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quinta-feira, 30 de novembro de 2017

FERNANDO SEGOVIA E A MALA DE DE ROCHA LOURES


O desejo era antigo ― vinha desde a consumação do impeachment da anta vermelha ―, mas faltava coragem para torná-lo realidade quando a população não só rosnava nas redes sociais como saía às ruas para mostrar os dentes. Finalmente, há coisa de duas semanas, nosso temerário presidente ― aquele dos 3% de aprovação popular ― trocou Leandro Daiello, por Fernando Segovia no comando da PF.

Daiello ocupava o cargo desde 2011 e teve papel preponderante na Operação Lava-Jato. Segovia foi ex-adido policial na África do Sul e ex-superintendente da PF no Maranhão, feudo da família Sarney ― cujo macróbio patriarca foi um dos responsáveis pela oportuna indicação do delegado, e sua nomeação, recebida com reservas, é vista como fruto de uma “forte movimentação do quadrilhão do PMDB”. Precisa dizer mais alguma coisa? Precisa, sim. Até porque todo mundo merece o benefício da dúvida, embora concedê-lo a alguns é uma prova incontestável de ingenuidade. Mas vamos por partes.

A nomeação de Segovia pode ser resumida da seguinte maneira: um presidente da República sob investigação da PF troca o chefe daqueles que o investigam. Não à toa, o gesto presidencial foi prontamente retribuído: em sua primeira entrevista coletiva, logo após a cerimônia de posse, o delegado reduziu as denúncias oferecidas contra Temer pelo então procurador-geral Rodrigo Janot, sustentadas nas delações da JBS e em investigações da própria PF, a “um ponto de interrogação que fica hoje no imaginário popular brasileiro”. Não satisfeito com essa “pérola”, Segovia pariu mais uma ao dizer que “uma única mala talvez não desse toda a materialidade criminosa que a gente necessitaria para resolver se havia ou não crime, quem seriam os partícipes e se haveria ou não corrupção” [referindo-se à mala com R$ 500 mil em dinheiro vivo, entregue por Ricardo Saud a Rodrigo Rocha Loures ― homem da mais estreita confiança do presidente, segundo o próprio presidente ―, numa operação controlada da PF].

O discurso de Segovia foi uma peça política, algo inadmissível a um diretor da PF. Igualmente inadmissível foi ele se comportar como um ministro do Planalto, um advogado de Temer ou o próprio presidente. Seu pronunciamento, além de conter erros factuais acerca das investigações, revelou desconhecimento técnico sobre os inquéritos de Temer e deixou a nítida impressão de subserviência ao palácio do Planalto.  

O fictício detetive Hercule Poirot, imortalizado nos romances policiais da inesquecível Ágata Christie, fazia perguntas para estruturar um raciocínio que desembocava em surpreendentes revelações. Já Segovia não dá respostas, apenas formula insinuantes indagações.

Em vez de deixar o problema na floresta do “imaginário popular”, Segovia deveria anunciar que vai correr atrás de respostas.  O fato de se sentir à vontade para minimizar em público as gravíssimas denúncias de corrupção contra aquele que o nomeou ― e obtidas em grande parte por seus (agora) subordinados ― indicam o triste curso que as coisas tomaram em Brasília.

Por essas e outras, as declarações de Segovia e as circunstâncias de sua nomeação são preocupantes. Sobre Temer, ele disse que “o presidente continuará a ser investigado com a celeridade de todos os outros inquéritos”. Não é o que parece. Como bem ironizou o procurador da Lava-Jato Carlos Fernando Santos Lima, “quantas malas de dinheiro seriam suficientes para o novo Diretor-Geral da Polícia Federal?” 

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terça-feira, 7 de novembro de 2017

O DESTINO DA OPERAÇÃO MANI PULITE (MÃOS LIMPAS) E O EFEITO SMIRNOFF NA LAVA-JATO

As decisões recentes do TSE e do STF são indícios claros de que a Operação Lava-Jato pode acabar como a Mani Pulite italiana (mais conhecida como Operação Mãos Limpas), que produziu profundas mudanças no quadro partidário daquele país e levou ao suicídio diversos políticos e empresários que tiveram seus crimes revelados ― parece que na Itália a corja de canalhas tem mais vergonha na cara do que nesta Banânia, ou Lula já estaria infernizando o Capeta há muito tempo. Enfim, o fato é que medidas legislativas reduziram os poderes da Justiça italiana, fizeram crimes prescrever, tiraram condenados da prisão e produziram uma sensação de impunidade ainda maior do que a anterior às investigações ― reparou nas semelhanças ou quer que eu desenhe?

Em seu livro recém-publicado (mais detalhes no post da última quinta-feira), o procurador Deltan Dallagnol alerta para os limites do Judiciário no combate à corrupção, afirma que é preciso ir além da Lava-Jato e que não há solução fora do sistema político. Ele compara o mal, cujo prejuízo ao Brasil estima em R$ 200 bilhões anuais, a um serial killer que mata em silêncio, que se disfarça de buracos em estradas, falta de medicamentos, crimes de rua, miséria, mas, como se esconde, dificilmente é responsabilizado pelas mortes que causa. E a principal razão a que Dallagnol atribui a persistência da chaga é a impunidade, resultado de um sistema jurídico com inúmeras brechas favoráveis aos criminosos, boa parte das quais as “Dez Medidas” ― que o Congresso mastigou, destroçou e cuspiu de volta na cara do povo ― pretendiam fechar.

Advogados e juízes criticam a sanha justiceira do MP e posam de defensores do estado de direito contra o abuso das prisões preventivas, os ataques à privacidade e o arbítrio das autoridades, mas a realidade desmente todo esse teatro. De acordo com Dallagnol, só 3,4% dos detidos na Lava-Jato eram mantidos no cárcere preventivamente, sem condenação judicial, e mais de 95% das decisões da primeira instância eram referendadas por instâncias superiores. Em contrapartida, a probabilidade de alguém ser punido por corrupção no Brasil é baixíssima – estimada em 3,17%. Em casos rumorosos do passado, apenas 1,1% dos réus foi condenado em definitivo. E mesmo esses acabam não indo para a cadeia.

No célebre episódio dos Anões do Orçamento, foi preso apenas o delator do esquema, um assessor parlamentar. Entre os protegidos pelo foro privilegiado, casos se acumulam sem julgamento em cortes superiores por até 20 anos, enquanto corre o prazo de prescrição dos crimes. Apenas em junho de 2013, o STF expediu o primeiro mandado de prisão contra um parlamentar na história ― o ex-deputado Natan Donadon, condenado por desvio de dinheiro público. Mesmo no caso do mensalão, veloz para os padrões do STF, o julgamento levou oito anos.

