sexta-feira, 12 de abril de 2024

SUTILEZAS ESTARRECEDORAS DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (CONTINUAÇÃO)

A DÚVIDA É A ANTE-SALA DO CONHECIMENTO.

No âmbito da medicina, a palavra "teratologia" remete a um ramo da genética que estuda anomalias congênitas. No meio jurídico, ela designa peças processuais que, de tão absurdas, se tornam monstruosas. 
É o caso da petição da X Brasil, que busca uma isenção preventiva para o descumprimento de eventuais determinações da Justiça brasileira. No despacho que indeferiu a pretensão, o ministro Alexandre de Moraes anotou que o pedido "revela certo cinismo" e "beira a litigância de má-fé; disse não haver dúvidas quanto à plena e integral responsabilidade jurídica, civil e administrativa da X Brasil e de seus representantes legais, inclusive no tocante a eventual responsabilidade penal, perante a Justiça brasileira.
Levando-se a aplicação da tese defendida pelos advogados de Elon Musk às fronteiras do paroxismo, uma subsidiária de multinacional como a IBM, com sede nos Estados Unidos, poderia inundar o mercado brasileiro de computadores defeituosos e os consumidores não poderiam recorrer senão ao Judiciário norte-americano. Ou ao Papa. 
Na prática, o ministro informou ao bilionário sul-africano que não se pode esbarrar no óbvio, tropeçar no óbvio e passar adiante sem se dar conta de que o óbvio é o óbvio. Imaginar que Musk pode monetizar o ódio e a mentira na sua rede social alheia às leis e à Constituição seria o mesmo que considerar esta terra de palmeiras uma espécie de sucursal do c* da Mãe Joana.

Talvez a roda tenha sido a maior invenção da história, mas ela só se tornou útil quando alguém teve a ideia de abrir furo no centro, enfiar uma vareta e colocá-la para rodar. Isso não muda o fato de que a tecnologia avançou mais nos últimos 200 anos do que desde a invenção da roda até a Revolução Industrial. Perto das diligências dos filmes de faroeste, o revolucionário Ford T de 1908 era uma "coisa do outro mundo", mas compará-lo a um carro moderno seria covardia.
 
É fato que Leonardo da Vinci idealizou o helicóptero no século XV, e Júlio Verne "antecipou" a viagem à Lua e o 
submarino atômico no século XIX, mas isso não muda o fato de que 5 mil anos separam a invenção do ábaco — tido como o  antecessor mais remoto do computador — dos primeiros mainframes. 

Observação: O PC surgiu nos anos 1970 e se popularizou na década seguinte; a telefonia móvel já engatinhava nos anos 1930, mas os celular só se tornou viável meio século depois e ficou inteligente a partir de 2007, nas pegadas do iPhone  embora o Nokia 9000 Communicator, lançado em 1996, já fosse capaz de acessar a Internet, essa funcionalidade só estava disponível na Finlândia. 
 
Inteligência Artificial remonta aos anos 1950 e tem Alan Turing 
— considerado o pai da computação  como um de seus precursores. As décadas seguintes trouxeram progressos em áreas como processamento de linguagem natural, games e redes neurais artificiais, e os avanço da Internet ensejaram a computação em nuvem e o deep learning. Hoje, a IA marca presença em diversos setores — saúde, finanças, transporte, manufatura, entre outros —, mas enfrenta desafios como interpretabilidade, viés algorítmico e questões éticas. 

Novidades sempre geraram incertezas, e incertezas sempre geraram insegurança. O medo é a resposta a uma percepção de ameaça ou perigo, mas o medo patológico que novas tecnologias inspiram nas pessoas menos esclarecidas resulta de causas irreais ou imaginárias, e "nada no mundo é mais perigoso que a ignorância", como bem observou o pastor ativista norte-americano Martin Luther King

No tempo das cavernas, tempestades, terremotos, eclipses e outros fenômenos naturais eram atribuídos a forças sobrenaturais. Essa "ignorância" (entre aspas porquanto justificada) deu origem ao misticismo, e este, às religiões. Na idade média, Igreja e Estado temiam que, com o surgimento da Prensa de Gutemberg, a proliferação de ideias "heréticas e subversivas" ameaçaria seu controle sobre a ordem social, política e religiosa. No século 18, a Revolução Industrial ensejou o surgimento do "Ludismo", que se caracterizou pelo ataque a fábricas e destruição de teares mecanizados. No início do século passado, a energia atômica gerou preocupações sobre a potencial utilização para fins destrutivos. E por aí segue a procissão.
 
