segunda-feira, 1 de abril de 2019

O FIM DO GOOGLE PLUS (G+)


O MANGIA LA MINESTRA O SALTA DALLA FINESTRA.

Não, não é uma pegadinha de 1ª de abril. Eu já havia anunciado a desativação das contas pessoais do Google+ em outubro do ano passado. Naquela época, a previsão era de que isso se daria em agosto próximo, mas a empresa antecipou para 2 de abril (ou seja, amanhã), e vem impedindo desde fevereiro a criação de novos Perfis, Páginas, Comunidades ou eventos na rede G+.

Oficialmente, o motivo de tirar a rede do ar foi baixa demanda: “Embora nossas equipes de engenharia tenham dedicado muito esforço para desenvolver o Google+ ao longo dos anos, ele não atingiu uma ampla adoção por parte dos consumidores ou desenvolvedores, e mais de 90% das sessões no G+ duram menos de cinco segundos”. Mas contribuiu para essa decisão a exposição de dados privados de centenas de milhares de usuários do G+ — que o Google optou por não divulgar devido ao receio de que isso pudesse causar um problema regulatório e causasse danos à reputação da empresa. 

O Google admitiu a falha de segurança e afirmou tê-la corrigida em março de 2018, mas jamais informou quantos usuários foram envolvidos, limitando-se a dizer que “até 500 mil contas foram potencialmente afetadas, com a exposição de perfis que não deveriam ser compartilhados publicamente, o que inclui nome, e-mail, ocupação, gênero e idade”.

O prazo para baixar fotos do G+ termina hoje. A partir de amanhã, a conta e qualquer página que o usuário tiver criado serão desativadas e o conteúdo, totalmente excluído (inclusive as fotos e os vídeos no “Arquivo dos álbuns” e suas “páginas do Google+”). Informe seus seguidores sobre como e onde eles poderão ver o seu conteúdo fora do Google+.

Note que nem o Gmail, o Google Fotos, o Google Drive ou qualquer outro produto do Google será afetado pela desativação das contas pessoais do G+. Para excluir a sua conta antecipadamente, leia esse arquivo de ajuda


Para mais informações, acesse https://support.google.com/plus/answer/9217723

domingo, 31 de março de 2019

A CONSTITUIÇÃO, O FEIO E O FALSO



O ex-presidente Michel Temer, de novo em liberdade após curta estadia no xadrez, é o mais recente porta-bandeira das tropas que combatem pelo cumprimento rigorosíssimo da lei, nos seus detalhes mais extremos, e não admitem nenhum tipo de punição para magnatas antes que a sua culpa fique comprovada no Dia do Juízo Universal.

Até outro dia, Temer era “o golpista” ou, pelo menos, o vampiro que chefiava uma quadrilha de ladrões metida à cada instante com malas de dinheiro vivo, crimes anotados em fitas gravadas e outros horrores do mesmo quilate. Mas a vida brasileira tem sido isso mesmo.

Hoje em dia não importa quem você é ou o que você faz; se estiver com o camburão da Lava-Jato na sua cola o cidadão passa a ser imediatamente uma vítima do “moralismo”, da “repressão judicial” e dos “linchadores” que querem “rasgar as leis deste país”, etc,. etc,. Temer, assim, passou a ser mais um símbolo do homem perseguido pela “ação ilegal” das autoridades e o seu alvará de soltura foi comemorado como uma vitória do estado de direito”, da majestade das leis e da soberania da Constituição.

Tudo bem. Temer só deveria ir para a cadeia depois de condenado em pelo menos um dos dez processos por corrupção a que responde no momento; seus advogados sustentam que ele é inocente em todos os dez, nunca cometeu nenhum delito em 40 anos de política e enquanto os juízes acreditarem nisso, o homem não pode ser preso. Ele não poderia se aproveitar para fugir do Brasil? Poderia, mas não iria adiantar nada: seria preso no dia seguinte pela Interpol e mandado de volta. Não poderia, então, usar a liberdade para destruir provas? Talvez, mas teria de ser flagrado pela polícia fazendo isso para que a sua prisão fosse justificada. Mas o que transforma num desastre essa história toda, tanto o ato de prender como o ato de soltar, é a perversão da ideia de justiça que ela representa.

O problema, aí, não é o despacho do juiz Marcelo Bretas, do Rio de Janeiro, que causou tanto escândalo ao mandar prender o ex-presidente. O problema é a lei que permite o despacho de Bretas. Ela é exatamente a mesma que sustenta os direitos do réu. Conclusão: cumprir “a lei”, como exigem os campeões do “direito de defesa”, significa aceitar que o juiz Bretas tome decisões como essa quantas vezes lhe der na telha.

O “Brasil civilizado”, esse consórcio de gente bem-educada, liberal e moderna que acha um equívoco combater os crimes de primeira classe com penas de prisão, vive num mundo impossível. Acha que a decisão de Bretas foi uma aberração. Ao mesmo tempo fica horrorizado se alguém constata o fato puro e simples de que é a sagrada Constituição brasileira, com toda a penca de leis pendurada nela, que permite ao juiz agir exatamente como agiu. Não apenas permite incentiva, protege e garante a absoluta impunidade para qualquer coisa que ele já tenha decidido ou venha a decidir. Ele, Bretas, e mais 100% das autoridades judiciárias do país. Mas vá alguém sugerir, mesmo com cuidado máximo, que a Constituição é hoje a maior ferramenta para promover a negação da justiça no Brasil o mundo vem abaixo na hora e quem fez a crítica é excomungado automaticamente como um inimigo do Estado de direito. Mas aí é que está: a verdade, para falar as coisas como elas realmente são, é que a Constituição funciona como a grande incentivadora do crime cinco estrelas o que é cometido por gente rica, poderosa ou detentora de autoridade a serviço do Estado. É ruim na ida e ruim na volta.

A comprovação definitiva da insânia, no episódio Temer, é que o desembargador que o soltou, um veterano especialista em libertar ladrões do erário, ficou sete anos afastado da magistratura por acusações de praticar estelionato. Mas está lá de volta, em cumprimento ao que diz a Constituição. Que tal? Mais: na mesma ocasião, e no mesmo local, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro deu posse a quatro deputados que se encontram presos na Penitenciária de Bangu e mais um que está em prisão domiciliar. Ou seja: o sujeito não pode andar na rua, mas pode ser deputado estadual.

De novo, é o respeito religioso à lei que produz esse tipo de depravação aberta. Parece errado, mas a Constituição Cidadã diz que é certo. Tudo isso — Bretas, Temer, Athié, presidiários-deputados significa a vitória das instituições, segundo nos garantem os defensores da legalidade acima de tudo. Perfeito. O único problema é que as instituições brasileiras de hoje são um lixo. Pode ser feio dizer isso, com certeza. Mas dizer o contrário é simplesmente falso.

Com J.R. Guzzo

sábado, 30 de março de 2019

NÃO É ASSIM QUE FARÃO A LAVA-JATO MORRER - Texto de J.R. Guzzo


Antes do texto de Guzzo, faço um breve resumo da semana:

A sequência de desinteligências que vêm coroando a relação entre os chefes do Executivo e do Legislativo mostra como estamos “bem representados”. Uma PEC que engessa o Orçamento, que dormitava nos escaninhos da Câmara desde 2015, é aprovada em dois turnos em questão de minutos (o que demonstra que, quando quer, essa cambada faz), no mesmo dia em que nosso presidente vai ao cinema durante o expediente (para assistir a uma produção de viés religioso), estabelece como prioridade transformar o dia 31 de março em data cívica comemorativa (que depois ele disse não se tratar de “comemoração”, mas de “rememoração”) e retribui os coices do presidente da Câmara e de uma chusma de parlamentares.  

Rodrigo Maia havia prometido ao ministro-chefe da Casa Civil não deixar prosperar pauta-bomba no Congresso, não usar a presidência da Câmara instrumento de chantagem de partidos e não dar andamento a pedidos de impeachment contra o mandatário do Planalto — quanto ao resto, Bolsonaro que desse seu jeito —, mas a tal PEC surgiu do nada e foi votada e aprovada a toque de caixa. Curiosamente ela foi vista tanto como derrota quanto vitória do Planalto pelos analistas políticos — muitos dos quais há tempos deixaram de fazer sentido, mas isso é outra conversa.

O fato é que, em uma hora, numa votação relâmpago, os deputados aprovaram a medida em dois turnos, com ampla maioria. Para conseguirem essa rapidez, deram sinal verde a um requerimento de quebra de interstício (observância do intervalo regimental de cinco sessões, necessário para a aprovação de propostas de reforma constitucional na Câmara). Foram 448 votos em primeiro turno e 453 no segundo, havendo votos favoráveis até mesmo no próprio PSL (partido de Bolsonaro). Na prática, a ideia dos deputados é lançar um “pacote de maldades” para deixar o Executivo refém do Congresso, mas a avaliação preliminar dos especialistas da área econômica é de que, mesmo que a PEC seja aprovada no Senado em dois turnos, a mudança não valerá para 2019, uma vez que o Orçamento para este ano já foi aprovado e está em execução. Tecnicamente, o orçamento impositivo só valeria para os gastos do governo a partir do próximo ano, e para isso a mudança teria de ser incorporada à Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2020, que será elaborada ainda neste exercício. Mas isso também é outra conversa.