Nenhum advogado de político deixa de aproveitar as inúmeras filigranas jurídicas que permitem anular provas ― como ocorreu na Operação Castelo de Areia ―, nem de recorrer enquanto der, se possível até a prescrição ― como ocorreu no escândalo Marka-Fonte Cindam ou com o deputado Paulo Maluf. O ex-senador Luiz Estevão ingressou com ― pasmem! ― 120 recursos até ser preso.

Dallagnol cita dois exemplos reais de recursos que ilustram a benevolência com os réus no convoluto labirinto jurídico brasileiro. Tome fôlego: “O agravo regimental nos embargos de declaração no agravo regimental no agravo em recurso extraordinário no recurso extraordinário no agravo regimental nos embargos de declaração no agravo regimental no agravo nº 1249838”; e os embargos de declaração nos embargos de declaração nos embargos de declaração no agravo regimental nos embargos de declaração no agravo em recurso extraordinário no recurso extraordinário no agravo regimental no agravo regimental no agravo no 1387499”.

Ao lado dos italianos, o juiz Moro lembrou uma frase de Joaquim Nabuco na longa campanha do abolicionismo, que comparou ao combate à corrupção: “Há necessidade de manter infinita esperança”. Até hoje, todavia, infinita tem sido apenas nossa paciência e tolerância com a impunidade.

Com Helio Gurovitz

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sexta-feira, 22 de setembro de 2017

O DESTINO DE TEMER NAS MÃOS DOS PROXENETAS DO PARLAMENTO. OUTRA VEZ.

O mundo dá voltas, a história se repete, e quem não aprende com os erros do passado está fadado a tornar a cometê-los indefinidamente.

Há pouco mais de um mês, assistimos a um espetáculo circense de quinta categoria, protagonizado na Câmara Federal, que teve como apoteose o sepultamento da denúncia contra o presidente Michel Temer ― que gastou bilhões de reais para saciar o apetite pantagruélico dos proxenetas do Parlamento e suas quengas amestradas. Ao que tudo indica, teremos um repeteco, ainda que com produção mais pobre, porque já não dinheiro para o governo pagar o michê das marafonas. Mas o resultado deverá ser o mesmo.

No início da noite da última quarta-feira, a ministra Cármen Lúcia suspendeu a sessão que decidia se a segunda e derradeira flechada de Janot contra Temer será submetida à Câmara, onde os parlamentares já estão se mobilizando para escolher relator e membros da CCJ ― e os “presentinhos” que querem ganhar em troca de livrar o rabo do presidente da Banânia.

Especulava-se que 4 ministros poderiam votar a favor da defesa ― que pugna pela suspensão da denúncia até que sejam esclarecidos os indícios de irregularidade envolvendo as delações da JBS/J&F ―, mas, dentre os que já se posicionaram, somente o inevitável Gilmar Mendes divergiu do relator.

Dias Toffoli discordou em parte, com base na convicção de que a denúncia não pode ser aceita caso se baseie em fatos ocorridos antes de Temer assumir a presidência ― mas disse que falava “em tese”, e não quis analisar o mérito, pois o relator tampouco o fizera. Ricardo Lewandowski e Alexandre de Moraes seguiram integralmente o voto de Fachin, estabelecendo uma maioria a favor de enviar a denúncia ― embora tenham manifestado suas preocupações com os “desvios” das delações premiadas.

A votação será retomada na tarde de hoje, quando os ministros Marco Aurélio Mello, Celso de Mello e a presidente Carmem Lucia devem proferir seus votos ― e, espera-se, acompanhar a maioria. Mesmo assim, quatro ministros potencialmente divergentes antecipam o próximo embate no plenário da Corte, sobre a possibilidade de anulação das provas das delações, especialmente os áudios da JBS. O tema não estava em discussão na sessão de ontem, mas Gilmar Mendes, o supremo, não se furtou a suscitar a questão ― e só não conseguiu levar o debate adiante porque Carmem Lucia lembrou-o de que o tema não estava na pauta, embora reconhecesse que o Supremo tem um encontro marcado com o assunto. A propósito, o ministro Alexandre de Moraes afirmou que os novos áudios da JBS revelam desvio de finalidade na colaboração, e que, em tese, isso poderia até mesmo levar à anulação total ― tanto do acordo quanto das provas.

Pelo visto, o próximo embate no STF já está definido.

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quinta-feira, 21 de setembro de 2017

LULA E O “NÓS X ELES”


A dicotomia na política não foi criada por Lula, mas se disseminou graças a ele e a seu espúrio partido. Hoje inimigos figadais, coxinhas e mortadelas se digladiam no campo de batalha das redes sociais. Só que nada têm a comemorar: quando um lado festeja as desventuras do outro, logo é desautorizado pelo avanço das investigações e contrariado pela inevitável inversão no viés dos fatos.

Essa conversa mole de Lula ser inocente, perseguido, injustiçado e, pior, postulante à presidência da Banânia revolta até estômago de avestruz. Mas a postura fleumática de Temer ― que não é réu e nem foi condenado, mas já foi denunciado duas vezes no exercício do cargo ― não lhe fica atrás. Todavia, defender a anulação do impeachment e a volta de Dilma é tão absurdo quanto saudar a mandioca, reverenciar o ET de Varginha ou acreditar que o comandante máximo da ORCRIM é o pai do povo, o salvador da pátria, o portador da luz e dono absoluto da verdade. Aliás, é patético o último bordão criado pela alma viva mais honesta da galáxia, que agora diz preferir a morte a contar uma mentira ao povo brasileiro.

Há quem diga que o crápula vermelho deveria concorrer, pois somente sua derrota acachapante nas urnas exorcizaria o mito de grande estadista vítima da conspiração das “zelites”, da Globo, da Justiça e da ponte que o partiu. A questão é que isso exigiria o sobrestamento de todas as acusações contra ele. Mesmo numa republiqueta de bananas, a Lei determina que bandido seja julgado pela Justiça, não pelas urnas.

Lula sempre foi mestre em iludir os menos informados, mas seu carisma minguou. Na recente caravana pelo Nordeste ― onde a pobreza é mais acentuada e o eleitorado, mais facilmente manipulado, o petista voltou a ser o que era antes de 2002: um candidato de piso alto e teto baixo (o piso alto lhe daria um lugar no segundo turno; o teto baixo lhe retiraria chances de vitória).
Demais disso, não devemos confundir o Brasil dos nossos dias com o de 2002. Naquela época, o petralha contava com marqueteiros de primeiro time para criar a imagem do “Lulinha Paz e Amor”; hoje, faz mais o gênero jararaca. E tanto Duda Mendonça quanto João Santana já não estão disponíveis para auxiliá-lo.

