Na última quinta-feira, o Instituto Democracia e Liberdade entrou com um pedido nos TSE para proibir a divulgação
de pesquisas que incluam o nome de Lula.
“A liberdade de informação e de opinião não autoriza divulgação de situações
anômalas e teratológicas que impliquem impacto na opinião pública”, diz a
petição. Resta saber como o tribunal vai se
posicionar, mas convenhamos que já está mais que na hora de esse zumbi mal despachado deixar de nos
assombrar.
A candidatura de Lula
foi contestada 16 vezes. Ele foi
notificado e tem prazo até o dia 30 para se pronunciar — sua condenação é
pública e notória e sua inelegibilidade, “chapada”, mas a lei eleitoral estabelece prazos para que uma
candidatura seja contestada. O TSE deve decidir o imbróglio até o dia 17 de setembro, que é quando
se encerra também o prazo para os partidos alterarem a composição das chapas.
Não
se sabe se o relator julgará os pedidos de impugnação em conjunto ou isoladamente, mas acredita-se que ele não o fará monocraticamente. Ao que tudo indica, Barroso deverá elaborar seu voto e
submetê-lo ao plenário da corte, que é formado por sete ministros, três
oriundos do STF — o próprio Barroso, Rosa Weber e Edson Fachin
—, dois do STJ — Napoleão Nunes e Jorge Mussi — e dois da advocacia — Admar Gonzaga e Tarcísio Vieira.
Cassada a candidatura, Lula poderá (e certamente o fará) ingressar com embargos de declaração, mas não sabe como ficará sua situação
eleitoral nesse entretempo, já que nunca na história deste país um criminoso
condenado e preso teve o topete de disputar a presidência da Banânia. Nos julgamentos recentes que cassaram os mandatos dos governadores do Amazonas
e do Tocantins, o TSE os afastou logo após a primeira decisão do plenário. Além dos embargos, a defesa poderá recorrer ao STF, alegando alguma questão constitucional. Só que para anular os
efeitos da decisão do TSE seria
preciso que o Supremo concedesse uma
liminar com efeito suspensivo.
A propaganda partidária — também chamada de horário eleitoral gratuito, mas que de gratuito não tem nada, pois quem patrocina o cirquinho somos nós — começa na próxima sexta-feira. Resta saber como ficará a situação de Lula se até lá o TSE não tomar uma decisão. A legislação eleitoral diz que, enquanto
não houver uma decisão barrando uma candidatura, qualquer
um pode fazer campanha. Mas como o petralha faria isso, se está preso e
impedido judicialmente de gravar vídeos na cadeia? O Partido Novo, um dos autores dos pedidos para barrar a candidatura do pulha,
solicitou também que ele seja impedido de fazer qualquer tipo de campanha, mas a questão ainda está sub judice.
Fato é que enquanto essa malfadada
indefinição persiste o país para e o dólar dispara. Mas quem se importa? Importante
mesmo é manter o repugnante esmegma de Garanhuns no páreo enquanto der. Afinal,
não é de hoje que o PT vive de fake
news. Triste Brasil.
E para quem, como eu, é fã da pena de J.R. Guzzo, segue mais
um texto lapidar:
A coluna Fatos, regularmente publicada em VEJA digital, também é cultura. Só de vez em quando, claro, e sempre em doses
moderadas, pois artigos escritos por jornalistas raramente farão muito mal a
alguém se ficarem nos limites da leitura ligeira. É o que será tentado nas
linhas abaixo, levando-se em conta que certas obras de primeira classe podem
ajudar na compreensão do presente — no caso, uma cena particular da aflitiva
disputa eleitoral pela Presidência da República que está aí. Trata-se de
comparar O Anjo Azul, um
dos momentos mais festejados na história do cinema universal, e a inédita
candidatura por default, como se diz no português de hoje, do
professor Fernando Haddad. O filme,
um símbolo pungente da Alemanha a caminho da catástrofe, lançado em 1930 e
inspirado na obra de Heinrich Mann,
narra a tragédia humana do professor Unrat
— um impecável educador cuja vida entra em decadência e acaba em ruínas, na
miséria, na sarjeta e na cadeia.
A desgraça de Unrat
é o resultado de uma paixão alucinada por Lola-Lola,
uma dançarina de cabaré, “O Anjo Azul”,
que em dois anos de convívio destrói a sua reputação, suas finanças e o seu
amor próprio. De homem respeitado e temido, ele se transforma num palhaço,
serviçal de Lola e sua trupe de
companheiros suspeitos, e desliza progressivamente para a humilhação, a loucura
e a delinquência. Haddad, na sua
atual aventura política, lembra o professor que liquida a sua honra a serviço
de Lola-Lola. Anulou a própria
personalidade e assumiu publicamente o papel de pano de estopa de um
ex-presidente da República que está na cadeia — e se mostra disposto a qualquer
extremo para escapar à punição dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro a
que foi condenado. Haddad é o
candidato do PT na vida real, pois o
seu líder está impedido pela Lei da Ficha-Limpa de disputar a eleição. Mas não
pode dizer que é candidato enquanto o chefe não mandar — coisa que, nos seus
cálculos, deve demorar o máximo possível de tempo para lhe render o máximo
possível de lucro na vida pessoal.
Ninguém está dizendo aqui que a comparação é entre o caráter
do professor Unrat e o caráter de Haddad. Unrat, no fundo, não era um homem bom, e tinha uma inclinação fatal
para a vida torta. Haddad, ao
contrário, manteve até agora uma postura de integridade, respeito às leis e boa
educação em sua vida pública e pessoal — justamente o oposto do que tem sido há
anos a conduta exibida pelo grande líder. Mas ao aceitar na frente de todo
mundo o papel de objeto inanimado, sem vontade própria e disposto a tudo para
servir aos interesses de um homem que pensa unicamente em si mesmo, Haddad está descendo ladeira abaixo,
como no tango de Gardel. Tornou-se
um cúmplice integral do grupo de arruaceiros que está no comando do partido. É
o instrumento-chave da tentativa de sabotar a eleição com a farsa do “duplo
cenário”, da litigação judiciária de má fé, da “intervenção da ONU”, da foto do
não-candidato na urna eletrônica e tudo o mais que possa fraudar o processo
eleitoral com a produção de desordem. Enfim, ao oferecer-se como voluntário
para a posição de “poste”, está contribuindo diretamente para destruir o futuro
de seu partido. Cuesta Abajo
acaba mal, é claro, como a história do “Anjo Azul”. No tango, o homem apaixonado fala do amor de sua vida —
que era como un sol de primavera, mi esperanza, mi pasión… Mas
as ilusões terminam, e ahora, cuesta abajo en mi rodada, como diz,
o amante lamenta ter acabado triste en la pendiente, solitário y ya
vencido. O que lhe sobra é o sonho con el tiempo viejo que hoy
lloro, y que nunca volvera. Está bom assim ou precisa mais, em matéria de
tristeza? Está bom assim.