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quinta-feira, 11 de outubro de 2018

FALTANDO 17 DIAS PARA O SEGUNDO TURNO, COMEÇAM AS NEGOCIATAS PELO APOIO DOS DERROTADOS.


Conforme eu disse na postagem anterior, nos próximos dias os holofotes estarão focados nas negociações de apoio dos partidos cujos candidatos a presidente foram expurgados no último domingo. Assim, a matéria que eu pretendo publicar sobre nossa “Constituição Cidadã” vai ficar para outra hora. Adianto apenas que convocar uma constituinte no ano que vem, sob Bolsonaro ou (deus nos livre) Luladdad, com esse Congresso que temos seria um desastre. Felizmente, ambos os candidatos parecem ter abandonado essa ideia.

Voltando à vaca fria: a temporada de caça ao apoio foi aberta logo após o encerramento do primeiro turno. Resta saber para que lado as legendas derrotadas vão correr. O PTB declarou apoio a Bolsonaro, a exemplo de João Dória e do PSDB de São Paulo (no resto do país, porém, será cada um por si). 

Em nota assinada por Ciro Nogueira, o PP declarou neutralidade, mas reiterou que a segurança pública precisa ser elevada ao topo das prioridades do país. A sigla é uma das mais fortes do Centrão: elegeu 37 deputados, mais que o PSDB (29) e cinco senadores. A senadora Ana Amélia, que foi vice na chapa de Alckmin, decidiu dar apoio pessoal a Bolsonaro.

Quarto colocado nas pesquisas, o Cabo Daciolo ainda não se manifestou — deve ter subido o morro para orar —, mas o presidente do Patriota, Adilson Barroso, adiantou que o apoio da legenda deve ir para Bolsonaro (não por afinidade de ideias e projetos, mas por simples exclusão). A executiva do PSC seguiu pelo mesmo caminho, menos em prol da vitória do Capitão Gancho e mais porque apoiá-lo deve refletir positivamente nas campanhas de Wilson Witzel e Wilson Lima, que disputam o governo no Rio e no Amazonas, respectivamente.

Guilherme Boulos, que obteve 0,58% do total de votos válidos, foi o primeiro a declarar apoio a Luladdad — o que não chega a surpreender, em se tratando do líder dos sem-teto. Pelo Twitter, ele disse que o PSOL estará nas ruas para derrotar o fascismo e eleger quem representa a democracia no segundo turno. O cangaceiro de araque também deve apoiar o fantoche de Lula, embora com reservas — Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, afirmou que será um “apoio crítico”, e que Ciro fará oposição ao próximo governo, independentemente de quem se eleger presidente. O PSTU, da estapafúrdia Vera Lúcia — que obteve 0,05% dos votos válidos —, também declarou apoio ao petista, a exemplo do que fizeram o PPL, o Pros, o PSB e, claro, o PCdoB.

O partido Novo, de João Amoedo, informou que não deve apoiar nenhum dos dois presidenciáveis, mas destacou que é absolutamente contrário ao PT — alguns nomes do partido já se manifestaram individualmente, como Romeu Zema Neto, que chegou ao segundo turno em Minas Gerais e está com Bolsonaro.  Marina Silva, da Rede, disse não se identificar nem com Haddad nem com Bolsonaro, e que deixa nas mãos do partido a definição, mas fará oposição ao novo governo, independentemente de quem for eleito. 

Henrique Meirelles, que injetou R$ 20 milhões do próprio bolso na campanha e ficou em sexto lugar, também não deve apoiar ninguém, embora o MDB ainda não tenha se definido. Já Álvaro Dias, do Podemos, disse que vai se licenciar do Senado e que, no seu caso, o silêncio é a melhor alternativa para esse momento — a um interlocutor, ele afirmou ainda que o voto nulo é uma opção aceitável, pois “não deseja se responsabilizar pelo desastre”. O PPS não deve apoiar nem Haddad nem Bolsonaro. O presidente do DEM, ACM Neto, vai se reunir com lideranças do partido para definir. O PR liberou seus integrantes, segundo o líder do partido na Câmara, José Rocha.

Por último, mas não menos importante: Uma declaração de Bolsonaro sobre a reforma da Previdência — segundo o candidato, é preciso fazer uma reforma, mas não nos moldes da que foi proposta pelo atual governo — desagradou o mercado financeiro. Resultado: o índice Bovespa despencou mais de 2 pontos e o dólar voltou a subir. Isso é apenas uma prévia de como serão os próximos 17 dias. Ah, a propaganda eleitoral obrigatória recomeça no feriado desta sexta-feira. Que Deus nos ajude a todos.

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sábado, 6 de outubro de 2018

ELEIÇÕES 2018 NA RETA FINAL — QUE DEUS NOS ACUDA!



