segunda-feira, 5 de agosto de 2024

POR QUÊ?

DEPOIS DE PASSAR PELA ESCURIDÃO, VOCÊ DESCOBRE QUE A LUZ NÃO ESTÁ NO FIM DO TÚNEL, MAS EM VOCÊ.


Física e Filosofia têm mais semelhanças do que costumamos imaginar. O polímata Galileu Galilei — um dos pioneiros em demonstrar que a Terra orbita o Sol — baseou muitas de suas ideias no pensamento do filósofo Platão, e tanto Newton quanto Einstein deixaram claro que muitas de suas ideias revolucionárias não existiriam sem o pensamento dos filósofos antigos ou contemporâneos (contemporâneos deles, bem entendido, já que Newton morreu em 1727 e Einstein, em 1955).

De acordo com o físico teórico italiano Carlo Rovelli, a Física precisa da Filosofia para seu desenvolvimento, e vice-versa, mas a pergunta que se coloca é: será que enxergamos e explicamos a Natureza em geral e o Universo em particular como eles realmente são ou simplesmente criamos descrições que visam convencer nossos sentidos a aceitarem essas lucubrações? The answer, my friend, is blowing in the windAté porque é impossível sabermos quão próximos estamos da "verdade". O próprio meio que utilizamos para realizar essa descrição — que chamamos de "Ciência" — nos leva a questionar o que sabemos e o quanto ainda temos que descobrir (como diria o filósofo grego Sócrates, se vivo fosse, "só sei que nada sei").

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Cadê as atas? Ninguém sabe, ninguém viu. A nota conjunta do Brasil, Colômbia e México roga às autoridades venezuelanas que "avancem de forma expedita e divulguem publicamente os dados desagregados por mesa de votação". A despeito das promessas de Madura, não há nenhum vestígio da dissecação dos relatórios das urnas. E ainda que eles viessem à lume, seriam uma versão manipulada que não desataria a crise. Para aqueles que creem no ditador, nenhuma explicação é necessária; para os que não creem, nenhuma explicação é possível. 

Lula, que se declarou "assustado" com a ameaça de "banho de sangue" e "guerra civil fratricida", tomou o chá de camomila receitado pelo "cumpanhêro" e garantiu que "não tem nada de grave, nada de anormal" com as eleições no país vizinho. Como ensinou Saramago, "a pior cegueira é a mental, que faz com que não reconheçamos o que temos à frente". 

Na noite da segunda-feira 29, antes da fala de Lula (mas depois que Gleisi Hoffmann confabulou com ele no Alvorada), a executiva nacional do PT reconheceu a vitória de Maduro. No dia seguinte, o pontífice da seita do inferno disse que a imprensa brasileira tratando estava tratando o caso como se fosse a Terceira Guerra Mundial, e que não havia nada de anormal — afinal, o que há de anormal em 19 mortes e 1.200 prisões de manifestantes em menos de uma semana?

Randolfe Rodrigues, líder do governo no Congresso, exaltou o óbvio dizendo que uma eleição na qual os resultados não são passíveis de certificação e observadores internacionais são vetados é uma eleição inidônea. Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, afirmou que a Venezuela "não se configura como uma democracia, muito pelo contrário", e que "o Brasil está correto quando diz que quer ver o resultado eleitoral, os mapas, todas as comprovações de que de fato houve ali uma decisão soberana do povo venezuelano".

A postura de Lula nos leva à inarredável conclusão de que, se o governo anterior era uma merda, o atual não lhe fica devendo nada. 

Triste Brasil.


Newton formulou a Lei da Gravitação Universal em 1687, a partir de dados e medições na ordem de 3 casas decimais. Conforme a tecnologia avançou, observou-se que essa mesma equação continuava a prever corretamente os fenômenos com até 7 casas 
— algo com que Newton sequer sonhava —, e à medida que precisão foi aumentando, a teoria newtoniana passou a mostrar discrepâncias que não existem na Teoria da Relatividade, que descreve os mesmos fenômenos com uma precisão 10 milhões de vezes maior, além de abordar outros fenômenos que foram comprovados experimentalmente mais adiante, como os buracos negros

A existência dos buracos negros foi prevista por Einstein no início do século passado e confirmada décadas depois por imagens coletadas pelos supertelescópios. Sabe-se atualmente que eles surgem quando estrelas muito maiores que nosso Sol colapsam sobre si mesmas, e que têm uma atração gravitacional tão poderosa que nem mesmo a luz consegue escapar. Mas o que levou alguns deles a se tornar tão grandes é um mistério que ninguém ainda conseguiu explicar.
 
