Graças ao Mercantil, o magistrado também figurou em uma investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro. Os procuradores descobriram que o banco foi usado para repassar R$ 350 mil para Toffoli dar aulas na Universidade Gama Filho. Em uma decisão temerária e repleta de suspeitas, o enrolado Postalis — fundo de pensão dos funcionários dos Correios — havia escolhido a instituição para investir parte de seu dinheiro. Enquanto não recebia os aportes, era com dinheiro do Banco Mercantil que a Gama Filho pagava alguns de seus prestadores de serviço — um dos quais nosso caro ministro. Os valores eram repassados pelo Mercantil e, em seguida, transferidos para Toffoli; quando a universidade recebia os recursos do Postalis, ela ressarcia o banco.
Um dos citados na investigação é o empresário Ronald Guimarães, alvo de um processo que chegou ao STJ em 2014. Era uma causa de incríveis R$ 250 milhões, e o empresário, que já contava com Cezar Peluso — ex-presidente do STF — em sua equipe de defensores, contratou também os serviços de Roberta Maria Rangel. A ação segue em aberto, agora no Supremo e com outros advogados, no gabinete da ministra Cármen Lúcia.
Além de funcionar
como relator de processos de interesse do Mercantil
no STF, o ministro Dias Toffoli foi beneficiário de generosas operações
autorizadas pela cúpula da instituição. Documentos internos obtidos por Crusoé revelam que, em 2011, ele pediu
um empréstimo de R$ 900 mil, a ser
pago em parcelas de R$ 13.806 ao
longo de 15 anos. A prestação representava quase 75% do salário líquido que o magistrado percebia na época, mas o
banco liberou o financiamento mesmo assim — e com uma taxa de juros de 1,35% ao mês (metade da taxa utilizada nas operações de crédito pessoal dos demais
clientes).
Continua na próxima postagem.
Enquanto isso...
A menos de dois meses do pleito presidencial, o cenário
nebuloso se torna ainda mais incerto quando se projeta um “pós-eleição” em que não há certeza de nada, senão de que a campanha sucessária vem
sendo marcada como nunca pela escassez de líderes com visão de longo prazo e
capacidade de infundir confiança no eleitorado e no empresariado.
A inequívoca a perda de legitimidade dos políticos — independentemente de vinculações partidárias — leva os eleitores a uma apatia jamais vista na história recente deste país. Para piorar, nomes antes promissores foram varridos do tabuleiro sem que novos líderes despontassem no horizonte.
A inequívoca a perda de legitimidade dos políticos — independentemente de vinculações partidárias — leva os eleitores a uma apatia jamais vista na história recente deste país. Para piorar, nomes antes promissores foram varridos do tabuleiro sem que novos líderes despontassem no horizonte.
O resultado
é o que se vê: uma população composta majoritariamente por analfabetos,
desculturados, desinformados e desinteressados, não raro seduzidos por discursos
populistas de supostos “salvadores da pátria” — só isso explica o fato de um
criminoso condenado liderar as pesquisas de intenção de voto, de um extremista
de direita vir logo atrás (detalhe: ao contrário do primeiro colocado, que está
cumprindo pena por corrupção e lavagem de dinheiro, o segundo tem chances reais
de assumir a Presidência, caso vença as eleições), seguido por um pseudo
cearense que promete, num prodígio de magia, "limpar o nome" de dezenas de milhões
de brasileiros inscritos no Serviço de Proteção ao Crédito.
Some-se a isso uma total incerteza quanto ao cenário “pós
eleitoral”, dada a acentuada pulverização das forças políticas num contexto de
elevada descrença e mau humor da população, com:
1) uma herança maldita, com
renda per capita quase 10% inferior à de 2014 e quase 14 milhões de
desempregados;
2) um contexto externo bem menos favorável que o dos últimos
anos, por conta da guerra comercial empreendida por Trump;
3) a tensão permanente entre a população impaciente com a
política e as práticas da maioria fisiológica num Congresso onde boa parte dos
parlamentares é ou está em vias de ser investigada, processada e (queira Deus)
condenada e presa;
4) o acirramento dos conflitos em torno do orçamento público,
com fortes demandas da sociedade por mais e melhores serviços, enquanto o
apetite pantagruélico dos servidores e grupos políticos por recursos e
privilégios só faz crescer;
5) As incertezas quanto ao prosseguimento do
combate à corrupção.
Em seus discursos de palanque, candidatos atacam as elites, os esquerdistas, os rentistas, a grande mídia, os banqueiros e a Fada do Dente, e prometem soluções fáceis e rápidas — mas impraticáveis —, induzindo o confronto, a divisão e o ressentimento e demostrando inequívoca propensão para o intervencionismo estatal, o autoritarismo, a indisciplina fiscal e o assistencialismo.
Em seus discursos de palanque, candidatos atacam as elites, os esquerdistas, os rentistas, a grande mídia, os banqueiros e a Fada do Dente, e prometem soluções fáceis e rápidas — mas impraticáveis —, induzindo o confronto, a divisão e o ressentimento e demostrando inequívoca propensão para o intervencionismo estatal, o autoritarismo, a indisciplina fiscal e o assistencialismo.
Nem sei mais o que dizer.