Alguma coisa se passa no coração do Sistema Lula de Pensamento quando se cruza a demolição jurídica do
ex-presidente com boa parte do noticiário que apareceu logo após a decisão do TRF-4 de Porto Alegre. Lula saiu esfarinhado do julgamento por
uma confirmação unânime, de 3 a 0, de sua condenação à cadeia por corrupção ―
e, ainda por cima, tomou um aumento de sua pena original, dada pelo juiz Sérgio Moro, de nove para 12 anos.
Anunciada a decisão dos desembargadores gaúchos, a impressão
que se podia ter pela leitura da mídia era de que Lula, ele sim, tinha acabado de condenar por 3 a 0 os seus
julgadores. “Lula não vai ser preso”,
anunciava-se em destaque máximo. “Lula
pode ser candidato”, dizia-se ao lado, ou “Lula promete voltar e acertar as contas com eles”, e etc.,
etc., etc., numa extensa exposição de mais do mesmo. Enfim: Lula ganhou. Parece que perdeu, mas
ganhou. Foi registrado, com todo o destaque, o apoio maciço do complexo CUT-UNE-MST-etc. ― estão fechadíssimos
com Lula. A seguir por aí, haverá em
breve o anúncio que nas pesquisas de “intenção de voto” ele caminha para os
100%. Em seguida vão começar a anunciar os ministros do seu novo governo. Quer
dizer: Lula, condenado a 12 anos de
prisão, agora com provas que não podem mais ser discutidas na Justiça, e com
sua candidatura proibida pela Lei da Ficha-Limpa, está, pelo que se divulga,
sem problema nenhum. Problema, mesmo, têm os juízes e promotores. Ou, pior
ainda, quem tem o problema é você ― pelo menos, na visão que Lula tem dos fatos.
“O condenado foi o povo brasileiro”, discursou o
ex-presidente, no que parece ter sido mais uma de suas grandes ideias de
propaganda para palanque. É falso, porque além dos seus corréus, nenhum dos 200
milhões de brasileiros foi condenado a coisa alguma na tarde da última
quarta-feira. Podem perguntar na rua: “Alô, amigo, você foi condenado pelo TRF-4 de Porto Alegre?” Dá para
imaginar um pouco as respostas. O fato é que o condenado é ele mesmo ― não dá
para socializar a pena de 12 anos, nem transformar em coletivos crimes que são
só seus. Essas fantasias só existem no mundo dos comunicadores. No mundo dos
cartórios penais, nos computadores do sistema judiciário, nos arquivos dos
serviços de execução de penas e por todo o resto da máquina da Justiça, o que
está escrito, e valendo, é outra coisa: é que Lula tem tal pena para tal crime, tais novos processos por tais novas
acusações e assim por diante.
Lula está
ganhando na mídia. Mas a mídia não tem nenhum voto na 13.ª Vara Penal Federal de Curitiba nem no Tribunal Regional Federal de Porto Alegre.
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