Na quinta-feira, Bolsonaro disse que a troca de críticas públicas com o Legislativo foi superada, e o presidente da Câmara sinalizou que quer virar a página do entrevero. Maia se reuniu em um café da manhã com Sergio Moro, com quem teve desavenças na semana passada, e depois almoçou com Paulo Guedes, com quem discutiu a novela da reforma da Previdência (aliás, o deputado Marcelo Freitas, do PFL, foi escolhido relator do projeto na CCJ da Câmara).

Por essas e outras, depois de quebrar a barreira do 100.000 pontos no último dia 18, com o mercado estimulado pela perspectiva de a reforma previdenciária ser resolvida ainda no primeiro semestre e produzir resultados expressivos, o Ibovespa despencou quase 10 pontos percentuais ao longo dos dias subsequentes, e dólar tornou a bater na casa dos R$ 4. Da última quinta-feira para cá, porém, depois que os chefes do Executivo e do Legislativo levantaram a bandeira branca, a coisa parece ter entrado nos eixos; no instante em que escrevo este texto, a Bolsa volta a encostar nos 96.000 mil pontos, e o dólar apresenta uma leva queda). A ver como a coisa se comporta na próxima semana.

Com a palavra, J.R. Guzzo:

O Brasil está ficando um país positivamente arriscado para presidentes da República. Já não é normal, para o padrão médio de moralidade política vigente no mundo civilizado, haver um ex-presidente na cadeia; dois ex-presidentes presos ao mesmo tempo, então, já é coisa para se pensar em livro de recordes, por mais temporária que possa ser uma situação dessas. 

O fato é que Michel Temer, acusado pela Lava-Jato de ter transformado o Estado brasileiro numa “máquina de arrecadar propinas” e alvo de dez inquéritos (e na última sexta-feira se tornou réu num deles) por ladroagens variadas, entrou no camburão da polícia e foi trancafiado no xadrez como Lula, em mais um capítulo desta espantosa crônica do crime na qual está enterrada até o fundo da alma a vida política do Brasil. Juntou-se a ex-governadores como o incomparável Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, seu sucessor, que conseguiu subir na vida com o nome de “Pezão”, de Beto Richa, do Paraná, há pouco encarcerado pela terceira vez seguida, e Marconi Perillo, de Goiás, que entra e sai da prisão. Isso sem contar um rico fricassée de ex-ministros ─ o último deles, justamente, Wellington Moreira Franco, parceirão de Temer em seu governo, e motivo de perplexidade geral entre os políticos por não ter sido preso antes. Ainda estava solto? A propósito: e o próprio Temer, o que estava fazendo fora de uma cela? É o Brasil de hoje.

A situação de Temer, é verdade, não é tão ruim quanto a do gênio político a quem devemos sua criação; por enquanto não foi julgado, ao contrário de Lula, que já está condenado em duas instâncias e cumpre pena, com 25 anos de cadeia no lombo. Mas é uma desgraça de primeiríssima classe ─ para ele, e, indiretamente, para todos os delinquentes que operam há anos na vida pública nacional. Estavam achando, talvez, que a Lava-Jato tinha mais ou menos parado em Lula? Se pensaram nisso pensaram horrivelmente errado. Pode ter até havido essa esperança, estimulada pela incansável ala pró-crime do STF, mas a realidade está apresentando um futuro soturno para eles todos. Figuras como Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e companhia fazem o que podem, mas também não são de ferro; seus protegidos, positivamente, não ajudam. Estão exigindo assistência permanente dos protetores, numa base quase diária. Gilmar, por exemplo, solta esse Beto Richa e até inventa um “salvo conduto”, proibindo que a polícia chegue perto dele. Mas o homem dá um trabalho insano: consegue ser preso de novo, o que vai obrigar Gilmar e seus sócios a mandarem soltar mais uma vez. E aí: vai ser assim pelo resto da vida? Quantas vezes terão de tirar o cidadão da cadeia? Cinco? Sete? Dez? 

É a mesma situação, sem tirar nem pôr, dos demais políticos dessa raça. É claro que cada caso é um caso, mas que ninguém se iluda: não haverá a menor chance de sossego, inclusive para Temer, enquanto não matarem a Lava-Jato. Estão fazendo o diabo para isso, mas não estão conseguindo. Essa é a vida real. O resto é barulho na mídia e no picadeiro da politicada, que ficam cada vez mais indignados, mas não conseguem evitar uma única e escassa prisão.

É um problemaço. Agora não é mais o PT, apenas, que está correndo da polícia. A coisa ficou preta para o PSDB e o MDB. A quem apelar? Quem vai fazer a campanha “Temer Livre”? Quem tiraria 1 real do bolso para ajudar Temer em alguma coisa? E Moreira Franco, então? Pelo jeito, estão todos reduzidos a contar com o apoio dos “garantistas”, que se escandalizam com o que chamam de ataque “à atividade política”, mas não decidem nada. Ou com a ajuda do deputado Rodrigo Maia, contraparente de Moreira Franco, inimigo do projeto anticrime de Sergio Moro e investigado em dois processos por corrupção. Têm apoio na mídia, nos advogados milionários de corruptos, na classe intelectual, etc. Só que ninguém consegue se dar bem defendendo o lado do ladrão; se você tem de ficar a favor de um Paulo Preto da vida, por exemplo, a sua situação está realmente uma lástima. 

Não é assim que farão a Lava-Jato morrer.

sexta-feira, 29 de março de 2019

O FANATISMO, O CONSERVADORISMO, O REACIONARISMO E A REVOLUÇÃO DE 64


Dicionaristas definem o fanático como alguém que segue de forma cega uma doutrina ou um partido, e associam o termo “fanatismo” ao culto excessivo de alguém ou de alguma coisa, ao zelo religioso excessivo, paixão políticaintolerância religiosa, sectarismo, exaltação exagerada, facciosismo

Alguns afirmam que essas conotações remetam a um culto pagão a divindades primitivas (como Cibele e Belona), mas, a meu ver, a melhor definição em linguagem coloquial é: o fanatismo é uma merda. A militância petista é um bom exemplo de gente fanática, mas os bolsomínions não ficam atrás — o fanatismo desbragado é o mesmo, o que muda é o lado do espectro político.

Deixando de lado a patuleia ignara (vade retro, Satanás!) e focando apenas nos defensores incondicionais do atual governo, chama a atenção o fato de que, com a aproximação do dia 31 de março, as postagens alusivas (e laudatórias) à revolução de 64 se multiplicam em progressão geométrica. E o pior é que não partem apenas de reacionários incorrigíveis e saudosistas sem causa, mas também de jovens (com idade entre 20 e 30 anos) que nasceram depois de 1985, ano em que a democracia foi restabelecida neste projeto de banânia, e, portanto, só conhecem da ditadura o que ouvem falar.

Observação: Os termos “conservador” e “reacionário” não são sinônimos, ainda que não raro sejam usados (impropriamente) como tal. O conservadorismo é uma ideologia de imperfeição humana, não de arrogância epistemológica — em outras palavras, os conservadores procuram preservar o que é válido no presente recorrendo aos instrumentos desse presente, e não a fantasias do passado. Já os reacionários defendem a volta de um passado (de proteção econômica, fechamento nacional e isolamento internacional) que nunca existiu como perfeição — são “reacionários” porque não são capazes de pensar os problemas do presente sem recorrer ao “era uma vez…” que é típico de crianças, não de adultos.

Voltando à revolução de 64, tem-se ouvido com indesejável frequência, inclusive de gente que transita nos altos escalões governamentais, que não houve ditadura no Brasil. Alguns sustentam essa balela por cegueira doutrinária; outros, por má-fé, e outros, ainda, por pura e simples ignorância. Mas convenhamos: ao exortar as comemorações alusivas à "data histórica", nosso presidente flerta com a irresponsabilidade. Tanto é que os generais da reserva que integram o primeiro escalão do Executivo lhe pediram cautela.

ObservaçãoEnquanto Bolsonaro se preocupa em comemorar 1964, em 2019 a articulação política do seu governo é o caos absoluto, como se viu pela aprovação da PEC do Orçamento Impositivo, que engessa a atuação da equipe econômica — que, por sua vez, achou a princípio que a PEC era uma boa coisa, por incrível que pareça, para fortalecer a “federalização”. Deixe 1964 e volte para 2019, Bolsonaro. O país precisa urgentemente de um presidente.

Num governo que reúne o maior número de ministros militares desde o período da ditadura — o que já gerou insatisfação de parlamentares —, a comemoração do golpe militar deixou de ser uma agenda "proibida", ainda que não tenha retornado ao calendário de comemoração das Forças Armadas por meio de um decreto ou portaria que a formalize. Na última terça-feira, a Defensoria Pública da União anunciou que ajuizará ação civil pública para impedir que o 31 de março, data de início do movimento golpista, seja comemorado nas unidades militares. Na contramão dessa via, outros próceres palacianos se alinham ao presidente, como é caso do ministro das Relações Exteriores (falo do chanceler de direito, não do zero três), que afirmou nesta quarta, 27, na Comissão de Relações Exteriores e Defesa da Câmara dos Deputados, que a intervenção militar de 1964 não foi um golpe, mas um movimento necessário para que o País não virasse uma ditadura (?!).

