurador-vassalo e sua equipe enquadraram-no na categoria dos seres inimputáveis. Bolsonaro obteve da PGR um salvo-conduto para delinquir. Pode tudo, inclusive arrancar máscara da cara de criancinha. PT e PSOL pediram no STF a abertura de inquéritos para apurar a violação de leis estaduais e federal em aglomerações promovidas pelo mandatário durante passeios de moto com seus devotos no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Norte. A subprocuradora-geral Lindôra Araújo (braço direito de Aras), a quem coube formular a manifestação da PGR, sustentou que Bolsonaro não infringiu medidas sanitárias nem colocou a vida de ninguém em risco.

Bolsonaro fez uma opção preferencial por exercer o cargo de presidente à margem da lei. Transgride até leis que ele próprio sancionou. Como há males que vêm para pior, Aras e sua equipe promovem uma junção da ilegalidade com a impunidade. Resta saber até quando um país inteiro terá de passar vergonha para que um procurador-geral e sua equipe ofereçam blindagem a um presidente da República que se converteu num infrator serial.

Vivo, Darwin diria que a atuação da PGR não é apenas uma prova de que o ser humano parou de evoluir. Trata-se de uma evidência de que ele já faz o caminho de volta. No momento, o melhor lugar para se proteger de Bolsonaro é uma caverna nas montanhas do Afeganistão. Aliás, se o homem de Neandertal desconfiasse que o resultado da evolução seria bolsonaros, talvez não tivesse saído da caverna. Teria optado por uma versão pré-histórica do isolamento social.

Tudo indica que o capitão continuará destruindo o país — com fez Dilma até maio de 2016, quando foi afastada do cargo e substituída pelo vice decorativo (o folclórico vampiro que tem medo de fantasma) — até o mais amargo fim. Como a almejada reeleição fica mais distante a cada dia (embora política seja como as nuvens no céu; a gente olha e ela está de um jeito, olha de novo e o cenário já mudou), a intenção do mandatário de fancaria parece ser a de entregar terra arrasada a seu sucessor. Vire-se (para não dizer "foda-se"), dirá sua alteza irreal a quem lhe suceder em janeiro de 2023.

Também mais distante a cada dia torna-se a possiblidade de o negacionismo em forma de gente (?!) ser apeado do cargo (para o qual reconheceu não ter sido talhado), e periga o Posto Ipiranga caminhar a seu lado até o mais amargo fim. No final da última quarta-feira, devido ao "furo no teto dos gastos", quatro integrantes do primeiro escalão do Ministério da Economia pediram demissão.

Afere-se o grau de degradação da República entre nós tomando o pulso do organismo capaz de produzir a baixaria em que rasteja a indicação de André Mendonça ao STF. O senador Davi Alcolumbre, que foi guindado à presidência do Senado como representante do que seria a nova política — em contraposição a Renan Calheiros, que representava a velha —, comanda hoje Comissão de Constituição e Justiça da Casa como um dono de repartição consciente dos próprios direitos, controlando a agenda de sabatinas e empurrando para as calendas a de André Mendonça, dublê de ex-ministro da Justiça, ex-AGU e pastor presbiteriano, que Bolsonaro indicou (há mais de 3 meses) para ocupar a vaga do ora ex-decano Marco Aurélio.

Chegou-se à altura do buraco, ainda muito a descer, em que as pelejas por uma cadeira em corte constitucional converteram-se em “guerra religiosa” — contribuição particular de Bolsonaro, com sua promessa de ministro “terrivelmente evangélico”, a essa vala. O exercício da autonomia pelo presidente da CCJ é ato político. Nisso não vai qualquer problema intrínseco. A questão é outra.

O senador não segura a submissão de Mendonça ao Senado para proteger “a legítima autonomia do presidente da CCJ”. Não é uma batalha em defesa da independência do Congresso, nem contra o aparelhamento bolsonarista das instituições — ou não teriam reconduzido Augusto Aras à PGR. Por que, então, a segura? Bolsonaro já explicou: "[Alcolumbre] Teve tudo o que foi possível durante os dois anos comigo e, de repente, ele não quer o André Mendonça".

Bolsonaro, com sua objetividade de autocrata, é transparente sobre os orçamentos secretos. Rei morto, rei posto. Enquanto presidiu a Câmara Alta, Alcolumbre "teve tudo o que foi possível" e não criou embaraços. Era sócio. Ao passar a cadeira, perdeu graças. E decerto terá sido traído pelo morubixaba de festim, notório descumpridor de promessas, acordos e tal e coisa. Em suma: o senador amapaense estica a corda por interesses pessoais, e em nome deles, para fazer barganha, exerce, perverte e privatiza uma prerrogativa, músculo do equilíbrio republicano, do Senado.

Eis a República entre nós: Alcolumbre, autodeclarado alvo de “intolerância religiosa” (por ser judeu), não agenda a sabatina porque perdeu boquinha; Bolsonaro, o que “não tem ideia”, acusa Alcolumbre de reclamar de barriga cheia; o pastor Silas Malafaia ataca graúdos (de súbito dóceis) do Centrão para reivindicar a propriedade evangélica da cadeira vaga no STF; e o futuro de André Mendonça como membro da corte depende de tudo, menos da avaliação sobre se estará à altura de integrar o Supremo.