Outra questão interessante (que seria o cerne desta postagem se eu não fosse tão prolixo) tem a ver com a aceleração e a velocidade 
— duas grandezas vetoriais intimamente relacionadas, mas que percebemos de maneiras distintas. A velocidade corresponde a distância percorrida por um corpo num determinado espaço de tempo (daí ela ser expressa em metros por segundo, quilômetros por hora ou outras unidades de medida utilizadas como padrão), ao passo que a aceleração mede a variação da velocidade em relação a um tempo determinado.
 
Quando o avião taxia e acelera até alcançar a velocidade de decolagem (entre 200 e 280 km/h, dependendo do porte da aeronave), a aceleração nos empurra firmemente contra o encosto da poltrona, mas essa sensação desaparece assim que a aeronave perde o contato com a pista, embora a aceleração continue aumentando a velocidade até a altitude do "voo de cruzeiro", na qual a baixa densidade do ar permite que o avião se mantenha a cerca 850 km/h.

De acordo com a primeira Lei de Newton — que trata da inércia —, um corpo permanece em repouso ou continua descrevendo um movimento retilíneo uniforme até uma força obrigá-lo a alterar seu estado. Voltando ao exemplo do avião, os passageiros se movem à mesma velocidade da aeronave, ou seja, estão parados em relação a ela e só têm a percepção de movimento quando olham pela janela. Como disse Galileu, alguém num navio em águas calmas não consegue discernir se a embarcação está navegando ou se está atracada no porto.
 
Tampouco sentimos o movimentos da Terra — que gira em torno do próprio eixo a 1,6 mil quilômetros por hora e em torno do Sol a cerca de 107 mil quilômetros por hora — devido à aceleração, â desaceleração e à força centrífuga, embora estejamos todos sentados nas cadeiras giratórias dessa imensa roda-gigante. A gravidade (cuja aceleração é de 9,8 m/s2) nos "prende" ao solo com uma força maior do que a força centrífuga resultante da rotação do planeta, que tenta nos lançar ao espaço.

Ainda que não consigamos "sentir" a rotação e a translação da Terra, percebemos que isso acontece quando observamos os movimentos aparentes do Sol, da Lua e das estrelas, mas a prova visual definitiva é o pêndulo de Foucault — uma esfera de 30kg presa a um fio de 67m de comprimento ao teto do Museu de Artes e Ofícios de Paris em 1851. Ele libera areia fina durante seu movimento, e a rotação da Terra faz com que as marcas que essa areia faz no chão se sobreponham.

Isso não basta para convencer os terraplanistas, mas a esfericidade do globo terrestre fica evidente quando se observa um barco ficar cada vez menor à medida que se afasta do observador, até finalmente sumir no horizonte, ou quando se olha para o céu a partir de diferentes latitudes  — a Estrela Polar só é visível no hemisfério norte, ao passo que o Cruzeiro do Sul só é visível no hemisfério sul e em regiões do hemisfério norte próximas à linha do equador.

Vale destacar que aceleração zero não significa velocidade zero. Para os passageiros de um avião que singra os céus em velocidade constante, a aeronave parece estar parada, mas para um urubu que atravesse fora da faixa no momento em que o avião está passando a experiência pode ser bastante dolorosa.
 
P.S. Por que o título deste post é "Por quê" e não "Por que", "Porquê" ou "Porque"? Porque, quando se trata de uma pergunta, o certo é escrever "por que" (separado), e com acento circunflexo na letra "e" se a expressão for seguida por um ponto de interrogação.  Já "porque" é usado nas respostas e "porquê" — junto e com acento, e geralmente antecedido por um artigo definido ("o" ou "a"), indefinido ("um" ou "uma"), ou de um pronome ou numeral — é um substantivo e é usado para indicar o motivo, a causa ou a razão de algo. Assim, quando há um "por que" (separado) encerrando uma frase, ele ganha o acento e passa a ser "por quê", mesmo que a frase não seja interrogativa. Já o "porquê" (junto e acentuado) vira sinônimo de "motivo". "Qual é o porquê de tanta tristeza?" equivale a preguntar "Qual é o motivo de tanta tristeza?".

domingo, 4 de agosto de 2024

DIA DA PIZZA

CARPE DIEM, QUAM MINIMUM CREDULA POSTERO.