Em 2002, José Alencar ajudou a dispersar o receio de um governo norteado pelas ideias radicais e inconsequentes do PT, e a Carta ao Povo Brasileiro ― idealizada, vejam só, por Antonio Palocci, que agora corre o risco de ser expulso do partido por ter entregado o chefe ― sugeria que o sindicalista, se eleito fosse, manteria compromissos internacionais, contratos e metas de superávit primário. Isso foi decisivo para a conquista do apoio de parte do empresariado, obtenção de financiamento de campanha, e conquista de votos de parte da classe média (inclusive nas regiões Sudeste e Sul) resolveu dar uma chance ao “candidato do povo” ― que hoje figura como o mais rejeitado da lista de pretensos presidenciáveis.

Em 2005, quando o Mensalão veio a público, Lula abandonou os feridos no campo de batalha e conseguiu convencer a militância de que a bandalheira fora necessária, que o PT não era corrupto ― os outros é que eram ―, e que ele precisava de apoio para governar e implementar seus programas sociais. Uma falácia que dificilmente colaria nestes tempos de Lava-Jato, com o sacripanta colecionando processos e batendo na mesma tecla da perseguição política.
Mas não são só a militância petista, composta de áulicos incorrigíveis, que se deixa ludibriar pelo besteirol que abunda na mídia e nas redes sociais, como se pode inferir da postura dos extremistas “de direita”. Mas isso já é assunto para a próxima postagem.

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segunda-feira, 18 de setembro de 2017

SOBRE RAQUEL DODGE NA PGR


A posse da nova procuradora-geral da República, Raquel Dodge, acontece na manhã de hoje e marca o fim de um dos mandatos mais intensos da instituição. Ela substitui Rodrigo Janot, que ocupou o cargo por dois mandatos, e a troca de comando acontece num momento de alta tensão, com a Lava-Jato incomodando 11 de cada 10 políticos e o presidente desta Banânia denunciado pela segunda vez, desta feita por formação de quadrilha e obstrução da Justiça.

A cerimônia de posse foi antecipada (das 10 para as 8 horas desta manhã) para contar com a participação do Temer ― líder do QUADRILHÃO DO PMDB na Câmara ―, que viaja mais tarde para os EUA. Janot não comparecerá à posse da sucessora, não só por ter considerado descortesia o prosaico convite que lhe foi enviado por email, mas também pelo fato de ambos serem tradicionais opositores na PGR.

Embora tenha dito que daria total apoio à Lava-Jato, Dodge resolveu dar um prazo de 30 dias para a saída da atual equipe da força-tarefa, que foi nomeada por seu antecessor ― a informação é da revista Época. Durante as eleições para a PGR, ela havia afirmado que todos integrantes da equipe de Janot estavam convidados a permanecer.

Pessoas próximas de Raquel Dodge dizem que, em seu discurso de posse, ela criticará vazamentos; ressaltará os danos de condenações midiáticas; defenderá o respeito ao devido processo legal e levantará a bandeira da harmonia entre os Poderes. A colegas do Judiciário, ela explicou que a decisão de criar uma estrutura para revisar delações não tem conexão com caça às bruxas ― ela quer encontrar lacunas para novas investigações e diz ter medo que, só com os relatos, as acusações não parem de pé. A pauta, decerto, agrada aos investigados, entre eles Michel Temer, que nomeou Dodge.

Ângelo Villela, preso pela PF e acusado de ter recebido propina da JBS, disse à Folha que Rodrigo Janot se referia a Dodge como “a bruxa”. E acrescentou: “Está no meu celular, que foi apreendido”. Aliás, em sua entrevista à Folha, o procurador afirmou que Janot tentou derrubar Michel Temer para impedir a posse de Dodge.

A luta de Janot para manter seu grupo no comando da PGR é um fato inquestionável. Mas igualmente inquestionável é o fato de Joesley Batista realmente ter repassado uma montanha de dinheiro imundo para os operadores de Michel Temer, Lula e Aécio Neves.

domingo, 10 de setembro de 2017

FACHIN ATENDE PEDIDO DA PGR E MANDA PRENDER DELATORES DA JBS

Em aditamento ao que eu disse na tarde de sábado, o ministro Fachin atendeu ao pedido do procurador-geral Rodrigo Janot e mandou prender preventivamente o moedor da carne boquirroto Joesley Batista e seu comparsa, o diretor da JBS Ricardo Saud.

A prisão de Joesley e Saud  havia sido defendida publicamente pelo ministro Luiz Fux na última quarta-feira, durante sessão plenária do STF. Na próxima quarta, a Corte vai julgar o pedido de suspeição contra Janot, apresentado pela defesa de Temer, que também pede a suspensão prévia da segunda denúncia ― que está prestes a ser apresentada.

Na mesma ocasião, os ministros deverão discutir, em uma questão de ordem, a validade das provas obtidas no acordo de colaboração da J&F, que passou a ser questionada pela defesa de Temer após a publicação da polêmica.

Como se vê, a semana promete.

Bom domingo a todos e até mais ler.

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sábado, 9 de setembro de 2017

PEDIDO DE PRISÃO PREVENTIVA DE JOESLEY, SAUD E MILLER ESTÁ NAS MÃO DE FACHIN

Rodrigo Janot pediu a prisão preventiva de Joesley Batista e Ricardo Saud, delatores da JBS, e de Marcello Miller, e ex-procurador da República, que já entregaram os respectivos passaportes e aguardam a decisão do ministro Edson Fachin, que deve sair ainda neste final de semana.

O PGR também enviou ao Supremo a rescisão do acordo de colaboração, que concedia imunidade total aos delatores. A conferir.

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terça-feira, 5 de setembro de 2017

CRONÓGRAFO COM PONTEIROS DESSINCRONIZADOS... (PARTE IV)

HÁ TRÊS COISAS NA VIDA QUE NÃO VOLTAM JAMAIS: A FLECHA LANÇADA, A PALAVRA DITA E A OPORTUNIDADE PERDIDA.

Diferentemente dos relógios fabricados até os anos 60/70, os modelos atuais são, em sua maioria, resistentes à água (water resist). Isso significa que você pode lavar as mãos ou tomar uma chuva moderada sem danificá-los, mas para tomar banho ou lavar o carro com um deles no pulso, só mesmo se ele for à prova d'água (water proof).

Essa informação vem gravada no fundo da caixa (tampa) e, em alguns modelos, também no mostrador. Por uma questão de marketing, no entanto, os fabricantes “carregam nas tintas” e identificam relógios que suportam apenas respingos de água como WR 30m (ou 100ft, ou 3atm), sugerindo que o usuário não só possa entrar com eles na piscina ou no mar como também mergulhar a profundidades de até 30 metros ― o que só seria seguro com modelos identificados como WR 50M (ou 165ft, ou 5 atm).

