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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

LAVAR TOGA NÃO BASTA — É PRECISO DESINFETAR, DESPETIZAR E, EM ALGUNS CASOS, TOCAR FOGO



Vimos no post anterior que Gilmar Mendes, ao saber do procedimento aberto pela Receita Federal para investiga-lo (e a sua mulher) por supostos “focos de corrupção, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio, foi chorar as pitangas com o presidente da Corte. “Ultrajado” com a “ousadia” dos auditores, Toffoli saiu prontamente em socorro do colega e antigo mentor, disparando ofícios para todos os lados, solicitando ao ministro da Fazenda, ao secretário da Receita e à procuradora-geral de República a adoção das “providências” cabíveis”.

Nunca é demais relembrar que o atual presidente do Supremo foi advogado do Sindicato dos Metalúrgicos de SBC, consultor jurídico da CUT e assessor jurídico do PT e do ex-ministro José Dirceu, que atuou como advogado nas campanhas de Lula em 1998, 2002 e 2006 e como subchefe para assuntos jurídicos da Casa Civil da presidência da República, foi promovido em 2007 ao cargo de Advogado Geral da União e em 2009 ao de ministro supremo, na vaga aberta com a morte do ministro do STF Menezes Direito. Abrilhantam o “invejável currículo” do ministro que vestiu a toga se despir a farda de militante petista duas reprovações em concursos para juiz de primeiro grau em São Paulo e 4 pedidos de impeachment (dados de dezembro passado).

A indicação do “cumpanhêro” para o STF foi (mais) uma demonstração cabal da falta de noção de Lula sobre a dimensão do cargo de ministro. Sem currículo, sem conhecimento, sem luz própria e sem os laços com a rede protetora do partido ou com os referenciais do padrinho, o novato foi buscar apoio em Gilmar Mendes, que é quem melhor encarna a figura do velho coronel político. Já consolidado no habitat, passou a emular os piores hábitos do novo padrinho a arrogância incontida, a grosseria, a falta de limites, o uso da autoridade da forma mais arbitrária possível —, e agora sai em seu socorro, como saiu em socorro do guerrilheiro de araque, José Dirceu, no julgamento do Mensalão. Mas isso é outra conversa.

Toffoli foi suscitado no acordo de delação que Leo Pinheiro vinha negociando com o MPF, por conta de uma reforma milionária que a OAS executou em sua residência, em 2011, mas a informação vasou, Veja publicou, e o então o procurador-geral-cumpanhêro, Rodrigo Janot, suspendeu as tratativas. De acordo com a reportagem, o imóvel ganhou novos quartos, adega, espaço gourmet, instalações de gás, energia solar e paisagismo, além de sua área construída ter aumentado de 370 para 451 metros quadrados. Amigos do ministro ouvidos por Veja disseram que “a casa antiga virou uma mansão de revista”. Ainda segundo veja publicou então, essa “mansão de revista” estaria para Toffoli e a OAS assim como o sítio em Atibaia e o triplex no Guarujá para Lula e a Odebrecht; a diferença e que Lula está preso e Toffoli, presidindo o STF, o que coloca em suas mãos a chave da cela do ex-chefe). O ministro nega ter recebido qualquer tipo de ajuda da OAS (para mais detalhes, clique aqui e aqui).

Pesa ainda contra o magistrado uma suposta mesada de R$ 100 mil paga por intermédio de sua segunda esposa, a advogada, procuradora da Câmara Legislativa do DF e dona do Instituto Brasiliense de Estudos Tributários, Roberta Maria Rangel — um exemplo raro de sucesso repentino nas bancas de Brasília. A douta causídica cuida de processos em trâmite — ou que tramitarem — principalmente no STJ e no TSE, e seus clientes vão de políticos desconhecidos (muitos prefeitos de cidades pequenas e médias, por exemplo), a empresas e até mesmo um “banqueiro” de jogo de bicho.  Por motivos óbvios, ela evita atuar em ações que tramitam no Supremo, embora não se furte a agir nos bastidores: em dezembro de 2014, Roberta deixou de advogar num processo sob a relatoria do marido, mas repassou a tarefa para o colega Daniane Mangia Furtado, que trabalhou com o próprio Toffoli quando este ainda estava na advocacia. Toffoli se deu por impedido de julgar a ação, mas sua relação com Daniane segue firme e forte — hoje ele é sócio de Roberta, ou seja, o sócio da mulher do ministro é um ex-parceiro do próprio ministro.

O STF contabiliza nada menos que 28 pedidos de impeachment contra seus membros. Toffoli e Barroso ocupam o segundo lugar no ranking, com 4 pedidos cada, atrás somente do imbatível Gilmar, com 9 — 7 dos quais protocolados a partir de 2016. A maior parte das petições é rapidamente arquivada pelo Senado — a quem cabe processar e julgar juízes da corte —, e como o Parlamento virou um ninho de corruptos, as chances de uma ação dessas prosperar são mínimas. Mas é bom lembrar que dois Presidentes foram impichados desde a redemocratização desta Banânia, e que o mais popular de todos os chefes do executivo nas últimas 3 décadas está na cadeia.

