quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

RESTAURE-SE O IMPÉRIO DA MORALIDADE OU LOCUPLETEMO-NOS TODOS! (PARTE XVII)

 

Lula é o protótipo do desempregado que deu certo. Não trabalha desde os 30 anos (deixou de ser operário em 1980, quando fundou o PT, mas, como líder sindical, já não pisava em chão de fábrica desde 1972). Mais da metade de sua vida foi dedicada à “arte da política”, e não ao batente diário que consome o tempo de milhões de brasileiros. Nem mesmo sua narrativa sobre o “acidente” em que perdeu um dedo resiste a uma análise mais detalhada.

Sem prejuízo de voltarmos a este assunto numa sequência dedicada integralmente ao menino pobre que migrou para o sudeste fugido das agruras da seca e da miséria, cumpre mencionar que as chances de alguém destro (como é o caso de Lula) perder o dedo mínimo da mão esquerda operando um torno mecânico são próximas de zero. Vale conferir o que disse a propósito o ex-engenheiro sênior da CSN e especialista em metalurgia de produção Lewton Verri, que conheceu o dito-cujo na década de 70 e sempre o teve na conta de “um sindicalista predador e malandro, que traía os ‘cumpanhêros’ começando e encerrando greves para ganhar dinheiro em acordos espúrios”( clique aqui para acessar uma postagem que revolve mais a fundo as vísceras desse caso espúrio).

Golbery do Couto e Silva — ex-chefe da Casa Civil em dois governos militares e arquiteto da “abertura lenta e gradual” que restabeleceu a democracia no Brasil — teria dito a Emílio Odebrecht que Lula nada tinha de esquerda e que não passava de um “bon vivant. E o tempo demonstrou que ele estava coberto de razão. 

Lula jamais foi o que a construção de sua imagem pretendia que fosse, mas, sim, alguém avesso ao trabalho, que vivia de privilégios e mordomias oriundas de contatos proveitosos e a poder da total ausência do conjunto de valores éticos e morais que permitem distinguir o aceitável do inaceitável.

Mesmo quando cumpria pena em Curitiba, o meliante continuava a entoar, como ladainha em procissão, a fábula da superioridade moral, insistindo que ninguém e mais honesto do que ele. Agora, com a ficha imunda lavada pelo STF, introduziu em sua abjeta cantilena um despudorado refrão que o reputa inocentado — quando na verdade o que a ala "garantista" da Corte fez (graças ao ministro Fachin, que anulou suas condenações em Curitiba para evitar que o ex-juiz Sergio Moro fosse declarado suspeito) foi determinar o reinício dos processos na Justiça Federal do Distrito Federal.

Ao longo dos últimos anos, Lula respondeu a 20 ações criminais e foi absolvido em apenas três. Outros 16 processos tiveram sua tramitação interrompida por tecnicidades ou reviravoltas que resultaram no arquivamento das ações. Ele ainda é réu numa ação que apura tráfico de influência na compra de caças suecos, alvo da Operação Zelotes — que ainda não havia sido julgada quando eu redigi esta postagem. Em um caso que marcou as últimas derrotas da Lava-Jatoo ministro Ricardo Lewandowski ordenou a suspensão de duas investigações contra o “ex-corrupto”, afirmando que os processos usaram como prova delações premiadas que haviam sido invalidadas.

Com base neste e em outros casos semelhantes, o PT lançou uma peça publicitária intitulada “Memorial da Verdade”, na qual cita 19 ações em que Lula teria sido inocentado. O texto lista processos em que o ex-presidente foi “inocentado” e três em que foi “absolvido”. A diferença entre os termos utilizados, segundo o professor de Direito Penal da FGV-Direito Rio Felipe Lima Almeida, deve-se ao fato de as decisões da Justiça não tratarem, objetivamente, de inocentar réus e acusados.

A expressão ‘inocente’ não é técnico-jurídica. Inocentes todos nós somos até que se tenha uma sentença condenatória transitada em julgado, e realmente isso não existe em relação ao ex-presidente Lula”, afirmou o professor. “Agora, trancamento de ação penal, arquivamento de inquérito ou rejeição de denúncia, nessas situações nós não temos o enfrentamento do mérito, então não há sentença do Estado dizendo que não houve crime.”

Diferentemente da inocência, a absolvição é um elemento jurídico registrado no Código de Processo Penal. Esse tipo de decisão reconhece que as acusações apresentadas contra uma das partes em determinado processo são improcedentes. A partir daí, o caso é encerrado e o réu deixa a posição de suspeito.

Não se pode confundir um discurso político com um discurso jurídico. Os 19 casos em que a defesa de Lula alega inocência nas redes sociais são dois trancamentos de investigações, quatro denúncias rejeitadas, quatro decisões anuladas — a partir do reconhecimento de suspeição de Moro —, dois arquivamentos, uma prescrição (impossibilidade de punir por causa da idade) e um reconhecimento de legalidade nas palestras realizadas por Lula.

A divulgação das vitórias processuais de Lula coincide com o momento em que o petralha lidera as pesquisas de intenção de voto. Em relação ao que veicula o PT, as alegações mais questionáveis quanto à inocência do flibusteiro envolvem os casos triplex do Guarujá, do sítio de Atibaia e a compra de um terreno para o Instituto Lula, porque todas foram anuladas com base em decisões do STF que reconheceram a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgar o réu e a parcialidade de Moro ao proferir as sentenças.

Nessas situações, a validade das decisões foi desfeita, mas dois desses casos ainda podem ser retomados, já que o próprio STF apontou erros processuais, e não ausência de provas, como afirma a publicidade petista. À exceção do processo sobre o sítio de Atibaia, cuja denúncia foi reapresentada e rejeitada pela Justiça do Distrito Federal, nos outros dois casos há a possibilidade (remota, é verdade) de que sejam reiniciadas.

Lula tem 76 anos, e o prazo prescricional é reduzido pela metade quando o réu é septuagenário. Assim, para que ele seja novamente julgado, condenado e preso, em considerando a vasta gama de recursos possíveis nas quatro instâncias do Judiciário e as nuances políticas que beneficiam criminosos de colarinho branco, seria preciso que ele reencarnasse meia dúzia de vezes, e o dito popular que atribui sete vidas aos gatos não contempla os gatunos.

As imagens da deusa Têmis que decoram fóruns e tribunais mundo afora estão em pé. A estátua de pedra erigida diante do STF está sentada. Como as demais, nossa deusa da Justiça tem os olhos vendados e porta a indefectível espada. Mas sua balança foi roubada por algum político que, graças ao foro privilegiado, ainda não foi julgado. Em nossa suprema corte, uma decisão pode demorar duas horas ou vinte anos, a depender de quem forem o réu e o ministro em cujas mãos estiver seu destino. 

Como se pode inferir das representações da deusa mundo afora, a Justiça é cega, mas a impressão que se tem é que no Brasil ela é paga para não enxergar

Com informações do jornal O Estado de S. Paulo.