Observação: Na água, a pressão aumenta à razão de uma atmosfera a cada 10 metros de profundidade; quanto maior a pressão, maior o risco de o líquido penetrar pela junção do vidro com a caixa, pelo retentor da tige (“eixo” da coroa) ou pela tampa traseira do relógio. Veja mais detalhes sobre estanqueidade na tabela que ilustra esta postagem.

A rigor, para praticar esportes aquáticos (nadar ou mergulhar sem tanque de ar), convém investir num modelo WR 100m (ou 300ft, ou 10atm), de preferência com coroa rosqueada. Claro que não há problema em tomar banho de chuveiro ou banheira com um relógio desses no pulso, mas convém evitar mergulhá-lo em água muito quente. Sauna, então, nem pensar, pois a diferença de temperatura entre o ambiente e o ar no interior da caixa resulta em condensação (formação de gotículas) e pode danificar o mecanismo, especialmente nos modelos à quartzo, que são alimentados por bateria.

Note que nem os relógios indicados para mergulho estão livres dos efeitos da água salgada. O oxigênio presente nas moléculas de água propicia a oxidação do metal, e o sal acelera ainda mais esse processo. Mesmo que a caixa seja de aço, ouro, titânio, os fechos e pinos da pulseira não são inoxidáveis, e, portanto, estão sujeitos à corrosão.


Continuamos no próximo capítulo.

TEMER X JANOT ― E VIVA O POVO BRASILEIRO

Temer diz não estar preocupado com a nova denúncia que Janot deve apresentar dentro de mais alguns dias e que virá robustecida com novas informações de Joesley Batista e do operador do PMDB na Câmara, Lucio Funaro. Diz estar seguro de que a acusação será inepta e que sua preocupação é “levar o Brasil adiante”, pautando e aprovando a reforma da previdência, à semelhança do que já ocorreu com a PEC dos gastos e a reforma trabalhista. Mas isso é conversa fiada, como comprova a antecipação de seu retorno da China, a despeito da justificativa oficial, que é acompanhar a votação da meta fiscal. Ademais, o Planalto está longe de contar com o apoio parlamentar necessário à aprovação de propostas de emenda constitucional, que exigem o mínimo de 308 votos.

Se Temer não estivesse preocupado com a denúncia, por que sua defesa teria pedido a suspensão da acusação até que o STF julgue a suspeição de Rodrigo Janot para atuar em casos contra ele? Aliás, voltado a pedir, porque o pedido havia sido feito originalmente no mês passado, mas Fachin o rejeitou monocraticamente, e ele foi reapresentado na última sexta-feira, juntamente com um agravo regimental que postula a suspensão da denúncia que ainda nem chegou.

Para barrar a denúncia anterior, o presidente moveu mundos e fundos (principalmente fundos), mas conseguiu sensibilizar apenas 263 dos 513 deputados. Agora o buraco é mais embaixo; primeiro, porque novos fatos ― como a confirmação de Funaro ter recebido dinheiro para ficar calado e que o Temer não só tinha conhecimento do esquema, mas também o apoiava ― tornaram a segunda acusação ainda mais robusta que a anterior.

O circo já está sendo montado: enquanto o Planalto chama Joesley Batista de “grampeador-geral da República”, o empresário chama Temer de “ladrão geral da República”, diz que ele é uma vergonha para os brasileiros, que a colaboração premiada é um direito que o presidente tem por dever respeitar, e que atacar os colaboradores só evidencia sua incapacidade de se defender dos crimes de que é acusado. Já o advogado Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, encarregado da defesa do presidente, diz que Parte inferior do formulário Joesley não merece resposta em face de seu comportamento absolutamente reprovável, e que a resposta foi dada pela Câmara com a rejeição da primeira denúncia. Sob a justificativa de que a “segunda delação de Funaro apresenta inconsistências e incoerências próprias de sua trajetória de crimes”, o causídico afirma que seu cliente se reserva o direito de não tratar de “ficções e invenções" de quem quer que seja.

De acordo com O Estado, a delação do operador do PMDB da Câmara ― ou de Temer, como preferem alguns ― não atinge não apenas o Planalto, mas também diversas figuras de expressão no PMDB. Segundo Merval Pereira, a segunda denúncia não só será mais robusta como também deverá corroborar a anterior. Mas o que importa mesmo nessa pantomima é se o governo terá condições de comprar os proxenetas da Câmara com verbas, cargos, etc., já que não honrou tudo que prometeu da primeira vez, e agora não há dinheiro para prometer mais nada.

O fato é que, se o processo for adiante, não será pela gravidade da denúncia, mas porque o Temer não tem mais o que oferecer aos deputados mercenários em troca de seu apoio. Diante desse cenário estapafúrdio, não surpreende que, a pouco mais de um ano das próximas eleições, a onda de rejeição a políticos e autoridades públicas, até recentemente limitada ao Executivo e ao Legislativo, tenha se estendido também ao Judiciário e Ministério Público. Pesquisa Ipsos mostra que, nos últimos meses, houve um aumento significativo na desaprovação popular a ministros do Supremo e até ao juiz Sérgio Moro ― que ainda é majoritariamente aprovado pela sociedade, mas cuja taxa de rejeição atingiu o nível mais alto em dois anos.

Essa é, lamentavelmente, a nossa realidade política. 

Confira minhas atualizações diárias sobre política em www.cenario-politico-tupiniquim.link.blog.br/

terça-feira, 4 de julho de 2017

VOCÊ CONHECE SEU PC? ― Parte IV

THERE ARE THREE METHODS TO GAIN WISDOM: FIRST, BY REFLECTION, WHICH IS NOBLEST; SECOND, BY IMITATION, WHICH IS EASIER; AND THIRD, BY EXPERIENCE, WHICH IS THE BITTEREST. (CONFUCIUS)

A disseminação dos desktops entre usuários domésticos se deveu em grande medida à arquitetura aberta da plataforma PC, que estimulou o mercado cinza numa época em que as máquinas “de grife” custavam os olhos da cara. Hoje em dia, porém, poucos usuários montam pessoalmente seus PCs ou encarregam dessa tarefa um Computer Guy de sua confiança para mais detalhes, leia esta postagem). Não só porque é mais prático adquirir o aparelho pronto num hipermercado ou grande magazine e contar com a garantia de fábrica, além de pagar o produto em suaves prestações mensais. Claro que quem é “do ramo” não abre mão de escolher a dedo os componentes e ajustar a configuração da máquina às suas preferências, necessidades e possibilidades, mas isso já é outra história (se esse assunto lhe interessa, não deixe de ler a trinca de postagens iniciada por esta aqui).

