quinta-feira, 9 de junho de 2022

UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA

 

Durou cerca de 11 minutos o voo da Blue Origen que, no último sábado, tornou o engenheiro de produção mineiro Victor Correa Hespanha o segundo brasileiro a viajar ao espaço


Não sei quando serão abertas novas vagas para o turismo espacial, mas, se houvesse outra viagem prevista para os próximos meses, bem que poderíamos promover uma vaquinha online para bancar a passagem (só de ida) dos dois pré-candidatos à presidência mais bem colocados nas pesquisas eleitorais. Sairia caro, mas valeria cada centavo.

 

Sobre o ex-presidente ex-presidiário e ex-corrupto que almeja voltar à cena do crime, parafraseando o candidato a vice em sua chapa, conversaremos mais adiante. Sobre seu principal adversário na disputa, dediquei recentemente uma sequência de postagens (clique aqui para acessar a primeira e aqui, aqui, aqui, aqui e aqui para ler os capítulos subsequentes). Mas nunca é demais relembrar que, após 15 anos no Exército, Bolsonaro deixou o quartel pela porta dos fundos, passou 2 anos na Câmara Municipal do Rio e 28 no baixo clero da Câmara Federal. No Planalto há 3 anos e meio, jamais desceu do palanque, a despeito de ter prometido, durante a campanha, propor o fim da reeleição. 

 

Bolsonaro costuma dizer que só Deus o tira do cargo. Se “a voz do povo é a voz de Deus”, como diz o ditado, o mandatário está coberto de razão. Segundo o BTG/FSB, 59% dos eleitores não votariam nele de jeito nenhum. 

 

Observação: A título de comparação, os índices de rejeição a Lula, Ciro e Simone são de 43%, 49% e 28%, respectivamente. A quatro meses do pleito em que se reelegeram, FHC, Lula e Dilma amargavam 26%, 27% e 35% de rejeição (segundo o Datafolha). 

 

Como parlamentar, o deputado que trocou oito vezes de partido enalteceu a ditadura, elogiou milicianos, aprovou dois míseros projetos e foi alvo de mais de 30 processos. No Planalto, visando eternizar-se no comando da Nação, aparelhou os órgãos do Estado e enfraqueceu as instituições democráticas, e agora, faltando quatro meses para o pleito que decidirá sua sorte, instrumentaliza politicamente as Forças Armadas ameaçando dar um golpe caso não seja reeleito.

 

As falas do presidente da Câmara dos Deputados e do presidente do Senado Federal (que também preside o Congresso Nacional) têm sido pusilânimes. Não cabe ao Legislativo lavar as mãos, deixando que o Judiciário arque sozinho com a tarefa de colocar limites ao ex-capitão. O atual presidente do TSE disse que quem ganhar as eleições será diplomado e empossado. O próximo, que comandará a Justiça Eleitoral durante o pleito de outubro, avisa que o candidato que espalhar fake news e falar de fraude nas urnas terá o registro cassado. 

 

Vale lembrar e difundir a frase atribuída a Thomas Jefferson, um dos autores da Declaração de Independência dos EUA e terceiro presidente do país: “o preço da liberdade é a eterna vigilância”. A vigília do Brasil é dizer claramente a Bolsonaro que haverá eleições, sim, e que o vencedor tomará posse, sim. Já a possibilidade de ele ser derrotada dispensa avisos, já que todas as pesquisas de intenção de voto apontam nesse sentido. Como nada é perfeito, a derrota do bolsonarismo boçal pode implicar a volta do lulopetismo corrupto. Torçamos, pois, pelo fortalecimento da mambembe e claudicante candidatura de “terceira via”, agora capitaneada pela senadora emedebista Simone Tebet.

 

O caos que Bolsonaro promoveu no Brasil ao longo de sua funesta gestão não afeta somente a vida dos mais pobres, a economia e a imagem do país no exterior, mas também o próprio mandatário em suas pretensões eleitoreiras. Não fosse pela elogiável iniciativa do então governador João Doria, é bem provável que ainda estivéssemos aguardando o general Pesadelo definir o dia D e a hora H 

 

Arthur Lira, que deve a presidência da Câmara ao dinheiro do Orçamento Secreto, mantém na gaveta mais de 140 pedidos de impeachment, concedendo sobrevida eterna ao capetão, enquanto Augusto Aras, procurador vassalo do presidente suserano, faz malabares com as denúncias por crimes comuns em desfavor do chefe. 

Assim como o BTG/FSB, o Datafolha indica que rejeição ao presidente-candidato continua em alta, mesmo entre os beneficiários do Auxílio Brasil. A troca em série de presidentes da Petrobras e de ministros não produziu o resultado esperado pelo Planalto, e o Banco Central sinaliza que a inflação fugiu ao controle e se disseminou por amplos setores da economia. Impossibilitado de conceder reajuste expressivo aos policiais, Bolsonaro já não sabe se o aumento linear de 5% trará votos ou aumentará a antipatia geral e produzirá um boicote da máquina pública.

 

Para alguém que planta teorias da conspiração contra as urnas eletrônicas e incita a insubordinação de policiais militares contra governadores dia sim e no outro também, a suprema ironia é ver a si mesmo, aos filhos e aos aliados do Centrão transformados em inimigos de policiais, auditores, etc., por conta de sua inadequação ao cargo que exerce valendo-se de mentiras e promessas não cumpridas.

 

Que isso sirva de lição a todos que (espantosamente) a aplaudir esse desgoverno abjeto — de parlamentares beneficiados pelo sequestro do Orçamento a empresários alheios à realidade do resto da população. Mas nunca é demais relembrar que a debacle eleitoreira de Bolsonaro resultará no sucesso do retrocesso. A menos que a terceira via se viabilize, logo diremos o mesmo — mais uma vez — do (igualmente abjeto) lulopetismo corrupto. 

 

Triste Brasil.