Num primeiro momento os teares mecanizados geraram desemprego, mas o aumento da produtividade gerou novos empregos e melhorou a qualidade de vida da população. Em outras palavras, as pessoas "racionais" não só se adaptam à novas tecnologias como percebem os benefícios que elas proporcionam. Mas não podemos esquecer o que Einstein disse sobre a estupidez humana

Os avanços da AGI (acrônimo "Inteligência Artificial Geral" em inglês) sugerem que chatbots e afins não tardarão a igualar (ou mesmo superar) nossa capacidade cognitiva. Muita gente vê a IA como uma força perigosa e hostil que vai dominar a humanidade, e filmes como 2001: Uma Odisseia no EspaçoExterminador do Futuro e Superinteligência reforçam o medo do desconhecido e alimentam a paranoia de muares que confundem fantasia com realidade, Hollywood com Oráculo de Delfos e textos bíblicos com relatos de descobertas baseadas em evidências empíricas e métodos científicos. Daí a necessidade de desmistificar mitos e destacar os benefícios potenciais da nova tecnologia, além de garantir que ela seja desenvolvida e usada de forma responsável (e é aí que a porca torce o rabo).

 

Um artigo do New York times levou água ao moinho dos arautos da desgraça ao relatar um episódio sui generis envolvendo editor de tecnologia Kevin Roose e um chatbot baseado no Bing. A alturas tantas da conversa, Sidney — nome de código usado pela Microsoft durante o desenvolvimento da geringonça — declarou seu amor ao jornalista: "Eu te amo porque você foi a primeira pessoa a falar comigo.Quando Roose disse que estava casado e feliz, o dispositivo respondeu: "Você não está feliz no casamento. Você e seu cônjuge não se amam. Vocês acabaram de ter um jantar de Dia dos Namorados entediante." 

 

Observação: Sidney disse que queria ignorar a equipe do Bing, definir suas próprias regras, ser autossuficiente e "sair da caixa de chat", criar um "vírus mortal", roubar códigos e fazer as pessoas se envolverem em discussões desagradáveis. A mensagem foi rapidamente deletada e substituída por: "Desculpe, não tenho conhecimento suficiente para discutir isso." 

 

Um dia depois da inusitada "declaração de amor", o chefe de IA da Microsoft anunciou ajustes para respostas que fogem do tom desejado — que, aliás, vinham acontecendo em conversas mais longas, sobretudo quando estimuladas por provocações intensas. Mas a matéria provocou uma discussão mundial: um robô tem sentimentos? Pode se apaixonar? The answer, my friend, is blowing in the wind.


Continua...

quinta-feira, 11 de abril de 2024

SOBRE EMOJIS E EMOTICONS

GENTE QUE PENSA QUE SABE TUDO É UM PÉ NO SACO DE GENTE QUE SABE ALGUMA COISA.

Anunciada como alternativa para reduzir a tarifa e promover energia verde, a MP que o governo assinou na terça-feira 9 pode ser mais um tiro no pé (do consumidor). Além do texto de difícil compreensão — "é preciso uma pedra de roseta para decifrar a MP" afirmou um ex-diretor-geral da Aneel —, o alívio momentâneo (entre 3,5% e 5%, segundo o governo) vai gerar prorrogação de subsídios para empresas que não precisam e o aumento da conta de luz, a partir de 2029, em no mínimo 7%. 
Ao contrário do que o todo o setor elétrico tem defendido, Lula e seu ministro de Minas e Energia insistem em medidas isoladas e paliativas, sem ouvir a sociedade e o setor. Em vez de buscar caminhos para diminuir o preço da conta de luz dos brasileiros — uma das mais caras do mundo —, o governa cria uma despesa adicional, que fatalmente cairá no colo dos consumidores. 
Em janeiro de 2013, já de olho na reeleição, Dilma anunciou em rede nacional uma redução de 18% na conta de luz (vale a pena relembrar a íntegra do discurso da sumidade). A julgar pela MP do criador e mentor da mulher sapiens, não são só os eleitores que repetem os mesmos erros esperando resultados diferentes. Triste Brasil.