Se Deus criou o mundo em 3761 a.C., como afirmam as religiões abraâmicas, ou às 9h do dia 23 de outubro de 4004 a.C., como escreveu o arcebispo irlandês James Ussher em The Annals of the World (1658), como explicar os fragmentos de ossos de Australopithecus anamensis de 2 milhões de anos e os pedaços de crânios de Homo sapiens de 230 mil anos encontrados por paleontólogos na Etiópia e no Quênia? 

Ou alguém errou feio nas contas, ou o tempo é apenas uma invenção humana destinada a explicar o amanhecer, o anoitecer, as estações do ano e outros eventos vinculadas ao relógio e ao calendário. Em sendo assim, pouco importa se o dia mundial da pizza é comemorado em 17 de janeiro na Itália, em 9 de fevereiro nos EUA e em 10 de julho no Brasil, e eu prestar minha homenagem à redonda no primeiro domingo de agosto. 
 
Há indícios de que a pizza surgiu no Egito entre 5000 e 3200 a.C.), inicialmente como uma fina camada de massa à base de farinha de trigo, arroz ou grão de bico (algo bem parecido com os "pães sírios" de hoje em dia) que os fenícios resolveram cobrir com carne e cebola e os italianos incrementaram com molho de tomate. Mas essa delícia só se tornou popular em meados do século XIX d.C, quando um padeiro napolitano de nome Raffaele Sposito, que servia o casal real Umberto I e D. Marguerita, achou de cobrir o disco de massa com muçarela, tomate e manjericão, dando-lhe as cores da bandeira italiana, e de batizar sua criação como o nome da rainha. 

Foi também em Nápoles que surgiu a primeira pizzaria (Port'Alba), que se tornou ponto de encontro de artistas da época — entre os quais o romancista Alexandre Dumas (pai), que citou diversos tipos de pizzas em seus livros. Mas pouco importa se é janeiro, fevereiro ou julho, noite de sábado pede pizza. E existam cerca de 100 mil pizzarias no Brasil (são mais de 26 mil só no estado de São Paulo e cerca de 4,5 mil na capital), muitas das quais (talvez a maioria) oferece serviço de delivery. 

Mas uma redonda feita em casa também vai muito bem, obrigado. Embora você possa ganhar tempo comprando o disco de massa no supermercado, não custa saber como fazê-lo "artesanalmente". Para 4 discos de tamanho médio, os ingredientes são:
 
- 2 colheres (sopa) de fermento biológico seco;
- 2 colheres (chá) de açúcar;
- 2 12 xícaras de água morna;
- 6 xícaras de farinha de trigo;
- 2 colheres (chá) de sal;
- 1/4 de xícara de azeite;
- Farinha de trigo para polvilhar a bancada;
- Azeite extravirgem.
- 6 xícaras de farinha de trigo;
- 2 colheres (chá) de sal;
- 1/4 de xícara de azeite;
- Farinha de trigo para polvilhar a bancada;
- Azeite extravirgem.
 
O preparo é relativamente simples:
 
Misture o fermento e o açúcar numa tigela, junte a água morna e mexa até dissolver. Reserve e deixe descansar em temperatura ambiente por 5 minutos (ou até a mistura começar a espumar). 
Enquanto espera, misture em outra tigela a farinha e o sal, faça uma concavidade no centro da massa e despeje a mistura que você reservou, adicione o azeite e misture com a ajuda de uma espátula (apenas o suficiente para incorporar os ingredientes). 
Use uma batedeira com gancho para sovar a massa em velocidade baixa por cerca de 5 minutos. Ao final, aumente a velocidade aos poucos e deixe bater até a massa começar a descolar da lateral da tigela e formar uma bola no gancho. 
Amasse a massa com os dedos, coloque-a numa tigela grande, junte duas colheres de azeite, cubra com plástico filme e deixe descansar por uma hora (ou até a massa dobrar de tamanho). 
Polvilhe farinha de trigo numa superfície lisa e seca (como a mesa da cozinha ou o tampo da pia), abra a massa com um rolo apropriado (na falta dele, use uma garrafa de vinho) e divida-a em quatro porções. 
Disponha a cobertura de sua preferência sobre os discos que você vai assar e guarde os restantes na geladeira, para usar numa próxima oportunidade.
 
Sugestão de cobertura para pizza marguerita (ajuste os ingredientes à quantidade de discos que você for assar):
 
- Cebola picada;
- Dentes de alho picados;
- Azeite de oliva extravirgem a gosto;
- tomates pelados (os italianos são os melhores);
- Sal e pimenta-do-reino a gosto;
- Queijo tipo muçarela em fatias finas (ou ralado);
- Tomates vermelhos cortados em rodelas;
- Folhas de manjericão e orégano a gosto.