Para resumir o que poderia se tornar uma longa novela, segue um breve resumo do que foi o golpe militar de 64 e os 21 anos subsequentes, ao longo dos quais generais do Exército se revezaram no poder, chancelados por um jogo de cartas marcadas no Congresso (onde o partido de oposição era meramente figurativo e seus membros, duramente cerceados sempre que ameaçavam incomodar o regime). Como eu tinha 6 anos de idade, o dia da revolução em si não me evoca lembranças, e o que me foi ensinado na escola, nas aulas de História do Brasil e Educação Moral e Cívica, não passou de uma versão deturpada dos fatos. Felizmente, hoje temos a Web e, sabendo separar o joio do trigo, podemos encontrar tudo sobre tudo. O texto a seguir foi baseado num artigo publicado por Carlos Alberto Sardenberg em sua coluna n’ O Globo. Confira:

Partidos e grupos comunistas discutiam qual a maneira de derrubar o capitalismo burguês e implantar a ditadura do proletariado, se pela luta armada ou pelo caminho reformista. Corria o ano de 1964, e a ampla maioria da esquerda era reformista — pelas chamadas reformas de base, processo que começava com a agrária e incluía um amplo cardápio de estatizações.
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O presidente João Goulart, do PTB getulista, no cargo desde a renúncia de Jânio Quadros em 1961, estava claramente no campo da esquerda. Havia comunistas no seu governo e no seu entorno, embora Jango estivesse longe de ser ele mesmo comunista — a exemplo de ilustres membros de seus gabinetes durante o curto período parlamentarista, como os primeiros-ministros Tancredo Neves e Santiago Dantas, que eram, no máximo, social-democratas, trabalhistas ou nacionalistas, preocupados com a distribuição de renda e a proteção social.

Como o grupo comunista era claramente minoritário nessa aliança, o sucesso de Jango levaria o Brasil a uma economia mais estatizada, com o aumento dos gastos públicos em todos os setores, dos sociais à infraestrutura — mais ou menos como aconteceu no governo ditatorial do general Ernesto Geisel, um nacionalista e estatizante da primeira linha, e no governo Lula, mas isso é outra conversa.

Em 1964, o mundo estava em plena Guerra Fria, dividido entre os EUA e a URSS. As plataformas reformistas — aqui, no Chile, na Argentina, em toda parte — procuravam se aproximar não propriamente da União Soviética, mas de um bloco que se declarava independente, o do Terceiro Mundo, que, entretanto, pendia para a esquerda. Ou seja, era adversário dos EUA, que, nessa disputa, patrocinavam ditaduras direitistas para, como se dizia, evitar a ditadura comunista.

Não havia a menor possibilidade de uma vitória comunista, nem pela via reformista, nem pela luta armada. A melhor chance de uma guerrilha no Araguaia ou no Vale do Ribeira era a de ser massacrada, como de fato aconteceu. Mas foi nesse quadro que parte da elite brasileira, representada por partidos e associações civis, bateu às portas dos quartéis. Os militares atenderam rapidamente, pois a doutrina que aprendiam era simplesmente Ocidente versus o Pacto de Varsóvia (a frente militar da URSS). O Congresso chancelou a derrubada de Jango, em abril de 1964, e elegeu presidente o então chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, marechal Humberto de Alencar Castello Branco. Mas só o fez porque a alternativa era o fechamento.

Muitos democratas e liberais apoiaram o golpe, achando que seria um interregno necessário para garantir as eleições presidenciais de 1965, nas quais haveria o embate entre Juscelino Kubitschek (pelo lado reformista democrático) e Carlos Lacerda (conservador, liberal, democrata). Mas não tardaram a se arrepender, e foram abandonando o governo militar à medida que este radicalizava e se transformava numa verdadeira ditadura e dava sinais de que tencionava se perpetuar no poder. Lacerda, apoiador do golpe, terminou cassado e se uniu a JK, também cassado, numa frente pela democracia.

É fato que o Congresso funcionou o tempo todo, menos nos breves momentos em que ousou discordar do regime. O Congresso “elegeu” os presidentes, mas somente depois de eles serem escolhidos entre e pelos generais de quatro estrelas. Partidos políticos foram proibidos, a imprensa, censurada, opositores — fossem democratas ou comunistas —, presos, torturados, mortos. Quando a política econômica finalmente fracassou, com recessão, dívida externa explosiva e inflação, a ditadura caiu e os militares se retiraram, liderados por colegas de bom senso num processo conduzido por políticos habilidosos.

Por essas e outras, não há o que celebrar em 31 de março. Não merece ser comemorada a instalação de uma ditadura que fechou instituições democráticas e censurou a imprensa. Isso seria permitir que ódios do passado envenenem o presente e destruam o futuro. Para o presidente da OAB/RJ, Luciano Bandeira, a determinação do presidente Bolsonaro é inconstitucional. "O princípio democrático da República Federativa do Brasil, que está na nossa Constituição, determina que os cargos do Executivo são alcançados através do voto. Comemorar uma tomada de poder pela força das armas, que contraria esse princípio democrático, é apologia a algo contrário ao que prega a Constituição", diz ele. 

Com a devida vênia dos que pensam de maneira diversa, acho que não há como discordar. E nem o que comemorar.

NOVA ATUALIZAÇÃO DE RECURSOS DO WINDOWS 10


CHI BENE INCOMINCIA È A METÀ DELL'OPERA.

Ao lançar o Windows 10 como “serviço”, a exemplo do que havia feito anteriormente com a suíte de escritório MS-Office, a Microsoft, numa estratégia de marketing inusitada e que mais adiante se revelou bem-sucedida, ofereceu gratuitamente o upgrade para os usuários de cópias legítimas do Windows 7 e 8.1. 

Com a nova política de atualizações, as novas versões, que até então eram lançadas em intervalos de 3 a 5 anos, deram lugar a atualizações de recursos semestrais feitas in loco, dispensando a aquisição de novas licenças e preservando os aplicativos, configurações e arquivos dos usuários. Os service packs — pacotes que reuniam todas as correções liberadas desde o lançamento oficial de uma edição do sistema ou do service pack anterior (só o XP foi alvo de três) — também foram descontinuados, mas as atualizações mensais de confiabilidade foram mantidas e continuam sendo disponibilizadas toda segunda terça-feira de cada mês (Patch Tuesday).

A Microsoft testa exaustivamente as atualizações antes de liberá-las para download via Windows Update, mas às vezes o imprevisto tem voto decisivo na assembleia dos acontecimentos. No Update de Outubro (build 1809), por exemplo, uma penca de bugs levou à suspensão do patch, tanto via atualizações automáticas quanto pelo link que permitia sua instalação manual. Como se costuma dizer, os pioneiros são reconhecidos pela flecha espetada no peito, e os mais apressados se viram em palpos de aranha: houve relatos de que a instalação apagava arquivos em pastas como Documentos e Imagens, interferia com o drive de áudio da Intel, interferia na descompactação de arquivos e por aí afora.

Todas as falhas que afetaram as cinco “atualizações de recursos” lançadas até agora pela Microsoft foram sanadas, mas nem sempre com a rapidez desejada. Para evitar esses “acidentes de percurso”, eu recomendava migrar para uma nova edição do sistema somente depois que ela recebesse seu primeiro service pack. Isso deixou de valer, já que no Windows como serviço as atualizações de recursos são descarregadas e aplicadas automaticamente, e sempre existe o risco de sermos pegos no contrapé.

Para complicar, a Microsoft limitou drasticamente as opções de gerenciamento das atualizações automáticas, sobretudo no Windows 10 Home, que é o mais utilizado no âmbito doméstico, e uma nova atualização de recursos está para se lançada no mês que vem. E agora, José?

É o que veremos na próxima postagem. Até lá.

quinta-feira, 28 de março de 2019

E LA NAVE VA — PARTE III


OGNI ARANCIA HA L'ALTRA METÀ

A imagem que ilustra este post não é da ante-sala do Inferno, mas bem que parece. Como também parecem brigas de criança as rusgas entre o Executivo e o Legislativo — pena que não dá para resolvê-las com umas boas (ainda que politicamente incorretas) palmadas. E enquanto o Planalto e a Câmara medem forças e o cenário político muda como imagens de caleidoscópio, escrever sobre o tema passa a ser como narrar por escrito uma partida de futebol: a gente nem terminou de descrever a defesa do goleiro do time A e o time B já contra-atacou e virou o placar.

Fato é, caro leitor, que a situação vai de mal a pior (para não dizer que estamos fodidos, e mal pagos). Ao cabo de 90 dias no poder, o presidente vê — porque é impossível que não veja — os principais pilares do seu governo derreterem como sorvete sob o sol do meio-dia e nau dos insensatos adernar perigosamente... e aí resolve ir com a primeira-dama ao cinema (em plena manhã de terça-feira) e levar a tiracolo a ministra Damares Alves (só faltou levar também certo ministro que não tem vocação nem para educador, nem para administrador para ver se, pelo menos, ele serve para segurar a vela). Em cartaz: Superação, o Milagre da FéAinda bem que não era TITANIC.