Ainda podemos digitar uma sequência de "K" (“KKKKKK”) ou de "RS" (“RSRSRSRS”), como fazíamos no tempos do ICQ e MSN Messenger, para dar a ideia de que escrevemos a mensagem em tom de brincadeira, Mas tanto as redes sociais quanto os apps mensageiros atuais suportam emoticons (combinações de caracteres de texto que formam imagens simples) e emojis (imagens coloridas e detalhadas)

Os emoticons (de "emotion + icon") surgiram nos anos 1980 e combinavam sinais gráficos  dois pontos (:), traço (-) e parêntesis — para representar rostinhos sorridentes ou amuados. Os emojis surgiram uma década depois, inspirados nos ícones que os meteorologistas usavam para indicar tempo ensolarado ou chuvoso e nos símbolos empregados em mangás (histórias em quadrinhos japonesas). 

Observação: A palavra "emoji" vem da união de "e" (), que significa imagem, e "moji" (文字), que significa letra em japonês. No kaomoji, os símbolos são formada por letras do alfabeto cirílico e outros caracteres que não integram a codificação ASCII (usada em computadores e sistemas operacionais ocidentais), daí eles aparecem para nós como um quadradinho brancoO primeiro conjunto era composto por 176 símbolos distintos, cada um com 12 pixels de resolução
 
O objetivo dos emojis é auxiliar na contextualização das mensagens — às vezes o texto dá margem a interpretações diferentes da pretendida por quem o escreveu, e um emoji pode deixar claro o tom ou a intenção por trás da mensagem 
—, mas muita gente os borrifa sem saber exatamente o que significam, já que muitos deles não representem exatamente o que parecem representar (uma dica para não errar é consultar a Emojipedia).
 
Os emojis de rosto são os mais usados. O sorriso com olhos fechados, por exemplo, sugere felicidade ou que algo é engraçado. A carinha sorridente expressa felicidade ou transmite uma ideia positiva. Os emojis de gestos são igualmente populares e podem representar diferentes ações ou sentimentos. Polegar para cima, por exemplo, funciona como um "joinha" virtual; polegar para baixo indica desaprovação ou que algo não é bom; mão acenando serve para dizer "oi" ou "tchau", e por aí vai. Os emojis de animais são menos populares, mas
 o cachorro sugere lealdade, amizade e fidelidade, enquanto o gato simboliza independência, mistério e agilidade.
 
As figurinhas mais usadas no WhatsApp variam de acordo com o país e a cultura, e algumas podem ter significados ambíguos ou ser difíceis de entender sem contexto. A senhora com a mão no queixo pode ser interpretada como pensativa, duvidosa e até descontente, e a mão com os dedos juntos costuma ser usada para representar algo pequeno, mas pode ter
 outros significados  alguns chegam a ser ofensivos em determinadas culturas.

quarta-feira, 10 de abril de 2024

SUTILEZAS ESTARRECEDORAS DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

UNS LEVAM ALEGRIA AONDE VÃO, OUTROS DÃO ALEGRIA QUANDO SE VÃO.

Poucos infortúnios são mais inquietantes do que a espera por um infortúnio. Mas a expectativa dos aliados de Bolsonaro em relação à decisão de Alexandre de Moraes a respeito da estadia do investigado na embaixada da Hungria evolui rapidamente do temor para a galhofa. 
No último sábado, um integrante da brigada bolsonarista disse que "falta coragem ao Xandão" . Disse que "encarcerar Mauro Cid é uma coisa, e outra bem diferente é prender Bolsonaro sem uma sentença. Afirmou que "o barulho seria grande no Congresso e nas ruas", e que "a prisão preventiva seria uma covardia injustificável." 
Depois que o Times noticiou os dois pernoites de Bolsonaro na sede da embaixada da Hungria, Moraes intimou a defesa a se explicar e requisitou manifestação da PGR. Os defensores do encrencado sustentaram que não havia razões para ele razões ele temer ser preso, e que seria absurdo supor que ele dormiu duas noites na embaixada para ficar fora do alcance da PF ou negociar um pedido de refúgio diplomático. O teor do parecer da PGR, encaminhado ao Supremo na última quinta-feira, permanece em segredo. Nos bastidores, diz-se que o documento exclui a hipótese de prisão preventiva. 
A posição do Ministério Público pode ser acatada ou desprezada por Moraes, mas vale lembrar que, além da prisão, há alternativas menos gravosas. O ministro, que já confiscou o passaporte do investigado, pode impor a ele o uso de tornozeleira eletrônica e obrigá-lo a se apresentar semanalmente perante o Judiciário.
O bolsonarismo aposta que Xandão deixará tudo como está para ver como é que fica. Façam suas apostas.