Mesmo que você não pretenda montar sua próxima máquina, convém ter uma noção ― elementar que seja ― de como a coisa funciona, pois isso é fundamental na hora de escolher do modelo mais adequado ao seu perfil. Então vamos lá.

Embora seja indevidamente chamado de CPU por muita gente, aquela caixa metálica que abriga os componentes internos do computador ― placa-mãe, processador, placas de expansão, drives de HD e de mídia óptica, módulos de memória, ventoinhas, etc. ― e agrupa as interfaces necessárias à conexão dos periféricos (teclado, mouse, monitor, impressora, caixas acústicas, joystick, e por aí afora) atende pelo nome de “case”, “gabinete” ou “torre”. CPU é a sigla, em inglês, de Unidade Centra de Processamento, e remete ao processador principal do sistema (principal porque pode haver mais do que um, como na placa gráfica, por exemplo, que pode contar com uma GPU ― sigla de Graphics Processing Unit).

Os gabinetes costumam ser comercializados com ou sem fonte de alimentação integrada, em tamanhos, cores e formatos para todos os gostos e bolsos. O jurássico padrão AT caiu em desuso no final do século passado, e como o BTX (lançado pela Intel em 2003) não prosperou, o ATX ainda é a bola da vez. No entanto, quem compra uma máquina pronta não tem muito espaço de manobra: é aceitar ou não o modelo definido pelo fabricante e ponto final.

É certo que, de uns tempos para cá, os notebooks (ou laptops) se tornaram a opção preferida dos usuários de PCs. A despeito de custarem ou pouco mais do que os desktops de configuração semelhante, eles combinam desempenho aceitável com a praticidade do transporte e do uso em trânsito. Todavia, seu reinado vem sendo seriamente ameaçado pelos tablets ― menores, mais leves, enfim, verdadeiramente portáteis, embora eu os veja mais como complemento do que como substituto do PC convencional, notadamente pelo pouco espaço para armazenamento de dados e, por que não dizer, pelo desconforto dos teclados virtuais, que são um porre quando se precisa redigir documentos de texto e até mensagens de email mais extensas. Por outro lado, tem gente que se vira bem até mesmo com as telinhas dos smartphones, de modo que isso é uma questão de preferência pessoal.

Oportuno salientar também que os PCs tipo “ALL-IN-ONE” são excelentes opções para quem não abre mão de teclado, mouse e tela de grandes dimensões. Todavia, como os notebooks e os tablets, esses modelos devem ser comprados prontos, já que sua montagem (e, por que não dizer, sua manutenção) exige ferramental apropriado e expertise de que a maioria dos usuários domésticos não dispõe.

O resto fica para as próximas postagens. Até lá.

ESTUFE O PEITO: O BRASIL ESTÁ BEM NA FITA

Não é qualquer republiqueta de bananas que pode se orgulhar de ter o presidente denunciado por corrupção, a ex-presidente impichada e investigada por suspeitas de corrupção, e seu antecessor e mentor ― que é penta-réu na Justiça penal e a qualquer momento deve ser sentenciado pela primeira vez ― posando de candidato à presidência e empunhando a bandeira da moralidade, malgrado seja ele o grande responsável pela institucionalização da corrupção no país. Não é uma beleza?

Seguem essa procissão de orgulhos nacionais o Congresso afundado em denúncias, com ambas as Casas presididas por investigados na Lava-Jato e compostas por uma caterva de réus e indiciados, mais preocupada em salvar rabo do que em defender os interesses legítimos da população. Logo atrás vem o Judiciário, onde magistrados das nossas mais altas Cortes, a pretexto de travar uma “cruzada” contra as prisões preventivas da Lava-Jato, soltam criminosos condenados, como José Dirceu, mentor intelectual do mensalão, o ex-goleiro Bruno, homicida e sequestrador de menor, o médico Roger Abdelmassih, estuprador serial condenado a 278 anos de prisão.

Isso sem mencionar a palhaçada protagonizada pelo TSE de Gilmar Mendes, que manteve o amigo Michel na presidência da Banânia a despeito da enxurrada de provas do uso de dinheiro roubado no financiamento da campanha de sua chapa em 2014.  Ou o senador Aécio Neves, que foi afastado do cargo por determinação judicial ― já que seu imprestável partido não teve colhões para lhe cassar o mandato ―, e agora é reempossado por obra e graça do ministro Marco Aurélio, e às vésperas do recesso do Judiciário, para que eventual recurso do MPF seja apreciado somente no mês que vem. É ou não para a gente estufar o peito?

Voltando a Lula, especulava-se que sua primeira condenação saísse nesta segunda-feira, até porque o Moro julgou o processo de Antonio Palocci na semana passada (e condenou o ex-ministro petralha a 12 anos e 2 meses de prisão), mas de duas uma: ou ele ainda não concluiu o rascunho do mapa do inferno do molusco (a sentença de Palocci resultou num calhamaço de 311 páginas, nas quais o “chefe” foi citado 75 vezes), ou está sendo mais cuidadoso.

Segundo o Estadão, investigadores e advogados que acompanham de perto o andamento dos processos na 13ª Vara Penal de Curitiba avaliam que a sentença deve demorar mais alguns dias, até porque as alegações finais da defesa têm 363 páginas. Além disso, há que se levar em conta a recente decisão da 8ª Turma do TRF-4, que, por 2 votos a um, absolveu João Vaccari por “insuficiência de provas” (em linhas gerais, os desembargadores Leandro Paulsen e Victor Laus entenderam que a condenação foi imposta com base apenas no depoimento de delatores). Essa decisão pode influenciar no julgamento de Lula, que procurou jogar sobre a ex-primeira-dama a responsabilidade pela compra de uma cota da Bancoop no Edifício Solaris e por visitar mais vezes o tríplex cuja propriedade ele nega.

A iminência da publicação da sentença vem gerando especulações no âmbito político e no mercado financeiro. Se condenado em primeira e segunda instâncias, Lula ficará impedido de disputar as eleições de 2018 (com base na Lei da Ficha-Limpa). Vale lembrar que Moro tem sob seus cuidados mais dois processos contra o petralha; um que trata de repasses de empreiteiras à LILS e outro sobre o emblemático Sítio Santa Bárbara.

Enquanto isso, Michel Temer também tem muito com que se preocupar. Nesta terça-feira, a CCJ da Câmara deve escolher o relator da denúncia apresentada por Janot. A comissão tem 66 parlamentares, 40 dos quais da base aliada, mas isso não garante muita coisa: o próprio presidente da comissão, Rodrigo Pacheco, que é do PMDB, já deu sinais de independência ao afirmar que, se Janot realmente apresentar 3 denúncias, elas deverão tramitar de forma separada. O Planalto já tentou reverter a situação trocando o atual presidente de Furnas por outro que agrade a Pacheco e ao PMDB mineiro, mas o deputado voltou a dizer que isso não mudará sua postura e que a troca apenas corrige uma “falta grave” com Minas, já que o PMDB local sempre indicou o dirigente máximo da estatal ― veja leitor como são tomadas as decisões importantes no governo e, mais uma vez, estufe orgulhosamente o peito, não só por ser brasileiro, mas também por ter ajudado a eleger essa cáfila de fisiologistas.