O superministro Paulo Guedes disse ontem no Senado que se, não tiver apoio, deixará o posto. Depois emendou que seria irresponsabilidade sair se Previdência não for aprovada, mas acrescentou que não pretende permanecer se não houver colaboração do Legislativo para conter os gastos públicos. “Se o presidente apoiar as coisas que podem resolver o Brasil, estarei aqui. Agora, se ou o presidente ou a Câmara, ninguém quer aquilo, eu vou ser obstáculo para os senhores? De forma alguma, voltarei para onde sempre estive”, disse Guedes.

No mesmo dia, o também superministro Sérgio Moro declarou que prefere desistir da tramitação de todo o pacote anticrime apresentado ao Congresso se os parlamentares retirarem do texto trechos que versam sobre corrupção. Somada à “não ida” de Guedes à CCJ da Câmara, já que o presidente da comissão ainda não designou o relator, o Ibovespa, que tinha cravado 100 mil pontos na semana passada, vem sofrendo queda atrás de queda, enquanto o dólar sobe feito rojão em noite de Réveillon (tudo bem que há questões internacionais colaborando para isso, mas aí já é outra conversa).

Pelo visto, o único consolo que resta a quem apoiou Bolsonaro contra o boneco de ventríloquo do criminoso de Curitiba é o PT não ter voltado ao poder, porque aí, sim, a porca torceria o rabo. Mas somente os bolsomínions — que não passam de militantes petistas com o sinal trocado — conseguem aplaudir as estultices bolsonaristas em vez de enxergar o festival de incompetências que assola o país. Não que Rodriga Maia não tenha culpa nesse cartório, mas não foi no Bolinha que votamos para presidente.

Ontem, numa demonstração de força e revanchismo à toda prova, a Câmara levou poucos minutos para aprovar em dois turnos uma PEC que engessa o Orçamento (tornando obrigatório o pagamento de despesas hoje passíveis de adiamento, como emendas de bancadas estaduais e investimentos em obras), que havia sido apresentada em 2015 e esquecida desde então. Foi a prova provada de que, em havendo vontade política, a reforma da Previdência e as medidas anticrime e anticorrupção poderiam se aprovadas enquanto o diabo pisca um olho. Mas o presidente não tem apoio, não tem articulador político, não tem partido, enfim, não tem porra nenhuma. E ainda se preocupa em comemorar o aniversário da revolução de 1964, que deu início ao regime de exceção que durou 21 anos. Nem  o núcleo do governo se entusiasmou com a ideia, preferindo recomendar cautela no tom para evitar ruídos desnecessários e polêmicas indesejadas, sobretudo quando os ânimos na política estão tão acirrados. 

Bolsonaro não teve sequer o apoio do zero três, já que o filhote contribuiu com seu voto de deputado federal para a "derrota" do governo (derrota entre aspas, porque a proposta ainda precisa ser aprovada pelo Senado e, se o for, só entrará em vigor na próxima legislatura, o que faz dela um problema para o próximo presidente), a exemplo os demais deputados do PSL (com exceção de 6, entre os quais a líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann).

Como dizem os evangélicos e assemelhados, “só com Jesus na causa”. Durma-se com um barulho desses!

AINDA SOBRE O USO EXCESSIVO DO HDD E COMO DESAFOGAR O DISCO COM UMA SEGUNDA PARTIÇÃO (FINAL)


SE NINGUÉM VÊ, NÃO ACONTECEU.

Como vimos ao longo das últimas postagens, uma lentidão anormal do sistema nos minutos subsequentes à inicialização pode ter várias causas, mas uma das mais comuns é o perfil do usuário usado para fazer logon no Windows. Com o passar do tempo e o uso normal do computador, esse repositório de informações tende a se agigantar a tal ponto que seu impacto na performance do disco rígido faz com que abrir um simples documento se torne um verdadeiro calvário.

A lentidão tende a diminuir e até “desaparecer” depois de alguns minutos, quando o sistema conclui a inicialização. Sempre se pode ligar o computador e ir tomar um café ou fazer qualquer outra enquanto isso não acontece. Mas não é assim que as coisas deveriam ser. Trançando um paralelo com um veículo cujo motor de partida apresenta defeito, sempre se pode empurrar o carro e fazê-lo pegar “no tranco”, mas o ideal seria consertar ou substituir o componente problemático, até porque o procedimento alternativo não aconselhável, sobretudo em modelos providos de injeção eletrônica. Mas isso é outra conversa.

É normal o computador perder o “viço” com o passar do tempo, o que obriga o usuário a reinstalar o Windows do zero. Isso é tão inevitável quanto a morte e os impostos, mas existem medidas que podem retardar significativamente o processo, como vimos ao longo das postagens publicadas a partir de 18 de fevereiro. Ainda que não seja um bicho de sete cabeças (*), a reinstalação toma tempo e dá um trabalho danando — notadamente devido às atualizações, personalizações, reinstalações de aplicativos, regates de backups e o que mais for preciso fazer depois da reinstalação propriamente dita.

(*) Para reinstalar o Windows 10, clique em Iniciar > Configurações > Atualização e segurança > Restaurar o PC > Começar e escolha uma das opções disponíveis, quais sejam “Manter meus arquivos” e “Remover tudo”. A primeira remove os aplicativos e atualizações (inclusive de drivers de dispositivo) e desfaz as configurações e personalizações que você implementou ao longo do tempo, mas preserva seus arquivos pessoais e recupera automaticamente os aplicativos que vieram pré-instalados com o sistema. A questão é que ela nem sempre resolver problemas causados por pragas digitais mais invasivas ou para resgatar a performance original do computador, razão pela qual é melhor escolher “Remover tudo”, que irá formatar a unidade do sistema e apagar todos os dados antes de reinstalar o Windows, que ressurgirá exatamente como era quando você ligou o PC pela primeira vez. Note que, independentemente da opção que você escolher, não deixe criar previamente backups dos seus arquivos importantes e de difícil recuperação (mais informações nesta postagem), a menos que você os tenha transferido para outra partição que não a do sistema.

Voltando ao perfil do usuário, é possível “desidratá-lo” de diversas maneiras (também já vimos como fazer isso ao longo das últimas postagens), mas o melhor é excluí-lo e deixar o Windows criar um novo. Também nesse caso será preciso reconfigurar e personalizar tudo outra vez, mas os aplicativos, arquivos e outros que tais serão preservados — embora ícones no desktop, na área de acesso rápida da Barra de Tarefas e outros que tais terão de ser recriados, a trabalheira será bem menor. Mas vamos por partes.

Observação: Mover as pastas Área de Trabalho, Documentos, Downloads, Imagens, Músicas e Vídeos da unidade do sistema para a nova partição (se você a criou, conforme foi sugerido e explicado nas postagens anteriores) também pode ajudar. Se for o caso, este vídeo detalha o procedimento tintim por tintim. Você pode ainda recorrer ao software da EaseUS, que facilita sobremaneira a transferência do sistema, de arquivos pessoais, da pasta usuários e de aplicativos de um disco rígido ou partição para outro(a) e roda nas versões 10, 8.1, 7 e XP do Windows.

O primeiro passo é fazer um backup dos arquivos importantes e de difícil recuperação — afinal, nunca se sabe... Feito isso, reinicie o computador, faça logon com um perfil administrativo (se não houver outro, use o que você vai excluir mais adiante) e crie uma nova conta offline no Windows 10. Veja como:

1) Abra o menu Iniciar e clique em Configurações  > Contas  e Família e outros usuários (em algumas edições do Windows, você verá Outros usuários).

2) Selecione Adicionar outra pessoa a este PC

3)Selecione Não tenho as informações de entrada dessa pessoa e, na página seguinte, selecione Adicionar um usuário sem uma conta Microsoft.

4) Digite um nome de usuário, uma senha, uma dica de senha, escolha as perguntas de segurança e selecione Avançar.

5) Em Configurações  > Contas  > Família e outros usuários, selecione a conta que você acabou de criar e clique em Alterar o tipo de conta. Em Tipo de conta, selecione Administrador e confirme em  OK.

Reinicie o computador, faça o logon com o perfil que você acabou de criar e aguarde até que o Windows termine de configurá-lo. Em seguida, pressione o atalho Win+R para abrir o menu Executar, digite sysdm.cpl e tecle Enter. Na tela das Propriedades do Sistema, clique na aba Avançado e, na seção Perfis de Usuário, pressione o botão Configurações. Agora é só selecionar o perfil que você quer remover e pressionar o botão Excluir — volto a lembrar que esse botão estará inoperante se você não tiver privilégios administrativos ou estiver logado com a conta de administrador vinculada ao perfil que deseja remover. 

Finalmente, reinicie o computador e torne a se logar no sistema com os dados (nome de usuário e senha) referentes ao perfil que você acabou de remover. Ele será recriado, mas estará vazio, de modo que será preciso personalizar tudo de novo. Note que você não terá de reinstalar os aplicativos que já tinha antes, apenas recolocar alguns atalhos na área de inicialização rápida da Barra de Tarefas e fazer outros ajustes.

