sábado, 25 de agosto de 2018

O NAUSEABUNDO CENÁRIO POLÍTICO — QUARTA PARTE



Menos da metade dos treze candidatos a presidente registrados no TSE têm chances reais de passar do primeiro turno, mas os partidos nanicos insistem em manter no pleito postulantes como Guilherme Boulos, Cabo Daciolo, João Amoedo, João Goulart Filho e Vera Lucia — sem falar em Eymael, que ressurge das cinzas a cada 4 anos para tentar a sorte nas urnas e nos aporrinhar com seu jingle-chiclete. E com os extremados de esquerda e direita definidos como franco-favoritos e o centro do espectro político sem um representante que cative o eleitorado, é quase impossível prever quem disputará o segundo turno.

O sentimento de revolta social fomenta os votos nulos, brancos e abstenções, quando o ideal seria que estimulasse os descontentes a optar pela renovação — que, como vimos no segundo capítulo desta novela, fica ainda mais difícil porque as regras do jogo político favorecem quem tem mandato e dificultam o ingresso de outsiders. 

Pelas sondagens de intenção de voto, se Lula não estivesse preso e inelegível, seu retorno ao Planalto seriam favas contadas (é doloroso admitir uma coisa dessas, pois equivale a dizer que a maioria da população brasileira é incapaz de encontrar o próprio rabo usando as duas mãos e uma lanterna). Mas há se levar em conta o fato de que o petralha domina o panorama político brasileiro há mais de duas décadas, e isso faz com que, quando ele não aparece, a indecisão do eleitorado aumente, levando dúvidas aos investidores sobre os rumos da economia.

A inelegibilidade do demiurgo de Garanhuns é chapada, como a classificou o ministro Luís Roberto Barroso. E o PT tem consciência disso, mas continue insistindo em sua aleivosia, mesmo que a cassação do registro do pulha já não seja uma questão de “se”, e sim de “quando”. Paralelamente, o bando trabalha para eleger a maior bancada possível no Congresso — fala-se que a orientação é no sentido de que nomes de ponta e destaque no partido não se aventurem em eleições que não tenham garantia de vitória, ou seja, que não troquem o certo pelo duvidoso —, e as chances de êxito são consideráveis, sobretudo no Nordeste, onde Lula é mais popular que o “Padim Padi Ciço”.

Em tese, a exposição das entranhas pútridas da política pela Lava-Jato deveria ter ceifado as pretensões eleitorais dos maus políticos. A questão é que muitos investigados estão ligados à máquina partidária, e os partidos brasileiros se tornaram oligarquias, ou seja, são dirigidos por poucos — e esses poucos controlam tudo com mão de ferro, impondo candidaturas e definindo alianças (como o próprio Lula vem fazendo de dentro da carceragem da PF). É certo que política e corrupção sempre andaram de mãos dadas, mas de uns tempos a esta parte a metástase se espalhou pelos Três Poderes.

Temer foi denunciado duas vezes por crimes comuns, e as investigações só não foram adiante graças à compra do apoio das marafonas da Câmara. Resultado: ele continua no poder, ainda que sem poder algum e cercado de ministros e assessores que são alvo de investigações. No Legislativo, sobram deputados e senadores com contas a acertar com a Justiça, enquanto que no próprio Judiciário — última esperança dos cidadãos de bem deste país — ministros supremos se digladiam como galos de rinha e põem em liberdade criminosos presos pela Lava-Jato e condenados por juízes e desembargadores que honram seus cargos.

O PT é uma choldra de imprestáveis a desserviço do estado democrático de direito, mas sempre tem quem diz política é assim mesmo, que nenhum partido presta, e blá, blá, blá. Do alto da minha insignificância, sempre achei que política e honestidade são conceitos mutuamente excludentes, mas, convenhamos: Lula e sua ORCRIM superaram todas as expectativas. Sua insistência em manter candidatura do criminoso, de transformar sua cela em comitê eleitoral, de berrar aos quatro ventos que impedi-lo de participar das eleições é “golpe” — como também o foi, na visão dessa caterva, o impeachment da anta vermelha — é cuspir na cara dos cidadãos de bem.

Pior ainda é a conivência de autoridades com o tratamento dispensado ao esmegma vermelho — a pretexto da dignidade do cargo que ele ocupou, mas que na verdade desonrou ao se tornar o primeiro ex-presidente do Brasil preso devido à prática de crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Que dignidade, cara pálida?

A senadora Gleisi Hoffmann, atual presidente nacional da ORCRIM, vem incitando a militância a partir para o “tudo ou nada” e levar a candidatura de Lula “até o fim”, de modo a evitar que ele seja substituído na chapa quando o TSE o declarar inelegível. Para o PT, interessa que o molusco apareça nas urnas, a despeito do risco de a Justiça vetar a manobra ou não computar os votos (possibilidade remota, mas real). Em conversas com aliados, Gleisi estimula o “enfrentamento” e o acirramento do caos jurídico e político em torno do presidiário, e o pior é que todo mundo vê e ninguém faz nada.

Nem sei como ainda tenho estômago para escrever sobre política. A única explicação que me ocorre é que não quero ver o Brasil se transformar numa Venezuela, onde o salário mínimo corresponde a menos de US$ 1 e mal dá para comprar um frango (a inflação estimada para este ano é de 1.000.000%!) Dias atrás, li um desabafo parecido do jornalista Mário Sabino, que fazia referência a um chiste de Millôr Fernandes sobre a profissão: Se deixarmos, acaba como na Rússia. Lá toda a imprensa é comunista. Não raro, porém, onde se enxerga comunismo há somente patetice ou conveniências contábeis. O mesmo vale para ideologias antípodas.

Não escolhi ser jornalista de política — escreveu Sabino —, pelo menos não conscientemente. E nem eu. Aliás, ainda prefiro escrever sobre informática e culinária, mas vejo com preocupação a situação da Venezuela, e a possibilidade do “efeito Orloff” me faz respirar fundo e seguir adiante.

O futuro da candidatura de Lula está nas mãos do ministro Barroso, um dos mais contundentes defensores da aplicação da Lei da Ficha-Limpa — que na verdade é a Lei Complementar nº 135 de 2010, criada (vejam que ironia!) por iniciativa popular e sancionada pelo próprio Lula. A princípio, o projeto previa que uma condenação em qualquer instância do Judiciário tornaria o réu inelegível, mas o texto aprovado vinculou a inelegibilidade à condenação por um juízo colegiado. 

Lula foi condenado em segunda instância (por um juízo colegiado, portanto) e exauriu todos os recursos e apelações que a Justiça lhe facultava no âmbito do TRF-4. Por conseguinte, fica difícil entender o motivo de tanta celeuma, ao menos do ponto de vista jurídico, pois não há que se falar em decisão salomônica ou outra bobagem que tal; é fazer cumprir a lei e ponto final.

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