Na quarta-feira, Temer tem outra provação: aprovar a reforma trabalhista no plenário do Senado ― o que, de certa forma, é seu principal trunfo para permanecer no cargo. O Planalto conta com 48 dos 81 votos, e precisa apenas de 41 (maioria simples), ou seja, 41 votos, mas prevê cinco “traições”, o que deixaria o projeto no limite de não ser aprovado ― volto a chamar a atenção do leitor para a sobreposição do “jogo político” ante os interesses da nação, pois é nítido que os parlamentares definem seus votos ao sabor de suas conveniências pessoais.

A rigor nenhuma bancada dos 10 principais partidos da base aliada, que reúnem 327 dos 513 deputados, fechou apoio ao presidente contra a denúncia da PGR. Reuniões devem acontecer ao longo desta semana para definir o posicionamento a ser adotado, e o clima é de incerteza. Nem mesmo o PMDB fechou questão, de modo que cada um dos 63 deputados federais do partido poderá votar “de acordo com sua consciência” (e lá político tem consciência?). Mais crítica ainda é a situação do PSDB, que conta com 46 parlamentares: 6 dos sete deputados que integram a CCJ devem votar pela aceitação da denúncia. Até mesmo o líder do DEM ― partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que se mostra cada vez “menos aliado” ao presidente ― evitou fazer uma defesa enfática de Temer. Segundo ele, o partido vai reunir a bancada para tirar uma posição somente após ouvir a versão da defesa, pois até agora “só se conhece a versão da acusação por meio da denúncia enviada apresentar pela PGR”.

A denúncia chegou à Câmara na quinta-feira passada. Após a defesa se manifestar, haverá cinco sessões para o deputado que for designado relator apresentar seu parecer. Em seguida, o processo vai ao plenário. Para que o STF dê seguimento ao caso, são necessários os votos de 342 deputados.

Resta-nos estufar o peito e acompanhar o desenrolar dos acontecimentos.

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domingo, 2 de julho de 2017

A GREVE GERAL E A ESCOLHA DE TEMER

Como era de se esperar, a tal “greve geral” do último dia 30 repetiu o fiasco da anterior, ocorrida em 28 de maio passado.

Aqui em Sampa o transporte público funcionou normalmente, ou quase isso; não havendo “adesão obrigatória”, o resultado foi o que se viu: com a possível exceção da Avenida Paulista, onde alguns milhares de pessoas protestaram contra as reformas e pediram a saída de Michel Temer, apenas atos isolados com bloqueios parciais de algumas vias públicas e pontos de rodovias próximos à entrada da cidade foram registrados ― vale salientar que esse tipo de tumulto é promovido agitadores mercenários, não por populares. Somente umas poucas agências bancárias funcionaram de forma precária; no geral, o atendimento ao público foi normal.

Houve também protestos dos metalúrgicos na Rodovia Anchieta, mas a adesão foi pequena e a via não demorou a ser liberada ao tráfego. Em resumo: os pelegos da esquerda agonizante, maior braço do PT no Brasil, perdeu a força e a razão de ser. Se continuam “protestando”, é porque o fim do imposto sindical deixará 300 mil vagabundos de 12 mil sindicatos sem a teta onde eles têm mamando desde sempre.

Mudando de pato para ganso, o primeiro presidente denunciado por corrupção no exercício do cargo em toda a nossa história escolheu Raquel Dodge para substituir Rodrigo Janot no comando da PGR. A subprocuradora, segundo lugar na lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República, com 587 votos (o primeiro foi Nicolao Dino, que conseguiu 621 dos 1.108 votos) (Dodge teve 587 votos), é tida como “anti Janot” e conta com a simpatia de José Sarney, Renan Calheiros, Moreira Franco e Gilmar Mendes, o que é preocupante, ainda mais porque diversos procuradores da Lava-Jato ameaçaram deixar os cargos se Dodge for confirmada na chefia.

Para entender melhor: Quem substituir Janot chefiará pelos próximos dois anos o Ministério Público da União, que abrange os ministérios públicos Federal, do Trabalho, Militar, do Distrito Federal e dos estados, cabendo-lhe representar o MP junto ao STF e STJ, propor ações diretas de inconstitucionalidade e ações penais públicas, criar forças-tarefa para investigações especiais e conduzir as investigações da Lava Jato que envolvem políticos com foro privilegiado, além de desempenhar a função de procurador-geral Eleitoral. Raquel Dodge não é alinhada a Rodrigo Janot, que trava um embate histórico com Temer e cujo mandato vai até setembro, mas, como dito linhas atrás, mantém boas relações com Gilmar Mendes, amigo do presidente e crítico recorrente dos métodos da Lava-Jato. Paixões e convicções à parte, a subprocuradora, que ingressou no MPF em 1987, é Mestre em Direito pela Universidade de Harvard (EUA), membro do Conselho Superior do Ministério Público pelo terceiro biênio consecutivo, foi Coordenadora da Câmara Criminal do MPF, atuou na equipe que redigiu o I Plano Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo no Brasil, na Operação Caixa de Pandora e, em primeira instância, na equipe que processou criminalmente Hildebrando Paschoal e o Esquadrão da Morte.

O próprio Janot tem se esforçado para evitar essa deserção. Para ele, isso seria fazer o jogo de Gilmar Mendes, que quer provocar a cizânia e rachar a Lava-Jato ― o ministro tem conhecimento de rusgas antigas, decorrentes do comportamento da subprocuradora à frente da Operação Caixa de Pandora, que, apesar do bom começo e das provas robustas, não resultou nas condenações desejadas. Se debandarem, os procuradores livrarão a nova chefe do desgaste político de afastá-los mediante um processo de “fritura”, sem mencionar que investigações sigilosas em andamento serão interrompidas, o que interessa somente aos que desejam esse desmonte repentino.

Embora a escolha de Raquel seja vista como uma maneira de conter os “possíveis excessos da Lava-Jato”, a força-tarefa conta com o apoio da maioria dos brasileiros (segundo o Ipsos, 96% da população deseja que a investigação se estenda a todos os partidos). Demais disso, a própria candidata já disse que “a atuação do Ministério Público Federal não pode retroceder nem um milímetro sequer”. Não que isso garanta muita coisa, até porque nenhum dos postulantes à vaga se arriscaria a se posicionar abertamente de maneira diferente. Mesmo assim, Randolfe Rodrigues, um dos mais atuantes senadores da oposição, ponderou que o fato de ser a segunda mais votada não desabona Raquel, e que Temer ter indicado alguém da lista tríplice, mesmo quebrando a tradição de escolher o mais votado, não significa que o que foi conquistado pelo Ministério Público terá algum tipo de reversão.