Como dizem os gringos, “não há almoço grátis”, mas esse “lanche” sairá mais em conta do que a refeição completa — ou seja, levará menos tempo e dará menos trabalho do que formatar a unidade do sistema e reinstalar o Windows do zero. Boa sorte.

quarta-feira, 27 de março de 2019

E LA NAVE VA — PARTE II


Como diz o bordão da BandNews, “em 20 minutos, tudo pode mudar”. Prova disso é que, contrariando todas as expectativas, o desembargador Ivan Athié, presidente da 1ª Turma do TRF-2, antecipou a soltura de Michel Temer e de seus companheiros de infortúnio (clique aqui para ler a íntegra da decisão). O magistrado havia pautado a ação para a sessão desta quarta-feira, mas mudou de ideia: “Mesmo que se admita existirem indícios que podem incriminar os envolvidos, não servem para justificar prisão preventiva, no caso, eis que, além de serem antigos, não está demonstrado que os pacientes atentam contra a ordem pública, que estariam ocultando provas, que estariam embaraçando, ou tentando embaraçar eventual, e até agora inexistente instrução criminal, eis que nem ação penal há, sendo absolutamente contrária às normas legais prisão antecipatória de possível pena, inexistente em nosso ordenamento, característica que tem, e inescondível, o decreto impugnado”. Volto a esse assunto com mais detalhes na próxima postagem.

Em seu depoimento aos procuradores e agentes federais, Temer invocou o direito constitucional de ficar calado. Até aí, nenhuma surpresa: em 2017, quando sua conversa de alcova com o carniceiro bilionário veio a público, o ex-presidente afirmou que “o inquérito no STF seria o território onde surgiriam todas as explicações” e que seria feita “uma investigação plena e muito rápida para os esclarecimentos ao povo brasileiro”. Palavras vazias, como se veria mais adiante, quando as ações desmentiram o discurso e o esforço para barrar o processo ganhou vulto.

Na primeira noite que passou hospedado na PF do Rio, sua excelência rejeitou o jantar. Nos dias seguintes, declinou dos banhos de sol — mas alguém já ouviu falar em vampiro que toma sol? Brincadeira à parte, tivemos, ainda que por poucos dias, dois ex-presidentes presos por corrupção — ainda suposta, no caso de Temer, e confirmada por duas instâncias da Justiça, no caso de Lula. E pelo andar da carruagem, Dilma, que permanece no banco de reservas — ela é ré pelo crime de organização criminosa e foi acusada por Palocci de ter financiado sua eleição em 2010 com dinheiro de uma conta no exterior aberta por Joesley Batista, além de ter cometido crime de obstrução de Justiça ao avisar João Santana e Mônica Moura de sua prisão iminente —, pode ser convocada a qualquer momento para entrar em campo.

Por ter sido decretada dias antes de a Lava-Jato completar 5 anos e uma semana depois de o STF decidir pela competência da Justiça Eleitoral para julgar crimes de corrupção relacionados a outros delitos de natureza eleitoral — em particular, o caixa 2 —, a prisão de Michel Temer e companhia limitada foi vista por muita gente como “retaliação”. O ex-ministro da Secretaria de Governo e principal integrante da tropa de choque palaciana, Carlos Marun, afirmou que o ex-presidente foi pego numa queda de braço entre a Lava-Jato e o STF. E disse mais: “Tem a suspeita de que exista algo por trás disso e que os motivos sejam outros. De que se busque com essa confusão causada com essa decisão inconsequente e ilegal, outros objetivos.” Só não esclareceu quais seriam esses objetivos.

Michel Temer é alvo de uma dezena de inquéritos e foi denunciado pela PGR em três oportunidades. Surpresa, portanto, não foi a sua prisão preventiva, mas o fato de ela não ter sido decretada antes. Retaliação foi a decisão tomada por 6 dos 11 ministros supremos, a despeito de a Justiça Eleitoral não ter estrutura para lidar com ações criminais complexas (fato reconhecido, inclusive, pelo ex-ministro Carlos Velloso, que presidiu o TSE em duas ocasiões). Dizer que a Justiça Eleitoral é mais célere que a Federal e que é possível reestruturá-la para atender às novas demandas, a exemplo do que já se viu em varas federais, é uma coisa, mostrar onde está a varinha de condão capaz de realizar essa mágica é outra.

Observação: Talvez a PGR Raquel Dodge seja a fada que detém tal varinha. Logo após a esdrúxula decisão do Supremo, ela disse que iria mudar a forma de atuação do MP nesses casos. Uma das alternativas que ela cogitou à época era priorizar o pedido de abertura de inquéritos por corrupção, lavagem de dinheiro e outros crimes sobre o de caixa 2, o que remeteria os casos para a Justiça comum; outra, revelada mais recentemente, é solicitar ao TSE que dê poderes aos magistrados federais para atuar em casos eleitorais simplesmente alterando uma das duas resoluções da Corte que tratam da composição da Justiça Eleitoral.

Em casa onde falta o pão, todos brigam e ninguém tem razão. O melhor para a Lava-Jato seria aprovar um projeto de lei que reformasse o Código Eleitoral e neutralizasse essa decisão nefasta do STF. Aliás, uma proposta nesse sentido integra os dispositivos anticrime que o ministro Sérgio Moro enviou ao Congresso — e que vem gerando atritos com o presidente da Câmara, que também é investigado no âmbito da Lava-Jato. A mudança na legislação certamente produziria melhores resultados do que uma CPI para investigar os ministros, ou a apresentação de pedidos de impeachment contra eles a cada julgamento com resultado divergente do esperado ou desejado. Mas não é o que se vê nas redes sociais, infelizmente, onde o número de postagens defendendo o fechamento STF, a intervenção militar no Legislativo e outras bobagens que tais não para de crescer.

É lamentável que os bolsomínions fanáticos sejam ainda mais extremados do que a patuleia ignara, cuja fidelidade canina a Lula e seus asseclas sempre me pareceu desbragada, e sua total impermeabilidade à voz da razão, uma falha genética irremediável. Mas o pior não é isso: Bolsonaro orientou os quartéis a comemorarem o aniversário da revolução de 1964, que deu início a um regime de exceção que durou 21 anos. O núcleo militar do primeiro escalão do Executivo, porém, pede cautela no tom para evitar ruídos desnecessários diante do clima político acirrado e dos riscos de polêmicas em meio aos debates da reforma da Previdência. Enfim, são tempos estranhos, como o ministro Marco Aurélio costuma relembrar sempre que uma oportunidade se lhe apresenta.  
 
A cizânia tomou conta da nossa mais alta corte, onde alas garantista e punitivista se digladiam, ministros tomam decisões monocráticas ao arrepio da jurisprudência pacificada por decisões colegiadas,  promovem bate-bocas de deixar o BBB. Não muito tempo atrás, o ministro Barroso, referindo-se a um colega de toga (que o leitor certamente sabe quem é), afirmou haver no Supremo “gabinete distribuindo senha para soltar corrupto, sem qualquer forma de direito e numa espécie de ação entre amigos”. Isso depois de classificar seu par na corte como uma pessoa horrível, uma mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia“ e acusá-lo de “desmoralizar o Tribunal”.

Apenas dois ou três ministros celestiais parecem sintonizados com a opinião pública e preocupados com o combate a corrupção. Mas nem por isso devem prosperar bizarrices como a sugerida por Bolsonaro, durante a campanha, de nomear mais 10 ministros “isentos” para fazer frente à banda podre do STF. Por outro lado, deuses do Olimpo do Judiciário podem (e devem) ser investigados e, se for o caso, impedidos e até presos; o que não se admite é buscar soluções não-republicanas para mantê-los na rédea curta. Foi isso que fez Hugo Chávez na Venezuela, até porque o Poder Judiciário costuma ser o primeiro alvo das ditaduras incipientes.     

AINDA SOBRE O USO EXCESSIVO DO HDD E COMO DESAFOGAR O DISCO COM UMA SEGUNDA PARTIÇÃO (SEXTA PARTE)


NÃO DEIXE SUA LÍNGUA SE TORNAR SEU PIOR INIMIGO.

Concluído o particionamento da unidade do sistema (geralmente C:) e a formatação da nova partição (D: ou qualquer que seja a letra designada para identificá-la), você já pode usar a unidade suplementar para desafogar o Windows e melhorar o desempenho do computador como um todo. 

Para explorar melhor as vantagens do particionamento do disco, o ideal é manter separados, ou seja, em unidades diferentes, o Windows e os aplicativos que você usa com frequência do restante do conteúdo salvo no computador. Mas transferir seus arquivos pessoais (músicas, vídeos, fotos, backups, etc.), que costumam ocupar um bocado de espaço, já pode ser suficiente para desafogar a partição do sistema e, consequentemente, dar mais fôlego ao computador como um todo. Para fazer isso você pode copiar e colar manualmente os arquivos ou pastas  selecione-os e pressione Ctrl+C para copiar, depois clique no local de destino e pressione Ctrl+V para colar  ou abir as janelas de origem e de destino e arrastar os itens desejados com o mouse. Como a transferência é feita entre duas unidades distintas, os arquivos originais são preservados, mas você deve apagá-los manualmente, ou não haverá grandes vantagens em transferi-los de uma partição para a outra.

