Neste domingo, pela segunda vez na nossa história ― e com um intervalo de menos de 24 anos ― o destino de um presidente da República será decidido pela Câmara dos Deputados. Se pelo menos 342 dos 513 deputados federais votarem a favor do impeachment e o Senado referendar essa decisão por maioria simples, a mulher sapiens será afastada até o julgamento do processo, quando, se condenada por pelo menos 54 dos 81 senadores, perderá definitivamente o mandato e se tornará inelegível pelos próximos oito anos. Nesse contexto o vice-presidente assumirá o cargo e concluirá o mandato da titular afastada ― se, por alguma razão, Temer não puder assumir, a linha sucessória seguirá pelo presidente da Câmara (Eduardo Cunha), do Senado (Renan Calheiros) e do STF (Ricardo Lewandowski), nessa ordem.
Que o governo Dilma tenha chegado a esse ponto já é um espanto, e que esteja correndo o risco de ter contra si os votos de 342 deputados ― um número extraordinariamente difícil de ser reunido em qualquer circunstância e, nas palavras do festejado jornalista J.R. Guzzo, “um fenômeno privativo de presidentes em estágio terminal de desmanche”.
Causa espécie o fato de Dilma ter chegado até aí, já que para sofrer um impeachment não basta ser presidente, tem de participar, e, por que não dizer, de colaborar a fundo com os acusadores e errar em todas as oportunidades que se lhe apresentarem até a assinatura final do auto de despejo. E nisso a incompetenta demonstrou uma persistência que pouca gente neste país seria capaz de igualar.
Não vou perder tempo valioso elencando um sem-número de fatos que imputam a esse arremedo de governante a responsabilidade pela maior e mais grave crise econômica e política da história do país, pois seria a mais pura exaltação do óbvio. Importa mesmo é dizer que estamos a poucas horas de uma votação que pode ― e vai, com a ajuda de Deus ― redirecionar o país para a rota do crescimento, há muito perdida graças a execrável administração petista que nos vem mantendo como refém há 13 anos, 3 meses e 17 dias (e contando).
Observação: Às vésperas da votação do impeachment pela Câmara, a polícia prendeu o ex-senador Gim Argello ― que Dilma quis nomear para nada menos que para o Tribunal de Contas ― e indiciou o ex-governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel ― outro grande aliado da presidanta ― sob a acusação de praticar uma penca de delitos. Se tudo isso não é construir a própria calamidade, então o que seria?
À luz do que dizem os que apoiam a deposição da anta e os que pugnam pela mantença desse governo corrupto e incompetente, melhor esperar o resultado da votação no plenário da Câmara, já que ora os defensores da imprestável afirmam categoricamente que contam com votos bastantes para barrar o processo, ora a oposição assegura que sua vitória é líquida e certa, ainda que apertada. Ontem, o otimismo prevalecia no Palácio do Planalto, mas a coisa mudou de figura depois que manobras do PMDB e do PP ― as duas maiores bancadas da base aliada do governo antes de se decidirem pelo desembarque ― conseguiram conter o número de dissidentes e azedaram o humor dos governistas. Mas a situação é delicada, notadamente para a oposição, que, como dito linhas atrás, precisa de 342 votos dos 513 possíveis (quase 70%) para garantir o seguimento do processo. E a coisa chegou a tal ponto que a petralhada e seus indefectíveis esbirros se veem obrigados “fazer o diabo” (expressão que parece ser do agrado da presidanta) para garantir o apoio de 171 deputados (número que, coincidentemente, remete ao artigo que tipifica o crime de estelionato). Aliás, Lula que o diga.
Observação: Se os senhores parlamentares ainda não entenderam, alinhar-se a Lula e Dilma é um procedimento de curta duração. Os que escolherem esse caminho estarão entregando a honra por nada, pois não haverá nem mesmo tempo para usufruir dos eventuais benefícios que tal escolha implicaria. As delações premiadas que estão em curso não permitiriam.
No início da noite de ontem, as projeções davam conta de 361 votos pelo impeachment ― algumas falavam em 370. A plantação feita pelo governo não vingou. Hoje, até alguns do lado de lá já comentam: o Planalto nunca chegou a ter 171 votos. Mesmo assim, em rio que tem piranha jacaré nada de costas. Todo o cuidado é pouco.
Resumo da ópera: Seja qual for o resultado da votação desta tarde, o desditoso governo Dilma está acabado. Caso ela vença ― o que não se espera, mas se admite para efeito de argumentação ―, será por uma margem ínfima de votos, a maioria dos quais conquistados mediante monumental leilão de cargos e rateio de verbas entre os proxenetas do Parlamento, e somente uma vitória expressiva poderia calar a oposição e arrefecer o ânimo das ruas. Demais disso, pelo menos quatro ações em trâmite no TSE pleiteiam a cassação da chapa da presidanta e do vice, e dúzias de pedidos de impeachment dormitam nas gavetas do deputado Eduardo Cunha ― dentre os quais o protocolado pela OAB é especialmente preocupante, não só por ser considerado tão consistente e bem feito quanto o que está sendo votado hoje, mas também por incorporar fatos novos, extraídos da delação de Delcídio do Amaral, ex-líder do governo no Senado.
Observação: Vale lembrar que, talvez movida pela vocação inata que a leva a fazer sempre as piores escolhas, Dilma cismou de lançar um candidato petista para disputar a presidência da Câmara, e com isso transformou Cunha num inimigo figadal que acabaria lhe dando mais trabalho do que toda a oposição somada e se tornaria o mais eficaz e perigoso operador do impeachment.
Resta apenas saber se, na eventualidade de o impeachment não passar ― que Deus nos livre dessa infelicidade ―, a sacripanta deixará o Palácio do Planalto ou ficará como figura decorativa até 2018, caso até lá não venha a ser apeada da presidência por outros meios.
Que Deus nos ajude. Bom domingo e até a próxima.