segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

TRANSMISSÃO MANUAL, AUTOMÁTICA OU AUTOMATIZADA? ― Continuação

"EIN GUTES GEWISSEN IST EIN SANFTES RUHEKISSEN" (UMA CONSCIÊNCIA LIMPA É O TRAVESSEIRO MAIS MACIO QUE EXISTE).

A função da embreagem é acoplar ou desacoplar dois sistemas rotativos distintos (o motor e o câmbio, no caso do automóvel), permitindo-lhes girar em conjunto, separadamente, ou em rotações diferentes. O modelo usado nos veículos equipados com câmbio manual é acionado pelo motorista através de um pedal que leva o garfo a pressionar o rolamento de encosto contra a mola-diafragma do platô, reduzindo a pressão sobre o disco de fricção. Conforme esse pedal é liberado, dá-se o efeito inverso, ou seja, o disco volta a ser pressionado contra o volante do motor, elevando gradualmente a rotação até igualá-la à do eixo piloto.

Observação: Uma das maiores dificuldades dos motoristas iniciantes é conciliar a aceleração com a pressão no pedal da embreagem, o que é indispensável para aproveitar o efeito de "patinagem" ao manobrar o veículo ou vencer a inércia ― notadamente em aclives ― evitando que o motor "morra" e/ou o carro se movimente aos solavancos.

Já ao sistema de transmissão (câmbio/diferencial) compete desmultiplicar a rotação do motor e repassá-la às rodas motrizes sob a forma de torque ou potência, conforme as exigências do veículo a cada momento (mais detalhes nesta postagem).

A primeira etapa desse processo cabe ao câmbio, cujo sofisticado conjunto de eixos, engrenagens, garfos e luvas de engates produz as diversas relações (marchas) que o motorista seleciona manualmente através da alavanca de mudanças. A segunda fica por conta do diferencial, que também é composto por um rebuscado conjunto de engrenagens ― coroa e pinhão, planetárias e satélites ― que desmultiplicam (mais uma vez) a rotação proveniente do câmbio e a repassam às rodas motrizes, permitindo que elas girem em velocidades diferentes durante as curvas ― situação em que as rodas "internas" percorrem trajetórias menores do que as "externas".

Observação: Na maioria dos carros fabricados atualmente no Brasil, que têm motor e tração dianteiros, o diferencial fica acoplado à caixa de câmbio; em veículos com motor dianteiro e tração traseira, ele é instalado entre as rodas motrizes e recebe o movimento rotacional transmitido pelo câmbio através de um eixo longitudinal (cardan).

Veículos (0 KM) com transmissão automática ou automatizada tendem a custar mais caro do que modelos com câmbio manual, mas não ter de acionar a embreagem nem mudar as marchas no trânsito caótico das grandes metrópoles não tem preço, e muita gente vem se rendendo às benesses dessas opções.

No câmbio automático, um conversor de torque faz o papel da embreagem e um conjunto de planetárias, auxiliado por um sofisticado mecanismo de apoio, produz as relações de transmissão que são repassadas às rodas motrizes. Já as caixas automatizadas são, conforme eu já disse, as mesmas das transmissões manuais. A diferença é o acionamento da embreagem e a troca de marchas, que ficam a cargo de um robô (daí esse sistema ser conhecido também como transmissão robotizada).

Note que em ambos os casos o pedal da embreagem foi suprimido, mas a alavanca de mudanças continua presente, seja no console central, seja na coluna da direção (em alguns modelos top de linha, ela dá lugar a um seletor na forma de botão, mas isso já é outra história). Em última análise, você só precisa ligar o motor (na maioria dos câmbios automáticos, a alavanca deve estar em P e o pedal do freio, pressionado), selecionar a opção D, acelerar e frear, pois o sistema se encarrega de selecionar automaticamente as marchas mais adequadas a cada situação. 

Amanhã a gente conclui. Abraços e até lá.

E VIVA O POVO BRASILEIRO!