Esprema os tomates pelados e refogue numa panela com azeite, alho e cebola. 

Acerte o ponto do sal e da pimenta e deixe amornar. 

Besunte o(s) disco(s) de pizza com uma camada generosa desse molho, salpique o orégano, cubra com o queijo e decore com as rodelas de tomate e as folhas de manjericão.

 Leve ao forno (preaquecido a 200°C) e asse por cerca 20 minutos (ou até o queijo começar a "borbulhar").

Regue com um fio de azeite e sirva em seguida.

 

Bom apetite.

sábado, 3 de agosto de 2024

CÂMBIO MANUAL, AUTOMÁTICO OU AUTOMATIZADO? (FINAL)

HÁ MENOS PESSOAS DE BEM NA POLÍTICA DO QUE GALINHAS COM DENTES NA NATUREZA.


Como vimos anteriormente, carros 0km com transmissão automatizada deixaram de ser comercializados em 2020. Assim, resta a quem deseja o conforto da automação escolher entre um modelo com conversor de torque e um continuamente variável (ou recorrer ao mercado de usados, mas aí é outra conversa). Também como vimos, as duas opções remanescentes são fruto de tecnologias distintas, mas a maneira de dirigir é semelhante: como não há pedal de embreagem, o motorista usa apenas o pé direito para acionar o acelerador e do freio. 


ObservaçãoPara frear com a perna esquerda é preciso treinar. Como essa perna é usada para acionar o pedal da embreagem nas transmissões manuais, o motorista pode gerar uma carga excessiva, que resultará numa parada abrupta.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

O assunto já deu no saco, mas a insistência da seita do inferno e de seu sumo pontífice em passar pano para o tiranete de merda venezuelano justifica mais estas linhas (e, possivelmente, outras na semana que vem e na seguinte). 
O enviado especial de Lula, Celso Amorim — a quem Maduro prometeu levar os dados à vitrine —, se fiava no VAR para compor o seu tira-teima. Exaltando o óbvio, o Centro Carter não só esclareceu que o óbvio é mesmo o óbvio como transformou em piada qualquer hipotético recurso judicial. 
Maduro disse que o Palácio Miraflores é a morada do povo, mas está difícil para o povo despejar um inquilino que ataca os observadores internacionais e dá uma banana para o mundo  único ruído que o incomoda é o ronco do asfalto, que ele cuida abafar na marra. 
Até a véspera do pleito, o candidato à reeleição considerava o Centro Carter um observador de mostruário; desfeito o encantamento, passou a enxergar os enviados da organização como observadores teleguiados pelo imperialismo ianque. Até aí, nada de novo, noves fora a revolta da sociedade venezuelana, que está farta de um mágico que não tira senão ruína de dentro da cartola.
O despejo não é impossível, mas, bancado por China e Rússia, Maduro se equipa para elevar o custo — e a fatura inclui cadáveres, sumiços, encarceramentos e tortura. Entrementes, o autoproclamado Sun Tzu de Atibaia  que parece disposto a fazer tudo por Maduro, até papel de bobo  tropeça no óbvio e cai no ridículo.
 
Botões ou teclas podem substituir a alavanca seletora em alguns modelos, mas Park, , Neutro e Drive (representadas pela primeira letra de cada uma) têm presença garantida em todos. Em alguns casos, "+" e "-" ou "M" (de Manual) permitem trocas sequenciais e "1" e "2 ou (a letra "L", de Low) limitam a transmissão às marchas de maior torque, o que é útil tanto em subidas íngremes quanto em descidas de serra, já que o "freio-motor" ajuda a manter a velocidade sob controle. 
 
Dependendo da configuração escolhida pelo fabricante, a troca sequencial pode ser feita pelas paddle-shifts (ou "borboletas"), posicionadas atrás do volante, ou pela própria alavanca, movendo-a para a direita e empurrando levemente para a frente ou para trás (a marcha selecionada só será aceita se for compatível com as rotações do motor naquele momento). Outra maneira de obter
 força do motor — em ultrapassagens, por exemplo — é usar o kick down: ao pressionar o pedal do acelerador além do final do curso, aciona-se um botão que reduz até duas marchas de uma só vez. 
 