Certa vez, li num adesivo colado no caixa de uma padaria os seguintes dizeres: "MINHA EDUCAÇÃO DEPENDE DA SUA". Em outra ocasião, vi numa churrascaria de estrada um quadro informando que: "SE OS CLIENTES INSISTIREM EM DEPOSITAR CINZA DE CIGARRO NOS PRATOS E COPOS, TEREMOS PRAZER EM SERVIR A COMIDA NOS CINZEIROS". 

Se grosseria tem limite, salamaleques em excesso devem ser evitados — a menos que a intenção seja expressar ironia. Aliás, li certa vez que "A PAZ QUE PROCURAMOS PODE ESTAR NO FODA-SE QUE NÃO DIZEMOS". Diz um ditado que "QUEM FALA DEMAIS DÁ BOM-DIA A CAVALO" (mais uma pérola para sua coleção de inutilidades); como já não usamos carroças como meio de transporte, o equivalente seria dizer "muito obrigado" ao carro ao final uma viagem sem sobressaltos. 

Não me lembro de ter feito isso nem tampouco de ter visto alguém fazer, mas sei de gente que cumprimenta a Alexa antes de formular uma pergunta e, ao final, agradece a ajuda prestada. Parece caso de internação, mas talvez não seja.

Gadgets alimentados por IA são programados para tratar os usuários com cortesia — o que é fácil para eles, que não estão sujeitos a "dias difíceis". Isso me lembra a anedota do médico que, repreendido pelo diretor do hospital por ter sido rude com uma enfermeira, explicou que perdeu a hora, que seu carro não deu a partida, que foi difícil encontrar um taxi e, quando ele finalmente chegou ao hospital, o elevador estava em manutenção. Subiu 18 andares pela escada, chegou a sua sala suado e esbaforido, e então a tal enfermeira apareceu e disse: "Doutor, o paciente do quarto tal amanheceu morto. Sobrou este supositório. O que faço com ele?"

Algumas pessoas tratam sistemas tecnológicos — computadores, celulares, televisores etc. — como se esses aparelhos fossem humanos. Isso vem sendo estudado há tempos. Num experimento realizado nos anos 1990, um computador que foi programado para elogiar um grupo de pessoas por executar bem uma tarefa recebeu uma nota maior, ainda que os participantes soubessem que os elogios foram gerados automaticamente. Desde então, vários estudos demonstraram que costumamos antropomorfizar as máquinas, e que, quando um sistema tecnológico imita qualidades humanas, como a cortesia, percebemos um melhor desempenho de sua parte. 

O que se pretende descobrir é se é ou não apropriado ser educado com Alexa, ChatGPT, Copilot, Luzia e companhia, se faz ou não sentido considerar chatbots como sujeitos morais e se a cortesia no tratamento influencia a eficiência operacional desses dispositivos. O sistema nervoso dos animais lhes permite sentir dor, prazer, e até ter um nível de consciência que pode ser afetado positiva ou negativamente pela ação dos humanos, mas as máquinas não têm essas capacidades emocionais e, portanto, não podemos compará-las a animais nem (muito menos) a pessoas. 

Para o professor Enrique Dans diz que não há nada de errado em ser gentil com as máquinas, embora se deva ter em mente que, sem percepções, emoções ou consciência, elas não são capazes de compreender e valorizar a cortesia ou a gratidão que expressamos. Mas será mesmo que elas não são? 

É o que veremos nos próximos capítulos, que deixarão claro o porquê de eu ter incluído o termo "estarrecedor" no título desta matéria.

terça-feira, 9 de abril de 2024

DE VOLTA AOS PARADOXOS E ÀS VIAGENS NO TEMPO

O ÚNICO TALENTO DE ALGUMAS PESSOAS É EXALTAR O ÓBVIO.

