A dicotomia na política não foi criada por Lula, mas se disseminou graças a ele e
a seu espúrio partido. Hoje inimigos figadais, coxinhas e mortadelas se
digladiam no campo de batalha das redes sociais. Só que nada têm a comemorar: quando
um lado festeja as desventuras do outro, logo é desautorizado pelo avanço das
investigações e contrariado pela inevitável inversão no viés dos fatos.
Essa conversa mole de Lula
ser inocente, perseguido, injustiçado e, pior, postulante à presidência da Banânia
revolta até estômago de avestruz. Mas a postura fleumática de Temer ― que não é réu e nem foi
condenado, mas já foi denunciado duas vezes no exercício do cargo ― não lhe
fica atrás. Todavia, defender a anulação do impeachment e a volta de Dilma é tão absurdo quanto saudar a
mandioca, reverenciar o ET de Varginha ou acreditar que o comandante máximo da
ORCRIM é o pai do povo, o salvador da pátria, o portador da luz e dono absoluto
da verdade. Aliás, é patético o último bordão criado pela alma viva mais honesta
da galáxia, que agora diz preferir a
morte a contar uma mentira ao povo brasileiro.
Há quem diga que o crápula vermelho deveria concorrer, pois
somente sua derrota acachapante nas urnas exorcizaria o mito de grande estadista
vítima da conspiração das “zelites”, da Globo, da Justiça e da ponte que o
partiu. A questão é que isso exigiria o sobrestamento de todas as acusações
contra ele. Mesmo numa republiqueta de bananas, a Lei determina que bandido
seja julgado pela Justiça, não pelas urnas.
Lula sempre foi
mestre em iludir os menos informados, mas seu carisma minguou. Na recente caravana
pelo Nordeste ― onde a pobreza é mais acentuada e o eleitorado, mais facilmente
manipulado, o petista voltou a ser o que era antes de 2002: um candidato de
piso alto e teto baixo (o piso alto lhe daria um lugar no segundo turno; o teto
baixo lhe retiraria chances de vitória).
Demais disso, não devemos confundir o Brasil dos nossos dias
com o de 2002. Naquela época, o petralha contava com marqueteiros de primeiro time
para criar a imagem do “Lulinha Paz e
Amor”; hoje, faz mais o gênero
jararaca. E tanto Duda Mendonça
quanto João Santana já não estão
disponíveis para auxiliá-lo.
Em 2002, José Alencar
ajudou a dispersar o receio de um governo norteado pelas ideias radicais e
inconsequentes do PT, e a Carta ao Povo
Brasileiro ― idealizada, vejam só, por Antonio
Palocci, que agora corre o risco de ser expulso do partido por ter entregado o chefe ― sugeria
que o sindicalista, se eleito fosse, manteria compromissos internacionais,
contratos e metas de superávit primário. Isso foi decisivo para a conquista do apoio
de parte do empresariado, obtenção de financiamento de campanha, e conquista de
votos de parte da classe média (inclusive nas regiões Sudeste e Sul) resolveu
dar uma chance ao “candidato do povo” ― que hoje figura como o mais rejeitado
da lista de pretensos presidenciáveis.
Em 2005, quando o Mensalão veio a público, Lula abandonou os feridos no campo de
batalha e conseguiu convencer a militância de que a bandalheira fora
necessária, que o PT não era
corrupto ― os outros é que eram ―, e que ele precisava de apoio para governar e
implementar seus programas sociais. Uma falácia que dificilmente colaria nestes
tempos de Lava-Jato, com o sacripanta colecionando processos e batendo na mesma
tecla da perseguição política.
Mas não são só a militância petista, composta de áulicos
incorrigíveis, que se deixa ludibriar pelo besteirol que abunda na mídia e nas
redes sociais, como se pode inferir da postura dos extremistas “de direita”.
Mas isso já é assunto para a próxima postagem.
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