A despeito de eu discordar enfaticamente de quem atribui a Temer a culpa pela maior crise da nossa história, questiona a legitimidade do seu governo, classifica de golpe a medida saneadora que defenestrou a imprestável ex-grande-chefa-toura-sentada-ora-impichada e dá ouvidos às bazófias de Lula ― o populista boquirroto que prometeu combater a corrupção e, em vez disso, institucionalizou-a e dela se serviu para financiar seu espúrio projeto de poder e multiplicar seu patrimônio pessoal e familiar ―, não posso aplaudir o que está acontecendo no país sob o comando do PMDB e seus aliados.

Como se não bastasse a cachoeira de denúncias envolvendo políticos de todas as esferas, ideologias e siglas ― que se tornará ainda mais caudalosa com a homologação das delações premiadas de 77 executivos da Odebrecht, dentre os quais os todo-poderosos Emilio e Marcelo ― e a demora da Justiça em punir exemplarmente os “cabeças” do Petrolão ― que todo mundo já sabe quem são ―, repugna-me ver o Poder Judiciário, talvez o último bastião desta república capenga e nossa derradeira esperança de um Brasil melhor ― submeter-se ao Legislativo, com a conivência do Executivo (ou a rogo deste, melhor dizendo) a pretexto de evitar uma “crise institucional”.

Na semana passada, o STF abandonou a posição de pedra angular da vida nacional e protagonizou um deplorável espetáculo bananeiro de meter vergonha em qualquer cidadão que aspira a viver em um país com instituições sólidas, previsíveis, respeitáveis e estáveis”, diz a Revista Veja desta semana, na sessão Carta ao Leitor. E com razão.

A palhaçada começou quando Marco Aurélio Mello, atendendo a um pedido do partido Rede Sustentabilidade, decidiu afastar Renan Calheiros da presidência do Senado pelo fato de ele ser réu por crime de peculato (além de investigado em pelo menos mais 11 processos que tramitam no Supremo). Ao tomar essa decisão monocraticamente, todavia, o ministro jogou uma bomba no colo da Corte, até porque o todo poderoso senador alagoano resolveu simplesmente ignorar a ordem ― atitude que o ministro Luis Roberto Barroso classificou como “crime de desobediência” ― e, ato contínuo, driblou pateticamente o oficial de justiça que lhe foi entregar a notificação e articulou com a mesa diretora do Senado uma espécie de rebelião do Congresso. 

Em outras palavras, sua insolência deixou claro o Congresso é seu território particular, onde todo o poder emanava dele, Renan, e em seu nome deve ser exercido. E como era consenso entre os caciques da Banânia que sem Renan não se aprovaria a PEC dos gastos, e sem a aprovação dessa proposta o governo morreria na praia, encenou-se uma verdadeira ópera bufa, tendo o STF como palco e o povo como “bobo da corte”.

A pedido de Temer e a pretexto de “zelar pela estabilidade institucional”, a ministra Carmem Lucia convocou a toque de caixa uma sessão extraordinária para julgar o mérito da liminar do ministro Marco Aurélio, na qual ficou provado que “manda quem pode, desobedece quem tem juízo”. Por 6 votos a 3, Renan, o irremovível, foi afastado da linha sucessória presidencial, mas manteve o mandato e o cargo de presidente do Senado. 

Assim, pariu-se a jabuticaba que criou a figura inusitada do “meio senador” ― para o desalento da nação, que esperava mais do Judiciário (a quem cabe fazer justiça, e não adotar atitudes “patriótica”, como bem definiu Renan, ao comemorar a decisão do Supremo). Participaram do espetáculo, ainda que como eminências pardas, barões da República do quilate de Sarney, Aécio e FHC ― visando garantir que Renan ficava, a despeito de sua postura insolente, ou o Brasil partiria para o desconhecido, numa promessa de mais baderna, gritos e acusações. Velhos caciques que preservam suas posições, mas não ajudam muito: para fortalecer a democracia, precisamos urgentemente de novas lideranças.