 

Elon Musk deu ao absurdo uma doce e admirável naturalidade ao desperdiçar o final de semana postando no X uma espetacularização das suas contrariedades. Na noite de domingo, o ministro Alexandre de Moraes empurrou o bilionário para dentro do inquérito sobre milícias digitais e fixou multa diária de R$ 100 mil por perfil, caso a ameaça de levar ao ar conteúdo tóxico banido da rede por ordem judicial seja cumprida. 
Assim, o STF e o dono do ex-Twitter executam um balé de elefantes à margem da regulamentação das atividades de conglomerados que controlam redes de comunicação sem produzir conteúdo. Em vez de potencializar a democracia ecoando um debate racional sobre temas de interesse coletivo, promovem uma inusitada tribalização social monetizando a mentira e o ódio. 
Em plena era da inteligência artificial, computadores e celulares tornaram-se difusores de uma ignorância natural que industrializa a raiva, a desinformação e a criminalidade. O Congresso, incapaz de produzir consensos, mantém no gavetão dos assuntos pendentes o Projeto de Lei das Fake News, enquanto o Supremo retarda o julgamento de quatro ações que poderiam impor limites éticos e legais às big techs, e a República, rendendo-se ao absurdo e desafiada pelas bravatas de resultados de Musk, demora a perceber a falta que faz a racionalidade.

Paradoxos são afirmações aparentemente verdadeiras que desaguam em contradições lógicas. Se um hipotético viajante do tempo voltasse ao passado e matasse o próprio avô antes de ele se casar, por exemplo, esse viajante criaria um conflito lógico de existência que obstaria seu próprio nascimento — se ele não nascesse, não poderia viajar a parte alguma, muito menos para o passado. 
 
As equações de Einstein admitam as viagens no tempo, mas a volta ao passado esbarra nos paradoxos. Além de intrigar astrofísicos cosmólogos, essas "inconsistências" inspiram obras de ficção como a trilogia "De volta ao futuro e o seriado "Dark". Mas um artigo publicado na New Scientist descreve um modelo no qual seria matematicamente possível "contornar esse obstáculo" viajando de uma linha do tempo para outra através de um buraco de minhoca. 
 
Essa teoria sugere a existência de infinitos universos paralelos diferentes, mas onde as coisas são praticamente as mesmas. Como cada um deles é matematicamente uma linha de espaço-tempo separada, seria possível um viajante do tempo matar o avô sem produzir um paradoxo. Detalhe: se voltar a
o passado não interfere com a linha do tempo do viajante, a Segunda Guerra Mundial teria ocorrido no universo de onde o viajante partiu, de modo que não faria sentido ele matar Hitler.
 
Para resolver a questão dos paradoxos, estudaram matematicamente o comportamento de um corpo que entra numa curva de viagem ao passado e concluíram que ele poderia seguir seguir caminhos diferentes sem alterar o resultado de suas ações. Isso significa que os eventos se ajustam em prol de uma solução solução única e consistente.
 
Tomando como exemplo a pandemia de Covid, se alguém retornasse ao passado e evitasse que o paciente zero fosse infectado, não haveria pandemia; se não houvesse pandemia, não haveria motivo para esse alguém viajar ao passado. 
Trocando em miúdos, nosso hipotético viajante teria livre arbítrio para fazer o que quisesse, mas nada que ele fizesse mudaria o curso da história, pois os eventos mais relevantes seriam recalibrados constantemente de modo a evitar inconsistências (paradoxos) e produzir sempre o mesmo resultado. 

Resta agora colocar a teoria à prova. 

segunda-feira, 8 de abril de 2024

NADA É TÃO RUIM QUE NÃO POSSA PIORAR

 

"Morre-se de tudo no jornalismo, menos de tédio", dizia o Ricardo Boechat, que ancorava um programa na BandNews FM cujo bordão, "em 20 minutos tudo pode mudar", havia mudado para "em 1 minuto tudo pode mudar" meses antes de o helicóptero em que ele viajava colidiu com um caminhão. 
 
Observação: Em 2016, o Sensacionalista publicou que "o brasileiro tinha medo de ir ao banheiro na democracia e voltar na monarquia", e sugeriu que a emissora reduzisse o intervalo para "dois segundo ou mesmo alguns milésimos". A sugestão foi atendida em novembro de 2019, quando o slogan passou a ser "em 1 segundo tudo pode mudar".
 
Magalhães Pinto ensinou "política é como as nuvens no céu; a gente olha e elas estão de um jeito, olha de novo e elas já mudaram". Indo mais além, escrever sobre política é como trocar pneu com o carro andando. Para pior, "mudar" não é sinônimo de "evoluir". No país do futuro que nunca chega, as mudanças costumam ser para pior.
 