Mesmo quando a posição P não existe (o que era comum nos câmbios automatizados antigos), só é possível ligar o motor com a alavanca em N 
— e, conforme o modelo, com o pedal do freio pressionado. Já a letra "S" (de Sport), quando presente, troca as marchas em rotações próximas da faixa de potência máxima, proporcionando uma "tocada" mais esportiva. Mas a posição mais usada no dia a dia é D, na qual o sistema utiliza todas as marchas disponíveis — que podem ser 4, 5, 6, 8, e assim por diante.
 
Observação: Motores de combustão interna transformam a energia calorífica da mistura ar-combustível em energia mecânica. Em linhas gerais, o torque é associado à força e a potência, à velocidade (esse conceito não muito exato, mas facilita a compreensão). Multiplicando-se o torque pelo giro do motor (rotações por minuto) chega-se à potência (quantidade de energia gerada num certo espaço de tempo). Torque e potência crescem conforme a rotação aumenta, atingem o ápice num determinado regime de giros e declinam a partir daí. Para aproveitar o torque do motor numa arrancada, engrena-se a 1ª marcha, acelera-se até 1.500 RPM além da faixa de torque máximo e solta-se o pedal da embreagem. Os automáticos não têm pedal de embreagem e, sem launch control, não há como fazer isso. Se o torque for abundante em baixas rotações, eles até "cantam pneu" na arrancada, mas nos menos potentes o torque máximo é produzido em rotações elevadas, daí os carros com motor aspirado de baixa cilindrada e transmissão automática (sobretudo CVT) serem mais "letárgicos". Vale lembrar que, quanto menor a faixa de RPM em que o torque máximo surge e quanto mais plana for sua “curva”, tanto melhor será o desempenho do veículo no uso misto (cidade e estrada).
 
O trilho que a alavanca seletora percorre pode ser reto ou em ziguezague. Modelos em ziguezague visavam evitar mudanças acidentais com o carro em movimento — no Jaguar XJ, o trilho formava a letra J, daí esse modelo ter ficado conhecido como J Gate —, mas o estilo mais simples e a facilidade de uso levou a maioria das montadoras a adotar a versão retilínea. 
 
Independentemente da configuração do trilho, a posição R fica entre P e N. A sequência P-R-N-D-L (definida pela norma 571.102 da Federal Motor Carrier Safety Administration) foi instituída para prevenir engates indesejados — ou seja, o motorista só engata a ré com o carro em movimento se mover propositalmente a alavanca de D para N e de N para R —, mas acabou sendo utilizada mundialmente. A ordem P-N-D-L-R chegou a ser adotada em alguns veículos, mas foi abandonada devido ao risco de o motorista engatar da ré quando ao tentar usar uma marcha mais baixa (no caso, a posição L). Mas a parte da sequência obrigatória é apenas a P-R-N; a posição das demais marchas fica a critério de cada fabricante.
 
Observação: Nas transmissões modernas, quando a ré é engatada com o carro em movimento o sistema interpreta a ação como insegura e coloca o câmbio em N, mesmo que a manopla indique que ele está em ré (em alguns modelos, um sensor de rotação impede também a mudança para P, visando evitar o travamento das rodas).
 
Nos filmes americanos é comum vermos os carros darem um pequeno solavanco quando são estacionados. Isso acontece porque a alavanca em Park trava as rodas motrizes mecanicamente, e os motoristas de lá não costumam acionar o freio de mão. Como essa trava não foi projetada para suportar todo o peso do veículo, é recomendável mudar a alavanca de D para N, soltar o pedal do feio, puxar o freio de mão, tornar a pisar no freio e então mudar a alavanca para P e desligar o motor. Na maioria dos automáticos sem sistema keyless, só é possível tirar a chave da ignição com a alavanca em P.
 
Até não muito tempo atrás, acreditava-se que o óleo da transmissão tinha duração "vitalícia" — bastava verificar o nível e adicionar óleo se quando necessário. Atualmente os fabricantes recomendam fazer a troca a cada 50 mil quilômetro (ou a cada 5 anos, o que ocorrer primeiro), ou mesmo antes, se o veículo for usado em condição severas. E o mesmo se aplica aos filtros (consulte o manual do veículo para mais informações).
 
