sexta-feira, 27 de julho de 2018

ELEIÇÕES 2018 — O DESCALABRO


Dizer que político nenhum presta é generalizar, e toda generalização é perigosa. Por outro lado, toda regra tem exceção, não é mesmo? Acompanhe meu raciocínio.

Faltando pouco mais de 2 meses para nosso qualificadíssimo eleitorado escolher um novo presidente e novos governadores, além de renovar 2/3 do Senado e 100% das câmaras federal e estaduais, a maioria dos postulantes ao Planalto, sobretudo os que estão mal colocados nas pesquisas, apostam na anacrônica propaganda política obrigatória para vender seu peixe podre. 

No entanto, o período durante o qual essas incomodativas inserções na programação do rádio e da televisão (que por si só já é lamentável) será mais curto do que nas eleições anteriores. Além disso, os candidatos dos partidos nanicos não terão tempo sequer para piscar um olho, daí as coligações serem importantes para os que realmente têm chances de emplacar e lucrativa para os que não tem, que lhes vendem seu apoio a peso de ouro, mandando às favas a ideologia.

Tanto Ciro Gomes quanto Geraldo Alckmin “namoraram” o Centrão, embora suas propostas de governo sejam diametralmente opostas. O bloco decidiu apoiar o tucano, levando o candidato do PDT a correr atrás dos eleitores petistas, vendendo-se como a única esperança de soltura do criminoso de Garanhuns. Disse o cearense fajuto (Ciro nasceu em Pindamonhangaba, no interior paulista): “Lula só tem chance de sair da cadeia se a gente assumir o poder e organizar a carga, botar juiz para voltar para a caixinha dele, botar o Ministério Público para voltar para a caixinha dele e restaurar a autoridade do poder político”.

Com o apoio do Centrão, somados os quinhões a que têm direito os dez partidos que devem participar da coligação, Alckmin terá mais de 50% das duas horas diárias dedicadas às candidaturas, aí considerados os programas eleitorais e as muitas inserções ao longo do dia. A cada bloco do horário eleitoral destinado exclusivamente aos presidenciáveis, com 12 minutos e 30 segundos, cerca de 6 minutos e 50 segundos serão destinadas à propaganda do tucano, sem mencionar que o bloco representa também uma nada modesta fatia de R$ 440,4 milhões no fundo eleitoral. Por outro lado, Josué Gomes, filho de José Alencar, que foi vice de Lula, declinou do convite do PSDB para compor a chapa como vice de Alckmin. A meu ver, não se perdeu grande coisa.

A propósito: Rodrigo Maia desistiu de disputar a Presidência — conforme, aliás, eu já havia antecipado nesta postagem. Afinal, se ele pretendesse realmente concorrer ao Planalto e não à reeleição, não haveria por que se ausentar do país durante as viagens de Temer para o exterior. Na verdade, sua pré-candidatura era apenas um balão de ensaio, uma estratégia para valorizar o passe do DEM nas tratativas de coligação com outros partidos. De mais a mais, suas chances de vencer o pleito eram tantas quanto as de uma bola de neve sobreviver no inferno.

Depois que o Judiciário proibiu as doações eleitorais de pessoas jurídicas, o Legislativo se apressou em buscar outra forma de custear as campanhas milionárias. Como se não bastasse o famigerado fundo partidário de R$ 888,7 milhões, nossos parlamentares criaram um Fundo Eleitoral de R$ 1,7 bilhão — valor elevado posteriormente para R$ 2,5 bilhão com o aval do TSE. E o pior é que se trata de dinheiro público — fruto dos nossos suados impostos — malversado para bancar campanhas de corruptos enquanto o país atravessa seriíssimas dificuldades, com o maior rombo nas contas públicas da história e vários estados falidos, sem um centavo para investir em educação, saúde, segurança pública e atender outras necessidades prementes. 

Em vez de buscar uma solução para a crise, os parlamentares botam mais lenha na fogueira, aprovando, às vésperas do recesso, uma pauta-bomba que inviabilizará o próximo governo. Como se não bastasse, essa corja de fisiologistas corruptos fez diabo para dificultar a renovação dos quadros, visando permanecer eles próprios — e seus filhos e apaniguados — no poder. O próximo presidente, seja ele quem for, terá de administrar uma herança maldita. Veja, por exemplo, a permissão para aumento de salários do funcionalismo, que terá impacto de R$ 6 bilhões — se o benefício for estendido aos militares, o valor subirá para R$ 11 bilhões. Ou a permissão para ratear entre os consumidores as perdas com furto de energia nas distribuidoras de Rondônia e do Acre — o que representa um aumento médio de 5% na conta de luz. Ou, ainda, a permissão para que os municípios deixem de cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal quando houver queda maior que 10% na transferência de impostos federais, ou, pior, a autorização para criação de 300 novos municípios com cinco a oito mil habitantes (que dependeriam de recursos da União para manter os cargos e as Câmaras de vereadores). 

Quer mais um exemplo? Então leve dois: Semanas atrás, a Câmara concedeu às transportadoras o direito de abater no imposto de renda tudo que pagarem de pedágio — ou seja, caberá à sociedade pagar o pedágio por elas — detalhe: o projeto foi relatado pelo deputado Nelson Marquezelli, que é um transportador e, portanto, legislou em causa própria. Outro caso parecido aconteceu com as dívidas previdenciárias dos produtores rurais, que provocou perdas de R$ 17 bilhões — a proposta foi relatada por um deputado que também é produtor rural.

Resumo da ópera
: Os parlamentares aprovam gastos e derrubam o que o governo propõe para equilibrar as contas. A atuação dos maus políticos dificulta o cumprimento da meta fiscal para o próximo ano, que já prevê um déficit de R$ 139 bilhões. De acordo com o Valor, tramitam no Congresso 42 projetos com impacto fiscal. Talvez alguns congressistas pensem estar agindo contra um governo enfraquecido, que caminha para seu melancólico fim, mas na verdade estão inviabilizando o país. E a burrice é tanta que os mesmos políticos que agora procuram agradar grupos específicos de eleitores buscam a reeleição — e, portanto, deverão participar do próximo governo.

E viva o povo brasileiro!

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