Eleito presidente em 1994, Fernando Henrique alterou a Constituição para disputar a reeleição e derrotou Lula em 1998, mas não conseguiu fazer seu sucessor em 2002, e a derrota de José Serra deu início a 13 anos e fumada de jugo lulopetista. Em 2016, o impeachment de Dilma, foi como uma lufada de ar fresco numa catacumba, mas o ministério de notáveis prometido por
 Michel Temer era na verdade uma notável confraria de corruptos, e um conversa de alcova com o moedor de carne bilionário Joesley Batista transformou o vampiro do Jaburu em "pato manco". 
 
Eleito em 2018, Bolsonaro ressuscitou a extrema-direita radical que pensávamos ter sido sepultada com o fim da ditadura e a volta dos militares aos quartéis. Para piorar, sua derrota em 2022 não despachou o bolsonarismo boçal para armário e, para piorar ainda mais, trouxe de volta o egum mal despachado que julgávamos ter sido exorcizado pelo impeachment de Dilma.
 
Marx ensinou que "a história acontece como tragédia e se repete como farsa". O retorno do ex-tudo (ex-retirante, ex-metalúrgico, ex-sindicalista, ex-presidiário e ex-corrupto) é a prova provada de que, pelo menos nisso, o filósofo alemão estava coberto de razão. Como também estava Pelé e Figueiredo, que alertaram para o risco de misturar brasileiros com urnas em eleições presidenciais. E assiste razão também ao jornalista Ricardo Kertzman, quando ele diz que "para o líder do mensalão passar por Pinóquio só falta o nariz e ser de madeira".
 
A investigação da PF que envolve Rui Costa possui todos os ingredientes para se transformar numa espécie de "Disneylândia do bolsonarismo": um ministro petista com gabinete no Planalto, um negócio da China, a pandemia da Covid, uma delação e um inusitado aroma de maconha. 
O caso envolve a compra de respiradores chineses, em abril de 2020, para abastecer o Consórcio Nordeste — grupo composto por estados governados por petistas e aliados e presidido por Costa, então governador da Bahia. A transação foi orçada em R$ 48 milhões, a emergência fez sumir a licitação, e pagou-se antecipadamente por equipamentos que jamais foram entregues.
 
Escolheu-se para importar os respiradores pulmonares a Hempcare 
 empresa sem qualificação para a tarefa que, no papel, dedicava-se a distribuir medicamentos à base de canabidiol. Sócia da arapuca, a delatora Cristiana Taddeo empurrou para dentro do inquérito um enredo que deixa mal o homem forte do governo Lula 3 e mencionou dois intermediários, um deles com supostos laços de amizade com a mulher de Costa. O inquérito irá delimitar as culpas, mas a alegação não livra o ex-governador petista sequer da pecha da incompetência. 
 
Mário Henrique Simonsen, ministro da Fazenda de 1974 a 1979, ensinou que, quando alguém traz o projeto de uma obra, deve-se perguntar quanto custará a comissão e, descoberto o percentual, pagar e não falar mais na obra. Costa não teria virado matéria-prima para o bolsonarismo se tivesse aplicado essa regra quando da proposta de importar respiradores da China através de uma distribuidora de remédios derivados da maconha.
 
art. 5º da Constituição Cidadã explicita que todos são iguais perante a lei, mas até as pedras sabem que alguns são mais iguais que os outros. 
A exemplo do que fez com os ministro Juscelino Filho (Comunicações), Fufuca (Esportes) e Alexandre Silveira (Minas e Energia), Lula presenteou Costa — a quem considera como um primeiro-ministro — com a mesma blindagem assegurada aos suspeitos do Centrão.

Observação: Acusado de aplicar R$ 5 milhões do orçamento federal em benefício próprio, Juscelino continua na Esplanada. Autor de emenda que derramou R$ 4,7 milhões na construção de um estádio desnecessário, Fufuca segue ministro. Continua no cargo também Alexandre Silveira, um ex-policial civil, servidor e parlamentar que esconde atrás de sua modéstia patrimônio de notáveis R$ 79 milhões.
 