As transmissões automáticas atuais são mais robustas e eficientes do que as de antigamente, mas ainda impactam em alguma medida o desempenho do motor o consumo de combustível. Isso sem falar que alguns modelos são problemáticos por natureza, e que os usados nem sempre foram bem cuidados pelos antigos proprietários. Assim, convém pesquisar na Web por eventuais "defeitos congênitos" (como a abominável PowerShift da Ford, que eu mencionei no 5º capítulo desta sequência), e fazer a busca pelo código da transmissão, já que o mesmo modelo pode ser identificado por outros nomes (no caso do PowerShift, por MPS6 na Volvo e 6DCT250 na Caoa Chery. 

Antes de pedir o parecer de um mecânico de confiança, avalie o conversor de torque com um "stall test". Com o motor e a transmissão em temperatura de marcha, coloque a alavanca em "D", acione o freio com o pé esquerdo, pise no acelerador até o final com o direito, observe o conta-giros e repita o teste com a alavanca em "R". Em ambos os casos o conta-giro deve marcar cerca de 2.500 RPM. Se a rotação subir muito além disso, é provável que o conversor de torque esteja patinando (desista da compra, pois o conserto vai custar caro).
 
Com o carro parado e o motor ligado, mude a alavanca de "P" para "R", depois para "N" e então para "D". As trocas devem ser suaves. Trancos indicam que os coxins estão gastos — esse desgaste é normal em veículos "rodados", e substituição dos coxins custa bem menos que o conserto do conversor de torque, mas você pode usar isso como argumento para obter um abatimento no preço do carro.

Sempre que a alavanca seletora é movida, a nova posição é indicada no painel. Se ela estiver em "D", o painel mostrar que está em "N" e o carro não se mover quando o freio for liberado, o problema deve estar no cabo que liga a alavanca à transmissão. Substituir não custa muito caro, mas a necessidade da troca também justifica um desconto no preço do carro.

Durante o test drive, fique atento para pequenos trancos com o motor em marcha lenta quando você para num semáforo, por exemplo. Mesmo que não seja uma vibração contínua, esse sintoma indica que a transmissão precisa de reparos. É possível que uma simples troca de óleo resolva; se não resolver e for preciso abrir a caixa para substituir componentes desgastados, é melhor desistir da compra.

Há duas maneiras de trocar o óleo — tanto do motor quanto da transmissão. A convencional deixar o óleo escorrer totalmente e então colocar o óleo novo. O problema desse método é que ele não esgota o óleo que fica dentro do sistema (inclusive no conversor de torque), e as impurezas remanescentes podem entupir as canaletas e danificar aos componentes. Na troca a vácuo, uma sonda é introduzida no sistema e uma bomba suga todo o óleo (ou a maior parte dele). Mas é importante que esse serviço seja feito por oficinas ou postos de troca de óleo especializados, que (supostamente) dispõem de equipamentos adequados e funcionários qualificados.

Resumo da ópera: Os câmbios automáticos modernos são mais robustos e exigem menos manutenção que os de antigamente. A melhor maneira de prolongar sua vida útil é trocar o óleo e os filtros nos prazos recomendados pelo fabricante, sem falar que a manutenção preventiva costuma pesar menos no bolso do que a corretiva. Considerando que muita gente põe o carro à venda quando nota algum problema na transmissão, visando transferir o "pepino" para futuro "propriotário", só feche o negócio depois que um mecânico de confiança der sinal verde.


Para assistir a um breve resumo audiovisual do que foi discutido ao longo sequência, clique aqui e aqui.

sexta-feira, 2 de agosto de 2024

SPAM, SCAM E EMAILS TEMPORÁRIOS

NUNCA ACENDA UMA FOGUEIRA SE VOCÊ NÃO TIVER CERTEZA DE QUE PODE APAGÁ-LA.

Até o surgimento dos aplicativos mensageiros e das redes sociais, o Correio Eletrônico era o serviço mais popular da Internet. Sua "paternidade" é atribuída a Ray Tomlinson, que criou para si o primeiro endereço eletrônico (tomlinson@bbn-tenexa) e enviou mensagens para os colegas da Universidade, ensinando-os a utilizar o "novo recurso". 

Observação: "Novo" entre aspas, porque o conceito de correio eletrônico havia sido implementado num sistema rudimentar de comunicação de dados desenvolvido em meados dos anos 1960, mas a verdão que Tomlinson criou em 1972 já contava com as funções "send" e "read" e foi pioneira no envio de mensagens entre diferentes nós conectados à ARPANet.