Observação: Segundo o ESTADÃO, a força-tarefa da Lava-Jato no Paraná declarou publicamente seu apoio à Dodge e reiterou seu compromisso de “dar fiel cumprimento a suas responsabilidades institucionais, especialmente lutando contra a corrupção, o desvio de recursos públicos, a criminalidade organizada e a lavagem de dinheiro”.

Raquel Dodge será sabatinada no Senado no próximo dia 12 ― e não teve ter dificuldade para ter sua indicação aprovada, considerando que 1/3 dos senadores é alvo de investigações na Lava-Jato. Chama a atenção, no entanto, o açodamento do governo em confirmar a indicação o quanto antes, pois Janot só deixará o cargo em Setembro. Por que, então, não deixar a sabatina para agosto, depois do recesso parlamentar de meio de ano?

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quarta-feira, 28 de junho de 2017

VOCÊ CONHECE SEU PC? ― Parte II

POBRE, QUANDO METE A MÃO NO BOLSO, SÓ TIRA OS CINCO DEDOS.

Foram milhares de anos até o computador evoluir do ÁBACO ― criado há mais de 3.000 anos no antigo Egito ― para a PASCALINA ― geringonça desenvolvida no século XVII pelo matemático francês Blaise Pascal e aprimorada mais adiante pelo alemão Gottfried Leibniz, que lhe adicionou a capacidade de somar e dividir. Mas o “processamento de dados” só viria com o Tear de Jacquard ― primeira máquina programável ―, que serviu de base para Charles Babbage projetar um dispositivo mecânico capaz de computar e imprimir tabelas científicas, precursor do tabulador estatístico de Herman Hollerith, cuja empresa viria se tornar a gigante IBM.

Nos anos 1930, Claude Shannon aperfeiçoou o Analisador Diferencial (dispositivo de computação movido a manivelas) mediante a instalação de circuitos elétricos baseados na lógica binária, e alemão Konrad Zuze criou o Z1 (primeiro computador binário digital). Com a deflagração da Segunda Guerra Mundial, a necessidade de decifrar mensagens codificadas e calcular trajetórias de mísseis levou os EUA, a Alemanha e a Inglaterra a investir no desenvolvimento do Mark 1, do Z3 e do Colossus, e, mais adiante, com o apoio do exército norte-americano, pesquisadores da Universidade da Pensilvânia construírem o ENIAC ― um monstrengo de 18 mil válvulas e 30 toneladas que produziu um enorme blecaute ao ser ligado, em 1946, e era capaz somente de realizar 5 mil somas, 357 multiplicações ou 38 divisões simultâneas por segundo ― uma performance incrível para a época, mas que qualquer videogame dos anos 90 já superava “com um pé nas costas”. Para piorar, de dois em dois minutos uma válvula queimava, e como a máquina só possuía memória interna suficiente para manipular dados envolvidos na tarefa em execução, qualquer modificação exigia que os programadores corressem de um lado para outro da sala, desligando e religando centenas de fios.

EDVAC, criado no final dos anos 1940, já dispunha de memória, processador e dispositivos de entrada e saída de dados, e seu sucessor, o UNIVAC, usava fita magnética em vez de cartões perfurados, mas foi o transistor que revolucionou a indústria dos computadores, quando seu custo de produção foi barateado pelo uso do silício como matéria prima. No final dos anos 1950, a IBM lançou os primeiros computadores totalmente transistorizados (IBM 1401 e 7094) e mais adiante a TEXAS INSTRUMENTS revolucionou o mundo da tecnologia com os circuitos integrados (compostos por conjuntos de transistores, resistores e capacitores), usados com total sucesso no IBM 360, lançado em 1964). No início dos anos 70, a INTEL desenvolveu uma tecnologia capaz de agrupar vários CIs numa única peça, dando origem aos microchips, e daí à criação de equipamentos de pequeno porte foi um passo. Vieram então o ALTAIR 8800, vendido sob a forma de kit, o PET 2001, lançado em 1976 e tido como o primeiro microcomputador pessoal, e os Apple I e II (este último já com unidade de disco flexível).

O sucesso estrondoso da Apple despertou o interesse da IBM no filão dos microcomputadores, levando-a a lançar seu PC (sigla de “personal computer”), cuja arquitetura aberta e a adoção do MS-DOS, da Microsoft, se tornaram um padrão de mercado. De olho no desenvolvimento de uma interface gráfica com sistema de janelas, caixas de seleção, fontes e suporte ao uso do mouse ― tecnologia de que a XEROX dispunha desde a década de 70, conquanto só tivesse interesse em computadores de grande porte ―, a empresa de Steve Jobs fez a lição de casa e incorporou esses conceitos inovadores num microcomputador revolucionário. Aliás, quando Microsoft lançou o Windows ― que inicialmente era uma interface gráfica que rodava no DOS ― a Apple já estava anos-luz à frente.

Para encurtar a história, a IBM preferiu lançar seu PS/2, de arquitetura fechada e proprietária, a utilizar então revolucionário processador 80386 da INTEL, mas Compaq convenceu os fabricantes a continuar utilizando a arquitetura aberta. Paralelamente, o estrondoso sucesso do Windows 3.1 contribuiu para liquidar de vez a parceria Microsoft/IBM, conquanto ambas as empresas buscassem desenvolver, cada qual à sua maneira, um sistema que rompesse as limitações do DOS. Depois de uma disputa tumultuada entre o OS/2 WARP e o Windows 95 (já não mais uma simples interface gráfica, mas um sistema operacional autônomo, ou quase isso), a estrela de Bill Gates brilhou, e o festejado Win98 sacramentou a Microsoft como a “Gigante do Software”.

O resto é história recente: a arquitetura aberta se tornou padrão de mercado, o Windows se firmou como sistema operacional em todo o mundo (a despeito da evolução das distribuições LINUX e da preferência de uma seleta confraria de nerds pelos produtos da Apple) e a evolução tecnológica favoreceu o surgimento de dispositivos de hardware cada vez mais poderosos, propiciando a criação de softwares cada vez mais exigentes.