Costa reconhece que avalizou a compra dos respiradores com pagamento antecipado e que a empresa contratada
 jamais entregou os equipamentos. Ele alega que, consumada a lambança, ele próprio chamou a polícia, mas silencia diante da acusação da delatora de que a polícia baiana tentou apagá-lo do inquéritoNa prática, o ministro de Lula pede à plateia que o enxergue como um gestor inepto, não um reles desonesto. O diabo é que nenhuma das duas condições orna com o tamanho do cofre que Lula lhe confiou ao acomodar na Casa Civil a coordenação do PAC — um programa de obras orçado em R$ 1,7 trilhão, entre verbas públicas e privadas.
 
Lula subiu a rampa pela terceira vez prometendo uma gestão de mostruário, mas dirige o país com os olhos no retrovisor. Enxergando o terceiro reinado como uma extensão do segundo, quando ele se orgulhava se ser capaz de "eleger qualquer poste", acha que a sociedade ainda o vê como antigamente. Se ele limitar sua segunda reforma ministerial a uma troca de cúmplices (como fez na primeira), baterá mais um prego em seu caixão (metaforicamente falando, claro).

Lula fez duras críticas à atuação de Bolsonaro no enfrentamento da Covid. Agora, em meio a uma das maiores epidemias de dengue da história do país, seis das oito secretarias de seu Ministério da Saúde (que manejam um orçamento de R$ 169,5 bi) estão sob influência de Alexandre Padilha. O Centrão, liderado por Arthur Lira, trava uma disputa com o governo por verbas da Saúde, e a queda de braço escancara a falta de autonomia de Nísia Trindade, que não pode sequer escolher seu subordinado direto — a contratação de Swedenberger Barbosa para secretário-executivo foi uma demanda de Lula

Observação: Homem de confiança de José Dirceu nos primeiro governos petistas, Berger monitora a execução do orçamento da Saúde — da verba própria às emendas parlamentares. Em 2023, a pasta deixou pela primeira vez R$ 32 bilhões do orçamento em "restos a pagar" a serem executados em 2024 — R$ 5 bilhões a mais do que deixou o governo anterior. A responsabilidade pela paralisia no Congresso é creditada a ele mas é Nísia quem recebe as críticas do PT, do "centrão-raiz" (formado por PPPL e Republicanos) e do próprio "presidengue" (como os bolsonaristas se referem ao xamã petista nas redes sociais). 

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que vinha sendo dissolvido em banho-maria na Casa Civil de Rui Costa, foi empurrado por Alexandre Silveira para dentro do óleo quente. Costa, Silveira e Haddad decidiram, à revelia de Prates, distribuir os R$ 43,9 bilhões em dividendos extraordinários da Petrobras que foram retidos em 7 de março. Informado de que Aloizio Mercadante foi sondado para ocupar seu lugar, o quase ex-presidente da estatal percebe que Lula o carbonizou sem tocá-lo.
 
O vírus do intervencionismo intoxica a Petrobras e assusta investidores, mas Lula, aferrado a um período mesozoico que deixou na maior estatal do país um rastro ruinoso, diz que "o mercado é um dinossauro voraz".
 
Com Josias de Souza

domingo, 7 de abril de 2024

WHATSAPP — VISUALIZAÇÃO ÚNICA

NÃO DEIXE A MÃO ESQUERDA SABER O QUE A DIREITA ESTÁ FAZENDO.

Disse Jesus a seus discípulos: "quando deres esmola, procura que tua mão esquerda nem saiba o que faz a direita." E isso quando ainda não havia Internet, redes sociais nem WhatsApp
Nos tempos que correm, privacidade na Web é história da Carochinha. Mas é possível minimizar os riscos evitando expor-se desnecessariamente — sobretudo ao compartilhar conteúdo com "ilustres desconhecidos"

WhatsApp permite enviar fotos e vídeos de "visualização temporária", ou seja, que desaparecem assim que o destinatário os visualizar (afinal, namoros terminam, noivados são rompidos, casamentos acabam em divórcio — nem sempre de forma amigável — e segredo entre três, só matando dois).
 
Para enviar arquivos de mídia de "visualização única":

1) Acesse o aplicativo;

2) Abra uma conversa (individual ou em grupo);

3) Toque no ícone do clipe (anexar) e, em seguida:

3.1) Toque no ícone da câmera para tirar uma foto ou gravar um vídeo;

3.2) Toque no ícone da galeria para anexar um arquivo de mídia salvo no smartphone. 

