Deu n’O ANTAGONISTA:
Nem a Folha de S.
Paulo aprova a estratégia do condenado para escapar da cadeia. Segue
a transcrição do editorial publicado na edição de ontem, 28:
Todo réu num processo
judicial possui, naturalmente, o direito de se dizer inocente. Há muita
diferença, todavia, entre a atitude de quem se defende com firmeza de uma
acusação e a tentativa de afrontar abertamente as instituições de um Estado
democrático.
Confiando nos seus
ainda elevados índices de popularidade, o ex-presidente Lula parece apostar na segunda alternativa. Conforme se aproxima a
data de seu julgamento em segunda instância, o líder petista vai multiplicando
declarações no sentido de deslegitimar, desde já, a eventual sentença que venha
a receber.
"A minha
condenação será a negação da Justiça", disse,
em recente entrevista coletiva. "A Justiça vai ter que fazer um esforço
monumental para transformar uma mentira em verdade e julgar uma pessoa que não
cometeu crime."
Tinha ido além, meses
atrás, ao afirmar sobre seus julgadores que, se não o prendessem, "quem
sabe um dia eu mando prendê-los pelas mentiras que eles contam".
A sentença do juiz Sergio Moro, que o condenou
em primeira instância por receber favorecimentos do dono da OAS, "é quase uma piada",
acrescenta agora o ex-presidente ― que apesar das evidências em contrário
insiste na tese de que o famoso tríplex em Guarujá não se destinava ao desfrute
dele próprio e de sua família.
Há, por certo, casos
de corrupção envolvendo valores muito mais vultosos que o daquele apartamento
de veraneio ― sendo plausível, até, a argumentação de Lula quanto ao seu desinteresse pessoal pelo imóvel, a seu ver
modesto. Não faltam provas, entretanto, quanto às reformas feitas sob medida no
apartamento. Deram-se visitas ao local, não com a presença de um corretor
qualquer da região, mas sim do próprio dono de uma das maiores empreiteiras do
país.
Ainda que nesse caso
possam debater-se interpretações diversas entre promotoria e defesa, cabendo
exatamente por isso uma nova análise em instância superior, não se trata de
"piada" a condenação, longa
e minuciosamente fundamentada (o grifo é meu) que foi imposta a Lula em Curitiba.
Exacerbando o tom de
seu discurso, o ex-presidente procura sobretudo insuflar a militância a não
aceitar a eventual confirmação, pelo
Tribunal Regional Federal, da sentença de culpa.
Constrói-se, ademais,
a hipótese preventiva de que Lula
seria necessariamente eleito em 2018: processos judiciais se transformariam,
nessa versão, em conspirações contra a grande revanche petista. O cacique
petista se põe acima da lei; no desespero, aposta no descrédito da Justiça e da
própria legitimidade do processo eleitoral.
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