E viva o povo brasileiro!

Com Carlos Andreazza

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

SOBRE JUSCELINO, A CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA E OTRAS COSITAS MÁS


Pessoas normais se miram no espelho e veem a própria imagem. Ególatras, megalômanos e lunáticos tendem a a enxergar quase sempre aquilo que gostariam de ver — ou de ser. Isso explica por que o retirante pernambucano que vendeu laranjas, engraxou sapatos e trabalhou como office boy antes de se tornar torneiro mecânico, eneadáctilo, dirigente sindical, fundador de partido político e, pasmem!, presidente da República — mesmo que desta República — comparar-se a Juscelino Kubitschek de Oliveira.

Conforme eu antecipei no post anterior, nem tudo foram flores no governo do mineiro de Diamantino. Houve erros, parcerias condenáveis, indiferença à cupidez das empreiteiras e menosprezo ao poder de fogo do dragão inflacionário. Mas a construção de Brasília, em que pesem todas as controvérsias (veremos isso em detalhes mais adiante) foi determinante para a ocupação do Centro Oeste e da Amazônia brasileira.

A despeito da dificuldade em convencer o PSD a abraçar sua candidatura, de ter sido eleito com o menor percentual de votos alcançado pelos presidentes brasileiros no pós-guerra e de sua posse ter sido contestada por adversários golpistas e se dado em pleno estado de sítio (decretado por Nereu Ramos; para mais detalhes, clique aqui), Juscelino entregou a Jânio um pais muito melhor do que recebeu de seus predecessores (no governo anterior, pela primeira vez na história, o Brasil teve três presidentes numa única semana). 

Se compararmos o legado de JK com o de seus sucessores, talvez fosse exagero dizer que um estadista do quilate de Winston Churchill governou o Brasil de 1956 a 1960, mas certamente seria injusto não reconhecer que seu governo merece mais elogios do que críticas.

Sem querer discutir aqui questões laterais de semântica, há caso em que o termo "melhor" não define necessariamente aquilo que possui o máximo de atributos para satisfazer certos critérios de apreciação, mas apenas "menos pior", ou seja, o menor dos males envolvidos numa comparação. Assim, a pergunta é: o que tivemos desde então?

A resposta é: arroubos autoritários do populista cachaceiro que renunciou após seis meses no cargo; uma tão curta quanto improdutiva experiência parlamentarista, que resultou na volta do presidencialismo sob Jango e culminou com o golpe de ’64 e os 21 anos de chumbo, e a tão sonhada volta da democracia, que desde então vem sendo sistematicamente surrada, violentada e vilipendiada por uma corja de políticos desprezíveis, eleitos por uma choldra de apedeutas incapazes de encontrar o próprio rabo usando as duas mãos e uma lanterna. Mas não vou me estender sobre esse assunto, até porque já o fiz na sequência iniciada por esta postagem

Sobre Brasília... bem, vamos por partes, começando por relembrar que primeira capital desta banânia foi Salvador, na Bahia, que sediou o governo federal até 1753, quando ele foi transferido para a cidade do Rio de Janeiro (no então chamado Estado da Guanabara), e lá permaneceu por até ser transferida para Brasília, em 21 de abril de 1960, que foi construído do nada no meio do nada durante a gestão de JK

Observação: Palácio do Planalto é a sede oficial do governo; o Palácio da Alvorada, a residência oficial do chefe do Executivo de turno; a Granja do Torto, a casa de campo oficial da Presidência, e o Palácio do Jaburu, a residência oficial do vice-presidente da vez (palácios e mordomias palacianas bancadas pela ospália, naturalmente). Em atenção a quem não é íntimo das sutilezas do idioma, "ospália" é o coletivo de palhaços, mas pode designar, por extensão, o conjunto dos pagadores de impostos, indevidamente chamados de "contribuintes", já que "contribuir" pressupõe espontaneidade, e não há nada menos espontâneo que o pagamento de tributos.

Curiosamente, Michel Temer, que era vice de Dilma, mas passou a titular quando a anta foi expelida da Presidência, voltou de mala e cuia para o Palácio do Jaburu após poucos dias no Alvorada, a despeito dos R$ 20 mil gastos com a adaptação da residência oficial às necessidades de Michelzinho. Em entrevista concedida à revista Vejao Vampiro do Jaburu confessou que tem medo de fantasmas:

"O Palácio da Alvorada tem um monte de quartos, uns oito, todos muito grandes. Tudo muito amplo, bonito, mas senti uma coisa estranha lá. Eu não conseguia dormir; Desde a primeira noite, senti que a energia não era boa. A Marcela sentiu a mesma coisa. Só o Michelzinho, que ficava correndo de um lado para outro, gostou. Chegamos a pensar: será que tem fantasma?"  

No Rio, o Palácio do Itamaraty foi a primeira sede do governo federal, que de lá se mudou para o Palácio do Catete em fevereiro de 1897. O que pouca gente sabe é que Curitiba, capital do Paraná, foi nomeada capital do Brasil por três dias, de 24 e 27 de março de 1969.

Continua...