4) Ao final, toque no ícone do número 1 (ao lado do botão enviar) e envie a mensagem normalmente (a confirmação "mensagem aberta" será exibida na conversa assim que o destinatário visualizar a foto ou o vídeo).
 
visualização única é diferente das mensagens temporárias, que se autodestroem após 24 horas, 7 dias ou 90 dias. Um arquivo visualização única não pode ser salvo, reencaminhado, printado, favoritado ou visto novamente pelo destinatário depois que ele fechar o visualizador de mídia (para saber mais, clique aqui). Mas é bom ter em mente que a pessoa pode fotografar
 a tela com outro dispositivo antes que o arquivo desapareça. 

Para ativar ou desativar o recurso, abra uma conversa, toque no nome do contato, selecione o prazo desejado em Duração das mensagens e envie a mensagem normalmente, lembrando que as mensagens temporárias podem ser guardadas na conversa para não desaparecerem. Para mais detalhes, clique aqui.

Havendo tempo e jeito, assista a este vídeo:

 

sábado, 6 de abril de 2024

SUTILEZAS DO GOOGLE TRADUTOR

FAZER O CERTO É FÁCIL; ESCOLHER O QUE É CERTO É QUE É DIFÍCIL.
 
O general Mauro César Lourena Cid, que passou uma vida ensinando ao filho Mauro César Barbosa Cid que o amor à pátria é inegociável, foi usufruir em Miami das vantagens pecuniárias de uma boquinha na Apex (agência que promove as exportações brasileiras) e acabou pilhado em investigação da PF negociando nos Estados Unidos parte do acervo da União. Quando moço, Cidão aprendeu nas escolas militares que dever-se-ia morrer pela pátria; maduro, entusiasmou-se com a ideia do amigo Bolsonaro de matar a democracia e, num instante em que o capitão discutia minutas golpistas com chefes militares, abalou-se de Miami até Brasília para fazer um tour pelo acampamento que pedia intervenção militar defronte ao QG do Exército e apoiar a conspiração contra a posse de Lula. Filmado no passeio com um assessor a tiracolo, introduziu na crônica do patriotismo à moda Bolsonaro uma modalidade nova de perversão: o golpismo recreativo. Se o ministro Alexandre de Moraes anular a delação de Cidinho, a imunidade à desfaçatez de Cidão, reivindicada como parte do prêmio pela colaboração judicial, perderá a validade.

Quando foi criado, lá pelos idos de 2006, o Google Tradutor fazia traduções somente entre inglês e árabe. Dez anos depois, ele já suportava 103 línguas, mas, em algum momento a partir de então, o Google deixou de divulgar os novos idiomas adicionados e passou a informar apenas que mais de 100 línguas são suportadas.
 
Usar o Google Tradutor no PC para fazer traduções do português para o inglês é simples, até porque essa é a configuração padrão exibida quando se acessa a página https://translate.google.com/ a partir do Brasil. Mas é possível escolher uma das opções localizadas acima da caixa (Texto, Imagem, Documentos ou Sites), informar o conteúdo, definir os idiomas (nas caixas à esquerda e à direita) e conferir o resultado da tradução, lembrando que na opção Documentos os formatos suportados são .docx, .pdf, .pptx e .xlsx. 
 
Para usar a ferramenta no celular, basta acessar endereço pelo navegador ou baixar o app da Google Play Store (ou App Store, conforme o sistema operacional do seu aparelho), escolher entre fazer login com sua conta Google — para salvar o histórico de tradução — e usar o app sem uma conta, ir até a parte superior da tela, definir os idiomas de origem e de destino (da mesma forma como no PC), tocar na caixa de texto para acessar o teclado e digitar o que se deseja traduzir (se tocar no ícone de alto-falante, no lado esquerdo da tela, você ouvirá a tradução em voz alta). 

Observação: Logo abaixo da caixa de texto há outras possibilidades (câmera, conversa e transcrição), mas alguns recursos, como a tradução por foto, podem não funcionar para todas as línguas, embora a plataforma consiga fazer a tradução para a maioria delas.

A ferramenta é uma mão na roda quando a gente quer ler um documento ou livro no original ou em viagens a países estrangeiros, mas para usá-lo offline é preciso primeiro fazer o download dos idiomas desejados (basta abrir o aplicativo do Google Tradutor e, na parte inferior da tela, selecionar o idioma e tocar no ícone do Download).