Ainda que não tenha o mesmo protagonismo dos tempos e antanho, o email ainda é largamente utilizado no âmbito corporativo — não obstante a popularização do WhatsApp também nesse segmento — e em nosso dia a dia, já que precisamos de um endereço eletrônico para nos logamos em sistemas, sites e aplicativos, para preencher cadastros e formulários, para fazer compras online, para acessar conteúdos exclusivos, e por aí vai.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Ou os partidos e seus políticos dão um jeito de acabar com os abusos ao dinheiro da coletividade, ou o uso abusivo do financiamento público dessas agremiações acabará com o que resta da pouca credibilidade de que ainda dispõem junto aos brasileiros. Caso sigam indiferentes, cedo ou tarde caberá à sociedade ou à Justiça, esta provocada por aquela, dar um fim ao impasse retirando do Legislativo a vantagem da iniciativa. É uma encruzilhada, e cabe ao Senado decidir se inicia a construção de um caminho para sair dela ou se prefere afundar na lama do descrédito e da amoralidade, em prejuízo da saúde democrática.
A camarilha, digo, a Câmara dos Deputados vem de aprovar emenda que eterniza na Constituição um prêmio à ilicitude, perdoa dívidas com renegociações camaradas, reduz as cotas de candidaturas negras e pardas, institui vantagens tributárias, aumenta o poder discricionário dos dirigentes partidários e estabelece um liberou geral para infrações passadas e futuras. Pelo texto, partidos serão inimputáveis e poderão fazer o que bem entenderem ao arrepio da legalidade, pois estarão constitucionalmente cobertos para sempre. 
Não há como a sociedade aceitar, mas há uma forma de os senadores frearem a derrocada, repudiando a ofensiva cheia de tenebrosas intenções — vantagens financeiras sem garantias específicas que seguem submetidas às decisões dos dirigentes, estabelecendo o império da servidão do Estado a interesses individuais perpetrados ao arrepio da legalidade e estimulando a disseminação de uma infecção que se alastra no organismo institucional já combalido e que na teoria é defendido por aqueles que na prática são seus piores algozes.

No final do século passado, quando o acesso à Internet via rede dial-up começou a se popularizar no Brasil, AOLiGiBest, Yahoo! e outros provedores ofereciam serviços de webmail para os assinantes. Como as mensagens ficavam armazenadas nos servidores dos provedores, os internautas acessavam suas caixas postais a partir do navegador, mas o espaço miserável (entre 1 e 5 MB) levou muita gente a optar por programas clientes  como Eudora, Outlook, IncrediMail e Thunderbird. Com eles era possível baixar os emails para o computador, gerenciar a correspondência offline e, ao final, restabelecer a conexão para enviar as respostas.

Observação: O acesso discado não só era lento e instável — baixar arquivos pesados levava horas (ou dias); um hipotético upgrade para o Win11 demoraria anos — como inviabilizava o uso concomitante do telefone. Da feita que um aplicativo discador discava literalmente para o número do provedor de acesso, a linha ficava ocupada até a conexão ser desfeita. Para piorar, o tempo de navegação era tarifado do mesmo jeito que as chamadas telefônicas convencionais — 1 pulso quando a ligação era completada e pulsos adicionais a cada 6 segundos. 
 
Quando lançou o Gmail 
 em 1º de abril de 2004  o Google oferecia caixas postais de 1GB. Como os populares HotmailYahoo! Mail limitavam o espaço a 5MB, o número de internautas que migrou para o novo serviço cresceu em progressão geométrica — ultrapassando a casa do bilhão em 2016. A empresa chegou a prometer espaço gratuito "ilimitado", mas acabou limitando-o em 15GB (divididos entre o Gmail, o Google Drive e o Google Fotos). Mesmo assim, 15GB são suficientes para armazenar 7,5 milhões de mensagens ou 3 milhões de fotos, e quem precisar de mais espaço pode optar pelos planos pagos, que partem de 100GB e vão até 30TB.
 
Voltando ao que eu disse no início, o WhatsApp e as redes sociais não aposentaram o correio eletrônico, e assim os emails de spam e scam continuam chegado aos borbotões. Embora as caixas postais miseráveis sejam coisa do passado, o acúmulo de mensagens não solicitadas e indesejadas dificulta o gerenciamento da correspondência eletrônica e põe em risco nossa segurança. 
 
Observação: "Spam" era a marca de um presunto enlatado fabricado pela HERMEL FOODS, que ficou famoso por ser pedido de modo jocoso na comédia inglesa MONTY PYTON. Em 2004, Bill Gates profetizou que a versão digital (também conhecida como "junkmail") seria varrida do mapa dali a 2 anos, mas já se passaram 20 e os spammers continuam fazendo a festa. Já o scam (ou "phishing scam") é uma variação do spam que busca induzir os destinatários a abrir anexos maliciosos ou clicar em links suspeitos, e continua sendo uma das principais "ferramentas de trabalho" dos fraudadores e cibercriminosos. 
 
