NEM TUDO QUE
ACABA NECESSARIAMENTE TERMINA.
Nos primórdios da computação pessoal, era comum ouvirmos
dizer que hardware era a parte do PC
que a gente chutava e o software, a
que a gente xingava. Ouvíamos também que os usuários de computador se dividam
entre os que já haviam perdido um HD
e a dos que ainda iam perder. Brincadeiras
à parte, esses “clichês” continuam valendo, mesmo depois que a evolução
tecnológica aprimorou sobremaneira os dispositivos computacionais.
É fato que os HDs
e SSDs atuais não são tão
susceptíveis aos distúrbios da rede elétrica quanto
os modelos fabricados 10 anos atrás, mas isso não nos desobriga de usar um nobreak, pois, além de estabilizar a
tensão, esse aparelho nos protege de um apagão inesperado e do subsequente pico
de tensão que tende a ocorrer quando o fornecimento de energia é restabelecido.
Isso não só evita danos físicos nos delicados circuitos eletrônicos do
computador, mas também previne a perda de dados se, por exemplo, a gente não configurou
o salvamento automático dos arquivos em que está trabalhando nem tomou o
cuidado de fazê-lo manualmente (no Word,
basta pressionar Ctrl+B de tempos em
tempos).
Nunca é demais lembrar que os famigerados filtros de linha não filtram coisa
alguma, já que não passam de benjamins providos de fusíveis ou LEDs que
fazem as vezes de varistor. O estabilizador
de tensão é mais eficiente, pois “compensa” as variações de tensão da
rede (para mais ou para menos), embora, de novo, a melhor solução é o nobreak, de preferência do tipo online — também conhecido
como UPS —, que integra um
retificador, um inversor e um banco de baterias. O bloco retificador “corrige”
a rede elétrica e carrega as baterias, e a tensão, uma vez retificada, alimenta
o bloco inversor, cuja função é alternar a tensão novamente para a carga.
Quando há energia na tomada, as baterias são mantidas em carga lenta, e o
computador e demais periféricos são alimentados via inversor; quando falta
força, as baterias alimentam a carga também via inversor, e da feita que a
tensão é retificada e filtrada logo na entrada, e a alimentação, provida
através do circuito inversor, o nobreak
elimina a maioria dos distúrbios da rede elétrica, pois suas baterias funcionam
como um grande capacitor.
Como a Lei de Murphy
ainda não foi revogada, ninguém está livre de, um belo dia, ligar o computador
e o Windows se recusar a carregar
porque um arquivo importante do sistema se corrompeu, por exemplo. Mesmo que a
possibilidade de isso ocorrer seja menor do que há 5 ou 10 anos, e que o Win10, ao detectar alterações nos
arquivos protegidos do sistema, aciona o Windows Resource Protector (que até o WinXP atendia por Windows
File Protector) para recuperar automaticamente as versões originais a
partir de cópias armazenadas numa pasta oculta, ou, ainda, que o Win10, diante de uma falha que o impede
iniciar normalmente, tenta se recuperar automaticamente e, se não conseguir,
reinicia no modo de segurança ou no ambiente de recuperação, cautela e
canja de galinha não fazem mal a ninguém.
Sem embargo, a melhor maneira de evitar surpresas
desagradáveis ― como o
sequestro de dados por ransomware,
por exemplo ― é manter backups atualizados dos arquivos
importantes. Não estou falando do sistema operacional em si, nem dos
aplicativos que usamos no dia a dia, até porque tudo isso é recuperável. Falo
daquela foto antiga de alguém que já se foi, e cujo negativo ou cópia em papel foi
parar não se sabe onde. Ou do vídeo
do batizado do caçula,
do parto da cadelinha de estimação,
enfim, de tudo que foi armazenado no HD e que, se uma hora se perder, fo...
digo, danou-se.
Usuários de computador sempre foram avessos a fazer backup, e
houve um tempo que isso era compreensível: até meados dos anos 90, praticamente
não havia alternativa aos frágeis disquetes, que desmagnetizavam e emboloravam
com facilidade e não comportavam sequer para uma faixa musical no formato .mp3. Eles chegaram ao mercado no final
de 1971, e suas primeiras versões tinham 8” (cerca de 20 cm) e míseros 8
kilobytes de capacidade. Mais adiante, vieram os modelos de 5 ¼” polegadas e
160 kilobytes, e em 1984, quando sua produção foi descontinuada, já armazenavam
1,2 MB.
Os disquetes que mais se popularizaram foram os de 3 ½” e
1,44 MB (versões de 2,88 MB e 5,76 MB chegaram a ser lançados, mas por alguma
razão não emplacaram). Até a edição 95, os arquivos de instalação do Windows eram fornecidos nesse tipo de
mídia (primeiro a gente instalava o MS-DOS e depois o Windows propriamente dito, que até então era apenas uma interface
gráfica). Naquela época, a maioria dos PCs contava com dois ou mais floppy drives ― meu primeiro 286 tinha um drive para floppy
de 5 ¼” e dois para 3 ½”, o que facilitava bastante a cópia de dados. A título de curiosidade, para armazenar em
disquetes o conteúdo de um pendrive de 16 GB, seriam necessárias 11.111 unidades
de 1,44 MB (uma pilha de respeitáveis 36 metros de altura).
Atualmente não existe desculpa para você não criar cópias de
segurança de seus arquivos importantes e de difícil recuperação. De uns anos a
esta parte, os fabricantes deixaram de equipar notebooks e desktops com drives
de disquete, e são bem poucos os modelos que ainda trazem um gravador/leitor de
mídia óptica, já que HDs externos (com
interface USB) e pendrives de grandes capacidades custam
relativamente barato e oferecem um latifúndio de espaço. Isso sem mencionar que
os disco rígidos nativos também se tornaram bastante camaradas: qualquer PC de
entrada de linha conta atualmente com algo entre 500 GB e 1 TB. A questão é
que, se não dividirmos esse espaço em pelo menos duas unidades lógicas, nossos
arquivos serão apagados se e quando formatarmos o HD para reinstalar o Windows do zero. E ainda que o
particionemos e salvemos nossos backups fora da partição do sistema, os
arquivos podem ficar indisponíveis se uma falha física comprometer o
funcionamento do dispositivo (para mais detalhes sobre particionamento do HD,
reveja esta
sequência de postagens).
De novo: não há desculpa para não criarmos cópias de
segurança dos dados importantes e de difícil recuperação. O procedimento não
tem mistério, pois consiste basicamente em copiar arquivos do drive C para
outra partição do HD ou para mídias removíveis. Simples assim. Agora, se você
quiser fazer backups em grande estilo, o Windows
lhe dá uma forcinha, como veremos em detalhes na próxima postagem.