A situação vai se afunilando para Toffoli: não bastassem sua inaptidão para exercer o cargo que ocupa e suas questionáveis intervenções na condição de julgador, esqueletos escondidos em seu armário ao longo de sua vida pregressa ora saem para assombrá-lo. Na última segunda-feira, o historiador Marco Antonio Villa  teceu críticas contundentes ao magistrado, desta feita em razão de um vídeo que viralizou nas redes sociais no final de semana passado, no qual o próprio Toffoli admite sua participação no “roubo” de um processo para evitar uma medida judicial.

Na ocasião em que esse vídeo foi gravado, vivíamos sob a nefasta égide da ORCRIM, e a impunidade era o prato do dia. Mas as coisas estão mudando. Barbas de molho, excelências.


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

JUDICIÁRIO ARTICULA ARQUIVAMENTO DA LAVA-TOGA



Ocupada em explorar o trágico rompimento da barragem em Brumadinho, os efeitos funestos das chuvas no Rio e a morte de 10 adolescentes no Ninho do Urubu (isso para não mencionar a cobertura do lamentável acidente que matou o jornalista Ricardo Boechat na última segunda-feira), a mídia deu pouco destaque ao requerimento do senador Alessandro Vieira, que propôs a instalação da CPI Lava-Toga, e à crítica feita pelo deputado federal Marcelo Calero ao presidente do STF, segundo a qual a interferência de Toffoli em favor de Gilmar Mendes no procedimento aberto pela Receita Federal para investigar supostos “focos de corrupção, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e tráfico de influência do ministro-deus e sua mulher, a advogada Guiomar Mendes constitui crime. 

O pedido de abertura da CPI estava pautado para a sessão de ontem, mas foi arquivado pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre, depois que os senadores Tasso Jereissati, Katia Abreu e Eduardo GomesVieira pretende solicitar o desarquivamento, mas para isso precisa obter novamente o número de assinaturas necessárias, e o prazo é de 5 dias. “Vamos continuar nessa luta para que a gente consiga o número de assinaturas necessárias suficientes e fazer a análise da caixa preta do Judiciário, das suas altas cortes. É uma demanda da sociedade e vamos continuar em busca da transparência em todos os poderes”, explica o parlamentar, que tomou conhecimento oficial do arquivamento na manhã de terça-feira, 12. Segundo ele, o trâmite deveria ter sido a devolução do documento ao seu gabinete, para que fossem feitos os reparos e a recomposição do número de assinaturas, mas isso não ocorreu.

Ministros do STF teriam atuado nos bastidores para que o Senado recuasse. O Estado apurou que suas excelências trataram do assunto diretamente com senadores no último final de semana, e que Katia Abreu falou por telefone com Gilmar Mendes antes de recuar e dizer que “não é o momento de abrir uma crise institucional no País”. Em entrevista ao Estado, Vieira disse que houve ameaça de retaliação por parte de ministros.

Nesta terça, Toffoli negou qualquer interferência por parte de membros da Corte. Em coletiva com o ministro da Casa Civil, ambos falaram de "entendimento" e "pacificação" entre os poderes.  Um dia antes, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre confirmou o arquivamento por falta de assinaturas necessárias, e Toffoli elogiou sua postura no episódio. Nos bastidores, porém, integrantes da Corte veem as digitais de Lorenzoni nas movimentações do senador Alessandro Vieira. Para eles, a “Lava Toga” — voltada, em tese, para investigar a atuação de tribunais superiores —, mirava, na verdade, a Suprema Corte

Ao apresentar o pedido de criação da CPI, Vieira apontou o “uso abusivo de pedidos de vista ou expedientes processuais para retardar ou inviabilizar decisões do plenário” e a “diferença abissal do lapso de tramitação de pedidos, a depender do interessado” — dois pontos que dizem respeito direto ao funcionamento interno do Supremo, onde a avaliação é a de que a conturbada eleição para a Mesa do Senado contribuiu para a coleta de assinaturas. Na ocasião, Toffoli determinou que a votação fosse secreta, contrariando o grupo que apoiou Alcolumbre.

Um dia após o arquivamento, o Movimento Avança Brasil afirmou que "a luta pela transparência não vai arrefecer" e que o abaixo-assinado online criado pelo grupo para pressionar parlamentares a avançarem com a proposta vai continuar no ar. 

Segundo o MAB, a meta é alcançar 500 mil assinaturas. "É uma pauta prioritária e vamos avançar na direção do abaixo-assinado. Temos como meta 500 mil assinaturas com o objetivo de dar visibilidade e publicidade ao que ocorre nessas esferas. Quando conseguirmos isso, vamos prestar serviço à sociedade levando ao Senado". 

Por enquanto, o grupo conseguiu reunir apenas 10 mil nomes. Vamos apoiar, pessoal.