Pois bem. Dora Kramer diz
que de bobo Moro não tem nada, ou não teria saído do anonimato de uma vara da
Justiça Federal em Curitiba para a cena nacional como a grande estrela da
operação que desmontou o esquema de corrupção na Petrobras e fez a casa de Lula cair. Portanto — prossegue a
jornalista —, requer prudência a avaliação recorrente de que o ministro estaria
se submetendo inocente e inutilmente a humilhações impostas pelo presidente Bolsonaro.
Peço vênia para discordar. Moro criou sua reputação na 13ª Vara Federal do Paraná, e foi justamente
por isso que Bolsonaro, quando ainda
prometia travar uma cruzada contra a corrupção, convidou o magistrado a chefiar
o ministério da Justiça no seu governo. O que motivou o hoje ex-juiz a abandonar uma carreira de mais
de 20 anos na magistratura foi, primeiro, a possibilidade de levar adiante seu
projeto anticrime e anticorrupção; segundo, a promessa de que teria carta branca
para agir; terceiro, a perspectiva de ascender ao Supremo Tribunal Federal — sonho de todo juiz e até de que não o é;
na composição atual da corte, somente Luiz
Fux e Rosa Weber são juízes de
carreira. Por algum motivo incerto e não sabido, essa promessa vem sendo negada, mas foi verbalizada publicamente por Bolsonaro em
maio passado. Sabe-se que o capitão é useiro e vezeiro em desdizer o
que disse e dizer que não disse nada do que disse (e depois fica puto quando o
chamam de mentiroso), mas até aí morreu o Neves.
Dora diz ainda
que se espera de Sérgio Moro uma
reação enérgica, que peça demissão ou ao menos responda ao chefe que lhe solapa
a autoridade. Mas deixa indeterminado o sujeito da frase. Quem espera esse
resultado? O presidente? A mídia? Os guerreiros mais poderosos
são a paciência e o tempo. E Moro é
um estrategista. Sempre foi. Quiçá ele tenha se arrependido de ter trocado o
certo pelo duvidoso, mas as pontes foram queimadas e as caravelas, postas a
pique. Como dizia meu finado pai, o jeito é sorrir e tocar pra frente.
Moro, prossegue Dora, vem seguindo os ensinamentos de Sun Tzu, isto é, usando a força do
inimigo para derrotá-lo sem lutar, e a esta altura não iria a parte alguma
demitindo-se ou exigindo um respeito que Bolsonaro
não tem nem se dispõe a dar a ninguém de fora de seu círculo familiar e/ou
bajulador (siga este link para conferir o texto na
íntegra). Quanto a isso não há como discordar.
Bolsonaro também
faz seus lances na coxia do palco onde exibe suas estridências. Diz que não
liga para pesquisas, mas certamente não lhe passou despercebido o fato de ele
registra uma desaprovação acima dos 50%, enquanto Moro e a Lava-Jato se
mantêm no patamar de maioria em termos de aprovação. O presidente é obviamente
amalucado, mas não é cego nem surdo e, quando lhe interessa, põe o pé no freio.
Bem como Moro acelera na velocidade
que lhe é conveniente. E assim seguem os dois num vaivém que, se não pode ser
comparado ao xadrez, assemelha-se a um jogo de gato e rato em que se confundem
e se alternam forças e vantagens de caça e caçador.
Também disso não há como
discordar.