Em 2012, quando a PF deflagrou a Operação Porto Seguro, veio a público que Lula tinha um caso com Rosemary Noronha desde os anos 1990. Na condição de "segunda-dama informal", madame acompanhou "Deus" — como ela se referia a ele — em pelo menos 32 viagens oficiais. Seu nome não aparecia nos manifestos e ela tampouco ficava na suíte destinada ao presidente, mas não abria mão de hotéis de luxo e de restaurantes estrelados. Segundo Leo Pinheiro, a moça recebia R$ 50 mil por mês da OAS (também a pedido do "chefe", o empreiteiro teria incluído o marido dela na folha de pagamento da empresa).
Quando a história veio a público, o jornal O Globo pediu a quebra do sigilo dos gastos de Rose no cartão presidencial, mas o STJ empurrou a coisa com a barriga. Em 2014, quando o movimento “Volta, Lula” ganhou corpo, Dilma — que prometeu "fazer o diabo" para se reeleger — ameaçou divulgar as despesas da concubina real, forçando sua majestade a recuar. Segundo o blog Diário do Poder, os gastos com cartões corporativos entre 2003 e 2015 somaram R$ 615 milhões (média de mais de R$ 50 milhões por ano), e incluíram mesas de sinuca, diárias dos seguranças da "primeira-família" e custeio de musculação e materiais de construção para Lurian. Em setembro de 2013, Augusto Nunes publicou em Veja um resumo circunstanciado das relações de Lula com sua suposta amásia. Segue um excerto:
"A discrição nunca foi uma característica da personalidade de Rosemary Noronha. Quando servia ao ex-presidente em Brasília, ela era temida. Em nome da intimidade com o “chefe”, fazia valer suas vontades mesmo que isso significasse afrontar superiores ou humilhar subordinados. Nos eventos palacianos, a assessora dos cabelos vermelhos e dos vestidos e óculos sempre exuberantes colecionou tantos inimigos — a primeira-dama não a suportava — que acabou sendo transferida para São Paulo. Mas caiu para cima. Encarregada de comandar o gabinete de Lula de 2009 a 2012, Rose viveu dias de soberana e reinou até ser apanhada pela PF ajudando uma quadrilha que vendia facilidades no governo. Em troca de pequenos agrados, inclusive em dinheiro, ela usava a intimidade que tinha com Lula para abrir as portas de gabinetes restritos na Esplanada. Foi demitida, banida do serviço público e indiciada por crimes de formação de quadrilha e corrupção. Um ano e meio após esse turbilhão de desgraças, no entanto, a fase ruim parece ter ficado no passado. Para que isso acontecesse, porém, Rose chegou ao extremo de ameaçar envolver o governo no escândalo."
O general Golbery do Couto e Silva (também conhecido como "O Bruxo") disse certa vez a Emílio Odebrecht que Lula nada tinha de comunista, que não passava de um bon vivant, que deixou de ser operário quando fundou o PT e que trocou a pinga vagabunda e os cigarros baratos por vinhos premiados, uísques caríssimos e charutos de US$ 100 assim que encontrou quem pagasse a conta. Análise perfeita, mas não totalmente exata: na condição de líder sindical, Lula não dava expediente em chão de fábrica desde 1972; numa conta de padaria, mais da metade de seus "gloriosos dias" foi dedicada à "arte da política", não ao batente diário que consome o tempo de milhões de brasileiros (mais detalhes na sequência O desempregado que deu certo).
Continua...