domingo, 26 de agosto de 2018

AINDA SOBRE LULA E AS ELEIÇÕES



Na última quinta-feira, o Instituto Democracia e Liberdade entrou com um pedido nos TSE para proibir a divulgação de pesquisas que incluam o nome de Lula. “A liberdade de informação e de opinião não autoriza divulgação de situações anômalas e teratológicas que impliquem impacto na opinião pública”, diz a petição. Resta saber como o tribunal vai se posicionar, mas convenhamos que já está mais que na hora de esse zumbi mal despachado deixar de nos assombrar.

A candidatura de Lula foi contestada 16 vezes. Ele foi notificado e tem prazo até o dia 30 para se pronunciar — sua condenação é pública e notória e sua inelegibilidade, “chapada”, mas a lei eleitoral estabelece prazos para que uma candidatura seja contestada. O TSE deve decidir o imbróglio até o dia 17 de setembro, que é quando se encerra também o prazo para os partidos alterarem a composição das chapas. 

Não se sabe se o relator julgará os pedidos de impugnação em conjunto ou isoladamente, mas acredita-se que ele não o fará monocraticamente. Ao que tudo indica, Barroso deverá elaborar seu voto e submetê-lo ao plenário da corte, que é formado por sete ministros, três oriundos do STF — o próprio Barroso, Rosa Weber e Edson Fachin —, dois do STJNapoleão Nunes e Jorge Mussi — e dois da advocacia — Admar Gonzaga e Tarcísio Vieira.

Cassada a candidatura, Lula poderá (e certamente o fará) ingressar com embargos de declaração, mas não sabe como ficará sua situação eleitoral nesse entretempo, já que nunca na história deste país um criminoso condenado e preso teve o topete de disputar a presidência da Banânia. Nos julgamentos recentes que cassaram os mandatos dos governadores do Amazonas e do Tocantins, o TSE os afastou logo após a primeira decisão do plenário. Além dos embargos, a defesa poderá recorrer ao STF, alegando alguma questão constitucional. Só que para anular os efeitos da decisão do TSE seria preciso que o Supremo concedesse uma liminar com efeito suspensivo.

A propaganda partidária — também chamada de horário eleitoral gratuito, mas que de gratuito não tem nada, pois quem patrocina o cirquinho somos nós — começa na próxima sexta-feira. Resta saber como ficará a situação de Lula se até lá o TSE não tomar uma decisão. A legislação eleitoral diz que, enquanto não houver uma decisão barrando uma candidatura, qualquer um pode fazer campanha. Mas como o petralha faria isso, se está preso e impedido judicialmente de gravar vídeos na cadeia? O Partido Novo, um dos autores dos pedidos para barrar a candidatura do pulha, solicitou também que ele seja impedido de fazer qualquer tipo de campanha, mas a questão ainda está sub judice.

Fato é que enquanto essa malfadada indefinição persiste o país para e o dólar dispara. Mas quem se importa? Importante mesmo é manter o repugnante esmegma de Garanhuns no páreo enquanto der. Afinal, não é de hoje que o PT vive de fake news. Triste Brasil.


E para quem, como eu, é fã da pena de J.R. Guzzo, segue mais um texto lapidar:

A coluna Fatos, regularmente publicada em VEJA digital, também é cultura. Só de vez em quando, claro, e sempre em doses moderadas, pois artigos escritos por jornalistas raramente farão muito mal a alguém se ficarem nos limites da leitura ligeira. É o que será tentado nas linhas abaixo, levando-se em conta que certas obras de primeira classe podem ajudar na compreensão do presente — no caso, uma cena particular da aflitiva disputa eleitoral pela Presidência da República que está aí. Trata-se de comparar O Anjo Azul, um dos momentos mais festejados na história do cinema universal, e a inédita candidatura por default, como se diz no português de hoje, do professor Fernando Haddad. O filme, um símbolo pungente da Alemanha a caminho da catástrofe, lançado em 1930 e inspirado na obra de Heinrich Mann, narra a tragédia humana do professor Unrat — um impecável educador cuja vida entra em decadência e acaba em ruínas, na miséria, na sarjeta e na cadeia.

A desgraça de Unrat é o resultado de uma paixão alucinada por Lola-Lola, uma dançarina de cabaré, “O Anjo Azul”, que em dois anos de convívio destrói a sua reputação, suas finanças e o seu amor próprio. De homem respeitado e temido, ele se transforma num palhaço, serviçal de Lola e sua trupe de companheiros suspeitos, e desliza progressivamente para a humilhação, a loucura e a delinquência. Haddad, na sua atual aventura política, lembra o professor que liquida a sua honra a serviço de Lola-Lola. Anulou a própria personalidade e assumiu publicamente o papel de pano de estopa de um ex-presidente da República que está na cadeia — e se mostra disposto a qualquer extremo para escapar à punição dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro a que foi condenado. Haddad é o candidato do PT na vida real, pois o seu líder está impedido pela Lei da Ficha-Limpa de disputar a eleição. Mas não pode dizer que é candidato enquanto o chefe não mandar — coisa que, nos seus cálculos, deve demorar o máximo possível de tempo para lhe render o máximo possível de lucro na vida pessoal.

Ninguém está dizendo aqui que a comparação é entre o caráter do professor Unrat e o caráter de Haddad. Unrat, no fundo, não era um homem bom, e tinha uma inclinação fatal para a vida torta. Haddad, ao contrário, manteve até agora uma postura de integridade, respeito às leis e boa educação em sua vida pública e pessoal — justamente o oposto do que tem sido há anos a conduta exibida pelo grande líder. Mas ao aceitar na frente de todo mundo o papel de objeto inanimado, sem vontade própria e disposto a tudo para servir aos interesses de um homem que pensa unicamente em si mesmo, Haddad está descendo ladeira abaixo, como no tango de Gardel. Tornou-se um cúmplice integral do grupo de arruaceiros que está no comando do partido. É o instrumento-chave da tentativa de sabotar a eleição com a farsa do “duplo cenário”, da litigação judiciária de má fé, da “intervenção da ONU”, da foto do não-candidato na urna eletrônica e tudo o mais que possa fraudar o processo eleitoral com a produção de desordem. Enfim, ao oferecer-se como voluntário para a posição de “poste”, está contribuindo diretamente para destruir o futuro de seu partido. Cuesta Abajo acaba mal, é claro, como a história do “Anjo Azul”. No tango, o homem apaixonado fala do amor de sua vida — que era como un sol de primavera, mi esperanza, mi pasión… Mas as ilusões terminam, e ahora, cuesta abajo en mi rodada, como diz, o amante lamenta ter acabado triste en la pendiente, solitário y ya vencido. O que lhe sobra é o sonho con el tiempo viejo que hoy lloro, y que nunca volvera. Está bom assim ou precisa mais, em matéria de tristeza? Está bom assim.

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