Enfim, foram necessários milênios para passarmos do ábaco aos primeiros mainframes, mas poucas décadas, a partir de então, para que "pessoas comuns" tivessem acesso aos assim chamados computadores pessoais ― ou microcomputadores ―, que até não muito tempo atrás custavam caríssimo e não passavam de meros substitutos da máquina de escrever, calcular, e, por que não dizer, do baralho de cartas e dos então incipientes consoles de videogame. Em pouco mais de três décadas, a evolução tecnológica permitiu que os desktops e laptops das primeiras safras diminuíssem de tamanho e de preço, crescessem astronomicamente em poder de processamento, recursos e funções, e se transformassem nos smartphones e tablets atuais, sem os quais, perguntamo-nos, como conseguimos viver durante tanto tempo.

Continuamos no próximo capítulo. Até lá.

SOBRE MICHEL TEMER, O PRIMEIRO PRESIDENTE DENUNCIADO NO EXERCÍCIO DO CARGO EM TODA A HISTÓRIA DO BRASIL.

Michel Temer já foi de tudo um pouco nos últimos tempos. De deputado federal a vice na chapa da anta vermelha; de presidente do PMDB (por quinze anos) a presidente da Banânia; de depositário da nossa esperança de tornar a ver o país crescer a “chefe da quadrilha mais perigosa do Brasil”; e de tudo isso a primeiro presidente do Brasil a ser denunciado no exercício do cargo.

Joesley Batista, o megamoedor de carne que multiplicou seu patrimônio com o beneplácito da parelha de ex-presidentes petistas ― que sempre valorizaram meliantes como Eike Batista e o próprio Joesley (é curiosa a coincidência no sobrenome, mas acho que não passa disso) ―, promoveu Temer ao lugar que, por direito, pertence a Lula, e a este atribuiu “somente” a institucionalização da corrupção na política tupiniquim.

Há quem afirme que a promoção de Temer foi inoportuna e despropositada. Afinal, não foi ele quem sequestrou e depenou o Brasil durante 13 anos, ou roubou o BNDES e passou uma década enfiando bilhões de dólares na Friboi ― que acabou se tornando a gigante J&F, controladora da maior processadora de proteína animal do planeta. Tampouco foi ele quem torturou São José Dirceu para forçá-lo a reger na Petrobras o maior assalto da história do ocidente, recebeu uma cobertura tríplex no Guarujá da OAS de Leo Pinheiro e, ao ser pego com as calças na mão e manchas de batom na cueca, atribuiu a culpa à esposa Marisa, digo, Marcela).

Gozações à parte, as opiniões divergem quanto à delação de Joesley e companhia. Há quem ache que a contrapartida dada pelo MPF e avalizada por Fachin foi exagerada (a despeito da multa bilionária que os delatores terão de pagar, que representa a punição mais “dolorosa” para gente dessa catadura). Outros, como certo ministro do Supremo e presidente do TSE, reprovam o acordo por serem sistematicamente contrários à Lava-Jato e às delações premiadas, às prisões preventivas prolongadas (sem as quais a Lava-Jato nem existiria, ou, se existisse, ainda estaria engatinhando). Felizmente, 7 dos 11 ministros do STF já se votaram pela manutenção de Fachin na relatoria dos processos oriundos da delação da JBS e pela validade da delação propriamente dita (assunto que eu detalhei na semana passada).

O fato é que o peemedebista se apequena mais a cada dia, o que não ajuda em nada o país, como bem sabem os que acompanharam os estertores dos governos Sarney e Collor e de Dilma. Com novas denúncias e acusações surgindo regularmente, o presidente está acossado, fragilizado politicamente e, por que não dizer, mais preocupado com articulações políticas visando à sua defesa do que com a aprovação das tão necessárias reformas que se predispôs a capitanear.

Na última segunda-feira, Temer juntou ao seu invejável currículo a experiência inédita de ser denunciado por corrupção ainda no exercício do cargo (até hoje, nenhum presidente brasileiro havia sido agraciado com tal honraria, embora quase todos tenham feito por merecê-la). E novas denúncias virão em breve, até porque Janot resolveu não pôr todos os ovos na mesma cesta. Como a denúncia passa pela CCJ da Câmara e pelo plenário da casa antes de ser julgada no STF, o Planalto moverá mundos e fundos para barrar o processo, de modo que o fatiamento serve para a PGR ganhar tempo, visando à possibilidade de novos fatos mudarem os ventos no Congresso. A meu ver, bastaria que a voz das ruas voltasse a roncar como roncou no ano passado, durante o impeachment de Dilma, para que a sorte do presidente fosse selada, mas quem sou eu, primo?

Talvez seja mesmo melhor a gente ficar com diabo que já conhece. Nenhuma liderança expressiva surgiu no cenário até agora, e a perspectiva de Rodrigo Maia assumir o comando do País não é das mais alvissareiras. Demais disso, eleições diretas, neste momento, contrariam flagrantemente a legislação vigente, e interessariam apenas a Lula e ao PT, que se balizam na tese do "quanto pior melhor".  

O molusco indigesto continua encabeçando as pesquisas de intenção de voto, mesmo atolado em processos e prestes a receber sua primeira (de muitas) condenações (veja detalhes na postagem anterior). Mas não se pode perder de vista que isso se deve em grande parte ao fato de ele ser o mais conhecido entre os pesquisados, e que isso lhe assegura também o maior índice de rejeição. Enfim, muita água ainda vai rolar por debaixo da ponte até outubro do ano que vem. Se as previsões se confirmarem, Moro deve condenar o sacripanta dentro de mais alguns dias, e uma possível confirmação da sentença pelo TRF-4 jogará a esperada pá de cal nessa versão petista de conto do vigário.

Infelizmente, deixamos escapar a chance de abraçar o parlamentarismo no plebiscito de 1993 (graças à absoluta falta de esclarecimento do eleitorado tupiniquim), e agora só nos resta lidar com a quase impossibilidade de defenestrar um presidente da República, mesmo que ele já não tenha a menor serventia ou que esteja envolvido em práticas pouco republicanas (haja vista os traumatizantes impeachments de Collor e de Dilma). 

Estão em andamento algumas tentativas de tapar o sol com peneira, como a PEC do Senador Antonio Carlos Valadares (PSB/SE), aprovada no último dia 21 pela CCJ do Senado, que inclui na Constituição a possibilidade revogação do mandato do presidente, vinculada à assinatura de não menos que 10% dos eleitores que votaram no último pleito (colhidas em pelo menos 14 estados e não menos de 5% em cada um deles).

De acordo com o texto aprovado, a proposta será apreciada pela Câmara e pelo Senado, sucessiva e separadamente, e precisará do voto favorável da maioria absoluta dos membros de cada uma das Casas. Garantida a aprovação, será então convocado referendo popular para ratificar ou rejeitar a medida. O projeto prevê ainda que será vedada a proposta de revogação durante o primeiro e o último ano de governo e a apreciação de mais de uma proposta de revogação por mandato.

Por hoje é só, pessoal. Até a próxima.

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