Da campanha presidencial de 2018 sobrará, como dado mais revelante e toque de surrealismo, que o duelo decisivo se travou entre uma cela de prisioneiro e um quarto de hospital, cujos ocupantes compartilham a bizarria de ao mesmo tempo terem dominado o centro da trama e permanecido desaparecidos da vista pública.”

Assim Roberto Pompeu de Toledo inicia sua coluna na edição nº 2602 da revista Veja. Antes de conferir o restante do texto (magistral, como de costume), leia o que escreveu J.R. Guzzo  em sua coluna desta semana:

As eleições para eleger o novo presidente colocam o eleitor brasileiro numa situação que nunca aconteceu antes. Eleições, normalmente, são uma das ferramentas mais importantes da democracia — mas, na eleição deste fim de semana, um dos lados tem como objetivo, caso vença o pleito, acabar com o regime democrático no Brasil.

É uma droga de democracia, como todo mundo está cansado de saber, mas, por pior que seja, ainda é menos ruim que uma droga de ditadura — e é justamente isso que o consórcio formado pelo ex-presidente Lula, o PT e sua vizinhança quer fazer no país. Não falam assim, é claro. Mas os atos concretos que prometem praticar depois de assumir o governo vão deformar de tal maneira o poder público, os direitos individuais e a máquina do Estado que o resultado prático vai ser a construção de um regime de força no Brasil.

Não se trata apenas, como já aconteceu tantas outras vezes, de eleger um presidente ruim. O problema, agora, é que um dos possíveis finalistas, pelo que dizem há meses as “pesquisas de opinião”, tem um projeto público de ditadura para o país.

Acabar com o Poder Judiciário, por exemplo, anulando o seu tribunal mais elevado e interferindo nas decisões dos juízes e desembargadores — isso é ou não é uma providência básica que toda ditadura, sem exceção, julga indispensável tomar? Sim, é. Então: o candidato a presidente do PT promete que se for eleito vai criar um negócio chamado “controle social na administração da Justiça”. Isso quer dizer que as sentenças dos magistrados estarão sujeitas, no mundo real, a comitês externos ao Poder Judiciário, com membros nomeados pelo governo.

Promete-se, também, “repensar” os conselhos nacionais da Justiça e do Ministério Público. Todo mundo sabe muito bem o que significa “repensar” alguma coisa neste país — é virar a mesa. No caso, querem criar “ouvidorias”, compostas por pessoas que representem a “sociedade”, para vigiar juízes e MP. Querem, também, criar algum sistema de cotas para a escolha de juízes, de forma a “favorecer o ingresso e ascensão” de “todos os segmentos da população” nas carreiras do Judiciário, sobretudo as “vítimas históricas de desigualdades”. A coisa vai por aí afora, de mal a pior, mas o ex-deputado José Dirceu achou uma boa ideia acrescentar um plus a mais: segundo disse, deveriam ser tirados “todos os poderes do Supremo Tribunal Federal”. Segundo o pensador-chefe do PT, o “Judiciário não é um poder da República”. Quem manda, diz ele, é o povo, através do voto. Além do mais, afirmou, o que interessa é “tomar o poder”. Eleição é outra coisa.

O futuro governo Lula também promete criar oficialmente a censura à imprensa no Brasil. (Isso mesmo, governo Lula: o ex-presidente está na cadeia, condenado como ladrão em primeira e segunda instâncias, mas toda a estratégia do PT é provar que quem vai mandar de verdade no país é ele, e não seu preposto nas eleições.) Como acontece em relação à democracia, não se utiliza a palavra “censura”, assim abertamente; o que anunciam é o “controle social dos meios de comunicação”. É exatamente a mesma coisa. Esse “controle” não vai ser exercido pelo Espírito Santo. Quem vai “controlar” são pessoas de carne e osso nomeadas pelo governo, e “controlar” significa decidir o que a mídia pode ou não pode publicar. Isso é censura — e o resto é conversa, sobretudo os desmentidos de que haverá censura. A partir daí, só fica pior. Falam em “fortalecer” a prodigiosa TV Brasil, que eles mesmos inventaram, consegue gastar 1 bilhão de reais por ano de dinheiro público e até hoje tem audiência próxima ao zero. Falam em dar concessões de tevês e de rádios para sindicatos, “coletivos” e “movimentos sociais” — e mais do mesmo.

O projeto do PT inclui também uma “Assembleia Constituinte” paralela ao Congresso, como se fez na Venezuela, para criar um novo regime político e social no país. O que será isso? Nada fica dito em português claro, mas nem é preciso — basta ouvir o que dizem todos os dias as lideranças do partido. Propõe-se orientação “política” para o ensino básico, a parceria com governos criminosos, como os da Venezuela e Nicarágua, e com ditaduras africanas, e um governo dos “povos do campo, das águas e das florestas”, seja lá isso o que for. Mais que tudo, a candidatura do PT quer a volta dos governos Lula-Dilma — que acabam de ser acusados pelo ex-ministro Antonio Palocci de gastar 800 milhões de reais em dinheiro basicamente sujo para se manter no poder na última campanha presidencial. Francamente, não é preciso mais nada.