Observação: Se quiser acessar mais rapiadamente um arquivo ou pasta que você transferiu para a unidade suplementar, basta dar um clique direito sobre ele e clicar em Enviar para > Área de trabalho (criar atalho)

Para modificar o local dos programas já instalados, abra o menu Iniciar, clique em Configurações > Aplicativos e recursos, selecione o app que você quer mudar, clique em Mover e siga as instruções na tela. Para que os novos programas passem a ser instalados na partição suplementar, clique no botão Iniciar, selecione Configurações (na coluna à esquerda), clique em Sistema > Armazenamento > Alterar onde o novo conteúdo é salvo e faça os devido ajustes. A partir daí, os apps que você e instalar a partir Loja do Windows irão automaticamente para a unidade que você redefiniu como padrão.

Observação: Se o botão Mover não estiver disponível, é porque se trata de um aplicativo padrão do Windows; nesse caso, pressione o botão Desinstalar, aguarde a conclusão do processo, baixe novamente o aplicativo a partir da Loja do Windows e torne a instalá-lo depois de reconfigurar a localização padrão, naturalmente.

No caso de softwares de terceiros, pode acontecer de o botão Modificar estar indisponível. Nesse caso, o jeito é desinstalar o programa e instalá-lo novamente, definindo, durante o processo de instalação, sua nova partição como local de destino.

Se o seu perfil de usuário está inflado, vale a pena você o transferir para a nova partição (para mais detalhes, reveja a sequência de postagens iniciada no último dia 8). Em muitos casos, porém, mover somente algumas pastas (como Documentos, Downloads, Imagens, Vídeos, por exemplo, que tendem a acumular uma grande quantidade de arquivos). Para isso, primeiro é preciso criar uma nova pasta na partição suplementar. Abra o Explorador de Arquivos, selecione Este Computador, dê duplo clique no ícone que representa a partição que você criou, dê um clique direito num ponto vazio dentro da janela e, no menu suspenso, aponte para Novo e selecione Pasta). 

Feito isso, volte à tela do Explorador de Arquivos e, sob Este Computador, abra a pasta C:, dê um clique direito sobre Downloads, Área de Trabalho ou Documentos, por exemplo (essas pastas tendem a acumular uma grande quantidade de arquivos) e clique em Propriedades, clique na aba Local, informe a localização da nova pasta e siga as instruções na tela.

O resto fica para o próximo capítulo.

terça-feira, 26 de março de 2019

E LA NAVE VA — TOMARA QUE NÃO SEJA A PIQUE


Deitado eternamente em berço esplêndido, o Gigante Adormecido não tem motivos para despertar — não quando realidade parece pior que o pior dos pesadelos.

A boa notícia, ou o que parece ser uma boa notícia, é que lideranças do Centrão decidiram tentar "baixar a temperatura" da crise. A conversa ocorreu em um jantar realizado no domingo na residência oficial de Rodrigo Maia, que quer acalmar os ânimos e seguir com os trabalhos para a aprovação da reforma da Previdência. O presidente da Câmara se diz defensor do projeto independentemente do governo, mas avalia que arregimentar votos para a aprovação não é de sua competência, mas dos líderes do governo.

Em entrevista ao Estado, Maia havia dito que o governo não tem projeto para o País além da reforma da Previdência, fez várias críticas e advertiu que o presidente Bolsonaro precisa deixar o Twitter de lado, além da “disputa do mal contra o bem”, e se empenhar para melhorar a vida da população. Até aí, não há como discordar.

Embora eu tenha aditado a postagem anterior com a informação da soltura do ex-presidente Michel Temer, vale transcrever a nota também neste post:

Contrariando as expectativas, o desembargador Ivan Athié determinou nesta segunda-feira a soltura de Michel Temer, que havia sido preso na última quinta-feira (clique aqui para ler a íntegra da decisão). O magistrado havia pedido que o caso fosse incluído na pauta de julgamento do tribunal na próxima quarta-feira, para que a decisão sobre o habeas corpus fosse colegiada, mas resolveu se antecipar: “Mesmo que se admita existirem indícios que podem incriminar os envolvidos, não servem para justificar prisão preventiva, no caso, eis que, além de serem antigos, não está demonstrado que os pacientes atentam contra a ordem pública, que estariam ocultando provas, que estariam embaraçando, ou tentando embaraçar eventual, e até agora inexistente instrução criminal, eis que nem ação penal há, sendo absolutamente contrária às normas legais prisão antecipatória de possível pena, inexistente em nosso ordenamento, característica que tem, e inescondível, o decreto impugnado”.

O MPF vai recorrer da liminar de Athié, que tirou da pauta da 1ª turma especializada em direito penal, previdenciário e da propriedade industrial do TRF-2 e determinou a soltura Temer e seus asseclas pode ser revertida mais adiante, ainda que não amanhã. Outro detalhe: Embora boa parte dos jornais tenha publicado a notícia sob o título "JUSTIÇA MANDA SOLTAR TEMER", é bom não confundir as coisas: Primeiro, porque a justiça é cega; segundo, porque quem mandou soltar o emedebista foi o presidente a 1ª Turma do TRF-2, que ficou afastado do cargo durante sete anos devido a uma ação no STJ por estelionato e formação de quadrilha (em 2004)Um inquérito contra ele, com as mesmas acusações, foi arquivado em 2008 pelo STJ a pedido do MPF, que alegou não ter encontrado provas de que o desembargador tivesse proferido sentenças em conluio com advogados. O magistrado retornou às atividades em 2011, depois que o STF trancou a ação contra ele.

Devido à síndrome do macaco, encerro por aqui. Fiquem com mais um texto brilhante do igualmente brilhante J.R. Guzzo:

Está na hora, mais uma vez, de falar algumas coisas sobre as guerras sem pausa, sem cavalheiros e sem regras a que o público pode assistir nestes tempos de cólera descontrolada entre os meios de comunicação e o governo do presidente Jair Bolsonaro. É o caso de indagar: será que o leitor já não está enjoado de continuar ouvindo a mesma ladainha? A única opção disponível, enquanto não se consegue uma resposta decente para a pergunta, é ir adiante — não vale fazer de conta que está tudo bem, pois nada está bem. Na verdade, nunca esteve tão mal, e quem paga o preço é o cidadão que sustenta as duas partes, governo e imprensa. Ele teria o direito de ser informado sobre como o seu país está sendo governado. Não é o que acontece. O que lê, ouve ou vê na mídia só está servindo para lhe mostrar que os dois lados não estão aí para explicar, mas para se detestar — e parecem perfeitamente satisfeitos em continuar assim.

É cansativo, e principalmente inútil, ficar queimando válvula na tentativa de explicar quem está com a razão. Para quê? Bolsonaristas e comunicadores acreditam que estão certíssimos, e a última coisa que querem ouvir nesta vida é alguma modalidade de argumento racional. Além disso, tanto faz — as realidades, como sempre, se encarregarão de mostrar quem acertou e quem errou. Nas próximas eleições, daqui a dois e a quatro anos, os eleitores vão tomar a única decisão que realmente importa — vão reeleger as forças do governo, caso achem que Bolsonaro está fazendo um bom trabalho, ou mandar todos para o olho da rua, caso achem que o seu trabalho foi ruim. Essas decisões serão tomadas em cima de resultados concretos, que a população possa perceber; o resto é conversa fiada, neurastenia e pesquisa de opinião. A mídia, do seu lado, estará com a razão se tiver, neste mesmo período, aumentado o seu público pagante; estará errada se continuar perdendo leitores, ouvintes e espectadores.

O pior dos mundos, de qualquer forma, é a briga de rua na qual se vive hoje. É uma dessas situações que não têm nada de bom, de um lado, e têm tudo de ruim, de outro — e coisas assim, como mostra a experiência, têm as melhores perspectivas de continuar exatamente como estão. O que se pode dizer, neste momento, é que o governo faria um grande favor a si próprio, e provavelmente aos governados, se pusesse na cabeça de uma vez por todas que os meios de comunicação deste país odeiam o presidente da República, seus ministros, seus generais, seus programas, seus valores, suas crenças, seus defeitos e suas virtudes; odeiam, sobretudo, que cerca de 60 milhões de eleitores tenham colocado Bolsonaro na Presidência por estarem a favor das posturas que ele defende. Quando a coisa fica assim, não tem mais conserto. Game over. Se Bolsonaro descobrir a cura do câncer, amanhã ou depois, a mídia vai ficar contra; ainda não sabe direito como faria um negócio desses, mas com certeza acabará encontrando um jeito de fazer.

