quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

JUDICIÁRIO ARTICULA ARQUIVAMENTO DA LAVA-TOGA



Ocupada em explorar o trágico rompimento da barragem em Brumadinho, os efeitos funestos das chuvas no Rio e a morte de 10 adolescentes no Ninho do Urubu (isso para não mencionar a cobertura do lamentável acidente que matou o jornalista Ricardo Boechat na última segunda-feira), a mídia deu pouco destaque ao requerimento do senador Alessandro Vieira, que propôs a instalação da CPI Lava-Toga, e à crítica feita pelo deputado federal Marcelo Calero ao presidente do STF, segundo a qual a interferência de Toffoli em favor de Gilmar Mendes no procedimento aberto pela Receita Federal para investigar supostos “focos de corrupção, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e tráfico de influência do ministro-deus e sua mulher, a advogada Guiomar Mendes constitui crime. 

O pedido de abertura da CPI estava pautado para a sessão de ontem, mas foi arquivado pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre, depois que os senadores Tasso Jereissati, Katia Abreu e Eduardo GomesVieira pretende solicitar o desarquivamento, mas para isso precisa obter novamente o número de assinaturas necessárias, e o prazo é de 5 dias. “Vamos continuar nessa luta para que a gente consiga o número de assinaturas necessárias suficientes e fazer a análise da caixa preta do Judiciário, das suas altas cortes. É uma demanda da sociedade e vamos continuar em busca da transparência em todos os poderes”, explica o parlamentar, que tomou conhecimento oficial do arquivamento na manhã de terça-feira, 12. Segundo ele, o trâmite deveria ter sido a devolução do documento ao seu gabinete, para que fossem feitos os reparos e a recomposição do número de assinaturas, mas isso não ocorreu.

Ministros do STF teriam atuado nos bastidores para que o Senado recuasse. O Estado apurou que suas excelências trataram do assunto diretamente com senadores no último final de semana, e que Katia Abreu falou por telefone com Gilmar Mendes antes de recuar e dizer que “não é o momento de abrir uma crise institucional no País”. Em entrevista ao Estado, Vieira disse que houve ameaça de retaliação por parte de ministros.

Nesta terça, Toffoli negou qualquer interferência por parte de membros da Corte. Em coletiva com o ministro da Casa Civil, ambos falaram de "entendimento" e "pacificação" entre os poderes.  Um dia antes, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre confirmou o arquivamento por falta de assinaturas necessárias, e Toffoli elogiou sua postura no episódio. Nos bastidores, porém, integrantes da Corte veem as digitais de Lorenzoni nas movimentações do senador Alessandro Vieira. Para eles, a “Lava Toga” — voltada, em tese, para investigar a atuação de tribunais superiores —, mirava, na verdade, a Suprema Corte

Ao apresentar o pedido de criação da CPI, Vieira apontou o “uso abusivo de pedidos de vista ou expedientes processuais para retardar ou inviabilizar decisões do plenário” e a “diferença abissal do lapso de tramitação de pedidos, a depender do interessado” — dois pontos que dizem respeito direto ao funcionamento interno do Supremo, onde a avaliação é a de que a conturbada eleição para a Mesa do Senado contribuiu para a coleta de assinaturas. Na ocasião, Toffoli determinou que a votação fosse secreta, contrariando o grupo que apoiou Alcolumbre.

Um dia após o arquivamento, o Movimento Avança Brasil afirmou que "a luta pela transparência não vai arrefecer" e que o abaixo-assinado online criado pelo grupo para pressionar parlamentares a avançarem com a proposta vai continuar no ar. 

Segundo o MAB, a meta é alcançar 500 mil assinaturas. "É uma pauta prioritária e vamos avançar na direção do abaixo-assinado. Temos como meta 500 mil assinaturas com o objetivo de dar visibilidade e publicidade ao que ocorre nessas esferas. Quando conseguirmos isso, vamos prestar serviço à sociedade levando ao Senado". 

Por enquanto, o grupo conseguiu reunir apenas 10 mil nomes. Vamos apoiar, pessoal.