Voltando ao texto de Pompeu:

O roteiro tem um tanto de drama e outro de comédia. De seguro, pode-se avançar que, vença Jair Bolsonaro, o enfermo de São Paulo, vença Fernando Haddad, preposto e alter ego do prisioneiro de Curitiba, conforme indicam as pesquisas, no dia seguinte o Brasil não terá sossego. Quis a desditosa trama que a disputa se estreitasse entre representantes de tribos irredutíveis. Para uma ou para a outra, a luta continuará.

Estamos, Deus nos acuda, diante de dois projetos de salvação da pátria. Bolsonaro é o "mito", para os seguidores. Lula, depois da prisão, virou um pouco mais que humano. É o demiurgo que de sua cela de prisioneiro, transubstanciada em caverna de anacoreta, ou santuário de oráculo, transmite a mensagem divina.

Como sói acontecer quando a disputa é entre duas partes irredutíveis, a democracia treme nas bases. Da parte de Bolsonaro a ameaça é explícita, e vem embalada para os dois casos — o de derrota e o de vitória. "O PT descobriu o caminho para o poder: o voto eletrônico", disse ele, numa de suas falas no hospital. Se vencido, denunciará o sistema eleitoral. Em caso de vitória, os últimos ataques à democracia têm ficado por conta do candidato a vice, general Hamilton Mourão, autor da hipótese de "autogolpe" - aquele em que o presidente derruba as instituições em proveito próprio. Getúlio desferiu-o ao proclamar o Estado Novo, em 1937. Costa e Silva o repetiu em 1968, ao baixar o AI-5. Alberto Fujimori o perpetrou no Peru, em 1992.

Estamos, Deus nos acuda, diante de dois projetos de salvação da pátria

A ameaça do PT à democracia não é explícita, nem vem de seu candidato. Haddad é um intelectual com visão aberta e afeito ao diálogo. Mesmo Lula tem credenciais de democrata; governou em parceria com diferentes correntes e não se deixou levar pela tentação do terceiro mandato. A questão é o resíduo bolchevista que habita o núcleo duro do PT. Entre suas crenças permanece, herdada dos antigos partidos comunistas, a de que é detentor da chave da história. Ora, quem detém a chave da história não entra em eleição para cumprir mandato; entra para fazer a história andar, tarefa de sua exclusiva competência. Acresce que o duplo castigo do impeachment e da prisão aguçou no PT a sede de vingança.

A campanha impôs encargos opostos aos dois candidatos. Ao tosco Bolsonaro, impôs mostrar-se mais preparado do que é. Ele foi parcialmente salvo pelo recolhimento que o poupou dos debates e entrevistas. Ao preparado Haddad, impôs mostrar-se o tosco intérprete do impedido Lula. A ignorância de Bolsonaro teve seu espelho nos gravames que sufocam a inteligência de Haddad.

"Il peggio non è mai morto", o pior nunca está morto, dizem os italianos. Quem se aflige com a campanha, imagine o dia seguinte à vitória de um e outro candidato. Não será fácil para Haddad desfazer-se da máscara de Lula, tão afivelada lhe ficou no rosto. Haverá visitas comemorativas à cela em Curitiba e consultas para a formação do ministério. O candidato foi apenas o bastante procurador do verdadeiro vencedor, essa é a realidade dos fatos. Haddad enfrentará o desafio de recuperar a identidade em meio a um frenesi de atenções ao prisioneiro e pressões por sua libertação. De quebra, terá a amarrar-lhe os passos a bola de ferro da militância e da estrutura do PT.

Enquanto Haddad terá amparo de mais, Bolsonaro o terá de menos. Nem com o Posto Ipiranga, como ele chama o economista Paulo Guedes, é certo que poderá contar. "Em todas as nossas conversas, ameaçou abandonar o barco", escreveu a jornalista Malu Gaspar, no revelador perfil de Guedes que publicou na revista Piauí. Numa dessas ocasiões, o economista disse que vê-lo abandonar a campanha é "o sonho de todos" que querem a desgraça de Bolsonaro, mas que "esse prazer" não lhes dará. E acrescentou: "Só depois que ele for eleito". Tradução: no dia seguinte, o candidato poderá encontrar o Posto Ipiranga fechado.

Nas poucas horas que faltam para a eleição, ainda haverá chance para um candidato de centro? O problema do centro é sua invencível falta de charme. E o colunista nem está se referindo a Alckmin. É o centro mesmo, em si.