Esse espírito de guerra religiosa que se desenvolveu dentro da mídia é formicida puro. Está na cara, entre outros efeitos tóxicos, que, agindo como têm agido em relação ao governo, os meios de comunicação abrem uma avenida inteirinha para serem acusados de uma coleção completa de pecados mortais. A mãe de todos eles, no fundo, talvez seja a hipocrisia — a tentativa de mostrar que está apenas cumprindo o seu dever de informar e opinar, quando muitas vezes falsifica ambas, informação e opinião, com o propósito de fazer oposição política. Não dá para negar, com base na observação dos fatos, que a imprensa brasileira de hoje está decidida a não mudar de ideia e não mudar de assunto; acha que o governo está sempre errado, em tudo, e que o único interesse do público é ficar ouvindo isso todos os dias. Há, comprovadamente, a divulgação de notícias coladas a suposições sem fundamento, conclusões fantasiosas e interpretações sem pé nem cabeça. Utiliza-se todos os dias o expediente de chamar “especialistas” para dizer, a respeito de qualquer coisa, unicamente aquilo que os jornalistas querem que seja dito.  Há as mentiras, enfim — publicadas de propósito ou, então, por negligência, imperícia ou imprudência. Uma criança de 10 anos de idade sabe mentir. Por que raios uma pessoa crescida não mentiria —  só porque trabalha na imprensa? Ah, vai. Em todo caso, por um caminho ou por outro, fica evidente a existência de um generalizado, banal e agressivo descaso pela verdade.

O fato, comprovado pela memória digital onde tudo se grava, é que a mídia nacional resolveu participar da campanha eleitoral de 2018 tomando partido contra a candidatura de Bolsonaro – e contra a maioria do público, também. Perdeu as eleições, já que o eleitorado decidiu fazer precisamente o oposto do que os comunicadores queriam que fizesse. A essa altura, em vez de parar um pouco para perguntar se não havia nada a corrigir no roteiro seguido até ali, a imprensa dobrou a aposta. Ficou ainda mais brava do que já estava durante a campanha; desde a eleição, trata o governo Bolsonaro como ilegítimo. Não há sinais de que nada disso vá mudar nos próximos quatro anos.

Um exemplo que talvez ajude a entender melhor as coisas é a convicção, manifestada por Bolsonaro e muitos dos seus seguidores, de que a mídia deveria estar cobrando quem é o mandante da tentativa de assassinato que quase o matou no final da campanha eleitoral. Acham que o seu caso merece tanta atenção, pelo menos, quanto o da vereadora Marielle. O presidente pode esperar sentado; não vai rolar. Na opinião da imprensa, não há mais nada a perguntar sobre o assunto. A polícia já não disse que o criminoso é um débil mental que agiu sozinho? Pois então: qual é a dúvida? Se a polícia falou, está falado. Além disso, há os “laudos técnicos”, que garantem que o homem não deve nem ser julgado, pois não tem culpa nenhuma pelo que fez, coitado. Laudo de peritos, na tradição da Justiça brasileira, é algo que se compra como um pastel de feira, mas tudo bem. O nosso jornalismo investigativo também não é de ferro; não vai sair por aí procurando coisas que não gostaria de encontrar.

É por histórias como essa que o governo se acha na obrigação de dar o troco. Em sua maneira de ver as coisas, Bolsonaro e parte do seu sistema de apoio acham que é indispensável reagir. Não se ganha uma guerra com retiradas, não é mesmo? Além do mais, estão convencidos de que brigar com a imprensa dá cartaz junto ao eleitorado; deu certo na campanha e, portanto, vai dar certo de novo. “O Trump” não faz assim? Etc. etc. etc. Só que nada disso vai resolver a vida de ninguém. A obrigação do governo é governar, e não demonstrar que a imprensa está errada; seu dever é ser aprovado pela população, e não pelos jornalistas. A imprensa é ruim? Problema dela. A questão toda, na verdade, é bem simples. Basta levar em consideração que a imprensa não tem nenhuma obrigação legal de ser boa, ou equilibrada, ou de dizer a verdade; o que está dito na lei, apenas, é que tem de ser livre. Ou se convive com esse princípio, ou não há jogo. Quem tem de julgar a qualidade da mídia, e decidir se vale a pena pagar pelo seu conteúdo, é o público — e o governo pode ter certeza que ele está fazendo exatamente isso. Trata-se de um juiz muito mais cruel do que os bolsonaristas imaginam; quando pune um veículo, vai embora e não volta nunca mais. Não há salvação para quem é condenado.

Bem que o presidente poderia se contentar com isso.

AINDA SOBRE O USO EXCESSIVO DO HDD E COMO DESAFOGAR O DISCO COM UMA SEGUNDA PARTIÇÃO (QUINTA PARTE)


CHI FA DA SÈ, FA PER TRE.

Se você achou complicado usar o Gerenciamento do Disco para particionar seu drive de disco, o MiniTool Partition Wizard é mel na chupeta. Só tenha em mente que o “pré-operatório” sugerido nas postagens anteriores deve preceder a cirurgia, sempre, use você o centro cirúrgico nativo ou o agregado. Dito isso, vamos em frente.  

Baixe Mini-Tool Partition Wizard Free a partir do site do fabricante, salve os arquivos de instalação na sua área de trabalho, de um clique duplo sobre o ícone respectivo e proceda à instalação do programa da maneira convencional. Para saber como usar o programa, o tutorial em inglês pode ser acessado a partir deste link, mas você pode também se orientar pelo passo-a-passo a seguir:

— Na tela inicial do app, dê um clique direito sobre o drive a ser particionado e selecione a opção Move/Resize (mover/redimensionar). No campo Partition Size (tamanho da partição), defina o tamanho da nova partição (digitando o valor na caixa correspondente ou usando o mouse para arrastar a extremidade direita da barra). Ao final, clique em OK.

ObservaçãoO programinha não permite que a partição seja reduzida a ponto de se tornar insuficiente para conter os dados que já estão gravados (o espaço ocupado é exibido em amarelo na barra da ferramenta), mas é importante que, ao dividir o espaço, você deixe uma boa sobra na partição do sistema, não só para permitir a execução do Defrag, mas também para instalar novos aplicativos de uso frequente. Caso a ideia seja usar a nova partição para instalar outro sistema operacional em dual-boot, altere, em Create as:, o tipo de partição para Primária; se for usar a partição apenas para armazenar arquivos, mantenha a configuração padrão. Se for criar mais unidades (o limite é de 4 primárias ou 3 primárias e uma estendida), altere o tipo de partição para Estendida e torne a executar o MiniTool.

— A barra acinzentada que aparece na janela do Mini-Tool, à direita da partição que você redimensionou, corresponde ao espaço não alocado (unalocated). Clique  ali, selecione a opção Create (criar) e clique em OK na janela Create New Partition (criar nova partição). Uma nova partição lógica será criada e identificada por uma letra que varia conforme os drives instalados no computador. Se você tiver apenas o HDD, que, por padrão, é identificado como C:, a nova partição receberá a letra D (mais detalhes na postagem anterior).

— No canto superior esquerdo da próxima tela, clique no botão Apply (aplicar) para que as alterações sejam efetivadas. O programa recomenda fechar todos os aplicativos e desabilitar a economia de energia antes de prosseguir; faça-o e responda Yes (sim) à pergunta Apply Changes? Se quiser desistir do particionamento, a hora é agora: clique em No (não) e encerre o aplicativo.

— Se for seguir adiante, clique em Yes. Na mensagem dando conta de que as alterações não podem ser levadas a efeito porque o drive C: está sendo usado, clique em Restart Now (reiniciar agora). Uma nova tela o instruirá a não desligar o computador e informará que o sistema será reiniciado automaticamente após a conclusão do particionamento. Enquanto espera, você pode acompanhar a evolução do processo através das barras de progressão.   

Se tudo correr bem, em alguns minutos seu PC será reiniciado com as modificações efetivadas. Clique em Iniciar > Configurações > Este Computador e confira o resultado.

Agora o seu HDD está dividido, mas, como no caso do particionamento feito com a ferramenta nativa do Windows, ainda é preciso formatar a partição recém-criada com o sistema de arquivos (FAT32 ou NTFS), que permitirá ao Windows “enxergar” e gerenciar o novo volume. O procedimento é simples e pode ser feito tanto com o Gerenciamento do Disco quanto com o Mini-Tool Partition Wizard. Para evitar repetições desnecessárias, sugiro reler a postagem anterior e seguir as instruções ali expostas.

O resto fica para a próxima postagem. Até lá.

segunda-feira, 25 de março de 2019

A REFORMA DA PREVIDÊNCIA, OS FILHOS DO PRESIDENTE E A NAU DOS INSENSATOS


Se a popularidade de Jair Bolsonaro está em declínio, como afirma o Ibope (detalhes na postagem da última sexta-feira), isso se deve em grande parte à ingerência da “família real”: três dos filhos do presidente têm mandato, mas insistem em palpitar no governo federal, e o caçula, de apenas 20 aninhos, já se mostra promissor.

