Geraldo Alckmin afirmou
recentemente que há no Brasil duas mentiras: o petismo e o bolsonarismo.
Ex-governador de São Paulo e ex-candidato à presidente da República, o eterno
picolé de chuchu pediu a seu partido que tenha a “coragem de criticar” o
governo de Jair Bolsonaro, “pôr o dedo na ferida” e “não bajular os poderosos”, além de
prestar solidariedade a Rodrigo Maia.
Na visão do tucano, o presidente da Câmara vem sendo alvo “desses oportunistas políticos por 30 anos,
ele e a família inteira, que, numa deslealdade, vem atacar a vida dos homens
públicos, jogando a sociedade contra suas instituições”. Disse ele: “Nós não temos duas verdades, a
extrema-direita e a extrema-esquerda. Nós temos duas grandes mentiras: o
petismo e o bolsonarismo. Duas mentiras que precisam ser enfrentadas.” E
ainda acusou o atual governo de não ter projeto de reforma tributária nem
agenda de competitividade, e criticou a possibilidade de volta de um tributo
sobre transações financeiras, como foi a CPMF.
Por fim, afirmou que “distribuir armas é
uma irresponsabilidade” e que o governo deveria reforçar a polícia de
fronteira para evitar a entrada delas.
Se tivesse sido tão enfático durante a campanha
presidencial, Alckmin certamente
teria granjeado mais do que os míseros 4,7% dos votos válidos em outubro passado.
Aliás, se ele não fosse tão turrão, teria reconhecido sua insignificância como
candidato à presidência e cedido a vez a João
Doria, que pode não ser a panaceia para todos os males do Brasil, mas tinha
bem mais chances reais de disputar (e até vencer) o segundo turno. Enfim, não
adianta chorar o leite derramado.
Mudando de pato para ganso, dias atrás o
presidente Jair Bolsonaro se desmanchou em elogios ao ministro Dias Toffoli
— que, nunca é demais lembrar, foi reprovado por duas vezes consecutivas em concursos
para juiz de Direito, mas acabou promovido a ministro supremo pelo presidiário
de Curitiba quando este ainda estava solto e conspurcava com seu rabo sujo a
poltrona do gabinete mais cobiçado do Palácio do Planalto. O caminho que Toffoli à mais alta Corte de Justiça
desta Banânia foi entremeado por alertas vermelhos, a começar por sua pouca
idade e total inexpressividade no meio jurídico. A rigor, as credenciais do
indicado eram ter sido advogado do PT,
assessor da Casa Civil de José
Dirceu e advogado-geral da União no governo do comandante máximo
da ORCRIM (clique aqui e aqui para mais detalhes), e sua
nomeação, mais uma demonstração cabal da falta de noção do molusco abjeto sobre
a dimensão do cargo de ministro. Mas sigamos adiante.
Ainda sobre o Supremo, disse Josias de Souza:
Com a supremacia já bastante combalida, o STF sofre um ataque inusitado. O
ministro Dias Toffoli decidiu
transformar sua autocombustão num processo de carbonização de toda a Corte. O
cérebro de um magistrado começa a funcionar no instante em que ele nasce. E não
para até que o dono da toga se mete em conchavos políticos. Toffoli virou arroz de festa nos salões
do Poder Executivo. Na última quinta-feira, participou de café da manhã
oferecido por Jair Bolsonaro à
bancada feminina do Congresso. Ao discursar, o capitão sentiu-se à vontade para
dizer o seguinte: "É muito bom nós
termos aqui a Justiça ao nosso lado, ao lado do que é certo, ao lado do que é
razoável e ao lado do que é bom para o nosso Brasil."
Mesmo quem não entende de política é capaz de compreender os
lances da politicagem. No início da semana, noutro café da manhã, Toffoli comprometera-se com os termos
de um pacto a ser celebrado entre os três Poderes. No embrulho do pacto, há
temas que podem resultar em demandas judiciais com potencial para escalar a
pauta do Supremo — reformas previdenciária e tributária, por exemplo.
Ao dizer que a Justiça está "ao nosso lado", Bolsonaro usa Toffoli (9% da composição do Supremo)
para desmoralizar os outros dez ministros (91% da Corte). É como se o chefe do
Executivo enxergasse no Pretório Excelso, do outro lado da Praça dos Três
Poderes, um puxadinho do Palácio do Planalto. Uma instância da qual o governo
espera ouvir apenas "amém", pois a Bic do capitão só assina "o
que é bom para o nosso Brasil." Nesse enredo, não parece haver espaço para
meio-termo. Ou o Supremo segura Toffoli, ou Toffoli transforma em carvão o que restou do Supremo.
Para encerrar: Bolsonaro,
que já se comprometeu a oferecer a Sérgio
Moro a próxima cadeira que vagar no Supremo,
disse há alguns dias que “está na hora
de termos um ministro evangélico. A meu ver, o Tribunal precisa de juízes
competentes, e não de pastores ou de proselitistas religiosos. Indicar um evangélico
que tenha reputação ilibada e notável saber jurídico é uma coisa; indicá-lo por
ser evangélico é outra bem diferente. Ademais, somos um Estado laico. Por uma simples
questão de isonomia, teríamos de vestir com a toga suprema representantes dos
judeus, dos espíritas, dos, protestantes, dos budistas, dos umbandistas, de
testemunhas de Jeová, e por aí segue esse bizarro circo de horrores.
Das
entrelinhas da fala do capitão é possível inferir que ele poderá indicar também
o juiz federal Marcelo Bretas, de
quem se tornou bastante próximo. O magistrado, que é responsável pelos
processos da Lava-Jato no Rio de
Janeiro, membro da Comunidade Evangélica Internacional da Zona Sul e originário
da Assembleia de Deus, foi convidado para o coquetel de Jair Bolsonaro e já se manifestou diversas vezes nas redes em apoio
ao presidente.