Não há, pelo menos até onde eu sei, como evitar esse aborrecimento sem abrir mão do correio eletrônico, até porque os softwares "antispam", que pareceram promissores num primeiro momento,
 se revelaram tão úteis quanto enxugar gelo. Mas é possível minimizar o problema criando duas ou mais contas de email, reservando uma delas para assuntos importantes e as demais para se cadastrar em sites, participar de fóruns online, testar serviços etc. Outra possibilidade é usar endereços de email que são criados de forma aleatórias e se "autodestroem" depois de utilizados, eliminando qualquer possibilidade de acesso futuro.

O email provisório permite gerenciar melhor a privacidade e manter a caixa de entrada principal livre de junkmail, já que o usuário deixa de receber mensagens indesejadas na conta principal, evita que os sites coletem dados pessoais para criar uma base de leads e vender para "empresas parceiras", o que aumenta significativamente as chances de vazamento e/ou de uso não autorizado.
 
Quando abordei este assunto pela primeira (em agosto de 2007), sugeri usar o 10 Minute Mail para criar endereços válidos por 10 minutos (e prorrogáveis por mais dez) e o BugMeNot para obter logins já prontos. Muita água rolou desde então, e a gama de possibilidades ficou bem maior, inclusive com opções compatíveis com o Android e o iOSO 10 Minute Mail continua ativo e operante, mas não custa conhecer outros serviços similares e igualmente eficientes, começando pel
o TempMail, que permite criar endereços temporários quantas vezes for preciso e fazer o download de todos os conteúdos recebidos (versões para smartphone estão disponíveis na Google Play Store e na Apple Store).

O Email On Deck fornece um token e aconselha o usuário a salvá-lo em algum lugar (são mais de 30 caracteres). Inserindo o código alfanumérico na página para recuperação do domínio do site, pode-se recuperar a caixa de entrada temporária, mas é preciso fazê-lo rapidamente, pois as contas são descartadas em até 24 horas. 

No Spamgourmet oferece suporte em português e permite definir quantas mensagens o usuário deseja receber — o "X" que aparece no endereço (algumapalavra.x.nomedeusuário@spamgourmet.com) corresponde ao número de mensagens serão repassadas; as demais são jogadas no lixo. Maildrop usa filtros criados pelo serviço antispam Heluna para entregar uma caixa postal mais limpa, mesmo que temporária, e o Mohmal (que significa "lixo eletrônico em árabe) tem suporte em português e oferece endereços que duram 45 minutos (que são gerados aleatoriamente, mas podem ser personalizados pelos usuários). 
 
O serviço "Tua mãe, aquela ursa" se destaca pela abordagem direta e bem-humorada. Ele permite acessar qualquer email recebido num endereço @tuamaeaquelaursa.com sem que seja preciso criar uma conta específica 
— o usuário precisa apenas preencher o nome desejado no campo apropriado; passadas algumas horas, as mensagens recebidas são destruídas. Com o AdGuard Temp Mail, basta acessar a página principal para o email temporário ser exibido no topo da página (e clicar nele para copiá-lo). O serviço "memoriza" o endereço e armazena as mensagens usando cookies (que o provedor se encarrega de apagar ao cabo de 7 dias de inatividade;

Criar um email temporário é simples e intuitivo na maioria das plataforma; via de regra, basta acessar a página principal do serviço para um endereço descartável ser gerado automaticamente, copiar esse endereço e usá-lo no site em que o interessado deseja se cadastrar, por exemplo. Mas nem tudo são flores. Após um prazo que varia conforme o provedor — dez minutos prorrogáveis por mais dez no 10 Minute Mail e cerca de 24 horas no Email On Deck— as mensagens são destruídas e não pode ser mais acessadas. Além disso, a maioria dos provedores só permite o recebimento de mensagens — em alguns casos elas podem ser reencaminhadas diretamente para a conta de email pessoal do usuário, mas essa não é uma característica universal, de modo que é preciso verificar as informações sobre a duração fornecidas por cada serviço. 

Por último, mas não menos importante, tenha em mente que esses serviços podem ser instáveis e, portanto, não devem ser usados para o recebimento de dados sensíveis ou sigilosos.