Flávio, o zero um, se notabilizou pelas suspeitas de mensalinho em seu gabinete na Alerj, e a exemplo de seu ex-assessor e factótum da família, Fabrício Queiroz, apresentou diversas “explicações plausíveis” para as irregularidades apontadas pelo Coaf, mas nenhuma delas convenceu ninguém além dos bolsomínions. O senador ainda tentou se escudar sob o foro especial, mas foi abatido em seu voo de galinha pelo ministro Marco Aurélio — o magistrado adiantou que o pedido teria como destino a lata do lixo, e tão logo terminou o recesso do Judiciário, no dia 1ª de fevereiro, determinou que as investigações ficassem a cargo do MP-RJ. Na semana passada, Flávio e seu partido apresentaram à Corregedoria-Geral do Ministério Público representações disciplinares contra o MP-RJ, alegando atuação irregular dos procuradores. Seria mais ou menos como atirar no mensageiro por trazer más notícias.

Carlos, o zero dois, especializou-se em tuitar vitupérios contra inimigos reais e imaginários e em derrubar desafetos — como Gustavo Bebianno, a quem chamou publicamente de mentiroso (o pelotão de choque palaciano cortou um dobrado para evitar que o ex-ministro revolvesse em público as entranhas da campanha presidencial, da qual ele havia sido coordenador). Carluxo vereador na Câmara Municipal do Rio, mas não sai de Brasília, de onde comanda (não sei se oficial ou informalmente) as redes sociais do papai presidente. Rodrigo Maia desconfia que ele seja o mentor dos ataques que passou a sofrer nas redes sociais, o que é ruim, pois parece que relação entre o presidente da Câmara e o chefe do Executivo desandou feito maionese batida com ovo gelado (detalhes mais adiante).

Eduardo, o zero três, que, como o pai, é fã de carteirinha de Donald Trump, foi promovido informalmente a chanceler durante a visita oficial aos EUA. Em entrevista ao jornal O Globo, disse ser uma pessoa interessada em relações exteriores e negou que tenha ofuscado Ernesto Araújo, atribuindo à imprensa uma tentativa de desviar o foco do “sucesso” que foi a viagem e de tentar desunir o “clã”. Disse também que "de alguma forma será necessário usar força" para que Nicolás Maduro deixe governo — eu também acho, mas isso não significa que o Brasil tenha de se envolver militarmente nessa crise. O presidente voltou a dizer que não apoia uma intervenção militar na Venezuela. "Tem gente divagando, tem gente sonhando. Da nossa parte, não existe essa possibilidade". Mais tarde, em entrevista à imprensa brasileira, zero três afirmou que a manchete do jornal chileno foi exagerada e que ele não fez nada além de repetir a posição do presidente Donald Trump.  

Jair Renan, o zero quatro, é o mais jovem e menos conhecido do Clã, mas já criou uma saia­-justa para o pai por ter namorado a filha do PM reformado Ronnie Lessa, apontado como executor da vereadora Marielle Franco (Lessa mora no mesmo condomínio em que Bolsonaro morava antes de se mudar para o Planalto, mas o presidente disse que não o conhece), e outra ao postar no Instagram fotos e vídeos fazendo treinamento de tiro.

Observação: A afinidade dos Bolsonaros com armas de fogo não é nenhuma novidade, e o fato de o filho caçula seguir a manada não teria nada de mais se seus instrutores não fossem agentes da PF e o local das aulas, a Academia Nacional de Polícia em Brasília, cujas instalações são privativas para policiais. Zero quatro morava em Resende (RJ) com a mãe até o fim de 2018, mas se mudou para Brasília para ficar perto do pai. Pelo visto, o garoto promete.

“O bom político costuma ser mau parente”, dizia Ulysses Guimarães. No governo atual, porém, questiúnculas domésticas são frequentemente confundidas com questões de Estado. O presidente eleito parece ser o mandatário de direito, mas o poder de fato é exercido por seus filhos. Como se não bastasse, o presidente da Câmara e o ministro da Justiça “se estranham”, zero dois dispara farpas contra ele, e o pai se mostra mais preocupado em tomar partido nessa guerra de egos do que em serenar os ânimos e focar a reforma previdenciária.

No Chile, sem citar Maia nominalmente, o presidente culpou a velha política pelos entraves na aprovação da PEC. Maia retrucou que Bolsonaro precisa dizer o que é a nova política e assumir ele próprio a articulação para a aprovação da reforma “em vez ‘terceirizar’ a tarefa”. Disse também que só voltaria a agir pelas tramitações depois que o presidente se apresentasse para tratar da situação. Num coletiva de imprensa, Bolsonaro comparou o comportamento do deputado ao de uma namorada: "Você nunca teve uma namorada? E quando ela quis ir embora você não conversou? Estou a disposição do Rodrigo Maia para conversar com ele", disse. Maia, depois de ter dito que a página da disputa estava virada, respondeu que não precisa se encontrar com ninguém, que cabe ao governo conseguir os votos necessário para a aprovação do projeto de reforma, que continua como grande defensor da proposta e que vai defendê-la na Câmara, mas que o papel de formar maioria é do governo e dos ministros. "Vou pautar (a reforma) quando o presidente disser que tem votos para votar. A responsabilidade do diálogo com os deputados daqui para frente passa a ser do governo. É ele que vai negociar com os deputados. A reforma da Previdência continua sendo a minha prioridade, mas essa responsabilidade de articular com os deputados para construir uma base sólida é do presidente da República, não do presidente da Câmara. Ele tem que articular diretamente, chamar os presidentes dos partidos, as bancadas, ou chamar e ver no que dá".

Salta aos olhos que, a despeito de todas as negativas, essa rusga pôs em risco a articulação da PEC, assustou o mercado e reduziu o otimismo de analistas políticos e econômicos com a aprovação daquela que é a considerada a mais importante das reformas. Na semana passada, o Ibovespa, que havia superado a marca história dos 100 mil pontos, desabou mais de 5% (só na última sexta-feira a queda foi de 3,1%). O presidente da CCJ da Câmara só deve anunciar o nome do relator da reforma na comissão depois da ida de Paulo Guedes ao colegiado, que está marcada para amanhã. Os parlamentares esperam que ele detalhe a PEC e explique melhor o projeto de lei que afeta os militares. Isso certamente não ocorreria se o governo estivesse articulado, mas o péssimo ambiente político dos últimos dias pôs em xeque a capacidade do Planalto de garantir a aprovação da reforma.

Citando a frase “Ave Caesar, morituri te salutant”, o jornalista Alon Feuerwerker sugere que o Planalto espera que os deputados votem medidas impopulares e morram nas eleições. Na sua avaliação, o presidente, surfando no clamor por uma “nova política”, distribuiu os cargos entre os dele e não dividiu poder com mais ninguém. Mas se os gladiadores romanos não tinham opção além obedecer ao imperador e torcer para sobreviver até a luta seguinte, os parlamentares têm a alternativa de simplesmente não fazer o que o governo deseja e esperar o tempo passar. A boa vontade é limitada, o que introduz um vetor de fragilidade potencial que começa a se manifestar nas pesquisas de popularidade. 

Governos sem base própria enfrentam risco maior de colapso quando a popularidade declina além de um patamar, até porque os políticos são dotados de olfato sensível para o cheiro de sangue na água. Bolsonaro abre múltiplas frentes de atrito e é visto como mal menor por boa parte do establishment. Então, basta esperar a hora em que o governo vai precisar de apoio. A nova administração vem abrindo espaço inédito para referências religiosas, particularmente cristãs. Talvez fosse o caso de a turma dar uma folheada na Bíblia e estudar a interpretação de José para o sonho do Faraó com as vacas gordas e as magras.

Enfim, há quem diga que esse ambiente hostil será superado. “Faz parte do jogo. Maia está tentando se posicionar e ganhar um pouco mais de voz e espaço neste momento. É fundamental que o presidente da Câmara esteja na articulação e Bolsonaro sabe disso. É claro que é um ruído desnecessário e que causa volatilidade, mas as pessoas se esquecem de como foram os outros processos de mudanças na Previdência. Mesmo com esses últimos dias, acho que haverá pouca desidratação da proposta e que grande parte do texto original vai passar”, ponderou o economista da PUC-Rio José Marcio Camargo. Tomara que ele esteja certo.

Bolsonaro fará uma reunião nesta segunda-feira com os ministros Onyx Lorenzoni, Paulo Guedes, Santos Cruz e Augusto Heleno para discutir a crise política na relação entre o Executivo e o Legislativo. Tomara que o bom senso prevaleça.

ATUALIZAÇÃO: Contrariando as expectativas, o desembargador Ivan Athié determinou nesta tarde a soltura de Michel Temer, preso desde a última quinta-feira (clique aqui para ler a íntegra da decisão). O magistrado havia pedido que o caso fosse incluído na pauta de julgamento do tribunal na próxima quarta-feira, para que a decisão sobre o habeas corpus fosse colegiada, mas resolveu se antecipar: “Mesmo que se admita existirem indícios que podem incriminar os envolvidos, não servem para justificar prisão preventiva, no caso, eis que, além de serem antigos, não está demonstrado que os pacientes atentam contra a ordem pública, que estariam ocultando provas, que estariam embaraçando, ou tentando embaraçar eventual, e até agora inexistente instrução criminal, eis que nem ação penal há, sendo absolutamente contrária às normas legais prisão antecipatória de possível pena, inexistente em nosso ordenamento, característica que tem, e inescondível, o decreto impugnado”.